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O caso da poluição provocada pela produção de gás de xisto nos

2.1 QUESTÕES INERENTES AO PRINCÍPIO DO POLUIDOR PAGADOR (PPP)

2.1.7 O caso da poluição provocada pela produção de gás de xisto nos

ao meio ambiente178

O caso ocorre atualmente com a produção de gás derivado de xisto nos EUA.179 A produção de gás, a partir do xisto, é obtida pela injeção de água na rocha de xisto, a fim de liberar o gás. Um total de 86,4 milhões de metros cúbicos de água – com aditivos químicos tóxicos – é injetado a cada ano apenas nos poços da formação geológica de Marcellus, a maior fonte de gás de xisto dos EUA, que abrange quatro Estados americanos. Cerca de 1/3 do volume de água utilizado retorna à superfície com a aparência de lama, carregada de compostos orgânicos, metais, radioativos e detritos de rochas. O risco potencial de contaminação está presente em toda a operação.

A enorme injeção de água, contaminada após o uso, acaba espalhando- se pelos lençóis freáticos180 e já atinge grande extensão de áreas de propriedades

de pequenos fazendeiros que têm suas terras (e veios d”agua, lagos ou riachos) poluídas pelas águas, tornando-as imprestáveis para qualquer uso agropecuário e com reflexos negativos para saúde dos fazendeiros. Além disso, há os danos a propriedades urbanas e seus habitantes. Um casal e seus dois filhos viveram a pior experiência. A família aguarda o julgamento da ação contra as produtoras de gás que operavam nas proximidades de sua casa, em Mount Pleasant Township, na Pensilvânia. Eles mencionam a propriedade como "a casa dos nossos sonhos". Mas

178 MARIN, Denise Chrispim. Ambientalistas veem risco na extração de gás de xisto.

Economia&Negócios. 03.08.2013. Disponível em:

<http://economia.estadao.com.br/noticias/economia-geral,ambientalistas-veem-risco-na-extracao-do- gas-de-xisto,160918,0.htm>. Acesso em: 7 mar. 2014.

179 A produção de gás de xisto é assunto da maior significância nos EUA com reflexos mundiais,

autêntica revolução energética. A farta produção permite a venda a preços relativamente mais baixos que a de qualquer outra fonte energética (petróleo, gás natural, carvão, energia nuclear e outras). Os EUA se consolidam como exportador de gás. Porém mais importante que isso é o fato de que com energia barata, empresas globais passam a se interessar em priorizar a produção nos EUA. Hoje a produção de gás de Xisto está presente em 48 Estados (dentre os 50), alcançando uma rede de 61.000 Quilômetros de gasodutos. Só na Pensilvânia, a produção cresceu 69% nos últimos anos. Tal gigantismo, explica porque a regulação ambiental não é ativa e a fiscalização tem sido negligenciada.

180 Lençol freático: “Depósito de água subterrâneo que se encontra, em pressão normal, situado em

profundidades relativamente pequenas”. Cf. SACCONI, Luís Antonio. Grande dicionário Sacconi da

viver no local os expôs a sintomas como dor de cabeça e garganta, sangramento no nariz e queimação nos olhos.

Segundo o engenheiro Steve Hvozdovich, da Clean Water Action, fontes de água potável estão sendo contaminadas.

Na Pensilvânia, a regulação ambiental não é ativa e a fiscalização tem sido negligenciada. "As empresas alegam que a produção é segura e têm um forte lobby no governo do Estado. Mas há risco de 50 por cento de contaminação", afirmou Hvozdovich.

Nesses casos, verifica-se típico dano à propriedade e às pessoas, passível de reparação (indenização). A lista de uma organização ambientalista, somente na Pensilvânia, já elenca 803 casos de indivíduos e famílias ameaçados pela produção de gás de xisto.

A preocupação com a exploração do gás de xisto já chegou no Brasil, como se pode observar no texto a seguir transcrito:

Seremos capazes de mudar significativamente nossos rumos? As advertências quanto aos riscos no gás de xisto (no Brasil - nota nossa) se acumulam. Muitas delas foram mencionadas em artigo neste espaço (20/9/2013), a começar pela argumentação na carta enviada à presidente Dilma Rousseff pela Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência e pela Academia Nacional de Ciências. Ali se incluem preocupações quanto a possíveis danos a aquíferos, começando pelo Guarani e passando por bacias no Paraná, Parnaíba, Solimões, Amazonas e São Francisco, decorrentes da reversão à superfície de altos volumes de água e de insumos químicos utilizados no fraturamento de rochas de xisto, que poderão contaminar lençóis freáticos e até o Aquífero Guarani181. Segundo os

cientistas, também nos faltam "conhecimentos sobre características petrográficas, estruturais e geomecânicas", que poderão influir "decisivamente" na economicidade de sua exploração182. Os rumos

181 “O Aquífero Guarani é o maior manancial de água doce subterrânea transfronteiriço do mundo.

Está localizado na região centro-leste da América do Sul, entre 12º e 35º de latitude sul e entre 47º e 65º de longitude oeste e ocupa uma área de 1,2 milhões de Km², estendendo-se pelo Brasil (840.000l Km²), Paraguai (58.500 Km²), Uruguai (58.500 Km²) e Argentina (255.000 Km²). Sua maior ocorrência se dá em território brasileiro (2/3 da área total), abrangendo os Estados de Goiás, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. O Aquífero Guarani constitui-se em uma importante reserva estratégica para o abastecimento da população, para o desenvolvimento das atividades econômicas e do lazer. As águas em geral são de boa qualidade para o abastecimento público e outros usos.” ARARAQUARA. Prefeitura do Município. Departamento de Águas e Esgotos. Aquífero Guarani. Disponível em: <http://www.daaeararaquara.com.br/guarani.htm>. Acesso em: 7 mar. 2014.

182 Não por acaso, a exploração do gás de xisto sofre fortes restrições na França, na Bulgária e em

alguns Estados norte-americanos. Há cientistas que alertam até para a influência do sistema de fraturamento em eventos sismológicos. Outros lembram que, no processo, ocorre a liberação de gás metano, 21 vezes mais problemático na atmosfera que o dióxido de carbono (embora por menos

de nossa crise no abastecimento de água e na geração de energia já são muito preocupantes. Não precisamos adicionar novos componentes. É preciso ouvir a ciência e não fazer da questão apenas um item na agenda de negócios e de rentabilidade.183

2.2 ALGUNS CUSTOS ECONÔMICOS DA POLUIÇÃO AMBIENTAL: UMA