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2.1 QUESTÕES INERENTES AO PRINCÍPIO DO POLUIDOR PAGADOR (PPP)

2.1.2 O ‘P’ de poluidor – quem é o poluidor?

Não se trata, aqui, de dúvidas sobre quem é o poluidor. Quanto a isso há várias definições básicas, inclusive a contemplada na Lei n. 6.938/1981 (Lei de Política Nacional do Meio Ambiente).

Ainda que a definição de poluidor seja básica para entendimento e aplicação do princípio do poluidor pagador, a sua identificação (do poluidor) nem sempre é evidente.

162 Ramón Martín Mateo fala do surgimento de uma nova cultura política ecológica e de um novo

paradigma transpolítico, para além da esquerda e da direita. Tratado de derecho ambiental, Trivium, 1991. v. I. p. 14. Apud ARAGÃO, Maria Alexandra de Sousa. O princípio do poluidor pagador pedra angular da política comunitária do ambiente. Boletim da Faculdade de Direito Universidade de

Coimbra. Coimbra: Coimbra Editora, 1997. p. 212.

163 ARAGÃO, Maria Alexandra de Sousa. O princípio do poluidor pagador pedra angular da política

comunitária do ambiente. Boletim da Faculdade de Direito Universidade de Coimbra. Coimbra: Coimbra.Editora, 1997. p. 213.

Maria Alexandra de Sousa Aragão164 ratifica a assertiva: “saber, em cada

caso, quem é o poluidor, nem sempre, é tarefa simples”.

Esse ponto, de certo modo, foi ignorado nos textos iniciais da OCDE165,

pois o poluidor era claramente definido como aquele sujeito responsável pela atividade que causava a poluição.

No âmbito da Comunidade Europeia, o poluidor foi definido como a pessoa que, direta ou indiretamente, provoca a deterioração ao meio ambiente ou provoca condições que levam à sua deterioração.

No Brasil, a mencionada lei define o poluidor como “a pessoa física ou jurídica, de direito público ou privado, responsável, direta ou indiretamente, por atividade causadora de degradação ambiental”.166

Em se tratando de identificação do agente poluidor, a poluição proveniente de uma planta industrial, regra geral, aponta como poluidor o operador da planta, de maneira direta.

Porém, em casos de transportes ou consumo, entre outros, identificar o poluidor nem sempre é tarefa fácil. Alguns exemplos clássicos são significativos: (i) um fabricante de veículos pode ser considerado poluidor, embora a poluição resulte do uso do veículo pelos proprietários? (ii) um produtor de pesticidas pode ser o poluidor, ainda que a poluição venha a ser o uso inadequado de pesticidas por agricultores? (iii) no caso de aeroportos, quem seria o poluidor (responsável pela emissão de ruídos): o fabricante dos aviões, o transportador (empresa aérea), a autoridade aeroportuária ou o Estado que autorizou a infraestrutura?

164 ARAGÃO, Maria Alexandra de Sousa. O princípio do poluidor pagador pedra angular da política comunitária do ambiente. Boletim da Faculdade de Direito Universidade de Coimbra. Coimbra: Coimbra Editora, 1997, p. 133.

165 Recomendação do Conselho sobre Princípios Orientadores Relativos aos Aspectos Económicos

Internacionais das Políticas Ambientais. “(Recomendação C(72) 128, de 26 de Maio de 1972) e Guiding principles Concerning International Economic Aspects of Environmental Policies”. ARAGÃO, Maria Alexandra de Sousa. O princípio do poluidor pagador pedra angular da política comunitária do ambiente. Boletim da Faculdade de Direito Universidade de Coimbra. Coimbra: Coimbra Editora, 1997. p. 60.

Apreciando o caso dos dois primeiros exemplos citados, quanto às dificuldades de identificação do poluidor e a “forma mais justa e mais eficaz de reduzir a poluição”, Maria Alexandra de Sousa Aragão167 assim se expressa:

[...] seria justo exigir ao automobilista que se desloque mais vezes a pé ou de bicicleta ou, por outro lado, impor aos construtores de automóveis que construam viaturas menos poluentes e investiguem meios alternativos de transportes?

[...] exigir ao agricultor que deixe de utilizar adubos e pesticidas químicos, arriscando-se a perder colheitas e ter de cessar a sua atividade [...] ou exigir do produtor de pesticidas menos concentrados [...] e que forneça mais informação aos agricultores sobre as melhores técnicas de aplicação do produto?

Ademais, é oportuno observar que, não raro, por mera conveniência administrativa é mais fácil imputar ao produtor o custo da poluição do que apontar o agente que, de fato, deu causa a poluição. Em outras palavras, é mais fácil controlar o produtor (e cobrar), do que, por exemplo, milhares de proprietários de veículos ou de pequenos agricultores.

A questão básica, contudo, é determinar “quem é o poluidor – aquele que deve – pagar”. Este é um critério conveniente para decidir quem é o poluidor que, pagando, pode alcançar os objetivos do PPP.

Maria Alexandra de Sousa Aragão168 assim também entende e afirma

que o poluidor pagador deve pagar, por figurar como aquele que tem controle sobre as condições causadoras da poluição. Nas palavras da doutrinadora:

Em vez de procurar determinar quem é o melhor pagador [...] ou mesmo em vez de procurar determinar quem é, em abstrato, o poluidor, vamos procurar critérios que, em concreto, nos permitam decidir quem é o poluidor que pagando vai permitir realizar os fins visados pelo PPP, essencialmente, de prevenção de precaução da poluição.169

167 ARAGÃO, Maria Alexandra de Sousa. O princípio do poluidor pagador pedra angular da política

comunitária do ambiente. Boletim da Faculdade de Direito Universidade de Coimbra. Coimbra: Coimbra Editora, 1997. p. 134-135.

168 ARAGÃO, Maria Alexandra de Sousa. O princípio do poluidor pagador pedra angular da política

comunitária do ambiente. Boletim da Faculdade de Direito Universidade de Coimbra. Coimbra: Coimbra Editora, 1997. p. 136.

169 K.H.Mansmeyer defende precisamente uma interpretação pragmática do PPP ao definir quem é o

poluidor (Pollutter Pays v. Public Responsability. Environmental Policy and Law, 6, 1980. p. 23). Apud ARAGÃO, Maria Alexandra de Sousa. O princípio do poluidor pagador pedra angular da política comunitária do ambiente. Boletim da Faculdade de Direito Universidade de Coimbra. Coimbra: Coimbra Editora, 1997. p. 136.

E completa o raciocínio: “O poluidor que deve pagar é aquele que tem controle sobre as condições que levam a ocorrência da poluição, podendo, portanto, preveni-las ou tomar precauções para evitar que ocorram”. 170