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O movimento ambientalista contemporâneo, uma resposta à industrialização, teve início no século XIX, ocasião em que “os poetas românticos britânicos exaltaram as belezas da natureza, enquanto o escritor americano Henry David Thoreau pregava o retorno da vida simples, regrada pelos valores implícitos na natureza. Foi uma dicotomia que continuou até o século XX”.77

Após a Segunda Guerra Mundial, a chamada Era Nuclear fez surgir temores de um novo tipo de poluição, a decorrente de radiação. Com a publicação do livro de Rachel Carson, intitulado “A Primavera Silenciosa”, em 1962, o movimento ambientalista foi impulsionado, pois ali estava um importante alerta sobre o uso agrícola de pesticidas químicos sintéticos e sobre a necessidade de respeitar

75 MONTANARI, Amanda. Breve análise da lei da política nacional de resíduos sólidos. 08.2012.

Disponível em: <http://jus.com.br/artigos/22421/breve-analise-da-lei-da-politica-nacional-de-residuos- solidos>. Acesso em: 22 fev. 2014.

76 GOMES, Luís Roberto. Princípios constitucionais de proteção ao meio ambiente. Revista de Direito Ambiental. São Paulo: Revista dos Tribunais, n. 16, out./dez. 1999, p. 185-186.

77 NAÇÕES UNIDAS NO BRASIL. A ONU e o meio ambiente. Disponível em: <www.onu.org.br/a-onu-

o ecossistema em que vivemos para proteger a saúde humana e o meio ambiente.78

Em 1969, a primeira foto da Terra vista do espaço tocou o coração da humanidade com a sua beleza e simplicidade. Ver pela primeira vez este ‘grande mar azul’ em uma imensa galáxia chamou a atenção de muitos para o fato de que vivemos em uma única Terra – um ecossistema frágil e interdependente. E a responsabilidade de proteger a saúde e o bem-estar desse ecossistema começou a surgir na consciência do mundo.79

A consciência ambiental evidenciou-se no final da década de 1960, quando se projetou, com maior ênfase, a visão ambiental, agora um fenômeno de espectro global.80

Nesse contexto, com a evolução do pensamento ambiental, surge o princípio do poluidor pagador, que além de impor ao poluidor a responsabilização pela prevenção dos danos ao meio ambiente e a reparação daqueles que não puderam ser evitados, obriga-o a internalizar os custos de “produção limpa”81.

O princípio do poluidor pagador teve sua primeira referência expressa em uma Recomendação do Conselho da Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), de 1972. É como registra Patrícia Faga Iglecias Lemos82:

O primeiro instrumento internacional que faz referência expressa ao princípio do poluidor pagador é uma Recomendação do Conselho da OCDE (Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico) de 1972, estabelecendo que o custo das medidas definidas pelas autoridades públicas para proteção do meio ambiente deveria estar refletido no custo dos produtos e serviços cuja produção ou consumo causasse poluição. [...]

78 NAÇÕES UNIDAS NO BRASIL. A ONU e o meio ambiente. Disponível em: <www.onu.org.br/a-onu-

em-acao/a-onu-e-o-meio-ambiente>. Acesso em: 23 fev. 2014.

79 NAÇÕES UNIDAS NO BRASIL. A ONU e o meio ambiente. Disponível em: <www.onu.org.br/a-onu-

em-acao/a-onu-e-o-meio-ambiente>. Acesso em: 23 fev. 2014.

80 NAÇÕES UNIDAS NO BRASIL. A ONU e o meio ambiente. Disponível em: <www.onu.org.br/a-onu-

em-acao/a-onu-e-o-meio-ambiente>. Acesso em: 23 fev. 2014.

81 “Produção limpa ou produção mais limpa é uma abordagem para a produção ecoeficiente, que

estabelece uma metodologia chamada “do berço à cova”, ou seja, os fabricantes devem preocupar-se com a sustentabilidade desde o projeto, a seleção de matérias-primas, o processo de produção, o consumo, a reutilização, o reparo, a reciclagem (3R) até a disposição final dos produtos. Para tanto a logística reversa deve ser utilizada. Cf. LEMOS, Angela Denise da Cunha. A produção mais limpa

como geradora de inovação e competitividade: o caso da Fazenda Cerro do Tigre. 1998. Dissertação

(Mestrado em Administração) - Programa de Pós-Graduação em Administração da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Porto Alegre, RS, 1998. Disponível em: <pt.wikipedia.org/wiki/Produção_limpa>. Acesso em: 27 jun. 2014.

