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CAPÍTULO 3 EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA E EDUCAÇÃO NA

3.4   Os três projetos analisados na pesquisa

3.4.1 Projeto: “Oficinas de Experimentação Audiovisual nas Escolas de São Carlos e

3.4.1.3 A experiência extensionista para a graduação

A descrição do projeto Oficinas de Experimentação Audiovisual, que começou como Cinema na Escola, destinado aos professores, depois se tornou Dispositivos de

Criação Audiovisual, para capacitar os estudantes, e, enfim, chegou ao formato das Oficinas de Experimentação Audiovisual, para desenvolver novas perspectivas de

trabalho a partir do surgimento de novas plataformas de produção audiovisual, além de subsidiar outras pesquisas em andamento, objetiva, antes de tudo, respaldar o trabalho dos educadores. Nesse sentido, a experiência extensionista para a graduação é pequena, uma vez que são apenas dois universitários diretamente envolvidos nas atividades. Porém, o que se espera é que os resultados do projeto – os materiais produzidos, os dados obtidos, a reflexão construída – alcancem muitos estudantes, nas aulas da graduação e na formação continuada de outros professores.

Ao realizar as oficinas com os estudantes da educação básica, a coordenação projetava o desenvolvimento de uma pesquisa sobre a experiência dos estudantes com novos recursos multimídia interagindo em sua reflexão pessoal. O trabalho, nesse sentido, resultou na produção de um material para sensibilizar os educadores em sua tarefa com o cinema na escola. Por outro lado, a relação entre pesquisa, ensino e extensão exigiu mais esclarecimentos de nossa parte junto aos integrantes da equipe. Num primeiro momento, parecia que o objetivo da atividade era simplesmente coleta de dados, um projeto de extensão criado para subsidiar determinada investigação.

Com efeito, a pesquisa estava realmente em andamento, porém, vinculada ao projeto extensionista maior, Cinema na Escola. Conforme a percepção do professor responsável pelo projeto, tanto a pesquisa, como o ensino e a extensão estariam acontecendo segundo o previsto, como instâncias que não se desvinculam:

Se nosso objetivo é a singularidade, ela [a extensão] precisa partir de um movimento de pesquisa que se articule em ensino e extensão, mas um ensino que seja extensão e uma extensão que não se desvincule do movimento de pesquisa. Isso porque não considero possível que se desvincule essas “instâncias” de modo

a usar uma como ferramenta da outra, porque elas só se separam no plano ideal e didático, na feita elas são fluxo, bem no princípio da qual elas emanam como ideias, que é o da indissociabilidade do ensino, pesquisa e extensão [...]

Mas é isso, se o processo se dá na transversalidade não é costura de partes originalmente separadas em ensino, pesquisa e extensão, e isto que digo não é genérico, imagino, e conheço, quem trabalhe de forma costurada e instrumentalize a extensão como local de pesquisa e divulgação de pesquisa. Então o que digo a este respeito diz respeito às nossas Atividades, que só são possíveis de se realizar desta maneira, sem a pesquisa não seria efetivamente extensão e ambas se dão, se realizam e movimentam em espaço formativo, na realização das Oficinas. Quero dizer, também estamos aprendendo quando ensinamos, certo? Na verdade, no meu caso, eu diria que mais aprendo quando ensino (Questionário, Apêndice D).

Portanto, o princípio norteador do projeto extensionista é de que no fluxo dessas experiências – a da extensão que se torna pesquisa, que se faz com ensino e que é extensão – o processo de entendimento e transformação da realidade se realiza. Se o objetivo do trabalho era compreender uma realidade singular, era necessário iniciar com um movimento de pesquisa, que, por sua vez, articulasse ensino e extensão, mas um ensino que fosse extensão e uma extensão que não se desligasse da pesquisa, uma vez que tais fazeres são indissociáveis. E se o processo de compreensão de uma realidade acontece na transversalidade dessas instâncias, não é como uma costura de partes isoladas, em que uma é instrumentalizada em relação à outra, considerada superior, mais importante, mas é porque o entendimento demanda essa pluralidade de experiências para que possa ser mais convenientemente organizado.

Assim, tanto professores como estudantes envolvidos nas atividades desenvolveram suas pesquisas e, nesse sentido, diferenciaram os dispositivos de produção audiovisual segundo os interesses da investigação, classificando-se da seguinte forma:

Ø   Dispositivo Temático, que tratou o tema da Violência;

Ø   Dispositivo Corpo, que trabalhou referenciais cênicos e de performance; Ø   Dispositivo Arte, que abordou a fotografia-autorretrato em interação com

as redes/mídias sociais;

Ø   Dispositivo Filme-Carta, que trabalhou aspectos da roteirização, edição e montagem cinematográfica.

Tais considerações esclarecem a dinâmica do trabalho implementado e justificam as relações estabelecidas entre ensino, pesquisa e extensão. Entretanto, como a questão da experiência extensionista para a graduação é o foco principal de nossa pesquisa, buscamos analisar qual a percepção que os estudantes de graduação envolvidos tiveram

de toda essa situação, uma vez que o entendimento ou a consciência da realidade com suas contradições é referencial fundamental para a plena autonomia do sujeito envolvido nas atividades.

