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CAPÍTULO 4 – PRESSUPOSTOS DA LITIGÂNCIA DE MÁ-FÉ

4.3 PRESSUPOSTOS PROCESSUAIS RELACIONADOS COM AS PARTES:

4.3.5 A questão do advogado e da legitimidade

O tema pode ser iniciado com a indagação e subseqüente resposta, acerca de – quem é legítimo? podendo-se responder, que - legítimo é aquele que se encontra revestido das qualidades legais para prática de um determinado ato, ou para constituir uma relação, em virtude do seu vínculo com um interesse juridicamente protegido.

Depois disto, é possível captar que, quanto ao advogado, fala-se sempre sobre a prerrogativa postulatória que lhe é deferida pela Constituição Federal, ao considerá-lo indispensável ao funcionamento da justiça, na condição de agente que traduz o interesse do jurisdicionado (art. 133, da CF); bem como pelo Código de Processo Civil, que impõe a representação da parte em juízo por meio de advogado (art. 36, do CPC).

Conseqüentemente, a capacidade postulatória, ou o jus postulandi, é a aptidão reconhecida ao advogado, que assegura à parte representação e, do mesmo modo, manifestação da sua vontade em juízo, pretendendo a formação e o desenvolvimento da relação processual.

Nesta dimensão, todos os advogados são habilitados à representação judicial dos interesses dos litigantes. Contudo, o que não se trata é da legitimidade do advogado, que é uma particularidade da sua habilitação generalizada para estar em todas as instâncias, juízos ou tribunais, representando a qualquer parte processual, individualmente ou coletivamente, que o constituir e ele anuir.

Restritivamente, legitimado para específica causa, na representação certa de determinada parte, estará o advogado que receber a outorga do mandato escrito habilitando-o legalmente. Aqui particulariza-se e, verdadeiramente, institui-se a legitimidade ou a autoridade legal para o múnus que ao advogado incumbe exercer.

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Nesta legitimação, que se reveste da representatividade de parte processual por meio da procuração, a qual representa o mandato ou gera o poder de representar alguém, deve o advogado observar os consectários legais dos atos que vier a praticar, a ética que prudentemente lhe incumbe observar, e o regime disciplinar que o impõe pautar-se escorreitamente, na forma apregoada pelo Código de Ética e Disciplina (art. 33, caput, da Lei 9.906/94 – Estatuto da Advocacia)352.

Naturalmente, quando o advogado transgride o múnus, que lhe impõe a lei e particulariza o mandato, dá-se, por certo, uma transgressão da legitimidade, ou seja, uma ruptura do vínculo relacional que mantinha com o seu cliente, a parte processual que o nomeou para a defesa dos interesses dela. A partir desse momento é provável que não mais exista legitimidade para atuar em nome de específica pessoa, muito embora a capacidade postulatória, inerente ao advogado habilitado, permaneça.

O que provavelmente infringiu a relação constituinte-advogado terão sido os atos deste eivado de lapsos profissionais, em violação ao mandato com ruptura da legitimidade.

Conseqüentemente, a capacidade postulatória, deferida ao advogado legalmente habilitado, recorda a capacidade jurídica ou de gozo comum a todo o homem. Ambas não excluem; pelo contrário, incluem. Advogados, em grupo, estão capacitados ao exercício da postulação judicial; homens, todos eles, tem capacidade para contrair obrigações e exercer direitos. Atenta-se, pois, que a capacidade generaliza, ao passo que a legitimidade restringe. Não são todos os direitos, nem muito menos quaisquer obrigações, que interessam amplamente os homens. Não são em todas as causas que os advogados poderão atuar. Em um caso e em outro, há o pressuposto da legitimidade – um vínculo sutil que vincula o homem aquele direito ou o impõe certa obrigação; um elo que autoriza determinado advogado a representar o cliente que o nomeou para demandar judicialmente. A legitimidade é o vínculo que substantiva a relação obrigacional ou advocatícia, respectivamente. Sem ela, não haverá o direito de ação; do mesmo modo, não haverá o exercício do

jus postulandi.

352“Art. 33. O advogado obriga-se a cumprir rigorosamente os deveres consignados no Código de

Ética e Disciplina. Parágrafo único. O Código de Ética e Disciplina regula os deveres do advogado para com a comunidade, o cliente, o outro profissional e, ainda, a publicidade, a recusa do patrocínio, o dever de assistência jurídica, o dever geral de urbanidade e os respectivos procedimentos disciplinares.”

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A procuração vai legitimar o advogado à pratica de atos processuais em nome da parte que o nomeou, o que fará com o devido conhecimento técnico e os valores éticos, que o fazem detentor da legitimidade para exercer a postulação judicial.

Mutatis mutandis, como premissa para discussão posterior, é previsível que a

responsabilidade processual do advogado torne-se patente pela ausência de legitimidade para a prática de atos para os quais ele não foi investido, porquanto eivados de má-fé processual.

Ressaltam na legitimidade, consoante Donaldo Armelin:

a)a idoneidade jurídica do sujeito, como uma atribuição do sistema, normalmente sem caráter declaratório;

b)a necessária vinculação entre essa qualidade e o objeto do ato, com implicações recíprocas indissociáveis;

c)o caráter de anterioridade ou contemporaneidade da idoneidade em face do ato a ser praticado, ou das conseqüências a serem suportadas, o que lhe assegura a categoria de pressupostos destes;

d)a emergência da qualidade em tela de uma titularidade de relação jurídica, simultânea e qualificante da relação resultante do ato praticado, ou, ainda, de uma situação de fato à qual o sistema jurídico, por razões relevantes de segurança jurídica e tutela à boa-fé, outorga efeitos jurígenos; e)finalmente, a correlação entre legitimidade e eficácia de ato jurídico, com ênfase à característica específica daquela no sentido de assegurar a plenitude dos efeitos deste, no que dependa da legitimidade como pressuposto do ato.353

É dedutível que a capacidade postulatória completa-se com a legitimidade, que sugere atuação no limite definido no mandato, com foco na ética e na legalidade processual. Qualquer outra conduta que transgrida os limites da legitimidade terá inviabilizado o vínculo e responsabilizará o transgressor; no caso, o advogado legalmente habilitado e legitimado à defesa dos interesses do cliente que nomeou para zelar pelas suas pretensões judiciais.