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Princípios básicos, desafios e ações políticas da extensão universitária

CAPÍTULO 2 – POLÍTICAS EDUCACIONAIS PARA A EXTENSÃO

2.2 Políticas de extensão universitária para as universidades públicas brasileiras

2.2.4 Princípios básicos, desafios e ações políticas da extensão universitária

ainda estabelece princípios básicos norteadores das diretrizes inicialmente propostas, além de apontar possíveis desafios e ações políticas necessárias ao seu fortalecimento. Trata-se, especificamente, dos aspectos mais fundamentais para a constituição de uma política nacional de extensão.

Os princípios básicos da extensão universitária, na verdade, foram explicitados ainda no ano de 1987, quando o FORPROEX foi criado. Já naquele momento se afirmava:

v   Cada local e região do país deve estabelecer suas prioridades científicas, artísticas e tecnológicas;

v   O conhecimento manipulado pela universidade não está acabado e é produto de sua interação com o meio social;

v   A universidade deve participar dos movimentos sociais e desenvolver ações que combatam a desigualdade e a exclusão social;

15 Em 18.12.2018, o MEC/CNE publicou a Resolução n.7, que estabelece Diretrizes para a Extensão na

Educação Superior Brasileira e regimenta o disposto na meta 12.7 da lei 13005/2014, que aprova o Plano Nacional de Educação PNE 2014-2024. As novas diretrizes foram elaboradas com a participação de

instituições públicas e privadas. Disponível em:

<http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&view=download&alias=104251-rces007- 18&category_slug=dezembro-2018-pdf&Itemid=30192> Acesso em 04.01.2019.

v   Compete à universidade difundir e democratizar os saberes produzidos em parceria com as comunidades;

v   Os serviços prestados pelas ações da universidade devem atender ao interesse acadêmico, científico, filosófico, tecnológico e artístico do ensino, pesquisa e extensão e à transformação social;

v   A atuação da universidade junto ao sistema de ensino público é diretriz prioritária para fortalecimento da educação básica.

Em relação aos desafios que a extensão universitária teria pela frente, a Política

Nacional de Extensão Universitária (FORPROEX, 2012) enumera os seguintes:

v   A redefinição e ampliação da chancela institucional para as ações extensionistas; v   A estimulação do protagonismo dos estudantes no processo de mudanças do

ensino superior;

v   A garantia da dimensão acadêmica para as ações extensionistas (sobretudo em relação à prestação de serviços);

v   A concretização da função transformadora das ações extensionistas, eliminando as ações reprodutoras do status quo;

v   O fortalecimento da autonomia e do papel crítico da relação das ações extensionistas com as políticas públicas, de modo a gerar impacto social;

v   O financiamento estável das ações extensionistas, de forma pública, transparente e contínua, priorizando projetos vinculados a programas;

v   A definição do papel dos editais, dos planos plurianuais, dos orçamentos autônomos das instituições federais de ensino superior em relação a uma política regional e nacional de financiamento da extensão;

v   A atualização das áreas temáticas da extensão;

v   A atualização dos sistemas de informação e de avaliação da extensão, com a construção de indicadores das dimensões Política de Gestão, Infraestrutura,

Relação Universidade/Setores Sociais, Plano Acadêmico, Produção Acadêmica;

v   A incorporação, nos indicadores de Avaliação da Extensão, dos aspectos acadêmicos e qualitativos e de impactos sociais das ações extensionistas;

v   O estabelecimento da extensão universitária enquanto produção de conhecimentos sistematizados;

v   O desenvolvimento, nas ações extensionistas, da ciência, da tecnologia e da inovação visando à inclusão social.

Em seguida, no que diz respeito às ações políticas, o documento propõe algumas práticas capazes de concretizar aqueles elementos centrais da extensão universitária inicialmente apresentados.

A primeira proposta, normatização e implementação da extensão, corresponde à sua sistematização e institucionalização, exigindo que a extensão universitária se torne “parte do pensar e do fazer cotidiano da vida acadêmica” (FORPROEX, 2012, p.23). Nesse sentido, as normas e regras estabelecidas pela Constituição, pela LDB, pelo PNE já indicam o caminho. As considerações do Fórum de Pró-Reitores, por sua vez, indicam quais são as dinâmicas internas que devem ser reestruturadas: o processo de aprovação

das ações extensionistas; o processo de monitoramento e avaliação, com a definição de indicadores; as formas de financiamento; os programas de bolsa; as formas de participação do estudante; a flexibilização curricular; o aproveitamento de créditos em atividades extensionistas; a valorização da participação de docentes nas ações

extensionistas; as formas de participação de servidores técnico-administrativos; as formas de participação da comunidade externa em processos decisórios relativos a ações de extensão específicas.

