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BANDEIRA, José Ramos Faro, 1906 – Coimbra,

No documento Dicionário (páginas 34-38)

Nasceu em Faro a 18 de agosto de 1906 e faleceu em Coimbra a 29 de outubro de 1991 (Fig. 1). Era um dos três filhos de José Gonçalves Ban- deira e de Ana Ramos Bandeira, ambos naturais do Algarve, demonstrando desde cedo interesse pela engenharia. Contudo, a tradição familiar farmacêutica (o pai era um prestigiado farma- cêutico no Algarve) levou -o para o curso de Farmácia na Universidade de Coimbra, depois de ter realizado os estudos liceais no Liceu João de Deus em Faro (1916/17 a 1922/23); ingressou depois na Universidade de Coimbra, onde se licenciou em Farmácia (1927), com 17 valores, e em Ciências (1933). Após a conclusão destes cursos iniciou, em 1930, a sua carreira de docên- cia universitária como assistente provisório da Faculdade de Farmácia da Coimbra. No mesmo ano foi contratado como assistente. Depois foi professor agregado (1933), professor efetivo (1938), professor extraordinário (1942) e pro- fessor catedrático (1970) (Fig. 2). Em Coimbra foi, igualmente, proprietário de um prestigiado Laboratório de Análises Clínicas. Casou com Clarisse Ramos Bandeira, também farmacêu- tica, docente e investigadora da Faculdade de Farmácia, sendo pai de dois filhos. Aposentou- -se em 1 de maio de 1975, em pleno período con- turbado na Universidade pós -revolução de 25 de Abril de 1974.

Em 1921 a Escola de Farmácia da Universi- dade de Coimbra passou à condição de Facul- dade, estatuto que manteve até 1932, ano em que passou novamente a Escola. Esta alteração enquadrou -se na política educativa do Esta-

do Novo e envolveu várias instituições univer- sitárias. Em 1968 a Faculdade foi novamente restaurada à semelhança da congénere de Lis- boa. A Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto foi a única que se manteve com este estatuto entre 1932 e 1968. Foi na Faculdade de Farmácia do Porto que se doutorou com a tese intitulada Sobre a aferição de vacinas bacterianas (1944), pois as Escolas de Farmácia não conce- diam o grau de doutor.

Na Faculdade de Farmácia de Coimbra exer- ceu diversos cargos de gestão: secretário, pro- fessor bibliotecário, diretor dos Laboratórios de Farmácia Galénica, de Criptogamia e Fermenta- ções, de Criptogamia e Fermentações, Microbio-

FIG. 1 José Ramos Bandeira (1906‑1991). Fonte: Boletim da Faculdade de Farmácia. Edição Científica. 29, 1969

(Sem indicação de autor).

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que as ciências sociais e humanas, deveriam constar no ensino das áreas das ciências. No artigo Exigências de uma Faculdade de Farmácia (Bandeira, 1944) considerava como induscutí- vel numa Faculdade de Farmácia um serviço de “Legislação, Deontologia e investigações sobre a História da Farmácia”. O autor defen- dia que este serviço deveria estar ao mesmo nível de estatuto que os outros serviços da Faculdade e previa para este setor um espaço logia e Higiene, de Química Biológica e Análises

Bioquímicas. Ensinou Microbiologia, Microbio- logia Aplicada, Criptogamia e Fermentações, Farmácia Galénica, Higiene, Química Biológica e Análises Bioquímicas, Bacteriologia e Análises Bacteriológicas, Farmacodinamia, Toxicologia e Análises Toxicológicas, Química Farmacêutica Inorgânica, Química Farmacêutica Orgânica.

Também desempenhou outras funções enquanto professor universitário, tendo sido membro de júris de provas académicas, dirigente do Centro de Estudos Farmacêuticos da Faculda- de de Farmácia (financiado pelo Instituto de Alta Cultura). Foi também sócio da Sociedade Far- macêutica Lusitana, membro correspondente da Academia Nacional de Farmácia (Brasil) e sócio do Instituto de Coimbra.

Publicou dezenas de trabalhos. Escreveu estudos de investigação laboratorial, sobretu- do em Microbiologia. Legou -nos outros estudos no campo da história, da história da farmácia, da doutrina farmacêutica e vários relatórios e exposições escritas, sobre ensino farmacêutico e a Faculdade de Farmácia, sendo um dos prin- cipais pilares da restauração da Faculdade em 1968. Publicou estudos nas revistas Notícias Far‑ macêuticas e Boletim da Escola (depois Faculdade) de Farmácia (da Universidade de Coimbra) e em outras revistas: Anais da Faculdade de Farmácia do Porto, Boletim da Escola de Farmácia de Lisboa, Boletim Geral das Colónias, Revista Portuguesa de Farmácia, Eco Farmacêutico, Acção Farmacêutica, O Monitor da Farmácia, Revista de Ginecologia e Obs‑ tetrícia. Foi ainda autor de alguns livros, um dos quais sobre património – Universidade de Coim‑ bra – Edifícios do corpo central e Casa dos Melos (2 vols.; 1943 -1947).

