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A ideia de conciliação do desenvolvimento econômico com a proteção do meio ambiente não é recente. A partir da década de 1970, os movimentos ambientalistas foram aparecendo e, pouco a pouco, a consciência humana da necessidade de proteção do meio ambiente face ao desenvolvimento econômico foi fortalecendo-se.

Segundo Clarissa Ferreira Macedo D’Isep235: “Manter o meio ambiente

ecologicamente equilibrado significa promover a sadia qualidade de vida, na qual está englobado o bem-estar econômico, pois a sociedade em que vivemos hoje é tipicamente uma sociedade de consumo”.

A terminologia “desenvolvimento sustentável”236 surgiu, inicialmente, na

Conferência Mundial do Meio Ambiente, realizada, em 1972, em Estocolmo, e foi repetida nas demais conferências sobre o meio ambiente, em especial na Rio-92, que empregou o termo em onze de seus vinte e sete princípios.237

O artigo 225 da Constituição Federal expressa a inadmissibilidade de um desenvolvimento que não esteja pautado na sustentabilidade, ou seja, diante da constatação de que os recursos ambientais não são infinitos, é mister a integração e harmonia entre economia e meio ambiente.

Dessa maneira, opina Celso Antonio Pacheco Fiorillo238: “Permite-se o

desenvolvimento, mas de forma sustentável, planejada, para que os recursos hoje existentes não se esgotem ou tornem-se inócuos”.

O princípio do desenvolvimento sustentável foi ganhando contornos nos trabalhos desenvolvidos pela ONU, com a criação do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), que deu origem à Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (CMMAD). 239, 240

235D’ISEP, Clarissa Ferreira Macedo. Direito ambiental econômico e a ISO 14000: análise juridical do

modelo de gestão ambiental e certificado ISO 14001, p. 48.

236“Desenvolvimento sustentado (ou sustentável). 1. Modelo de desenvolvimento econômico que não

tem por um objetivo o crescimento, mas sim a melhoria da qualidade de vida; que não caminha em direção ao esgotamento dos recursos naturais, nem gera substâncias tóxicas no ambiente em quantidade acima da capacidade assimilativa do sistema natural e que busca fazer atividades humanas funcionarem em harmonia com o sistema natural; enfim modelo de desenvolvimento econômico que leva em consideração fatores sociais e ecológicos, respeitando os limites de renovação dos ecossistemas, satisfazendo, assim as necessidades econômicas do presente, sem comprometer a capacidade das gerações futuras. Esse modelo de desenvolvimento foi defendido pela primeira vez por Anil Kumar Agarwai (1947-2002), conhecido ambientalista indiano, segundo o qual não pode haver desenvolvimento sem haver harmonia com o meio ambiente, teoria essa expressa no livro ‘Nosso futuro comum (1987)’, da Organização das Nações Unidas (ONU).” SACCONI, Luis Antônio. Grande dicionário Sacconi da língua portuguesa comentado, crítico e

enciclopédico, p. 641.

237 FIORILLO, Celso Antonio Pacheco. Curso de direito ambiental brasileiro, p. 27. Capítulo II. 238 FIORILLO, Celso Antonio Pacheco. Curso de direito ambiental brasileiro, p. 28. Capítulo II.

239D’ISEP, Clarissa Ferreira Macedo. Direito ambiental econômico e a ISO 14000: análise juridical do

modelo de gestão ambiental e certificado ISO, p. 49.

240 São exemplos de interpretações atribuídas ao “desenvolvimento sustentável”: a) a declaração da

Rio/92, que, entre os vários princípios que a ilustram, merece destaque o Princípio 3, segundo o qual: “O desenvolvimento deve ser promovido de forma a garantir as necessidades das presentes e futuras gerações; b) ou, ainda, conforme o relatório “Nosso futuro comum”, segundo o qual ‘[…] sustainable

O desenvolvimento sustentável, entre outros fins, visa a realizar o direito de todos os seres humanos a um nível de vida suficientemente correspondente à sua participação ativa, livre e útil no desenvolvimento e na repartição das vantagens daí decorrentes, levando-se devidamente em conta as necessidades e os interesses das gerações futuras.241

