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A Substituição dos Pecadores

Coisas Realizadas por Cristo em seu Sofrimento e Morte

I. A Substituição dos Pecadores

Embora muita coisa esteja subjacente a tudo que Cristo realizou, o seu sofrimento e morte vicários, por serem o fundamento de toda verdade a respeito da cura divinamente proporcionada para o pecado, serão tratados separadamente cinco coisas específicas, a saber: (1) as palavras que sugerem substituição; (2) o sofrimento vicário em geral; (3) mediação; (4) substituição com respeito ao julgamento do pecado; e (5) substituição nas esferas da perfeição divina.

1. As PALAVRAS Q U E SUGEREM SUBSTITUIÇÃO. Duas preposições gregas

estão envolvidas neste aspecto deste tema - AVT í e úné p.Sobre o significado e a força destas palavras, o arcebispo R. C. Trench, escreve:

Tem sido frequentemente alegado, e no interesse da verdade muito importante, a saber, o caráter vicário do sacrifício da morte de Cristo, que em passagens como Lucas 22.19, 20; João 10.15; Romanos 5.8; Gálatas 3.13; 1 Timóteo 2.6; Hebreus 2.9; 1 Pedro 2.21; 3.18; 4.1; e em tudo que de Cristo é dito ter morrido útrèp irávTWV, úrrèp f||i.<5v, úirèp TWV TrpopáTWV, e, como tal, imép será aceito como equivalente a àvTL. E, então, é além disso realçado que, como òtVTÍ é a preposição primeira de equivalência (Homero, II. Ix. 116-117) e então da mudança (Mt 5.38; 1 Co 11.15; Hb 12.2,16), úrrép deve em todas aquelas passagens ser considerada como a mesma força.'Cada uma delas, é evidente, se tornaria assim u m dictum probans para uma verdade, em si mesma muito vital, a saber, que Cristo sofreu, não meramente em favor de e para o

nosso benefício, mas também em nosso lugar, e levou essa penalidade

de nossos pecados que, de outra forma, cairia sobre nós próprios. Ora, embora alguns tenham negado, devemos todavia aceitar como certo que w e p tem algumas vezes esse significado... mas não é menos certo que em passagens muito mais numerosas útrép significa não mais do que

em favor de, ou para o benefício de; assim é em Mateus 5.44; João 13.37;

1 Timóteo 2.1, e assim por diante. Deve ser admitido que se tivéssemos na Escritura somente afirmações de que Cristo morreu útrèp T\\LG>V,

que Ele provou a morte ímèp TTavTÓç, seria impossível retirar desses versículos qualquer prova irrefutável de que sua morte foi vicária, que Ele morreu em nosso lugar, e Ele próprio suportou na cruz os nossos pecados e a penalidade de nossos pecados; contudo, podemos ver, sem dúvida, isso em outro lugar (Is 53.4-6). Somente através de outras declarações, no sentido de que Cristo morreu àvTi TroXXwf (Mt 20.28), deu-se a si mesmo como ávTÍXuTpov (1 T m 2.6), e por intermédio daqueles outros para a interpretação destes, que obtemos um perfeito direito de alegar tal declaração da morte de Cristo por nós como também as declarações de sua morte em nosso lugar. E neles sem dúvida a preposição ÚTrép é a empregada, para que ela possa abarcar ambos os significados, e expressar como Cristo morreu imediatamente por amor de nós (aqui ela

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toca mais proximamente no significado de Trepí: Mt 26.28; M c 14.24; 1 Pe 3.18; 8iá também ocorre uma vez neste contexto: 1 Co 8.11), e em nosso lugar; enquanto ÒVTL somente teria expresso o último destes.14

Gomo foi sugerido pelo arcebispo Trench, não há problema conectado com a palavra avrí. De modo definido como uma linguagem possa ser feita para servir, esta palavra significa substituição - alguém que toma o lugar de outro. A palavra WTrép, contudo, é mais ampla e significa em alguns casos não mais do que um benefício proporcionado ou recebido; todavia, em outros casos, ela certamente se torna o equivalente de àvrí. O caminho, portanto, está aberto em algum grau para aqueles que querem diminuir a doutrina da substituição para enfatizar o uso mais geral de ímép, enquanto aqueles que sinceramente defendem essa doutrina enfatizam o seu sentido vicário. A atitude razoável é permitir à ímép a sua expansão plena ao grau em que, de acordo com o contexto, pareça expressar uma substituição real, para dar-lhe a mesma força de àvrí.