Um grupo significativo das suas publica- ções incide sobre história da farmácia, ensino farmacêutico e suas instalações em Portugal, Argentina, Alemanha, Espanha, França e Suíça, sublinhando em muitos estudos o valor da His- tória na formação do farmacêutico. Entendia

FIG. 2 José Ramos Bandeira (1906‑1991). Fonte: Rodrigues, Manuel Augusto. 1992. Memoria Professorum

Universitatis Conimbrigensis 1772 ‑1937. Coimbra:

Arquivo da Universidade. Fragmento de fotografia com vários professores da Faculdade de Farmácia em 1960 (Sem indicação de autor).

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lçando o seu papel de defensor de um museu da Faculdade. Estamos certos que o adiamento de construção de instalações de grande dimensão para a Faculdade de Farmácia da Universida- de de Coimbra foi fortemente condicionante do projeto inicial dos anos 1940. Como diretor da Faculdade de Farmácia (1963 -1974) conseguiu concluir uma primeira aspiração: a de repor o estatuto de Faculdade, em 1968. Contudo, a construção de novas instalações únicas e ergui- das de raíz para a Faculdade foi sendo sucessi- vamente adiada, em cada tempo por diferentes razões. Porém, a preservação do espólio antigo da Faculdade de Farmácia foi sendo realiza- da, embora de forma não sistematizada. Tudo parece indicar que os milhares de peças exis- tentes na coleção da Faculdade têm, em parte, a sua génese na dinamização e sensibilização que colocou junto de outros professores a pre- servação do património e documentos antigos com vista a um futuro museu. Assinale -se anos depois, em 1978, o surgimento do ensino da história da farmácia em disciplina autónoma. A coleção hoje existente na Faculdade de Far- mácia apresenta peças originárias, sobretudo de dois laboratórios: de Tecnologia Farmacêu- tica (o mais abundante) e de Farmacognosia. José Ramos Bandeira deve ser considerado como um visionário ou pioneiro da museolo- gia farmacêutica na Faculdade de Farmácia da Universidade de Coimbra.

BIBLIOGRAFIA

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dade de Farmácia”. Notícias Farmacêuticas, 11(1 -2) 5 -56. BANDEIRA, José Ramos. 1944. Sôbre a aferição de Vacinas

bacterianas. Coimbra: Oficinas gráficas da “Coimbra Edi- tora, Lda”.

BANDEIRA, José Ramos. 1944. Curriculum Vitæ. Coimbra. BANDEIRA, José Ramos. 1955 -1956. “Instalações de ensi- no farmacêutico na cidade universitária de Coimbra”. Boletim da Escola de Farmácia de Coimbra, 15 -16: 94 -101

de 824m2 (num total de 12  138 m2 de Facul-

dade), embora considerasse que era o espaço possível e não o desejável. Aquele serviço era composto por: sala de aula, Museu de Anti- guidades Farmacêuticas e História da Farmá- cia, sala de trabalhos diversos, gabinete para o diretor do serviço, gabinete para o professor, gabinete para o assistente, sala para o conser- vador, sala para os empregados, arrecadação, instalações sanitárias e, ainda, um espaço de reserva. Sublinhava que o ensino de matérias de história da farmácia, deontologia e legisla- ção farmacêutica deveria ser realizado tanto em pré -graduação como em pós -graduação. Defen- dia que os estudos histórico -farmacêuticos e de natureza museológica eram importantes “como meio de exaltação de mais um ramo da ciência no nosso País” (Bandeira, 1944, 38). Aquele serviço deveria ser local de investigação e ensi- no “com projeção internacional contribuindo para o prestígio e engrandecimento da Pátria” (Bandeira, 1944, 35), num sentido de exaltação patriótica. A vertente humanística no curso de Farmácia foi novamente abordada no artigo Subsídios para uma nova organização do ensino farmacêutico (1956), em colaboração com Maria Serpa dos Santos, Cardoso do Vale, Pinho Brojo e André Campos Neves, que voltaram a subli- nhar a importância de um museu de farmácia na Faculdade de Farmácia da Universidade de Coimbra. Os autores tiveram como base estu- dos realizados na Suíça, Espanha, França, Ale- manha, Grécia, Estados Unidos da América, Argentina, entre outros. Em 1970, os mesmos professores, sem Ramos Bandeira, formaram uma comissão e tornaram a salientar a impor- tância das áreas sociais e humanísticas no curso de Farmácia. Contudo, deixa de ser dada importância à vertente museológica, o que pode estar relacionado com o facto de, em 1968, a Faculdade ter iniciado o processo de ampliação as suas precárias instalações, não estando pre- visto espaço como em 1944 foi projetado, refor-

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JOÃO RUI PITA Professor da Faculdade de Farmácia. Investi‑

gador do CEIS20. Universidade de Coimbra.

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[J.R.P.]

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Dicionário Quem é Quem na Museologia Portuguesa BAPTISTA, António José Vidal

BAPTISTA,

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