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O processo de escolha dos projetos de extensão analisados na pesquisa

CAPÍTULO 3 EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA E EDUCAÇÃO NA

3.3 O processo de escolha dos projetos de extensão analisados na pesquisa

Nossa intenção, num primeiro momento, foi enfocar os 92 programas listados na área da Educação (28,57% do total em andamento), de modo a delimitar ali o objeto de nossa pesquisa. A partir dessa perspectiva, buscamos os Programas ativos no Centro de

Educação e Ciências Humanas, o CECH, que naturalmente concentra seus estudos na

educação e apresenta o maior número de Programas nessa área (51).

Atualmente, o Centro de Educação e Ciências Humanas (CECH), congrega dez departamentos acadêmicos. São eles: o Departamento de Artes e Comunicação (DAC); o Departamento de Ciência da Informação (DCI); o Departamento de Ciências Sociais (DCSo); o Departamento de Educação (DEd); o Departamento de Filosofia (DFil); o Departamento de Letras (DL); o Departamento de Metodologia do Ensino (DME); o Departamento de Psicologia (DPsi); o Departamento de Sociologia (DSo); e o Departamento de Teorias e Práticas Pedagógicas (DTPP).

Tendo diante de nós os 51 programas de extensão desenvolvidos pelo Centro de

Educação e Ciências Humanas da UFSCar, passamos a analisá-los mais detalhadamente,

procurando observar os departamentos aos quais estavam ligados e o tipo de ação desenvolvida. Nossa preocupação era destacar aqueles Programas que, de alguma maneira, congregassem estudantes de graduação em suas atividades e pudessem desenvolver ações também orientadas para sua formação.

Dentre os dez departamentos listados, elegemos três (DED, DME e DTPP), para os quais encaminhamos correspondências solicitando apoio à pesquisa. Essa escolha deu- se por termos encontrado, nesses departamentos, um maior número de programas atendendo às seguintes especificações:

Ø   Envolvimento direto de estudantes de graduação em suas atividades; Ø   Conjugação das atividades de pesquisa com as de ensino e extensão; Ø   Atividades em andamento no momento de nossa pesquisa e em tempo

Assim, nossos esforços se concentraram no Departamento de Teorias e Práticas

Pedagógicas (DTPP), no Departamento de Metodologias de Ensino (DME), e no Departamento de Educação (DED), onde acreditamos ter encontrado melhores

possibilidades de executar a investigação.

Em cada um dos departamentos, obtivemos apoio de, pelo menos, um professor extensionista, de modo que pudemos avaliar quais projetos poderiam melhor atender aos objetivos da pesquisa. Dentre os vários projetos analisados, alguns foram considerados não exatamente alinhados aos objetivos propostos: um deles, criado para discussão e análise de lançamento de livro, evento de um dia; outro voltado para educação no campo, com datas específicas de encontros intensivos já realizados e a realizar, mas sem envolver diretamente estudantes de graduação; outro já finalizado, com estudantes egressos, os quais não se tem mais contato; outro voltado exclusivamente para profissionais da área do direito; outro para professores da rede pública. A dificuldade maior foi encontrar a participação direta de estudantes de graduação nas atividades.

Nesse sentido, a entrevista com a professora Roseli Rodrigues de Mello (Apontamentos, Apêndice E), atuante em projetos de extensão na UFSCar desde o ano de 2002, trouxe uma perspectiva apenas esboçada nas discussões até aqui realizadas, mas ainda não devidamente analisada: uma significativa mudança no contexto geral da sociedade (e na universidade) teria modificado o status dos estudantes em relação à extensão universitária.

Segundo o relato da professora, a presente década pode ser considerada a época de um duplo recuo: o primeiro, por parte dos professores extensionistas, que se depararam com uma clientela nova na universidade, e o segundo, por parte do governo, com a diminuição do financiamento dos projetos. Com efeito, segundo ela, houve uma profunda mudança no perfil dos estudantes ingressantes na universidade e foi essa a razão principal do arrefecimento de sua participação nos projetos extensionistas desenvolvidos.

A nova geração que chegava à instituição, a partir de 2010, de forma geral apresentava duas características diferentes: a) uma, própria daqueles vindos diretamente do ensino médio, sem experiência de trabalho, apresentando certa forma de estar nas situações sem se deixar envolver por elas, como se os jovens não percebessem em si próprios potências de resposta às problemáticas do mundo, uma exacerbação da individualidade que teria diminuído a capacidade de interlocução com o outro, em suma, certa falta de sentido de pertença, de participação de um coletivo – mesmo o acadêmico

– gerando muitos conflitos e conduzindo o corpo docente extensionista a selecionar criteriosamente aqueles considerados minimamente capazes de responder às necessidades de relação entre a universidade e coletivos não universitários, externos à instituição; b) outra, própria daqueles estudantes pertencentes a grupos específicos, historicamente marginalizados, e que trouxeram para dentro da universidade demandas que antes estavam fora dela – um perfil muitas vezes entendido como de fragilidade, de modo que muitos professores diziam não querer cuidar dos universitários nos projetos, mas defendendo a necessidade de haver projetos de extensão para atende-los.

Por conta disso, decresceu a participação direta dos estudantes como integrantes dos projetos, passando a ser participantes (público alvo) de modalidades de extensão como as ACIEPES e de programas governamentais como o Programa Institucional de

Bolsas de Iniciação à Docência - PIBID (Apontamentos, Apêndice E).

Essas características apresentadas pelas novas gerações de universitários, segundo a professora, não podem ser analisadas enquanto fruto de uma maior estratificação social no interior da universidade, derivada da ampliação do acesso através das novas políticas públicas. Aliás, para a professora Roseli, é justamente entre as camadas antes excluídas da universidade que hoje se encontram candidatos com perfil mais centrado, capazes de desenvolver adequadamente as atividades extensionistas. A grande maioria, ao contrário, parece ter bastante dificuldade de entender a extensão como movimento de diálogo, de encontro entre a universidade (da qual não se percebem representantes) e a sociedade (o outro).

Por conta dessa realidade, tivemos dificuldades em encontrar estudantes de graduação integrando as equipes dos projetos extensionistas. A maioria dos estudantes da UFSCar envolvidos em atividades extensionistas, estão em ações direcionadas a eles, como público alvo da extensão. Os projetos com estudantes atuando em parceria com professores são poucos, mas foram justamente esses que escolhemos, uma vez que são os que melhor revelam a nova perspectiva de universidade e de sua relação com a sociedade. A pesquisa voltou-se, então, para três projetos, ligados a programas em andamento: Oficinas de Experimentação Audiovisual, do DED; Tertúlias Literárias

Dialógicas, do Núcleo de Investigação e Ação Social e Educativa – NIASE, do DTPP; e Práticas de Educação Popular em Saúde, do DME.

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