Se por restrição de ímép à ideia de mero benefício, a doutrina seria eliminada, o caso seria diferente; mas contanto que àvrí sirva ao seu propósito específico e não possa ser modificada, a verdade é somente clareada e fortalecida pelo uso mais específico e totalmente legítimo de ímép como que sugerisse uma real

substituição. Filemom 1.13 afirma: "Eu bem quisera retè-lo comigo, para que em

teu lugar me servisse nas prisões do evangelho'' - e em 2 Coríntios 5.14: "Pois o amor de Cristo nos constrange, porque julgamos assim; se um morreu por todos, logo todos morreram" - podem servir para demonstrar a verdade de que ímép comunica, quando o contexto exige, o pensamento de uma substituição real. Esse duplo significado de ímép serve como vantagem real, porque Cristo morreu no lugar do pecador e para o benefício do pecador.

A palavra àvrí aparece em declaração como: "O Filho do homem veio... para dar a sua vida em resgate por muitos" (Mt 20.28), e o caráter absoluto da

substituição é visto em textos como em Mateus 2.22: 5.38; Lucas 11.11. Contudo,

num conjunto muito maior de textos da Escritura a palavra ímép ocorre e nesses o significado mais profundo deveria ser: "Este cálice é o novo testamento no meu sangue, que é derramado por vós" (Lc 22.19, 20): "e o pão que eu darei pela vida do mundo é a minha carne" (Jo 6.51); "Ninguém tem maior amor do que este, de dar alguém a sua vida pelos seus amigos" (Jo 15.13); "Pois quando ainda éramos fracos, Cristo morreu a seu tempo pelos ímpios. Porque dificilmente haverá quem morra por u m justo; pois poderá ser que pelo homem bondoso alguém ouse morrer. Mas Deus dá prova do seu amor para conosco, em que, quando éramos ainda pecadores, Cristo morreu por nós" (Rm 5.6-8); "Aquele que nem mesmo a seu próprio Filho poupou, antes o entregou por todos nós..." (Rm 8.32); "Se um morreu por todos, logo todos morreram" (2 Co 5.14, 15); "Aquele que não conheceu pecado, Deus o fez pecado por nós" (2 Co 5.21); "sendo feito maldição por nós" (Gl 3.13); "Cristo... deu-se a si mesmo por nós, como oferta e sacrifício a Deus" (Ef 5.2, 25); "Cristo Jesus homem... que deu-se em resgate por todos" (1 T m 2.5, 6); Cristo fez o que fez "para provar a morte por todo homem" (Hb 2.9); Cristo "sofreu... o justo pelos injustos" (1 Pe 3.18).

2. S O F R I M E N T O V I C Á R I O E M G E R A L . Gomo o termo vicário se refere a u m que age no lugar de outro, assim a palavra vigário significa aquele que toma o lugar de outro, a fim de servir ou agir como u m substituto. No caso de uma obrigação entre dois homens, a lei permite que o débito seja pago por uma terceira pessoa, contanto que não haja uma injustiça envolvida. Contudo, a permissão divina de urn substituto para agir pelo homem em sua relação com Deus é uma das mais fundamentais provisões da graça salvadora. U m homem caído permanece como u m ofensor perante Deus — tanto no seu cabeça federal quanto em si mesmo - contra o seu Criador e o governo divino, ele possui uma dívida que nunca pode pagar no tempo ou na eternidade. A menos que u m vigário intervenha, não há esperança para qualquer membro desta raça caída.

N e n h u m ser humano com pecados poderia ser o vigário de outro. O vigário deve ser sem pecado, assim como preparado para suportar os imensuráveis juízos que a santidade divina sempre impõe sobre o pecado. Em Deus, há dois atributos que estão diretamente envolvidos, quando a criatura peca. São eles justiça e misericórdia. Ajustiça impõe e continua a impor, o mesmo julgamento que o pecado requer. Por u m instante sequer, ajustiça é amaciada ou reduzida no interesse da misericórdia. Por causa do seu caráter santo, Deus não pode olhar para o pecado com o menor grau de indulgência. A verdade permanece, de que a alma que pecar, essa morrerá. Nenhum engano maior poderia ser formado contra o santo caráter de Deus e o seu governo do que a sugestão de que a sua justiça é sempre amaciada ou modificada no interesse da misericórdia.

