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2.2 REPRESSÃO DA POLUIÇÃO NO MEIO AMBIENTE INDUSTRIAL

2.2.2 Reparação

As sanções penais e administrativas têm caráter punitivo. A reparação do dano busca a recomposição daquilo que foi destruído (CRFB, art. 225, § 2º). Quando possível, ambas as sanções visam reparar a agressão à natureza, bem como a privação imposta à coletividade em relação ao equilíbrio ecológico a que tem direito.

A reparação do dano ambiental deve visar prioritariamente à recuperação natural do bem ambiental lesado no local onde houve a agressão do meio ambiente ou ao status quo ante in situ – modalidade ideal – e, somente quando não for viável, a indenização em dinheiro será a medida sancionadora. A reparação in natura está inserida na ideia de proteção e preservação dos recursos ambientais, contudo, concilia-se com a concepção de que o poluidor deve ser “educado” com as medidas reparatórias, o que não ocorre quando se está diante de uma reparação pecuniária.

Sobre o tema, vale colacionar excerto do seguinte posicionamento jurisprudencial:

Qualquer que seja a qualificação jurídica do degradador, público ou privado, no Direito brasileiro a responsabilidade civil pelo dano ambiental é de natureza objetiva, solidária e ilimitada, sendo regida pelos princípios do poluidor-pagador, da reparação ‘in integrum’, da prioridade da reparação ‘in natura’, e do ‘favor debilis’, este último a legitimar uma série de técnicas de facilitação do acesso à justiça, entre as quais se inclui a inversão do ônus da prova em favor da vítima ambiental.380

A principal intenção da responsabilidade civil não é a justa compensação da vítima, mas sim “a prevenção do dano ecológico e a reintegração dos bens ambientais lesados”, afirma José de Souza Cunha Sendim381. Daí decorre a

imperiosidade de se buscar todos os meios possíveis para a restauração do bem ambiental, como forma de ressarcimento ao meio ambiente coletivo.

380 Inteligência do Acórdão proferido pelo ministro Herman Benjamin, REsp 1.071.741/SP, STJ, 2ª

Turma. DJ 16-12-2010, Apud RODRIGUES, Marcelo Abelha. Direito ambiental esquematizado, p. 377.

381 SENDIN, José de Sousa Cunha. Responsabilidade civil dos danos ecológicos: da reparação do

dano através da restauração natural. Coimbra: Coimbra Editora, 1998. Apud LEITE, João Rubens Morato; AYALA, Patryck de Araújo. Dano ambiental: do individual ao coletivo extrapatrimonial. Teoria e prática, p. 208.

Somente em caso de total inviabilidade da restauração e recomposição do bem ambiental destruído é que, subsidiariamente, deve-se buscar a compensação ecológica: “a idéia de compensação implica, pois, numa certa equivalência, dentro do possível, entre o que se perde com a degradação do ambiente e o que se obtém a título de reposição da qualidade ambiental”.382

A indenização pecuniária, de certa forma, tem seu lado positivo: a certeza da sanção civil e uma função compensatória do dano ambiental. Pelo sistema reparatório do dano, via ação civil pública, os valores pecuniários arrecadados em função da lesão ao meio ambiente ficam depositados em um fundo denominado “Fundo para reconstituição dos bens lesados”, e destinados, em última análise, à compensação ecológica.383

A aferição do quantum de uma reparação de dano ambiental é bastante complexa, justamente em virtude de sua irreparabilidade, bem por isso deve revestir- se de cautela. Na aplicação da sanção ao agente poluidor, pode-se optar pela reconstrução do local degradado, pela compensação ou por qualquer outro mecanismo capaz de estabelecer uma reparação adequada, em atendimento ao que preceitua o art. 4º, inc. VII, da Lei n. 6.938/1981: “[...] imposição, ao poluidor e ao predador, da obrigação de recuperar e/ou indenizar os danos causados e, ao usuário, da contribuição pela utilização de recursos ambientais com fins econômicos”. A indenização, desta feita, deverá ser a mais ampla possível, obviamente não pode ser motivo para enriquecimento ilícito ou sem causa à custa do empreendedor.

Apesar das dificuldades apontadas, não significa que os elementos do patrimônio natural não sejam suscetíveis de avaliação econômica.384 Para mensurá-

lo, diferentes esquemas metodológicos flexíveis apropriados a cada tipo de dano podem auxiliar, bem como a adoção de critério de avaliação sistemática dos bens ambientais que não acarretem custos demasiadamente elevados.385

382 MIRRA, Álvaro Luiz Valery. Ação civil pública e a reparação do dano ao meio ambiente. São

Paulo: Juarez de Oliveira, 2002. p. 288.

