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Sistematização e institucionalização, financiamento e avaliação da extensão

CAPÍTULO 2 – POLÍTICAS EDUCACIONAIS PARA A EXTENSÃO

2.2 Políticas de extensão universitária para as universidades públicas brasileiras

2.2.3 Sistematização e institucionalização, financiamento e avaliação da extensão

Dentre os elementos fundamentais para que as atividades extensionistas na universidade se estabilizem ao lado do ensino e da pesquisa e possibilitem a implantação da política acima exposta, estão sua sistematização e institucionalização, seu

financiamento e os processos de avaliação das ações.

A sistematização e a institucionalização da extensão universitária lhe dão a imprescindível legitimidade, como já acontece com o ensino e a pesquisa; trata-se do seu reconhecimento como dimensão acadêmica integrada às atividades-fim da universidade.

Sistematizar significa organizar em um sistema, enquanto institucionalizar significa

oficializar uma prática. Nesse sentido, a sistematização e a institucionalização da extensão abrem o espaço próprio de sua existência, ao lado das funções ensino e pesquisa, o que, sem dúvida, representa também uma nova divisão do poder no interior das instituições. Só com a sistematização e a institucionalização da extensão universitária se alcança a validade de suas práticas e o envolvimento efetivo de toda comunidade acadêmica. A questão é que nas universidades mundializadas, a sistematização e a

institucionalização das ações extensionistas se farão atendendo outras prioridades.

Para o FORPROEX, o reconhecimento da extensão passa pela sua elevação ao mesmo nível hierárquico do ensino e da pesquisa, e compete às instituições fortalecer essa presença da extensão em sua organização interna. Nesse sentido, a Política Nacional

de Extensão Universitária (FORPROEX, 2012) traz o conceito de universalização da extensão universitária, refletindo a necessidade de, definitivamente, cumprir o que diz a

legislação, sobretudo ao afirmar a indissolubilidade entre ensino, pesquisa e extensão (Brasil, 1988). Tal universalização significa sua inclusão nos currículos, no projeto

pedagógico dos cursos, como atividade formativa fundamental na profissionalização dos

estudantes e na produção de conhecimento.

É preciso lembrar, como foi exposto acima, que essa é uma das metas do novo

Plano Nacional de Educação 2014-2024, conforme expressa a Lei 13.005 - meta 12, que

trata da matrícula na educação superior pública, bem como de sua oferta e expansão. Na estratégia de número sete (7) se lê: “Assegurar, no mínimo, dez por cento do total de créditos curriculares exigidos para a graduação em programas e projetos de extensão universitária, orientando sua ação, prioritariamente, para áreas de grande pertinência social” (Brasil, 2014). A mudança em relação ao plano anterior, em que a participação estava genericamente orientada a ações extensionistas, cria uma situação nova para as universidades, uma vez que exige a existência de programas e projetos que possam assegurar a participação dos estudantes.

Assim, a temática da institucionalização da extensão aponta outras exigências para sua efetiva realização: a necessidade de se discutir a flexibilização dos currículos, de modo que as atividades em outros espaços, fora da sala de aula, sejam consideradas ações educativas; a necessidade de legitimar as atividades acadêmicas de caráter

interdisciplinar, tão próprias da extensão, integrando grupos de áreas distintas do

conhecimento, entre outras. Tais discussões envolvem não apenas interesses organizacionais, mas até mesmo perspectivas novas em relação ao modelo de universidade pública, razão pela qual certas posturas conservadoras e elitistas ainda impedem a efetivação da norma. O que o documento (FORPROEX, 2012) pode não ter bem avaliado é o sentido que essas mudanças adquirem nas novas instituições mundializadas, à medida em que são estruturadas segundo o modelo empresarial, com as relações entre ensino, pesquisa e extensão compondo o horizonte da prestação de serviços aos setores público e privado.

Se a questão da sistematização e institucionalização da extensão encontra resistências em certas áreas da universidade, o mesmo acontece quando se evoca, dentre as condições para implementação dessa sistemática, o tema do financiamento.

O financiamento da extensão universitária é um elemento importante para sua efetivação, por meio de um aporte estável, sólido e transparente. Essa temática não é reivindicação nova das instituições. Como citamos acima, entre 1993 e 1995 vigorou o

Programa de Fomento à Extensão Universitária – PROEXTE, retomado, em 2003, com

o nome Programa de Extensão Universitária–PROEXT, mas, ao que parece, já extinto no atual governo.