Afirmar que Deus poderia salvar um pecador do juízo de u m pecado pelo exercício da misericórdia, é acusar Deus da maior loucura que poderia ser conhecida no universo; pois se u m pecado pode ser curado pela misericórdia somente, o princípio seria estabelecido pelo qual todo pecado pode ser curado e a morte sacrificial e vicária de Cristo teria se tornado desnecessária. Quando Cristo morreu nas mãos de seu Pai como uma oferta pelo pecado, fica evidente - a menos que Deus seja considerado como exemplo da tolice infinita, quando não impiedade infinita — que não havia outro modo pelo qual os pecadores podessem ser salvos. A Bíblia ensina sem desvio que Cristo, por sua morte, satisfez as exigências da justiça em favor do pecador - no lugar do pecador - e aqueles que vêm a Deus por Ele, são salvos sem a mais leve violação da santidade divina. Se alguém perguntar: "Onde a misericórdia divina aparece?" a resposta é que ela se manifesta na provisão de u m Salvador, para satisfazer as exigências da justiça infinita.

Os teólogos estão acostumados a distinguir entre satisfação pessoal ou

vicária com relação a Deus, por causa do pecado. Quando u m pecador paga

a sua própria penalidade, ele fica perdido para sempre e o pagamento de sua penalidade, embora seja u m fracasso, é uma coisa que se origina nele e que ele oferece a Deus. Esta é a satisfação pessoal a Deus. Por outro lado, quando u m pecador aceita o pagamento vicário, ele é salvo para sempre e o pagamento se origina com o Salvador e é oferecido em lugar do pecador. Esta é a satisfação

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vicária — são melhor conhecidos pelos termos obras e fé. O princípio das obras representa tudo o que o homem pode fazer por si mesmo; o princípio da fé representa tudo o que Deus faz pelo homem.

O primeiro é esvaziado de misericórdia; o segundo é a maior exibição possível de misericórdia. U m não tem qualquer promessa de bênção nele; o outro assegura todas as bênçãos espirituais em Cristo Jesus. Ninguém afirmou mais claramente o valor do sacrifício de Cristo do que Agostinho. Ele diz: "O mesmo, único e verdadeiro Mediador reconcilia-nos com Deus pelo sacrifício expiador, permanece u m com Deus a quem ele o oferece, torna aqueles u m em si mesmo por quem ele o oferece, e é ele mesmo tanto o ofertor quanto a oferta".13 A doutrina da Bíblia é que Deus salva o seu próprio povo - aqueles

que confiam nele - de sua própria ira (cf. Jó 42.7, 8; SI 38.1; Is 60.10; Os 6.1). Sem que haja qualquer engano e sem qualquer ação contrária de um para com o outro, Deus experimenta tanto a ira quanto o amor ao mesmo tempo e cada uma delas na amplitude de seu Ser infinito.

Ezequiel descreve Jeová como o que lamenta a queda de Lúcifer que se tornou Satanás (Ez 28.12); todavia, não há uma redenção para aquele anjo e o lago de fogo para sempre espera por ele (Ap 20.10). Quào grande é a ira e a indignação de Jeová contra Israel, e isto é mostrado nos castigos que caem sobre os israelitas! Todavia, Ele os ama com um amor eterno. O cristão, igualmente, descobre que a graça, pela qual ele é salvo, é exercida para com ele pelo mesmo tribunal que o condenou. U m trono de terrível julgamento se tornou u m trono da graça. Sobre estas duas características em Deus - ira e amor - o Dr. Henry C. Mabie escreve da seguinte maneira:

A totalidade da Trindade está por detrás da expiação, dentro dela, e na raiz dela. A graça é, afinal de contas, a graça de Deus. Quando o nosso pecado surgiu, ele criou uma antinomia, uma auto-oposição, digamos, em Deus. Deus, como santo, deve se opor e condenar o pecado; de outra forma, Ele não poderia ser Deus. Este lado ou polaridade do ser de Deus deve julgar e punir o pecado. Mas há outro lado, ou polaridade do ser de Deus chamado amor. E como tal ela apenas anela forte e espontaneamente perdoar e salvar. Como, então, essas polaridades opostas (que mesmo a previsão do pecado assim como a sua real ocorrência chamou ao exercício a mesma Trindade) poderiam ser reconciliadas, e, assim reconciliadas, como salvar o culpado? Respondemos imediatamente: O próprio Deus reconciliou-as por seu próprio sofrimento vicário, qualquer que tenha sido ele. Esta foi a reconciliação essencial - a realidade cósmica - a coisa divina que satisfaz ao próprio Deus. Mas Ele não poderia manifestá-la, assim como dar uma segurança necessária e ajudar o homem necessitado, exceto quando veio à revelação concreta e visual da realidade do Deus homem, em Cristo na cruz. Nem poderia o fato histórico do pecado sem ela ter satisfeito e demonstrado sobre a mesma terra onde o pecado havia ocorrido, mas por um evento histórico com resposta adequada... Assim somente e evidentemente poderia Deus ser mostrado como "justo