A segunda proposta, articulação da extensão com as políticas públicas, observa que o envolvimento da universidade nessa área é uma oportunidade para preparar profissionais habilitados na formulação, realização e avaliação de tais políticas, criando uma expertise que é também crítica e autônoma frente aos interlocutores governamentais. Para o Fórum, trata-se de um espaço privilegiado para discussão de programas e projetos institucionais, de modo a superar sua “fragmentação, setorialização, desarticulação e superposição [...], bem como o caráter muitas vezes residual e temporário de seu financiamento” (FORPROEX, 2012, p.25). Além disso, após a Constituição de 1988, foram criados espaços de participação social, como conselhos e conferências de representação comunitária cuja função é participar da elaboração das políticas públicas e na destinação de recursos. Nesse sentido, as ações extensionistas também podem atuar no fortalecimento desses espaços, com a promoção de cursos de formação de conselheiros.

A terceira proposta, articulação da extensão com os movimentos sociais, fortalece a extensão e seu compromisso de combater a exclusão, a desigualdade e a discriminação, uma vez que integra aqueles grupos que estão diretamente envolvidos nessas lutas sociais.

O que se pretende é, preservando a autonomia de cada instituição, promover o espírito crítico, a elaboração de novos saberes, valores e interesses. A universidade tem o potencial de contribuir através de cursos de capacitação, atualização e formação de lideranças.

A quarta proposta, articulação da extensão com os setores produtivos, entende que a extensão também se fortalece à medida que se envolve com os problemas e desafios da indústria, da agricultura, enfim, das áreas voltadas à produção, contribuindo com o desenvolvimento econômico do país. É, sem dúvida, a proposta que obteve maior avanço na atualidade, devido ao crescente interesse do setor produtivo com a pesquisa de novas tecnologias e a produção do conhecimento matéria-prima, de modo que as instituições conseguem captar grande volume de recursos financeiros para os programas e projetos dessas áreas.

Por fim, a quinta proposta, apoio à ampliação e democratização do ensino

superior, indica que a extensão pode ser uma via de acesso dos jovens a esse nível

acadêmico, sobretudo através dos cursos preparatórios para o vestibular; a distribuição de bolsas de extensão, para diminuir a evasão; a criação de monitorias, para superar deficiências de conteúdo.

O documento termina apresentando uma Agenda Estratégica, com indicação de

ações e sujeitos (FORPROEX, 2012), no sentido de implantar tal política nacionalmente.

Resumidamente, as doze ações apontadas são:

1.   Incorporação curricular definitiva das ações de extensão;

2.   Adequada inserção da extensão nas metas para a educação superior do PNE; 3.   Regulamentação da extensão como prática acadêmica;

4.   Reconhecimento das ações de extensão em concursos, normas e carreiras acadêmicas de professores e técnicos;

5.   Criação de mecanismos legais de financiamento regular e permanente da extensão;

6.   Definição dos valores alocados para atender às demandas do edital PROEXT/2012;

7.   Instituição, pelo MEC, do Plano Nacional de Extensão;

9.   Estabelecimento e fortalecimento de parcerias para a implementação de políticas públicas voltadas para a contribuição inovadora da universidade na superação da inequidade social;

10.  Criação de um Departamento de Políticas Acadêmicas Integradas, na SESu, para estimular e induzir a integração da extensão, ensino e pesquisa no cotidiano das instituições de ensino superior;

11.  Apoio e financiamento para a criação de plataforma de comunicação da extensão; 12.  Fomento e apoio a rádios e TVs educativas.

Portanto, os desafios alinhados pela agenda estratégica procuram desenvolver aquelas principais temáticas relativas à consolidação da extensão: sua sistematização, desde o âmbito dos organismos federais, sua institucionalização nas instituições de ensino, sua operacionalização na sociedade, formas de financiamento e processos

avaliativos.

O traço mais marcante do documento apresentado pelo FORPROEX (2012) é o protagonismo da universidade na implementação da Política Nacional de Extensão

Universitária. Embora se fale em resgatar o lugar dos estudantes e se reconheça a

importância de constituir espaços de diálogo com o Estado, a consolidação de uma política de extensão é apresentada como prerrogativa das instituições universitárias. Mas, o modelo universitário atual está se decompondo, os princípios e valores neoliberais estão cada vez mais presentes nas instituições, inserindo-as numa dinâmica de mercado, em um horizonte diverso daquele apresentado pelo Fórum. O FORPROEX, por sua vez, já não estabelece a mesma interlocução com os órgãos governamentais. Com efeito, parece ter perdido o status de porta-voz do governo para os assuntos da extensão. No Encontro

Nacional, ocorrido em Ouro Preto – MG, em setembro de 2016, a dificuldade de diálogo

com o governo foi destacada. A nova postura governamental considera que o FORPROEX compreende e representa apenas as instituições públicas de ensino superior, sem autoridade para falar em nome de toda a realidade nacional.

De qualquer modo, parece-nos que toda a Política Nacional de Extensão

Universitária proposta pelo FORPROEX foi construída sobre um modelo institucional

universitário que está se fragmentando e ainda não está claro, devido às diferentes forças que compõem e tensionam o universo acadêmico, qual será o efetivo rosto da nova universidade pública.

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