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INTRODUÇÃO DO PRINCÍPIO DO POLUIDOR PAGADOR NA LEGISLAÇÃO

Os primeiros passos na legislação ambiental brasileira foram dados sorrateiramente, sem muito alarde. A primeira Constituição republicana, de 1891, trouxe apenas um dispositivo voltado ao meio ambiente, o inciso XXIX do artigo 3471,

69 MILARÉ, Édis. Direito do ambiente: a gestão ambiental em foco: doutrina, jurisprudência, glossário,

p. 1.073.

70 Princípio 1, da Declaração da Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano, de

1972. NAÇÕES UNIDAS NO BRASIL. Declaração da Conferência das Nações Unidas sobre o Meio

Ambiente Humano. 1972. Disponível em:

<http://www.onu.org.br/rio20/img/2012/01/estocolmo1972.pdf>. Acesso em: 19 fev. 2014.

71 Constituição da Repúblicia dos Estados Unidos do Brasil (de 24 de fevereiro de 1891). Art. 34 -

Compete privativamente ao Congresso Nacional: (Redação dada pela Emenda Constitucional de 3 de setembro de 1926); 29. legislar sobre licenças, aposentadorias e reformas, não as podendo conceder, nem alterar, por leis especiais. (Incluído dada pela Emenda Constitucional de 3 de setembro de 1926).

mas foi suficiente para disparar a consciência de que era necessário criar, mesmo que lentamente, medidas de proteção ambiental, como o Decreto Legislativo n. 4.421, de 192172, o Código das Águas (1924), o Código Florestal do Brasil (1965) e

demais normas que aos poucos foram surgindo, para acompanhar o desenvolvimento e sua consequente ação negativa sobre o meio ambiente.

O princípio do poluidor pagador foi introduzido gradativamente na legislação brasileira.

Embora, de maneira tímida, os primeiros sinais do princípio do poluidor pagador surgiram com o Decreto-Lei n. 1.413/197573, que instituiu o controle da

poluição da atividade industrial ao decretar para o poluidor a obrigação de prevenir os danos e corrigir os prejuízos causados pela poluição ao meio ambiente, nos termos do seu art. 1º: “As indústrias instaladas ou a se instalarem em território nacional são obrigadas a promover as medidas necessárias a prevenir ou corrigir os inconvenientes e prejuízos da poluição e da contaminação do meio ambiente”.

O marco inaugural do princípio em comento ocorreu com a instituição da Lei 6.938/198174, que ao adotá-lo como um dos objetivos da “Política Nacional do

Meio Ambiente”, impôs ao poluidor e ao predador a obrigação de recuperar e indenizar os danos causados ao meio ambiente (art. 4º, inc. VII).

Na mesma lei, foi adotada a responsabilidade objetiva do poluidor, afastando a necessidade de comprovação da culpa do poluidor.

Sem obstar a aplicação das penalidades previstas neste artigo, é o poluidor obrigado, independentemente da existência de culpa, a indenizar ou reparar os danos causados ao meio ambiente e a terceiros, afetados por sua atividade. O Ministério Público da União e dos Estados terá legitimidade para propor ação de responsabilidade civil e criminal, por danos causados. (art. 14, §1º).

Em 1988, a Constituição Federal não somente recepcionou o princípio do poluidor pagador, como o ratificou ao introduzir, de forma inovadora, a

72 O Decreto n. 4.421, de 28 de dezembro de 1921, criou o Serviço Florestal do Brasil, objetivando a

proteção e aproveitamento dos recursos naturais. “Art. 1º Fica criada no Ministério da Agricultura, Indústria e Comércio, uma seção especial, sob a denominação de ‘Serviço Florestal do Brasil’, tendo por objetivo a conservação beneficiando, reconstituição, formação e aproveitamento das florestas; Art. 2º Para os efeitos desta lei serão considerados florestas não só as áreas atualmente cobertas de vegetação de alto e médio porte, como também aquelas em que se pretenda desenvolver essa vegetação, para defesa de salubridade e aumento da riqueza pública.”

73 Leia mais sobre o Decreto-Lei n. 1.413/1975, no Capítulo II.

responsabilidade por danos ambientais do poluidor. Acrescente-se que o legislador originário positivou a responsabilização criminal de pessoas jurídicas, até então inexistente e incompatível com toda a teoria de direito penal, manteve a responsabilidade civil objetiva e fez menção à responsabilidade administrativa, conforme se extrai do art. 225, § 3º: “as condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos causados”.

Nesse contexto, com a promulgação da Lei dos Crimes Ambientais (Lei n. 9.605/1988), que dispõe sobre as sanções para condutas e atividades criminosas contra o meio ambiente, temos que a responsabilidade penal das pessoas jurídicas, passou a integrar, inquestionávelmente, o sistema normativo de protecão ambiental do Brasil.

As pessoas jurídicas são responsabilizadas administrativa, civil e penalmente conforme o disposto nesta Lei, nos casos em que a infração seja cometida por decisão de seu representante legal ou contractual, ou de seu órgão colegiado, no interesse ou benefício da sua entidade (art. 3º).

A responsabilidade das pessoas jurídicas não exclui a das pessoas físicas, autoras, coautoras ou partícipes do mesmo fato. (parágrafo único do mesmo artigo).

A Política Nacional de Resíduos Sólidos (Lei n. 12.305/2010), pautada no princípio do poluidor pagador, inaugurou o tema “resíduos sólidos” no Brasil. A finalidade desta política é responsabilizar o gerador do crescente volume de resíduos sólidos no Brasil.

Em rigor, a lei positivou a responsabilidade compartilhada sobre o ciclo de vida dos produtos, ao apontar como sujeito passivo as pessoas físicas ou jurídicas, de direito público ou privado responsáveis direta ou indiretamente pela geração de resíduos sólidos, bem como as que desenvolvam ações relacionadas à gestão integrada ou ao gerenciamento de resíduos sólidos (Lei n. 12.305/2010, art. 1º, § 1º). O princípio do poluidor pagador surge aplicado na logística reversa, que o citado diploma legal, em seu artigo 3º, inciso XII, assim conceitua:

[...] instrumento de desenvolvimento econômico e social caracterizado por um conjunto de ações, procedimentos e meios destinados a viabilizar a coleta e a restituição dos resíduos sólidos ao

setor empresarial, para reaproveitamento, em seu ciclo ou em outros ciclos produtivos, ou outra destinação final ambientalmente adequada.

A logística reversa, de que trata a lei é, na verdade, “um sistema inteligente e estratégico para reverter os resíduos sólidos a quem os produziu, na mais sensata aplicação do princípio do poluidor pagador”75.

Nas palavras de Luís Roberto Gomes76: “aquele que polui fica obrigado a

corrigir ou recuperar o ambiente, suportando os encargos daí resultantes, não lhe sendo permitido continuar a ação poluente”.

Essa é, pois, uma sanção à conduta do poluidor, que deve recuperar o dano causado e, ainda, internalizar os custos da produção poluidora.

1.2 O PRINCÍPIO DO POLUIDOR PAGADOR NO MOVIMENTO AMBIENTALISTA