• Nenhum resultado encontrado

Harmonização de internalizações das externalidades ambientais

2.3 EXTERNALIDADES E INTERNALIZAÇÕES NA INDÚSTRIA: UM DIÁLOGO

2.3.4 Harmonização de internalizações das externalidades ambientais

Os conflitos sobre as externalidades existiriam, devido à ausência de mercado e de direitos de propriedade bem definidos, segundo Ronald Coase.212

A propósito, cabe invocar o Teorema de Coase, a teoria desenvolvida pelo economista Ronald Coase, visando demonstrar a possibilidade de uma solução privada aos litígios das externalidades, uma solução que maximiza o bem-estar social, sem a intervenção do Estado. Segundo o teorema citado, se os agentes afetados por externalidades puderem negociar (deixando de lado os custos burocráticos) a partir de direitos de propriedade bem definidos, a negociação

211 O’CONNOR, Martin. The internalization of environmental costs: implementing the Polluter Pays

principle in the European Union. Research Article. International Journal of Environment and Pollution. UK, Editorial Matters, v. 7, n. 4, september 1997. p. 450-482 (33). No original: “This paper frames the problem of implementing 'the polluter pays' in the European Union as a social‐political process in which conflicts emerge and must be resolved between competing interests, between people holding different value systems and different principles of judgement, and also between different representations of future states and different visions of the world. 'The polluter pays' is a principle for internalising external costs and assigning liability. Its application may seem to entail a need for monetary valuation of damages. This allows environmental impacts and protection questions to be formulated as optimal resource use problems through the extension of traditional cost‐benefit analysis techniques. However, reasons such as uncertainty, distributional concerns, and diversity of ethical positions make monetary valuation difficult or inappropriate. Decision support techniques are then sought that do not depend exclusively on monetisation, such as multicriteria and deliberative methods. The process of 'internalisation' of environmental damages is thus expressed through broad societal adjustments. Procedures need to be found that are socially legitimate and effective in the sense that the stakeholders can accept it as dealing adequately with their concerns. This is a collective 'internalisation': we are all polluters; we all pay – shouldering the clean up burdens, the institutional adjustments, the worries and the risks – in more or less unequal shares. The burden distribution will inevitably be a matter of controversy.”

212 Ronald Coase recebeu o prêmio Nobel de Economia em 1991 pelo trabalho inovador na teoria dos

custos de transações e outros conceitos que relacionam teoria econômica e legislação. Cf SERRA, Tatiana Barreto. A política de resíduos sólidos: a perspectiva jurídico-econômica-ambiental, p. 124.

chegará a um acordo em que as externalidades serão internalizadas pacificamente.213

Em se tratanto de poluição de água, nem a indústria nem a comunidade detêm a propriedade da água que está sendo poluída e, por isso, falta um mercado: o mercado da poluição. Neste mercado, alguns agentes estariam dispostos a pagar para ver a quantidade de produção de poluição reduzida, quer dizer, a poluição teria um preço. Se a poluição de uma indústria infere custos aos moradores que vivem próximos a ela, internalizar essa externalidade significa incluir os custos causados pela poluição para que se usufrua dos resultados de sua produção. Mas quem paga por isso? Caso a indústria tenha os direitos legais de poluir o rio, a própria comunidade pode estar disposta a pagar pela instalação de um filtro que diminua as emissões. 214

Dessarte, é possível que externalidades sejam superadas sem a presença do Estado. Entretanto, nem sempre isso ocorre, dando margem para o Estado intervir em certos casos.215

Ronald Coase publicou artigo no Journal of Law and Economics, que ficou famoso com o título ‘The problem of social cost’. Neste estudo, Coase contrapôs-se à ideia de intervenção estatal sustentada por Pigou, por entender possível, por meio da atribuição do direito de propriedade sobre bens fora do comércio, a negociação entre as partes, com a eliminação da divergência entre os custos privados e os custos sociais. Coase partiu do entendimento de que o problema da poluição é recíproco, afetando simultaneamente duas partes. Nesses termos, propôs um sistema de negociação direta, entre o lesado e o lesante, atribuindo-se direitos de propriedade como forma de equacionar as externalidades negativas e atingir o ponto ótimo de transação, independentemente da norma legal.216

Maria Alexandra de Sousa Aragão adverte, ainda, que a tese sustentada por Coase não é muito considerada atualmente. [...] Só nos casos de o número de partes em cada lado ser suficientemente pequeno para tornar a negociação possível é que as partes afectadas, deixadas a si próprias, vão negociar, através de pagamento, o reajuste de comportamentos até o nível óptimo,

213 Apud PEREIRA, Paulo Trigo et al. Economia e finanças públicas. 3. ed. Lisboa: Escolar, 2009. p.

147-149. [Capítulo: Teorias e políticas públicas num contexto de incerteza].

214 Apud PEREIRA, Paulo Trigo et al. Economia e finanças públicas, p. 147-149.

215 Regra geral, cabe ao Estado criar ou estimular atividades que constituam externalidades positivas

(como a educação), bem como impedir ou inibir a geração de externalidades negativas, mediante instrumentos como taxações, sanções legais ou, inversamente, renúncia fiscal e concessão de subsídios, conforme o caso.

216 SERRA, Tatiana Barreto. A política de resíduos sólidos: a perspectiva jurídico-econômica-

reduzindo a poluição existente. À medida que o número de partes de qualquer dos lados se torna criticamente elevado, a negociação, pelos custos administrativos que implica, torna-se proibitiva.217

E ainda:

Críticas também se apresentaram a esse entendimento. Coase, mesmo, reconheceu que esses resultados não seriam obtidos se os custos de negociação fossem muito altos. Ou seja, se os custos da transação se apresentassem maiores do que os benefícios que a parte poderia obter do acordo, não haveria lugar para a negociação.218