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As atividades da ação extensionista na educação básica

CAPÍTULO 3 EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA E EDUCAÇÃO NA

3.4   Os três projetos analisados na pesquisa

3.4.1 Projeto: “Oficinas de Experimentação Audiovisual nas Escolas de São Carlos e

3.4.1.2 As atividades da ação extensionista na educação básica

O objetivo da ação extensionista é descrito no projeto aprovado pelo PROEX, da UFSCar:

A Atividade tem por objetivo amparar o cumprimento da lei 13.006/14 ao estimular estudantes do Ensino Médio e Fundamental à reflexão sobre as potências educacionais do audiovisual em diferentes plataformas de recepção (televisão, cinema, mídias jornalísticas, redes sociais, jogos e multiplataformas). Por meio da prática dos dispositivos de criação audiovisual os estudantes da Escola Estadual Conde do Pinhal tomarão contato com exercícios de produção fotográfica e audiovisual cujo processo de análise, desenvolvido pelos participantes com a mediação do docente responsável, objetivará o desenvolvimento de habilidades próprias a este aparato de linguagem. As oficinas possibilitarão reflexões, análises e propostas de ação sobre o lugar escola e a relação do sujeito com este espaço, em seus desdobramentos de sociabilidade e relações de alteridade. (PROEX, 2017a, p.1).

Tendo em vista esse objetivo, o projeto foi colocado em prática com a constituição de dois grupos: o primeiro, com estudantes do 8o e 9o ano do ensino fundamental, que reuniu 37 alunos, e, o segundo, com estudantes do 1o, 2o e 3o anos do ensino médio, reunindo 35 participantes. Ao total, 72 estudantes participaram das oficinas. Foram realizados 15 encontros, com 1 hora e 40 minutos de duração, totalizando 25 horas de curso. Além dessas horas com os estudantes, foram também organizadas 30 horas de planejamento da equipe, 10 horas para reuniões com os professores da escola e outras 60 horas para reuniões internas da equipe, com o objetivo de realizar o tratamento e trabalho

de pré-análises das imagens produzidas pelos estudantes durante as oficinas. Assim, a carga horária total do projeto chegou a 150 horas, considerando as duas turmas. A atividade com os estudantes tinha os seguintes objetivos gerais, descritos no projeto encaminhado à PROEX:

1) Desenvolver pequenas mostras fotográficas e peças audiovisuais de modo a enfatizar o cinema como arte e promover potências e experiências estéticas, estabelecendo relações formais com a fotografia, com a expressão corporal e também com a música; mas também possibilidades de encontro com a literatura e a poesia, que tomem como referência as vivências cotidianas dos educandos e educadores, considerando as especificidades dessa expressão artística em contexto escolar.

2) Refletir sobre a pertinência e relevância do desenvolvimento das alteridades e o favorecimento da igualdade educativa e social por meio da ação dos dispositivos audiovisuais (PROEX, 2017a, p.3).

Em relação à avaliação dessas atividades, o projeto estabeleceu dois modelos: uma avaliação de processo, continuada, com o intuito de “verificar a adequação dos processos utilizados e do gerenciamento do curso de formação, a aceitabilidade, a clareza da divulgação de informações, a dinâmica interna das organizações de execução” (PROEX, 2017a, p.5), e, uma avaliação da relação entre os objetivos traçados, sua execução e resultados obtidos. “Esta avaliação procura responder se o curso foi responsável por mudanças nos resultados de interesse” (PROEX, 2017a, p.5).

A partir dessa primeira experiência, em que foram trabalhados alguns dos dispositivos definidos pelo Projeto Inventar com a Diferença (Migliorin, Pipano e Garcia, 2014), a equipe decidiu desenvolver dispositivos próprios na oferta seguinte da disciplina, para o segundo semestre de 2017. Assim explica o professor responsável pelo projeto:

Nós desenvolvemos dispositivos próprios (essa fase você acompanhou um pouco), que partiram de necessidades próprias dos estudantes da escola e dos participantes da equipe, que formularam os dispositivos como parte do processo de trabalho com os estudantes da Escola em seus processos de relação com o espaço escolar e suas relações de sociabilidade. Também desta necessidade é que foi formulado o objeto de pesquisa de cada participante da equipe, porque o princípio que norteia nossa ação de ensino, de pesquisa e principalmente de extensão é partir da singularidade local/temporal, do contato, e dele buscar referências de entendimento, reflexão e trabalho, tomando como princípio os pensadores da Filosofia da Diferença, especialmente o trabalho do Rancière no “O Mestre Ignorante”. (Questionário, Apêndice D).

Assim, as exigências impostas pelas especificidades dos estudantes e dos membros da equipe implicaram em uma reformulação geral das ações, de modo a

contemplar as necessidades dos atores, as questões que de fato ecoam no grupo. Por outro lado, tais questões também ajudaram os membros da equipe a estabelecer seu objeto de pesquisa, indicando que cada um participa do trabalho também com seus interesses acadêmicos e projetos próprios. A perspectiva do professor coordenador é de que, desse modo, o ensino, a pesquisa e a extensão se completam, uma vez que a singularidade do contato entre pessoas, com seus diferentes interesses e necessidades, num determinado tempo e espaço específico, orienta estas ações de forma indissociável. Portanto, nesse contexto é que se desenvolveu tanto a capacitação dos escolares para o manuseio de materiais audiovisuais, como também a busca de referenciais de entendimento, reflexão e trabalho de pesquisa por parte da equipe do projeto.