Como base vital da produção e reprodução do homem e de suas atividades, o desenvolvimento sustentável é, pois, garantia de uma relação satisfatória entre os homens e destes com o seu ambiente. Essa consciência internalizada permite que as futuras gerações possam desfrutar os mesmos recursos que temos hoje à nossa disposição.242

A característica primordial do ecodesenvolvimento é a busca contínua e efetiva de conciliação entre o desenvolvimento, a preservação ecológica e a qualidade de vida do homem, sustenta Clarissa Ferreira Macedo D’isep.243

Dessa afirmação, emerge a ideia de continuidade implícita na noção de desenvolvimento sustentável, não só no sentido já exposto, de transmissão de um meio ambiente sadio para as futuras gerações, mas, sobretudo, no sentido de, numa mesma geração, otimizar sempre o desempenho econômico sobre o meio ambiente, em que pesem opiniões diversas, eis que: “Desenvolvimento sustentável não é um conceito milagroso, deve constituir-se em uma prática incessante (prever-prevenir e tornar a prever [...] – como uma espiral) a ser impregnada de instrumentos capazes de efetivá-lo”.244

O princípio do desenvolvimento sustentável visa ao “ponto de equilíbrio”245 entre desenvolvimento social, crescimento econômico e utilização dos

recursos naturais. O respeito a esse postulado exige um adequado planejamento

development that needs of the presents without compromising the ability of future generations to meet their own needs. It contains within it two key concepts: - the concept of ‘needs’, in particular the essential needs of the world’s poor, which overriding priority shold be given; and – the idea of limitations imposed by the state of technology and social organization on the environment’s ability to meet present and future needs’”. AFONSO DA SILVA, José. Direito ambiental constitucional, p. 8.

Apud D’ISEP, Clarissa Ferreira Machado. Direito ambiental econômico e a ISO 14000: análise juridical do modelo de gestão ambiental e certificado ISO 14001, p. 50.

241 MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito ambiental brasileiro, p. 75.

242 FIORILLO, Celso Antonio Pacheco. Curso de direito ambiental brasileiro, p. 28. Capítulo II.

243D’ISEP, Clarissa Ferreira Macedo. Direito ambiental econômico e a ISO 14000: análise juridical do

modelo de gestão ambiental e certificado ISO 14001, p. 50.

244D’ISEP, Clarissa Ferreira Macedo. Direito ambiental econômico e a ISO 14000: análise juridical do

modelo de gestão ambiental e certificado ISO 14001, p. 50-51.

territorial, que tenha em conta os limites da sustentabilidade.

A preservação do meio ambiente passou a ser palavra de ordem e que o o verdadeiro sentido de livre iniciativa246 não está dissociado da consciência de meio

ambiente ecologicamente equilibrado.

Essa ideia dá a dimensão da importância e do escopo desse princípio, ou seja, assegurar a existência humana com dignidade e qualidade depende da coexistência do desenvolvimento econômico com um meio ambiente equilibrado: um não pode inviabilizar o outro.

De fato, não se pode acreditar que o desenvolvimento sustentável é uma fórmula mágica e que irá resolver todos os problemas ambientais hoje vivenciados de uma hora pra outra.

O modelo atual de produção e da própria sociedade de consumo, ao longo do tempo, produziu grandes alterações negativas e provocou desequilíbrio no meio ambiente; gerou-se muita riqueza, mas também muita miséria, provocando a degradação humana e ambiental.247

Miguel Reale248, sobre a consciência do equilíbrio ecológico, adverte:

O novo paradigma que emerge atualmente pode ser descrito de várias maneiras. Pode-se chamá-lo de uma visão de mundo holística, que enfatiza mais o todo que as suas partes. Mas negligenciar as partes em favor do todo também é uma visão reducionista e, por isso mesmo, limitada. Pode-se também chamá-lo de visão de mundo ecológica, e este é o termo que eu prefiro. Uso aqui a expressão ecologia num sentido muito mais amplo e profundo do que aquele em que é usualmente empregado. A consciência ecológica, nesse sentido profundo, reconhece a interdependência fundamental de todos os fenômenos e o perfeito entrosamento dos indivíduos e das sociedades nos processos cíclicos da natureza. Essa percepção

246 “[…] a livre iniciativa, que rege as atividades econômicas, começou a ter outro significado. A

liberdade de agir e dispor tratada pelo Texto Constitucional (a livre iniciativa) passou a ser compreendida de forma mais restritiva, o que significa dizer que não existe liberdade, a livre iniciativa, voltada à disposição de um meio ambiente ecologicamente equilibrado. Este deve ser o objetivo. Busca-se na verdade, a coexistência de ambos sem que a ordem econômica inviabilize um meio ambiente ecologicamente equilibrado e sem que este obste o desenvolvimento econômico.” Cf. FIORILLO, Celso Antonio Pacheco. Curso de direito ambiental brasileiro, p. 30. Capítulo II.