383 LEITE, João Rubens Morato; AYALA, Patryck de Araújo. Dano ambiental: do individual ao coletivo

extrapatrimonial. Teoria e prática, p. 209.

384 SENDIN, José de Sousa Cunha. Responsabilidade civil dos danos ecológicos: da reparação do dano através da restauração natural. Coimbra: Coimbra Editora, 1998. p. 169-170.

Por último, vale ressaltar que a legislação repressiva e reparadora de aplicação no caso de ações degradantes ao meio ambiente é farta, sendo certo que todo aquele que exerce qualquer tipo de atividade econômica de risco está sujeito aos princípios inerentes à defesa do meio ambiente.

3 A ATIVIDADE INDUSTRIAL E A VALORIZAÇÃO DO TRABALHO HUMANO: UMA COMPLEXIDADE JURÍDICA

Manter conciliadas as relações de trabalho com o desenvolvimento social e econômico, como garante a Constituição Federal, é uma tarefa desafiadora para quem desenvolve uma atividade industrial.

O trabalhador passa grande parte da sua existência dentro do ambiente de trabalho, desempenhando alguma atividade laborativa e que lhe garanta a subsistência. Quando tal atividade é exercida dentro do meio ambiente industrial, são necessários cuidados especiais, daí a preocupação do legislador com o meio ambiente do trabalho.

Da doutrina de Celso Antônio Pacheco Fiorillo, extrai-se que:

A proteção ao meio ambiente do trabalho é distinta da proteção do direito do trabalho. Isso porque aquela tem por objeto jurídico a saúde e a segurança do trabalhador, a fim de que este possa desfrutar uma vida com qualidade. Busca-se salvaguardar o homem trabalhador das formas de degradação e poluição de vida.386

O meio ambiente de trabalho é o local onde o trabalhador desenvolve suas atividades laborativas, mas não se limita ao empregado. A proteção do trabalhador não está estrita ambiente de trabalho, dentro da fábrica ou da empresa, na verdade ela se estendendo ao local de moradia ou ao ambiente urbano, pois muitas pessoas exercem seu trabalho percorrendo ruas e avenidas das grandes

cidades.387 É nesses locais que o trabalhador fica exposto aos riscos dos produtos

perigosos ou a atividades insalubres.388

Essa é, pois, a razão de existir uma legislacão preocupada em garantir um meio ambiente do trabalho sadio, que não deixa de ser uma das espécies de meio ambiente ecologicamente equilibrado compatível com a disciplina do art. 225 da Constituição da República.389.

Bom exemplo são as disposições do art. 225, inc. VI e § 3º, da CRFB, que, para assegurar a efetividade desse direito ao trabalhador, incubem ao poder pública a tarefa de exigir, na forma da lei, estudo prévio de impacto ambiental para a instalação de atividades potencialmente causadoras de significativa degradação ao meio ambiente. Nessa trilha, preceitua que condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente tornarão os infratores sujeitos a sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos causados.

No art. 200, inc. III, o legislador constituinte, expressamente, preocupou- se com a defesa do meio ambiente do trabalho ao atribuir ao Sitema Único de Saúde (SUS) a colaboração para a proteção do meio ambiente, nele compreendido o meio ambiente do trabalho.

Ainda, nesse sentido, o art. 196 da CRFB preceitua que: “O direito à saúde é dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação”.

A análise de Elida Séguin390 sobre o tema é a seguinte:

Com a evolução das técnicas, as doenças dos trabalhadores foram se agravando. Meio Ambiente do Trabalho faz a relação entre a ocupação do indivíduo e as doenças decorrentes dos riscos ambientais assumidos no processo de produção, objetivando preveni-las, com a utilização de recursos da engenharia e da medicina, preservando o meio ambiente e a saúde do trabalhador. Um trabalhador doente e afastado do trabalho representa despesa social.

387 ROCHA, Julio César de Sá da. Direito ambiental e meio ambiente do trabalho – dano, prevenção e

proteção jurídica. São Paulo: LTr, 1997. p. 30.

388 SIRVINSKAS, Luis Paulo. Manual de direito ambiental, p. 809. 389 SIRVINSKAS, Luis Paulo. Manual de direito ambiental, p. 809.

4 AS FUNÇÕES SOCIOECONÔMICA, POLÍTICA E AMBIENTAL DA ATIVIDADE INDUSTRIAL

Diante da realidade da escassez de recursos naturais, dos quais a atividade industrial sempre se serviu indiscriminadamente, no presente, aflora a consciência da função socioeconômica, político e ambiental das corporações perante a sociedade. Com esse espírito, o setor segue adaptando-se à nova realidade e isto implica desenvolver-se em consonância com preceitos constitucionais.