Esses programas apresentaram diretrizes para que as instituições de ensino superior obtivessem financiamento de suas atividades extensionistas junto ao Ministério da Educação. Entre 1995, quando o programa foi extinto, e 2003, quando foi retomado, o Fórum analisou a prática de se levantar recursos através das próprias ações extensionistas – a mercadorização da extensão. Como o financiamento das instituições é instável, dentro do novo modelo neoliberal em andamento, esse processo tende a ser intensificado em muitas instituições, inclusive com o significativo incremento de programas e projetos de extensão no âmbito da pós-graduação, onde a participação de profissionais favorece a comercialização desses cursos. Os cursos de extensão, voltados para a formação continuada de profissionais, reciclagem ou aprofundamento, pagos pela comunidade, têm representado a maior parte das atividades extensionistas em andamento em muitas universidades.

O FORPROEX (2012) entendeu que a extensão como um canal para a captação de recursos pode ser uma prática favorável apenas ao Estado, que desse modo vai deixando de financiar a educação superior. De sua parte, as instituições perdem autonomia, pois passam a depender daqueles que pagam por seus serviços. Mesmo desenvolvendo ações gratuitas, como compensação ou para equilibrar os serviços pagos, a necessidade de financiamento acaba monopolizando a programação, de modo que essa prática acelera o processo de privatização definitiva do ensino superior no país.

Para o FORPROEX (2012), a extensão como venda de serviços necessita de uma regulação, com delimitações claras para que a identidade da instituição, na produção e universalização do conhecimento, não seja deturpada, servindo aos interesses do capitalismo. O Fórum entende que a primeira fonte de financiamento é o próprio Estado, através dos recursos que são destinados para as universidades. A alocação de recursos deve ocorrer através de procedimentos legais, por meio de editais, priorizando projetos e programas, o que permite superar a fragmentação e caráter eventual dos aportes. Tais afirmações do FORPROEX indicam uma confiança no Estado que talvez não exista mais no presente. De qualquer forma, o documento parece não perceber a profundidade das mudanças em curso, o alcance das práticas que implementam as World Class Universities ao redor do mundo.

De fato, a criação do PROEXT em 2003, logo após o início do governo Lula (2003-2011), atendia à demanda das instituições ao mesmo tempo em que vinculava as ações extensionistas a um projeto governamental de inclusão social. Segundo o governo, “o Programa de Extensão Universitária – PROEXT tem o objetivo de apoiar as

instituições públicas de ensino superior no desenvolvimento de programas ou projetos de extensão que contribuam para a implementação de políticas públicas”13.

O PROEXT foi regulamentado pelo Decreto no 6.495, de 30 junho de 2008. O acesso aos recursos era feito a partir de chamada pública, realizada por meio de editais publicados anualmente, nos quais podiam se candidatar as instituições de ensino superior públicas e comunitárias. A gestão do PROEXT era definida pela própria instituição, com base no art. 53 da Lei de Diretrizes e Bases da Educação (Brasil, 1996) e o repasse de recursos pelo MEC, realizado por meio de descentralização ou convênio. De 2003 a 2009 foram apoiados 1.274 projetos de extensão, executados em 70 municípios, totalizando R$ 41,7 milhões em recursos.

O decreto 7.233/2010, que regulamentou o financiamento das universidades federais, inseriu a extensão universitária nessa perspectiva dos recursos necessários, ao mesmo tempo que exigiu “a existência de programas institucionalizados de extensão, com indicadores de monitoramento” (Brasil, 2010, artigo 4o, parágrafo 2o, inciso VIII), o que tem sido buscado pelas instituições com apoio do FORPROEX.

Na verdade, a proposta do FORPROEX (2012) é de inclusão da extensão universitária nos planos plurianuais do Governo Federal, a criação de um fundo nacional de extensão e a inserção da extensão nos editais das agências de fomento, como o CNPq, o FINEP e as fundações de amparo à pesquisa. Segundo o Fórum (2012), o financiamento pode até mesmo vir do setor privado, através de parcerias com órgãos e instituições ligadas às áreas temáticas ou agências de desenvolvimento, desde que não contrarie o conceito, os princípios e diretrizes da extensão universitária.