247 FREITAS, Eduardo de. Desenvolvimento sustentável. Disponível em

<http://www.mundoeducacao.com/geografia/desenvolvimento-sustentavel-1.htm#>. Acesso em: 5 mar. 2014.

248 REALE, Miguel. Em defesa dos valores humanísticos. O Estado de São Paulo. São Paulo, 13 mar.

2004. Apud BRETAS, Flávia Iglesias; GUIMARÃES, Sileno Cezar. O princípio do desenvolvimento

sustentável e as fontes renováveis de energia. Disponível em: <http://www.domtotal.com/direito/uploads/pdf/85f304d284bf1af6c011c415f2ddd175.pdf>. Acesso em: 6 mar. 2014.

profundamente ecológica está agora emergindo em várias áreas de nossa sociedade, tanto dentro como fora da ciência.

Para que haja desenvolvimento sustentável é necessário um conjunto de ações pautadas em um modo de vida sustentável; significa dizer que a exploração e o uso dos recursos naturais deve ser sustentado, sem risco de esgotamento, e devem ainda ser preservados para que as futuras gerações possam deles usufruir, de forma a exercer o direito de uma vida digna em um ambiente ecologicamente equilibrado. Em outras palavras, como as necessidades humanas são consumidoras de recursos naturais, a medida dessa utilização é que deve ser levada em conta para a construção do desenvolvimento sustentável, tendo em vista a inviabilidade de se pretender a sua não utilização.249

Entre as práticas que concorrem para o desenvolvimento sustentável, merecem destaque: produção de energia a partir de fontes alternativas que não agridam o meio ambiente; implantação do selo verde em produtos oriundos de madeira, comprovando que sua origem não está ligada à extração predatória de áreas nativas e que realizam o manejo florestal; criação de peixes e animais marinhos para impedir a pesca predatória; criação e implantação de projetos em âmbito global de reciclagem e tratamento de lixo, realizando a reutilização de materiais (como a PNRS, no Brasil); implantação de medidas efetivas para diminuir a emissão de gases poluentes na atmosfera, obrigando as indústrias a filtrarem as fumaças de modo a reduzir poluição atmosférica; desenvolvimento e implantação de projetos de transporte coletivo de qualidade para retirar o grande número de veículos das ruas; políticas de educação ambiental que busquem a conscientização da população sobre as consequências do consumismo.

O desenvolvimento sustentável, portanto, visa à satisfação das necessidades dos indivíduos, mas sem comprometer a capacidade das próximas gerações de também satisfazer as suas, ou seja, os indivíduos devem ter acesso a bens e serviços que lhes propiciem oportunidades de desenvolvimento pessoal, social e econômico, afinal:

Desenvolvimento sustentável é o desenvolvimento que procura satisfazer as necessidades da geração atual, sem comprometer a

249 SACHS, Ignacy. Caminhos para o desenvolvimento sustentável. 2. ed. Rio de Janeiro: Garamond,

capacidade das gerações futuras de satisfazerem as suas próprias necessidades, significa possibilitar que as pessoas, agora e no futuro, atinjam um nível satisfatório de desenvolvimento social e econômico e de realização humana e cultural, fazendo, ao mesmo tempo, um uso razoável dos recursos da terra e preservando as espécies e os habitantes naturais.250

Dessas lições sobre o desenvolvimento sustentável enquanto princípio, extrai-se que, para satisfazer as necessidades da geração atual, sem comprometer a capacidade das que ainda virão, a exploração dos recursos naturais deve ser cuidadosa, de forma a permitir a preservação do ecossistema.

3.2 BREVE HISTÓRICO SOBRE A EVOLUÇÃO DA CONSCIÊNCIA AMBIENTAL