82 LEMOS, Patrícia Faga Iglecias. Meio ambiente e responsabilidade civil do proprietário. 2. ed. rev.,

Mais tarde, a Recomendação do Conselho da OCDE de 1989, de aplicação do princípio do poluidor pagador na poluição acidental, ‘deu-lhe maior extensão ao prever que o operador de instalação de risco deveria suportar o custo de medidas razoáveis para prevenir e controlar a poluição acidental advinda da instalação, o que seria exigido pelas autoridades públicas, em conformidade com a lei interna na ocorrência de um acidente. 83

Em 1992, o princípio do poluidor pagador foi reconhecido internacionalmente, com a definição do Princípio 16 da Declaração do Rio de Janeiro84, documento resultante da Conferência das Nações Unidas sobre Meio

Ambiente e Desenvolvimento, realizado na cidade do Rio de Janeiro (Brasil). Nos termos do citado princípio:

As autoridades nacionais devem procurar promover a internacionalização dos custos ambientais e o uso de instrumentos econômicos, tendo em vista a abordagem segundo a qual o poluidor deve, em princípio, arcar com o custo da poluição, com a devida atenção ao interesse público e sem provocar distorções no comércio e nos investimentos internacionais.85

Em 2004, em razão do alto grau de poluição e consequente risco para a saúde e perda da biodiversidade, a União Europeia criou um regime de responsabilidade por danos ambientais, baseado no princípio do poluidor pagador, com vistas a prevenir e reparar os danos ambientais (Diretiva 2004/35/CE, do Parlamento Europeu e do Conselho, de 21 de abril de 2004, com as alterações dadas pela Diretiva 2006/21/CE86).

O PARLAMENTO EUROPEU E O CONSELHO DA UNIÃO EUROPEIA

[...] Considerando o seguinte:

[...] (2) A prevenção e a reparação de danos ambientais devem ser efectuadas mediante a aplicação do princípio do poluidor-pagador, previsto no Tratado e em consonância com o princípio do

83 LEMOS, Patrícia Faga Iglecias. Meio ambiente e responsabilidade civil do proprietário, p. 67. 84 LEMOS, Patrícia Faga Iglecias. Meio ambiente e responsabilidade civil do proprietário, p. 67. 85 Princípio 16 da Declaração do Rio sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, de 1992. NAÇÕES

UNIDAS NO BRASIL. Declaração do Rio sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento. 1992. Disponível

em: <http://www.onu.org.br/rio20/img/2012/01/rio92.pdf>. Acesso em: 23 fev. 2014.

86 EUR-LEX. Directiva 2004/35/CE do Parlamento Europeu e do Conselho, de 21 de Abril de 2004, relativa à responsabilidade ambiental em termos de prevenção e reparação de danos ambientais.

Disponível em: <http://eur-lex.europa.eu/legal- content/PT/TXT/?uri=uriserv:OJ.L_.2004.143.01.0056.01.POR>. Acesso em: 5 jun. 2014.

desenvolvimento sustentável. O princípio fundamental da presente directiva deve, portanto, ser o da responsabilização financeira do operador cuja actividade tenha causado danos ambientais ou a ameaça iminente de tais danos, a fim de induzir os operadores a tomarem medidas e a desenvolverem práticas de forma a reduzir os riscos de danos ambientais.

[...] (18) Segundo o princípio do ‘poluidor-pagador’, o operador que cause danos ambientais ou crie a ameaça iminente desses danos deve, em princípio, custear as medidas de prevenção ou reparação necessárias. Se a autoridade competente actuar, por si própria ou por intermédio de terceiros, em lugar do operador, deve assegurar que o custo em causa seja cobrado ao operador. Também se justifica que os operadores custeiem a avaliação dos danos ambientais ou, consoante o caso, da avaliação da sua ameaça iminente.

[...] (21) Os operadores devem suportar os custos respeitantes às medidas de prevenção se estas tiverem, em qualquer caso, de ser tomadas por eles em cumprimento de disposições legislativas, regulamentares e administrativas que regulem as suas actividades, incluindo eventuais licenças ou autorizações.

[...] APROVARAM A PRESENTE DIRECTIVA - Artigo 1.o – Objecto - A presente directiva tem por objectivo estabelecer um quadro de responsabilidade ambiental baseado no princípio do ‘poluidor- pagador’, para prevenir e reparar danos ambientais. [Grifo nosso]. No panorama geral, verifica-se claramente a tendência de aplicação do princípio do poluidor pagador, para buscar a tutela do meio ambiente, que imputa ao degradador a responsabilidade de prevenir e, quando for o caso, reparar o dano ambiental ocorrido. Assim, pode-se afirmar que o primado do poluidor pagador vem consolidando-se no direito do ambiente como princípio vetor, “interativo dos demais”87, – princípios da prevenção, da precaução, do usuário pagador e do

protetor recebedor. Estes princípios, vale anotar, serão abordados a seguir. O objetivo pretendido é demonstrar que a interação entre eles é capaz de propiciar a desejada proteção ambiental.

1.3 O PRINCÍPIO DO POLUIDOR PAGADOR E OS PRINCÍPIOS DA PREVENÇÃO,