• Nenhum resultado encontrado

CAPÍTULO 3 – DEONTOLOGIA DO PROCESSO

3.4 DIFERENÇA ENTRE PODER, ÔNUS, DEVER, DIREITOS E OBRIGAÇÕES

3.5.2 A respeito dos princípios processuais

Oportuno ressaltar que o processo civil e mesmo o direito, enquanto prática de regulamentação social ou ciência, não abstrai do seu conteúdo os princípios253. A

251SANTOS, Moacyr Amaral. “Limite às atividades das partes no processo civil”. Revista Forense. Rio

de Janeiro, n. 175, p. 42, jan./fev//1958.

252LIMA, Alcides de Mendonça. Probidade processual e finalidade do processo. Uberaba: Editora

Vitória Ltda., 1978. p. 25

253Cf.CINTRA. Antonio Carlos de Araújo. GRINOVER. Ada Pellegrini. DINAMARCO. Cândido Rangel.

Teoria Geral do Processo. 21ª. ed. São Paulo: Malheiros Editores. P. 52.: A ideia de direito pode ter a sua síntese na norma, valor e fato. A norma concorre para a epistemologia e constitui a

119

dialética processual civil, que objetiva a verdade, deduz-se por uma tese, correspondente ao exercício da ação; a uma antítese, que se reflete na defesa e se encerra com a síntese, representada pela sentença. Este é o tramite dos atos processuais ou a sequência que se manifesta na ordenação da instância. Contudo, para a igualdade da relação entre as partes e a distribuição de idênticas oportunidades, torna-se imprescindível, sem perder a dialética, normas que ordenem a postura das partes e a atividade jurisdicional, de sorte que os direitos sejam outorgados indistintamente. Aqui se pressente a necessidade e existência de uma série de princípios que sistematizam a relação processual.254

Bem oportuna a indagação:

Mas, o que são esses princípios? Para que servem? Qual a importância de seu estudo? – São normas que fornecem coerência e ordem a um conjunto de elementos, sistematizando-o. (...) Quando tratamos da questão da autonomia do direito processual em relação ao direito material, vimos que essa independência está caracterizada, entre outros fatores, pela existência de princípios que são próprios do direito processual civil.255

Remete a oportunidade à lembrança de que os princípios, outrora, tiveram o significado de meras enunciações ou proposições de um tema, enquanto na atualidade desfrutam de um valor que os alça a patamares fundamentais de um sistema jurídico256, sendo, pois, imprescindíveis para a compreensão das múltiplas relações que as normas constituem, no seu mister de proclamar a pacificação e a segurança jurídica, que devem permear ou perpassar as relações sociais.

O conceito ministrado por Celso Antônio Bandeira de Melo realça a importância dos princípios na atualidade, como se constata pela transcrição abaixo:

ciência do direito positivo, complementada pela dogmática que avalia o direito pela óptica normativa. Dos valores cuida a deontologia jurídica e do fato a culturologia. Os princípios estão no limiar; posicionam-se entre a epistemologia e a deontologia, ou, no intermédio da norma e do valor ético.

254Cf. COUTURE, Eduardo J. Fundamentos del derecho procesal civil. 3ª. ed. Buenos Aires:

Ediciones Depalma, 1969. p. 181

255In Curso Avançado de Processo Civil – Teoria Geral do Processo e Processo de Conhecimento, v.

1, de Luiz Rodrigues Wambier, Flávio Renato Correia de Almeida e Eduiardo Talamini, p. 66.

256 “Segundo a doutrina, (os princípios) são normas ‘fundantes’ do sistema jurídico. São os princípios

que a rigor fazem com que exista um sistema. Os princípios jurídicos são também normas jurídicas. Mesmo quando implícitos, não expressos, os princípios jurídicos são obrigatórios, vinculam, impõe deveres, tanto quanto qualquer regra jurídica. A diferença entre as normas jurídicas que são princípios e as demais normas jurídicas (que são - no dizer da doutrina – apenas ‘regras’ e não princípios) reside em que os princípios têm um âmbito de incidência ilimitado, ao passo que as regras contêm em si mesmas (em um único dispositivo ou na conjugação de diferentes dispositivos) as hipóteses específicas em que vão incidir (i.e., as ‘hipóteses de incidência).”(in Curso Avançado de Processo Civil, v. 1, p. 67)

120

Princípio é, por definição, mandamento nuclear de um sistema, verdadeiro alicerce dele, disposição fundamental que se irradia sobre diferentes normas compondo-lhes o espírito e servindo de critério para sua exata compreensão e inteligência, exatamente por definir a lógica e a racionalidade do sistema normativo, no que lhe confere tônica que lhe dá um sentido harmônico. É o reconhecimento dos princípios que preside a intelecção das diferentes partes componentes do todo unitário que há por nome sistema jurídico positivo.257

Conclusivamente, o processo, como um instrumento da jurisdição, encontra- se assentado em princípios258 que lhe dão uma dimensão compatível com a importância que tem a lide na esfera jurídica. Nota-se, por exemplo, que o devido processo legal está constitucionalizado, bem como a ampla defesa e o contraditório – todos são fundamentos processuais revestidos da forma principial, porquanto do seu enunciado desencadeiam-se múltiplas acepções jurídicas, que se fazem representar por normas ou conceitos, justificando abrangente doutrina e intensa atividade legislativa.

Nelson Nery Junior realça o cerne dos princípios processuais, de sorte que,

o princípio fundamental do processo civil que entendemos como a base, sobre a qual todos os outros se sustentam, é o do devido processo legal, expressão oriunda da inglesa due process of law.(...) bastaria a norma constitucional haver adotado o princípio do due process of law para que daí decorressem todas as conseqüências processuais que garantiriam aos litigantes o direito a um processo e uma sentença justa. É, por assim dizer, o gênero do qual todos os demais princípios constitucionais do processo são espécies.259

Sendo processo legal um princípio, dele se irradia toda uma relação de normas e valores, que vão da constituição da relação jurídica processual até a sentença que decide a lide. Um princípio – de largo alcance – desencadeou ou irradiou, como diz o conceito, diferentes normas que congregam um sistema em harmonia e unidade. Assim, como se fala de processo, o sistema processual é um bom exemplo de estrutura legal assentada em princípios, que mantêm coerência entre as diversas partes do todo.

257Elementos de Direito Administrativo, p.299.

258A definição de Direito Processual Civil não prescinde dos termos sistema, princípios e normas, com

o escopo de impulsionar a jurisdição civil e sua eficácia. Senão veja-se que Arruda Alvim, no seu Manual de Direito Processual Civil o idealiza “como sendo o sistema de princípios de normas que regulam o funcionamento da jurisdição civil” compreendendo-se nesta o direito de ação, a defesa, a estrutura judiciária nacional e órgãos complementares, bem como o funcionamento da jurisdição voluntária. (v. 1, p. 21).

121

O respeito aos princípios é indispensável para a validade do sistema jurídico. Desrespeitá-los é violar todo o conjunto, posto que as normas, que o seguem, estariam desprestigiadas desde que tivessem sido desrespeitados os elementos básicos que as estruturaram, como podem ser identificados os princípios. Assim o diz o administrativista Celso Antonio Bandeira de Melo: “ofendê-lo (referindo-se ao

princípio), abatem-se as vigas que o sustém e alui-se toda a estrutura neles

reforçada”260 .

Quando analisa a posição do juiz frente aos princípios processuais, Sergio Alves Gomes, observa que ao magistrado cumpre observar os preceitos e diretrizes que os princípios contêm, como forma de obter o resultado que o sistema processual instituiu como meta, que é precisamente a solução da lide.261