O tema do financiamento projeta outro aspecto da extensão a ele vinculado: o da

avaliação. A avaliação da extensão universitária deve orientar as ações para que estejam

em consonância com as diretrizes nacionais promulgadas. Nesse sentido, o que se busca é um sistema nacional de avaliação da extensão, com critérios universais que possibilitem o requerimento e a distribuição dos recursos de forma organizada e segundo critérios transparentes. Cabe lembrar que todas essas discussões ocorrem no âmbito das instituições públicas, do qual o Fórum é o porta-voz, sendo que as discussões promovidas nesse âmbito pelo setor privado14 só encontraram ressonância mais recentemente.

13Fonte:<http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=12241&ativo=488& Itemid=487> - Acesso em 21.09.2017.

14Em 1998, foi criado o Fórum Nacional de Extensão e Ação Comunitária das Universidades e Instituições

O FORPROEX (2012) entende que a avaliação deve ser sistemática, com a participação de todos os envolvidos da universidade e da sociedade; uma ação institucional orgânica capaz de aperfeiçoar a qualidade do trabalho desenvolvido.

O Fórum lembra que a lei que institui o Sistema Nacional de Avaliação da

Educação Superior – SINAES, “cuja preocupação central são os impactos acadêmicos e

sociais do ensino superior” (FORPROEX, 2012, p.32), destaca quais dimensões da extensão universitária devem ser observadas nessa avaliação:

Art.3o- A avaliação das instituições de educação superior terá por objetivo identificar o seu perfil e o significado de sua atuação, por meio de suas atividades, cursos, programas, projetos e setores, considerando as diferentes dimensões institucionais, dentre elas obrigatoriamente as seguintes:

[...]

II - a política para o ensino, a pesquisa, a pós-graduação, a extensão e as respectivas formas de operacionalização, incluídos os procedimentos para estímulo à produção acadêmica, as bolsas de pesquisa, de monitoria e demais modalidades;

III - a responsabilidade social da instituição, considerada especialmente no que se refere à sua contribuição em relação à inclusão social, ao desenvolvimento econômico e social, à defesa do meio ambiente, da memória cultural, da produção artística e do patrimônio cultural;

IV - a comunicação com a sociedade (Brasil, 2004, Lei 10.861, artigo 3o).

A fim de que esse objetivo seja alcançado, a avaliação da extensão universitária deve integrar critérios objetivos (relatórios, trabalhos escritos, publicações ou comunicações) e subjetivos (compromisso, dedicação), de modo a expressar seu caráter formativo, prospectivo e qualitativo. A centralidade da questão avaliativa, exigida pela legislação e ainda em processo de construção, requer o esforço das instituições no sentido de aprimorar e consolidar o sistema nacional de monitoramento e avaliação da extensão. Em 2013, a Comissão Permanente de Avaliação da Extensão, do FORPROEX, lançou o documento Avaliação da Extensão Universitária: práticas e discussões da Comissão

Permanente de Avaliação da Extensão (FORPROEX, 2013), trazendo, entre outros

aspectos, reflexões sobre os processos de construção de indicadores de extensão e de sistemas de avaliação.

particulares – FOREXP. Em 2013, o ForExt lançou o documento “Extensão nas Instituições Comunitárias

de Ensino Superior: referenciais para a construção de uma Política Nacional de Extensão nas ICES” (FOREXT, 2013), revelando a preocupação das instituições comunitárias com a universalização das ações extensionistas.

Como se vê, as temáticas da sistematização, institucionalização, financiamento e

avaliação da extensão são consideradas fundamentais para a consolidação das diretrizes

anteriormente apresentadas. O estágio atual dessas questões no interior das instituições de ensino, no entanto, não é o mesmo em todas elas, nem homogêneo em cada uma. O descompasso, acima mencionado, cria novas realidades, como, por exemplo, a revisão

das diretrizes para a extensão universitária, que o Conselho Nacional de Educação está

elaborando15 com a justificativa de incluir as entidades particulares, os cortes no

financiamento e as interferências dos órgãos de controle sobre a autonomia universitária.

São iniciativas que, entre outras, desestabilizam o atual modelo de ensino superior público, impedindo essa reestruturação interna, e estão sendo implementadas em vista da assunção de uma nova cultura organizacional de matriz norte-americana.

2.2.4 Princípios básicos, desafios e ações políticas da extensão universitária

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