e justificador daquele que crê em Jesus" (Rm 3.26). Consequentemente, a expiação concebida, que de qualquer modo separa o Pai da plena participação nela, é apenas uma visão parcial, A natureza do caso é algo que deve ser construído como uma expressão de governo — é uma função governamental - e tem referência ao governo divino unificado. A fonte da graça nunca pode ser dividida. Todavia, a Trindade não é excluída por meio disso, e ela não é u m tri-Teísmo. Nas relações duais, concordâncias surgem em Deus como a expressão de dois pólos morais de Seu ser; e a reconciliação tornada necessária pela entrada do pecado é concebida como imanente em Deus, em sua real unidade. Assim Deus, de u m lado de sua natureza, proporciona o que o outro lado de sua natureza exige. A saber, Deus pode fazer uma coisa, a fim de realizar outra coisa.16

Tão certo como Deus prevê e predetermina, o evento do Calvário foi sempre tão real para Ele, como o foi na hora de sua ordenação - a hora da maior de todas as realizações, a resposta de tudo o que um Deus ofendido exigiu para que Ele pudesse ser livre para o exercício do seu amor desimpedido em favor dos objetos de sua afeição. Esses opostos em Deus sempre foram reconciliados em previsão da cruz; todavia, houve a necessidade — a coisa que Ele previu - que a cruz se tornaria histórica, u m feito real que não poderia ser evitado. Na verdade, se o coração de Deus pudesse ser visto como Ele é agora, e sempre foi, não somente o ódio infinito pelo mal seria descoberto, mas a mesma disposição de dar o seu Filho para morrer pelos ímpios e seus inimigos seriam discernidos.

O Calvário foi, então, a operação necessária no tempo daquilo que esteve eternamente no coração de Deus. Ele é o fato de que dentro de Deus uma reconciliação estava prevista desde a eternidade, que foi tornada real no tempo, e vai ser reconhecida por Ele em toda eternidade vindoura, que forma a base de sua graça. A graça e o amor não são a mesma coisa. O amor pode salvar, mas por causa das exigências imutáveis da justiça, ele pode ficar impotente para salvar. Por outro lado, a graça em Deus é aquilo que o amor realiza com base na verdade de que Cristo satisfez as exigências da justiça. A auto-reconciliação em Deus, que a cruz proporciona, abre um campo para a realização divina na salvação do perdido que, de outra forma, seria impossível. Sem dúvida, Deus era livre para agir com os pecadores em graça nas eras passadas com base na sua antecipação da cruz; mas com grande certeza pode ser crido que Ele é livre para agir desde a cruz.

Por seu real caráter, a graça é relacionada com o governo divino. Ela é de se ter as coisas feitas. O que quer que Deus faça em graça, Ele é livre para fazer por causa da cruz. Nas eras vindouras Ele mostrará a sua graça por meio da salvação dos pecadores que Ele realizou (Ef 2.7). Para aqueles que foram salvos, Ele diz: "Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus; não vem das obras, para que ninguém se glorie" (Ef 2.8, 9). Esta graça incomparável não é somente operada por Deus, mas ela é operada em Deus. Ele é "o Deus de toda graça". A paz é selada pelo Espírito Santo no coração

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daqueles que crêem e por causa do fato de que eles estão em boas relações com Deus e vice-versa.