Dando sequência ao projeto, no segundo semestre de 2017, a equipe ofertou a disciplina Oficinas de Experimentação Audiovisual nas Escolas de São Carlos e região:

reflexões, perspectivas e propostas, com o objetivo de estimular os estudantes a refletirem

“sobre as potências educacionais do audiovisual em diferentes plataformas de recepção (televisão, cinema, mídias jornalísticas, redes sociais, jogos e multiplataformas)” (PROEX, 2017b, p.1). O formato da atividade permaneceu o mesmo: encontros semanais, de uma hora e quarenta minutos de duração, porém os grupos de estudantes foram alterados: o ensino fundamental foi dividido em três grupos, com alunos de 8o e 9o ano, que trabalharam oito dispositivos escolhidos dentre os que foram utilizados com o ensino médio; e o ensino médio foi dividido em quatro grupos, cada um com uma série de oito dispositivos cada, que foram implementados ao longo do semestre. Quanto aos objetivos gerais da Atividade, surgiram novas propostas:

1) Desenvolver pequenas mostras fotográficas e peças audiovisuais de modo a enfatizar o cinema como arte e promover potências e experiências estéticas, estabelecendo relações formais com a fotografia, com a expressão corporal e também com a música; mas também possibilidades de encontro com a literatura e a poesia, que tomem como referência as vivências cotidianas dos educandos e educadores, considerando as especificidades dessa expressão artística em contexto escolar.

2) Refletir sobre a pertinência e relevância do desenvolvimento das alteridades e o favorecimento da igualdade educativa e social por meio da ação dos dispositivos audiovisuais;

Os objetivos específicos são:


a) Possibilitar oficinas práticas: atuação e trabalho com o audiovisual na escola;
 b) Fomentar formas de linguagem e expressões constituintes do audiovisual – partir do contexto escolar e se reinventar em modos artísticos;


c) Revitalizar e ampliar o acesso a filmes de curta e longa duração, pelas unidades escolares e comunidade por meio de conhecimento e utilização de plataformas que disponibilizam material para exibição gratuita;

d) Repensar e recriar novas linguagens na escola e em seu conjunto de relações sociais e pedagógicas. (PROEX, 2017b, p.3)

Ao realizar tais produções com os estudantes, esperava-se alcançar uma reflexão acerca das práticas desenvolvidas no espaço escolar, de maneira que a própria escola, enquanto lugar formativo, de interações sociais e relações de alteridade, se tornasse o ponto central das discussões. O documento afirma:

O procedimento de criação audiovisual seguirá a estratégia comum de: produzir uma imagem fotográfica ou um plano cinematográfico, produzir um encontro, conversar sobre a dinâmica de realização, ter certeza de que o estudante conhece bem o que fez – nos detalhes do que vê e nas conexões com o que não está na imagem e fomentar no cursista o desejo de compartilhar o que viu e inventou. Somente a partir deste ponto o conhecimento teórico será socializado. A partilha do conhecimento teórico é ponto marcante na relação professor-aluno, pois constitui o cerne das relações e métodos de ensinar e aprender. No entanto, para que os objetivos desta Atividade sejam alcançados, há a necessidade de atuar precisamente sobre as formas naturalizadas desta relação para dinamizá-las. Por isto é necessário produzir, encontrar, pensar e conversar sobre, para que as discussões teóricas sejam partilhas não apenas de ideias, mas de formas sensíveis de criação; formas de partilha do saber, mas também de partilhas do não saber, das incertezas e inseguranças como matéria prima de todo trabalho de criação audiovisual e da relação entre sujeitos (PROEX, 2017b, p.3-4)

Desse modo, o projeto procurou desenvolver entre os estudantes uma reflexão acerca do espaço escolar e, por conseguinte, uma reflexão acerca do significado da educação ali implementada em suas vidas. E isso por meio da criação de produtos audiovisuais com as características próprias de sua geração. Com essa proposta, além de subsidiar a atividade de pesquisa de cada participante, o projeto esperava alcançar a criação de um material e dinâmicas interativas, capazes de atender a perspectiva do cinema na escola, amparando o trabalho de outros educadores. Segundo as palavras do professor responsável pelo projeto,

Não objetivamos produzir um material fechado, mas subsídios referenciais para o desenvolvimento de um trabalho próprio. Claro, nenhuma turma é igual a outra, nenhuma escola possui características humanas e relacionais que se repliquem de forma tão coincidente e é este material que procuramos e tentamos sensibilizar nos professores para que procurem, esta é a matéria prima do cinema quando vai para a escola e é trabalhado sob seu aspecto de experiência (no caso do cinema na escola o objeto é a experiência cinematográfica, mais do que o filme como produto final). (Questionário, Apêndice D).

referenciais que possam auxiliar professores da educação básica a implementar a legislação no que se refere à experiência cinematográfica dos estudantes, realiza-se no desenvolvimento dessa experiência, aliada aos objetivos dos demais membros da equipe. Não se intenta criar modelos fechados, dado que as vivências são singulares, antes, um material que possa subsidiar um trabalho próprio.

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