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CAPÍTULO 2 – POLÍTICAS EDUCACIONAIS PARA A EXTENSÃO

2.2 Políticas de extensão universitária para as universidades públicas brasileiras

2.2.1 O modelo extensionista das últimas décadas

A extensão universitária no país foi se consolidando ao longo do tempo, reunindo distintas percepções e organizando-se de forma mais ou menos estruturada nas diferentes instituições de ensino superior públicas e privadas. Segundo Reis (1996), a história da extensão universitária brasileira pode ser analisada segundo duas linhas de ação, relativas à sua conceituação e práxis, que ele chama de eventista-inorgânica e processual-

orgânica.

A linha de ação eventista-inorgânica tem como característica a prestação de serviços ou na realização de eventos, isolados ou desvinculados do contexto ou do processo ensino aprendizagem e de produção de conhecimento da universidade. A linha de ação processual-orgânica tem como característica o desenvolvimento de ações de caráter permanente, imbricados ou inerentes ao processo formativo (ensino) ou à produção de conhecimento (pesquisa) da universidade, em parceria político-pedagógica com a sociedade civil ou política, numa dimensão mutuamente oxigenante e mutuamente transformante (Reis, 1996, p.41 – grifos do autor)

Segundo a conceituação de Reis (1996), as ações eventistas-inorgânicas predominaram no país desde o momento em que se iniciaram as atividades extensionistas até por volta da década de 1960, quando começou a se moldar uma nova perspectiva de extensão idealizada pelo movimento estudantil. O Congresso da UNE realizado na Bahia, em 1961, alavancou mudanças que foram continuadas através das novas experiências dos CRUTAC e dos campi avançados das universidades, até a elaboração do Plano de

Trabalho da Extensão Universitária, realizado pela CODAE, em 1975, quando pela

primeira vez se falou de uma mútua influência entre as ações extensionistas da universidade e o meio social em que eram realizadas. A partir de então, as ações

processuais-orgânicas começaram a se disseminar, sobretudo no âmbito das

universidades públicas, e a serem sistematizadas, principalmente depois da criação do FORPROEX, como vimos. Desde sua origem, em 1987, o Fórum de Pró-Reitores de

Extensão das Universidades Públicas tem sido protagonista na realização de encontros, suscitando o desenvolvimento de estudos e práticas, aperfeiçoando modelos e técnicas, estabelecendo políticas, discutindo um amplo leque de questões que envolvem a consolidação da extensão nas universidades brasileiras, de modo que ela se constitua efetivamente como dimensão acadêmica, ao lado do ensino e da pesquisa.

Especial relevância nesse processo teve a década de 1990, quando se reconstituía a universidade, na esteira das grandes reformas estruturais do Estado brasileiro, sob as orientações do neoliberalismo desenvolvido pelo consenso de Washington, a partir de 1989. Ao longo dos anos, as diretivas do pensamento neoliberal foram sendo incorporadas pelos governos brasileiros que se estabeleceram após a queda do regime militar: José Sarney (1985-1990), Fernando Collor (1990-1992), Itamar Franco (1992-1995), e, principalmente, pelo governo de Fernando Henrique Cardoso (1995-2003). Com FHC se dá a decisiva reforma do aparelho do Estado, com vistas à integração do país no mercado global, através de um refinado alinhamento das políticas públicas à cartilha neoliberal da economia. O país definitivamente se abriu ao capital internacional e as universidades públicas se alinharam às novas perspectivas apontadas pelo capitalismo acadêmico (Silva Junior, 2017).

A década de 1990 foi de reforma da universidade, com propostas elaboradas para orientar o tipo de ensino superior que se desejava, sobretudo capaz de fomentar a investigação e a tecnologia que poderiam alçar o país ao nível dos mais desenvolvidos mundialmente. Novos organismos, como fundações e incubadoras de empresas, pesquisas encomendadas, entre outras iniciativas já apontadas, trouxeram a relação universidade/sociedade para o âmbito das soluções empresariais capazes de promover o meio social e a instituição, além de aperfeiçoar o perfil técnico dos novos profissionais para o mercado. Com isso, a percepção de que a extensão poderia ser uma rica fonte de captação de recursos acabou se somando às demais perspectivas consolidadas, como a de responsabilidade social da instituição, estratégia de inclusão social, formação de recursos humanos, prestação de serviços, promoção da cultura, entre tantas outras formas através das quais a universidade se articula com a sociedade.

Por parte do FORPROEX, esse foi um período de consolidação do conceito de

extensão associado ao de ensino e de pesquisa, e de busca pela sistematização das ações extensionistas, como já acontecia com as demais dimensões. Por parte dos governos, foi

um período em que a extensão universitária despontou como espaço para a construção

inovação tecnológica do país, bem como um importante instrumento para a execução de

políticas públicas, aproveitando o potencial universitário no atendimento das demandas

da sociedade. Para os pesquisadores, a década de 1990 foi um período de incertezas, com alguns defendendo a supressão da extensão nas universidades, pois desviaria o foco da atenção e os recursos que se deveria aplicar especificamente em pesquisa, enquanto que outros preferiam associar a pesquisa à sua difusão no contexto social da instituição (extensão). A extensão constituía-se a partir de pressupostos distintos e conflitantes.

A articulação entre o FORPROEX e o MEC fortaleceu-se a partir de 1993, quando a Secretaria de Educação Superior (SESu) criou a Comissão de Extensão Universitária para a elaboração de programas de extensão e a definição de princípios, diretrizes e formas de fomento. Instituiu-se o Programa de fomento à extensão universitária –

PROEXTE, que vigorou de 1993 a 1995. Depois, em 2003, foi retomado no governo Luiz

Ignácio Lula da Silva, com a denominação de Programa de Extensão Universitária -

PROEXT. O último edital do PROEXT foi lançado em 2016.

Em 1999, o FORPROEX lançou o Plano Nacional de Extensão das Universidades

Públicas Brasileiras, em que analisa os antecedentes da extensão universitária no país,

expõe o conceito da entidade – esclarecendo cada aspecto da formulação –, indica a importância e os objetivos do plano, define metas para a organização da extensão e sua articulação com a sociedade, propõe uma metodologia e se compromete a desenvolver um sistema de avaliação para a extensão universitária. Depois disso, o Fórum organizou a Rede Nacional de Extensão (RENEX), destacando-se também pela elaboração de uma série de documentos cujo objetivo maior sempre foi a consolidação da extensão universitária como dinâmica formativa, interligando a instituição, em suas atividades de ensino e pesquisa, com as demandas da sociedade. Alguns desses documentos (disponibilizados no endereço <http://www.renex.org.br>), são: Plano Nacional de

Extensão (2001); Avaliação Nacional da Extensão Universitária (2001); A indissolubilidade ensino-pesquisa-extensão (2006); Institucionalização da Extensão (2007); Extensão Universitária: Organização e Sistematização (2007); Política Nacional de Extensão Universitária (2012); Avaliação da Extensão Universitária: práticas e discussões da Comissão Permanente de Avaliação da Extensão (2013); além de vários

relatórios, notas, artigos, cartas e memória dos encontros nacionais, em que se divulgam as reflexões sobre a extensão universitária no país.

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