3. M E D I A Ç Ã O . Na importância mais ampla do termo, mediação sugere ao menos duas partes, Deus e o homem, entre os quais ela atua. O lamento de Jó reflete a necessidade de u m mediador, embora essa necessidade existisse no m u n d o antes do advento de Cristo. Jó disse: "Porque ele não é h o m e m , como eu, para eu lhe responder, para nos encontrarmos em juízo. Não há entre nós árbitro para pôr a mão sobre nós ambos" (Jó 9.32, 33). A separação entre o justo Deus e o Jó pecador é reconhecida q u a n d o Jó disse: "Porque ele não é h o m e m , como eu, para eu lhe responder, para nos encontrarmos em juízo"; e o caso torna-se mais sem esperança, visto que n e n h u m "árbitro" existia "que pudesse pôr a mão sobre nós a m b o s " . O p e n s a m e n t o na mente de Jó é o de u m mediador estabelecido e aceito entre Deus e o h o m e m . O conceito de Jó, que descreve esse agente intermediário como possuidor do direito de pôr sua mão em cada u m a das partes, está muitíssimo claro, e vai muito além do alcance das condições que p o d e r i a m ser levantadas entre os h o m e n s .

A colocação das mãos, que Jó visualiza, fala da qualidade inerente entre o árbitro e aquele sobre quem a mão é colocada. Visto que Jó apontou que as partes distanciadas são Deus e ele próprio, a colocação das mãos do árbitro sobre Deus requer que o árbitro seja igual a Deus, e a colocação das mãos do árbitro sobre Jó requer que o árbitro também esteja no mesmo nível de Jó, por possuir o direito inerente que pertence ao homem - u m representante da mesma natureza. Assim, em termos que respiram muito a sabedoria e propósito de Deus do que é comum ao homem, Jó declarou os aspectos fundamentais que necessariamente são encontrados no Mediador teantrópico. O pecado causou uma separação entre Deus e o homem, e visto que todos pecaram, a necessidade é universal. Que Deus é ofendido pelo pecado, não precisa ser argumentado. Contudo, é menos reconhecido que o pecado endureceu o coração do homem, obscureceu a sua mente, e demonstrou-lhe que era cheio de insensatez e preconceitos. Quando Adão e Eva pecaram, eles se esconderam, não um do outro, mas de Deus.

Há u m sentido público ou geral em que o reinado de Cristo como Rei será mediatorial em que, ao permanecer entre Deus e o h o m e m , Ele derrubará toda autoridade e todo inimigo, e restaurará assim a paz no universo sofredor e angustiado pelo pecado (1 Co 15.25-28); mas a sua mediação pessoal é o funcionamento combinado de sua obra como Profeta e Sacerdote. N u m deles, Ele representa Deus perante o homem, enquanto que no outro, Ele representa o h o m e m perante Deus. No ofício sacerdotal, Ele oferece u m sacrifício que satisfaz as exigências da justiça divina e a extrema necessidade do pecador condenado. Assim, Ele é o verdadeiro árbitro. Em sua relação com o pecador, a sua obra de Mediador não é outra senão a de ser substitutiva, e, para evitar repetição, o tema não precisa ser estudado separadamente a essa altura.

4. SUBSTITUIÇÃO C O M R E S P E I T O AO JULGAMENTO D O P E C A D O . U m

parágrafo anterior prestou-se para a consideração da força da doutrina da substituição expressa pelas palavras gregas CXVTL e imép. Esta doutrina não é somente ensinada de uma forma clara na Bíblia, mas a sua verdade tem feito muito para gerar confiança em Deus, no perdão de pecados, do que todos os ensinos éticos de Cristo e o seu exemplo de vida combinados. E b o m observar também que não é a doutrina da morte de Cristo pelo pecado, mas, antes, a morte em si que proporciona alívio para o coração carregado de fardo. O estudo das teorias empolga o estudante de teologia, mas o que o pecador carregado precisa é da verdade de que Cristo realmente morreu em seu lugar.

Talvez mais coisas tenham sido escritas sobre o tema da morte de Cristo do que qualquer outro assunto na Bíblia. Passagens têm sido classificadas e analisadas com o mais extremo cuidado. As afirmações bíblicas são convincentes e confirmam que "Cristo morreu pelos nossos pecados"; "Ele levou sobre si os nossos pecados"; "Ele foi feito pecado por nós"; "Ele foi maldito por nós". A remissão do pecado e a libertação da ira são ditas ser totalmente trazidas através de sua morte pelo pecado: "Ele deu a sua vida em resgate por muitos". Sua morte foi uma redenção, reconciliação e uma propiciação. Toda objeção que o conhecimento humano pode fazer tem sido arremessada contra essas declarações, mas sem proveito. A verdade justiíica-se a si mesma, e é difícil na verdade argumentar contra o que sempre produz a bênção que dela resulta. Neste contexto, uma afirmação de William Ellery Channing (1780-1842), "o apóstolo do unitarianismo", é de grande interesse. Ele declarou: