• Nenhum resultado encontrado

O meio ambiente do trabalho compreende o local onde as pessoas desempenham suas atividades laborais, sejam remuneradas ou não, cujo equilíbrio está baseado na salubridade do ambiente e na ausência de agentes que comprometam a incolumidade físico-psíquica dos trabalhadores, independente da condição que ostentem (homens ou mulheres, maiores ou menores de idade, celetistas, servidores públicos, autônomos etc.).56

Os artigos 200, inciso VIII, 7º, inciso XXIII, e 225, da Constituição Federal, tutelam o meio ambiente do trabalho. Nos termos dos dois primeiros dispositivos citados:

Art. 200. Ao sistema único de saúde compete, além de outras atribuições, nos termos da lei: [...];

VIII – colaborar na proteção do meio ambiente, nele compreendido a do trabalho.

Art. 7º. São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condição social: [...];

XXIII – redução dos riscos inerentes ao trabalho, por meio de normas de saúde, higiene e segurança.

Ressalta-se que, o meio ambiente do trabalho aqui mencionado, diz respeito ao meio ambiente no qual o trabalhador executa suas tarefas.

5 DIREITO AMBIENTAL

O escopo do direito ambiental é a proteção do meio ambiente. É um campo do direito que regula o relacionamento do homem com a natureza, entrelaçando e integrando juridicamente todos os elementos do meio ambiente, do qual o homem faz parte e atua constantemente, ativa ou passivamente, e que, em regra, interfere de modo negativo.

Dessa interferência surge a necessidade de intervenção do Estado, a fim de tornar tal relação a mais equilibrada possível, no sentido de preservar e por que não dizer, garantir a sobrevivência terrestre.

Na avaliação de William Rodgers Junior57, o direito do ambiente é amplo,

considerado o “direito da economia doméstica planetária”, cuja função é proteger “o planeta e sua população das atividades que transtornam a Terra e sua capacidade de manutenção da vida”.

De outra doutrina, retira-se que o direito do ambiente é:

[...] constituído por um conjunto de regras jurídicas relativas à proteção da natureza e à luta contra as poluições. Ele se define, portanto, em primeiro lugar pelo seu objeto. Mas é um Direito tendo uma finalidade, um objetivo: nosso ambiente está ameaçado, o Direito deve poder vir em seu socorro, imaginando sistemas de prevenção ou de reparação adaptados a uma melhor defesa contra as agressões da sociedade moderna. Então o Direito do Ambiente, mais do que a descrição do direito existente, é um Direito portador de uma mensagem, um Direito do futuro e da antecipação, graças ao qual o homem e a natureza encontrarão um relacionamento harmonioso e equilibrado. [...] Na medida em que o ambiente é a expressão de uma visão global das intenções e das relações dos seres vivos entre eles e com seu meio, não é surpreendente que o Direito do Ambiente seja um Direito de caráter horizontal, que

57 RODGERS JUNIOR, William H. Environnemental Law. St. Paul, Minn.: West Publishing, 1977. p. 1. Apud MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito ambiental brasileiro, 20. ed., revista, atualizada e

recubra os diferentes ramos clássicos do Direito (Direito Civil, Direito Administrativo, Direito Penal, Direito Internacional), é um Direito de interações, que se encontra disperso nas várias regulamentações. Mais do que um novo ramo do Direito com seu próprio corpo de regras, o Direito do Ambiente tende a penetrar todos os sistemas jurídicos existentes para os orientar num sentido ambientalista.58

Com função sistematizadora, o direito do ambiente faz a articulação da legislação, da doutrina e da jurisprudência concernentes aos elementos que integram o ambiente, interligando todos os temas ambientais afetos – direito das águas, direito da atmosfera, direito do solo, direito florestal, direito da fauna e direito da biodiversidade –, amalgamando a identidade dos instrumentos jurídicos de prevenção e de reparação, de informação, de monitoramento e de participação.59

O principal objetivo deste ramo do direito é a conservação do bem ambiental, ou seja, a vida e tudo o que contribua para a sua sadia qualidade, logo, acompanha-o em toda a sua extensão, evidenciando, assim, o seu caráter difuso, multidisciplinar e interdisciplinar, avalia Clarissa Ferreira Macedo D’Isep.60 E

complementa:

[...] o direito ambiental é transversal (ou horizontal), visto que, ao mesmo tempo em que restringe, amplia, qualifica e direciona o disposto pelos ‘demais ramos’, a exemplo das restrições de liberdades individuais em prol do coletivo; da noção de ‘vida’ trazida pelo art. 5º da CF/1988, que deve ser qualificada pelo art. 225 (sadia) daquela Carta; ou, ainda, a atividade econômica regulada pelo art. 170 da CF/1988, que sofre restrições ao ter que, em seu exercício, prestar obediência às leis ambientais (que vão desde o meio ambiente natural ao do trabalho e urbano). Esse caráter transversal do direito ambiental inibe a visão fragmentada do direito, por muito cultuada pela doutrina. O direito é um ‘todo’ (tanto pelo objeto assim como pela ‘corda’ que o amarra, no caso, a interpretação sistemática), ‘complexo’ (pois é muito mais que um mero conjunto de normas), e como tal deve ser tratado.61

58 MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito ambiental brasileiro, p. 62. 59 MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito ambiental brasileiro, p. 62-63.

60D’ISEP, Clarissa Ferreira Macedo. Direito ambiental econômico e a ISO 14000: análise jurídica do

modelo de gestão ambiental e certificação ISO 14001, p. 98.

61D’ISEP, Clarissa Ferreira Macedo. Direito ambiental econômico e a ISO 14000: análise jurídica do

Em suma, o direito ambiental tem, sobretudo, uma obrigação de resultado62, de coordenar os diversos ramos do direito63 e de intervir na relação

homem-natureza, por meio de políticas ambientais eficientes.

6 DIREITO AMBIENTAL INDUSTRIAL

A atividade industrial tem um histórico de transformação do meio ambiente. É uma atividade peculiar, complexa e exerce um importante papel na evolução econômica, social e ambiental do indivíduo.

A complexidade jurídica que permeia a atividade industrial faz emergir a necessidade de regramentos próprios, tornando-a especial. Dessa especialização, vemos nascer o “meio ambiente industrial”, com suas particularidades, dando espaço para o desenvolvimento do ramo do “direito ambiental industrial”, que é o direito de indústria, o direito de poluir relativizado pelo direito ambiental, tal como o direito de água, o direito de antena, o direito de cidade etc.O direito ambiental industrial tem a finalidade de proteger o meio ambiente em face da atividade industrial. É um campo do direito que regula o exercício da atividade industrial, formando um conjunto de normas jurídicas específicas que visam garantir o direito de indústria, harmonizado com a proteção do meio ambiente.

O direito ambiental industrial tem como desafio controlar a atuação da atividade industrial para que a poluição por ela gerada não cause efeitos negativos ao meio ambiente, mas sim, quando possível, traga benefícios, de forma a garantir sadia qualidade de vida para as presentes e as futuras gerações.

Esse controle depende não só da criação de regras específicas, mas principalmente do cumprimento delas. Para tanto, o monitoramento (por parte do Estado e da sociedade) atento é imprescindível, pois, como se verá adiante, a atividade industrial está inserida em um contexto jurídico bem peculiar, devido a

62D’ISEP, Clarissa Ferreira Macedo. Direito ambiental econômico e a ISO 14000: análise jurídica do

modelo de gestão ambiental e certificação ISO 14001, p. 100.

63 ANTUNES, Paulo de Bessa. Direito ambiental. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 1996, p. 21, apud

D’ISEP, Clarissa Ferreira Macedo. Direito ambiental econômico e a ISO 14000: análise jurídica do modelo de gestão ambiental e certificação ISO 14001, p. 98.

interferências negativas e positivas que produz em seu entorno e na vida dos indivíduos que dela participam direta ou indiretamente.

Então, do diálogo do uso (regrado) e do gozo de recursos ambientais com o exercício da função social e econômica da atividade industrial nasce o “direito do meio ambiente industrial”.

PRIMEIRA PARTE

PRINCÍPIO DO POLUIDOR PAGADOR: VARIÁVEIS JURÍDICAS E

ECONÔMICAS

O objetivo deste capítulo é discorrer sobre o princípio do poluidor pagador, princípio basilar para se alcançar o desenvolvimento econômico sustentável e, consequentemente, a concretização do direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado.

1 PRINCÍPIO DO POLUIDOR PAGADOR: UM OLHAR JURÍDICO

O princípio do poluidor pagador atua na vertente da prevenção e da reparação do dano ambiental, na ideia de que a indústria deve investir na prevenção do meio ambiente. Quando a indústria envida esforços e custos nesta direção ela está atuando com as prerrogativas do princípio do poluidor pagador, na prevenção dos riscos, ou seja, está antecipando-se à ocorrência do dano.

A indústria deve atuar sempre preventivamente, pois, ainda que não consiga evitar todos os danos ao meio ambiente decorrentes de sua atividade, ao lançar mão de técnicas limpas obterá melhores resultados do que se não as tivesse adotado.