Entrevistamos um dos membros da equipe e questionamos como a participação no projeto impactava os escolares. A estudante revelou desconhecer qualquer discussão acerca desses impactos. À pergunta: “Em que sentido a atuação na escola está transformando a realidade dos alunos? Essa é uma questão que está colocada no Projeto?” A graduanda respondeu: “Eu acho que não. Só se eu não estou sabendo” (Entrevista, Apêndice A). Nesse sentido, ela não visualiza como o projeto avalia possíveis mudanças acontecendo na vida dos alunos a partir da participação na disciplina Oficinas de

Experimentação Audiovisual. Na verdade, como a atividade está ligada a um projeto

anterior, para subsidiar o trabalho dos educadores com cinema na escola, essa questão parece não ter recebido a devida atenção nas reuniões da equipe. Questionada sobre os objetivos do projeto, afirmou: “Eu acho que é... sei lá, tem um outro... acho que um outro olhar das coisas... tanto das coisas escolares, quanto da vida” (Entrevista, Apêndice A). Desse modo, a percepção é de que o trabalho busca desenvolver, junto aos estudantes, uma visão diferenciada da própria realidade, o que de fato acontece, uma vez que os dispositivos permitem a discussão de grande variedade de temáticas. A universitária afirma:

[...] você vê a evolução e o que eles são capazes de produzir, então as fotografias que eles tiram estão muito legais, daí a discussão na sala é muito interessante, então acaba discutindo sobre diversas coisas. Eles não podem sair da escola, então as fotografias que eles tiram é dentro da escola e o recorte que eles fazem, as vezes você pergunta, nossa, isso é uma escola? Eu lembro que tiraram uma foto de uma grade e um cadeado, só aquilo, e a gente falou, nossa, isso é na escola? E eles perguntam na hora do debate, nossa, isso é da escola? Nossa, parece uma prisão. Tem esses aspectos. O objetivo em si, não sei dizer, mas, eu acho que é essa visão diferenciada e a discussão, a gente discute diversos assuntos. A partir de uma fotografia ou de um vídeo você pode discutir sobre várias coisas, tem vários temas, eles mesmos, através dos vídeos e fotografias trazem os temas (Entrevista, Apêndice A).

Contudo, há uma abrangência maior, que não foi percebida. Questionada sobre as razões de a universidade desenvolver esse trabalho na escola, ela afirma: “Não sei... talvez a gente estar mais presente, porque as vezes aqui na universidade a gente fica muito longe da realidade, então acho que quando a gente vai lá a gente consegue entender melhor essa realidade, levar coisas diferentes...” (Entrevista, Apêndice A). Isso indica que ela percebe

a extensão como uma forma de a universidade estar presente em uma realidade da qual está distanciada, o que é fundamental para entendê-la melhor, sendo parte de sua tarefa na difusão do conhecimento.

Assim, embora não haja uma visão muito clara das questões macroestruturais, ligadas às conexões do projeto com o Programa e suas finalidades originais mais amplas, nem discussões acerca do papel da universidade na implantação de políticas públicas ou sobre a responsabilidade do Estado, existe um entendimento das questões microestruturais, ligadas à execução do projeto e às finalidades da instituição.

Destacamos, nessa dimensão mais específica, as conexões do projeto extensionista com o ensino e a pesquisa. Além das justificativas apontadas, relacionadas à indissociabilidade existente entre ensino, pesquisa e extensão, há de se pensar também que, embora os trabalhos não tenham nascido de uma demanda específica do grupo social envolvido, é uma demanda social concreta chegando à universidade por meio da observação de uma realidade: as experiências com as novas plataformas audiovisuais por

parte da nova geração. Sem o desenvolvimento de pesquisa, articulada à extensão, não

seria possível compreender as especificidades da realidade e poder apoiar o trabalho de outros. Nesse sentido, a demanda poderia chegar à universidade por outros canais, como a mídia tradicional, dados governamentais, índices de pesquisas, programas governamentais, experiências pessoais, entre tantas outras formas. Quaisquer que sejam, acabam por estimular o interesse dos pesquisadores e desencadeiam o mesmo processo ensino-pesquisa-extensão-aprendizagem.

Desse modo, o projeto extensionista nasceu a partir de questionamentos desenvolvidos no interior da própria universidade, em um processo de ensino no curso de graduação, e de lá se direcionou para a educação básica, como forma de verificação e pesquisa, mas também aliando reflexão e ensino junto ao público alvo. A ação indica a existência de uma sintonia entre esses fazeres capaz de articular a produção do conhecimento e aperfeiçoar o processo acadêmico, respondendo às questões dessa mesma sociedade.

Assim, aqui, a pesquisa está envolvida em atividades extensionistas cuja demanda não parte diretamente do grupo social envolvido, mas das quais ele se beneficia por meio das reflexões e entendimentos produzidos.

Cabe anotar, entretanto, que a dimensão comunicativa da extensão, nesse caso envolvendo universidade, projetos de pesquisa, educação básica, legislação educacional, formação de professores, formação dos graduandos, entre outros, exige permanente

discussão acerca dos valores, interesses e resultados decorrentes das ações implementadas, o que parece não ter sido devidamente considerado. Com efeito, nas entrevistas e reuniões realizadas, as problemáticas e dificuldades trazidas estavam relacionadas aos aspectos técnicos e operacionais dos dispositivos adotados.

3.4.2 Projeto: “Tertúlias literárias dialógicas” – Ensino, pesquisa e extensão

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