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Francisco Xavier Cardoso (ativo no Brasil entre 1783 e 1810)

No documento Dicionário (páginas 51-53)

Conhecido como “Francisco Xavier dos Pássaros, Francisco Xavier Cardoso Caldeira foi o principal responsável pela direção e pelo funcionamen- to de um dos primeiros museus portugueses: a Casa de História Natural. Fundada no Rio de Janeiro, em 1784, por iniciativa do então vice- -rei D. Luís de Vasconcelos e Sousa (1742 -1809) esta instituição situava -se no campo da Lam- padoza, ou na antiga rua do Sacramento, atual Avenida Passos. Era conhecida como “Casa dos Pássaros” devido à grande quantidade de aves empalhadas que possuía. Historiadores brasilei- ros tendem a enfatizar as suas características de “entreposto colonial, que remetia produtos natu- rais de todo o ultramar para os museus portu- gueses de Ajuda e Coimbra” (Vieira, 2007, 161), mas não contestam que possuísse exemplares expostos ao público “produtos de história natu- ral, artefatos indígenas, armários, instrumentos e coleções mineralógicas” (Fiolhais, 2013, 201) e até animais vivos, guardados “n’um cubícu- lo que lhes fizerão: um urubú -rei, dous jacarés e algumas capivaras”, mais mais tarde remeti- dos para Lisboa (Papavero; Teixeira, 2013, 201). Pouco sabemos sobre o seu funcionamento, mas as parcas referências e a falta de publicações produzidas parece indicar que não pretendia ser um produtor de conhecimento, pelo menos não da mesma forma que, mais tarde, o Museu Real (Silva; Kubrusly, 2011, 3). Quanto a Fran- cisco Xavier Cardoso Caldeira, trabalhava desde 1783 sob as ordens do vice -rei para acondicio- nar espécides a serem remetidas para Portugal,

sobretudo pássaros, vivos e embalsamados, mas igualmente peixes e até borboletas – para o envio das quais inventou uma caixa especial (Papa- vero; Teixeira, 2013, 200). Parte da documen- tação referente a remessas remessas, em 1791, foi descoberta e estudada por Nelson Papavero e Dante Teixeira (2013). Marcou -o de tal modo a sua habilidade no trabalho com penas, plumas e escamas, que é hoje lembrado como artista e não pelos seus conhecimentos científicos. As inves- tigações mais recentes concentram -se na sua decoração dos pavilhões do Passeio Público do Rio de Janeiro, realizada entre 1779 e 1783, em colaboração com “Mestre Valentim”, o arquiteto e escultor Valentim da Fonseca e Silva (1745- -1813), e com Francisco dos Santos Xavier, dito “Xavier das Conchas”. Retomando pesquisas do início do século XX, Didoné e Makowiecky afir- mam que teria nascido no sul do Brasil, no atual estado de Santa Catarina e, uma vez nomeado Inspector da “Casa dos Pássaros”, teria encomen- dado remessas de espécies raras aos governado- res de diversas capitanias. Segundo elas, “como cientista realizou diversos estudos taxidérmicos e ornitológicos” tornando o local “o mais com- pleto relicário ornitológico brasileiro” (Didoné; Makowiecky, 2014, 67). Após a sua morte, em 1810, Luís António da Costa Barradas substituiu- -o no cargo – porém, o edifício já estava quase abandonado. Por volta de 1811, abrigava os encarregados dos serviços de lapidação de dia- mantes e as suas famílias. A “Casa dos Pássaros” foi extinta pelo príncipe regente, a 22 de junho de 1813, e os seus móveis e acervo enviados para a Academia Real Militar até serem incorporados, em 1818, no Museu Real do Rio de Janeiro, aber- to ao público em outubro de 1821.

BIBLIOGRAFIA

DIDONÉ, Fabiana Machado, e Makowiecky, Sandra. 2014. “Passeio público do Rio de Janeiro e uma história que pode ser revista: os catarinenses Xavier das Conchas e

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Dicionário Quem é Quem na Museologia Portuguesa CALDEIRA, Francisco Xavier Cardoso

PATRICIA DELAYTI TELLES é investigadora do CEAACP (Uni‑

versidade de Coimbra) e do CHAIA (Universidade de Évora, UE). Doutora em História da Arte (UE, 2015), tem Mestrado em Arts Administration (Columbia University, 1996), pós ‑graduação em História da Arte e Arquitectura no Brasil (Pontifícia Universida‑ de Católica/Rio de Janeiro, 1992) e licenciatura em economia (PUC/RJ, 1988). Bolseira da FCT (2010/2014 e 2017), da Fun‑ dação Calouste Gulbenkian (2015/2016) e da Organization of

American States (OAS, 1995/1997), venceu em 2011, o Dahesh Museum Prize da Association of Historians of Nineteenth Century Art (AHNCA). Especializada em arte portuguesa e brasileira no

período de transição entre finais do século  XVIII e início do XIX, sobretudo retratos, publicou sobre pintura, colecionismo e mercado de arte em Portugal e no estrangeiro. Trabalha atualmente sobre retratos em miniatura e sobre a inserção de diplomatas portuguesas no mundo artístico parisiense do início do século XIX.

Xavier dos Pássaros”. Revista Ciclos, Florianópolis. V. 2, N. 3, Ano 2, 61:72.

FIOLHAIS, Carlos, Carlota Simões, e Décio Martins. 2013. História da ciência luso -brasileira: Coimbra entre Portu- gal e o Brasil. Coimbra: Imprensa da Universidade. PAPAVERO, Nelson, e Teixeira, Nelson Martins. 2013.

“Remessa de animais de Santa Catarina (1791) para a “Casa dos Pássaros” no Rio de Janeiro e para o Real museu da Ajuda (Portugal)”. Arquivos de Zoologia. Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo, 44 (4) : 185- -209.

SILVA, Vinícius Aprígio da, e Kubrusly, Ricardo Silva. 2011. “O Archivos do Museu Nacional e a promoção das ciências no Brasil oitocentista”. Anais do XXVI Simpósio Nacional de História. ANPUH São Paulo, julho 2011, 1:13 VARELA, Alex, e Neto, Gil Baião et al. “Museu Real”. Dicio‑ nário Histórico ‑Biográfico das Ciências da Saúde no Brasil (1832 ‑1930). Casa de Oswaldo Cruz/ Fiocruz. Disponível em http://www.dichistoriasaude.coc.fiocruz.br [Acesso em: 28 set. 2017].

VIEIRA, Ana Carolina Maciel Vieira et al. 2007. “A Con- tribuição dos Museus para a Institucionalização e Difusão da Paleontologia”. Anuário do Instituto de Geo‑ ciências – UFRJ Vol. 30 -1, 158:167. Disponível em: https://www.researchgate.net/publication/43225539_A_ Contribuicao_dos_Museus_para_a_Institucionaliza- cao_e_Difusao_da_Paleontologia [Acesso em 1 out. 2017].

[P. D. T.]

Dicionário Quem é Quem na Museologia Portuguesa CAMPOS, Alfredo Luís

CAMPOS, Alfredo Luís

No documento Dicionário (páginas 51-53)

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