Dessa maneira, pode-se dizer que o princípio do poluidor pagador funciona também como condição limitadora, que precisa ser respeitada para fins de proteção do meio ambiente, pois o desenvolvimento é contínuo, vem desde os primórdios da evolução do homem e acelerou com a Revolução Industrial. A indústria não está sozinha no mundo, tem de atuar respeitando, para além dos objetivos econômico-financeiros, os ditames da ordem social e ambiental.64

64Consoante se extrai do art. 170, inc. VI, da CRFB: “A ordem econômica, fundada na valorização do

trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios: [...] VI - defesa do meio ambiente,

De início, pode-se afirmar que “[...] aquele que é responsável por danos ao meio ambiente deve arcar com os custos associados a ele".65

O princípio do poluidor pagador é uma regra de bom senso econômico, jurídico e político. Trata-se de um princípio instrumental para a realização concreta do direito ao meio ambiente66, visto estar ligado à preservação dos recursos

naturais.

Com efeito, o fato de “pagar” pelo uso dos recursos naturais não autoriza o poluidor a gastar indiscriminadamente tais recursos, tampouco permite que sejam esgotados.

Nessa linha, colacionam-se as lições de Mateo Ramón Martín e Edis Milaré, respectivamente:

O princípio não objetiva, por certo, tolerar a poluição mediante um preço, nem se limita apenas a compensar os danos causados, mas sim, precisamente, evitar o dano ao ambiente.67

[...] o pagamento pelo lançamento de efluentes, por exemplo, não alforria condutas inconsequentes, de modo a ensejar o descarte de resíduos fora dos padrões e das normas ambientais. A cobrança só pode ser efetuada sobre o que tenha respaldo na lei, pena de se admitir o direito de poluir. Trata-se do princípio-do-poluidor-pagador (poluiu, paga os danos), e não pagador-poluidor (pagou, então pode poluir). [Grifo nosso].68

O princípio em comento trouxe a noção de que o usuário dos recursos naturais deve internalizar os custos da prevenção de impactos, ou seja, deve tomar medidas que assegurem a preservação dos recursos naturais, mediante implementação de tecnologias limpas, bem como reparação dos danos inevitáveis decorrentes desse uso.

inclusive mediante tratamento diferenciado conforme o impacto ambiental dos produtos e serviços e de seus processos de elaboração e prestação; [...]”.

65 CORDATO, Roy E. The polluter pays principle. A proper guide for environmental policy.

Washington, DC: Institute for Research on the Economics of Taxation, 2001. Disponível em: <http://iret.org/pub/SCRE-6.PDF>. Acesso em: 3 mar. 2014.

66 The polluter pays principle. Definition. Analysis. Implementation. Paris: OCDE, 1975. p. 25. Apud

ARAGÃO, Maria Alexandra de Sousa. O princípio do poluidor pagador pedra angular da política comunitária do ambiente. Boletim da Faculdade de Direito Universidade de Coimbra. Coimbra: Coimbra Editora, 1997. p. 211-212.

67 MATEO, Ramón Martín. Derecho ambiental. Madrid: Instituto de Estudios de Administración Local,

1977, p. 240. Apud MILARÉ, Édis. Direito do ambiente: a gestão ambiental em foco: doutrina, jurisprudência, glossário. 7. ed., atual. e reform. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2011. p. 1.075.

68 MILARÉ, Édis. Direito do ambiente: a gestão ambiental em foco: doutrina, jurisprudência, glossário,

O princípio do poluidor pagador é um princípio complexo, interdiciplinador, que atua nas vertentes preventiva e reparadora dos danos ambientais, ensejando a criação de normas e políticas ambientais, capazes de promover a conscientização e a regulamentação do comportamento do poluidor, bem como solucionar pacificamente os conflitos gerados pela poluição. O seu propósito maior é a preservação e a restauração dos recursos ambientais, de modo a dar concretude ao preceito constitucional, de que todos os entes do Poder Público devem atuar solidariamente para proteger o meio ambiente.69 É o que preconiza a Declaração da

Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano.

O homem tem direito fundamental à liberdade, à igualdade e ao desfrute de condições de vida adequadas em um ambiente de qualidade tal que lhe permita levar uma vida digna e gozar de bem estar, tendo a solene obrigação de proteger e melhorar o meio ambiente para as gerações presentes e as futuras [...]. [Grifo nosso].70

A propósito, na seção seguinte, verifica-se como o princípio do poluidor pagador foi introduzido no mundo jurídico.

1.1 INTRODUÇÃO DO PRINCÍPIO DO POLUIDOR PAGADOR NA LEGISLAÇÃO