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MACHADO, Bernardino Rio de Janeiro, 1851 – Porto,

No documento Dicionário (páginas 198-200)

Bernardino Luís Machado Guimarães nasceu no dia 28 de março de 1851, no Rio de Janeiro, para onde o seu pai tinha emigrado e onde fez fortuna enquanto comerciante. Regressou a Por- tugal muito novo, corria o ano de 1860, apenas com 8 anos de idade, fixando -se em Vila Nova de Famalicão. Depois dos estudos no liceu do Porto, e apenas com 15 anos, Bernardino Macha- do ingressou na Universidade de Coimbra, em 1866. Cinco anos tarde contraiu matrimónio com Alzira Dantas Gonçalves Pereira, de cuja união nasceram 17 filhos (Costa, 2011). Concluiu o curso de bacharel em Filosofia Natural e Mate- mática em 1873, tendo -se licenciado em janeiro de 1875, com a tese Theoria Mechanica da Reflexão e da Refracção da Luz. No ano seguinte, obteve o grau de Doutor em Filosofia, com a tese Dedução das leis dos pequenos movimentos periódicos da força elástica. Ocupou uma vaga de professor substi- tuto em 1877, com a tese Theoria Matemática das Interferências, sendo nomeado para lecionar a cadeira de Agricultura, da qual se tornou lente catedrático em 1879 (Cunha et al. 2016, 43).

Bernardino Machado propôs no Parlamen- to, em 1883, a criação da cadeira de Antropo- logia, Paleontologia Humana e Arqueologia Pré -histórica, em substituição da cadeira de Agri- cultura, Zootecnia e Economia Rural. Defendia que os limites do ensino na Faculdade de Filoso- fia deviam ir da física até à antropologia (consi- derando o Homem integrado no mundo natural, tal como preconizava a teoria de evolução de Darwin), o “homem moral” já era do domínio da Faculdade de Letras (Machado, 1908, in Cunha

et al. 2016, 58). O projeto foi aprovado e o ensino da Antropologia iniciou -se em Portugal em 1885, ficando anexa à cadeira a respetiva secção do Museu, cujo acervo antropológico e etnográfico existente, desde a fundação em 1772, tomou um novo rumo. O espólio fundador incluía esquele- tos (humanos e de outros primatas); antiguida- des provenientes de um dos armários de Pádua, do gabinete de Domingos Vandelli; os “produtos industriais” da remessa do Real Museu da Ajuda em 1806, na sua maioria da Viagem Filosófica de Alexandre Rodrigues Ferreira à Amazónia, e um conjunto de antigas armas de fogo que incluía muitos arcabuzes de mecha usados no cerco de Diu no séc. XVI (Amaral et al., 2013, 130). Os inventários do museu de 1829, 1850 e 1881 refe- rem ainda listas de objetos de Moçambique, Zan- zibar, Macau e Angola enviados por João Pedro da Costa Coimbra (negociante de Lisboa), José Alberto H. Cunha Corte Real (Secretário -Geral do Governo de Macau) e Alfredo Pereira de Melo (governador de Benguela) (Martins 1985, 118- -119; Amaral et al. 2013, 135).

Em 1885, constituiu -se formalmente o Museu de História Natural da Universidade e a Antro- pologia foi adicionada às três secções existentes: Mineralogia, Botânica e Zoologia. Esta estrutura de especialização disciplinar, em secções dirigi- das pelos respetivos professores, acentuava as ligações entre o ensino e as coleções que eram motivo de estudo nas respetivas cadeiras. Ber- nardino tornou -se o responsável pela secção de Antropologia do Museu até 1907, um período muito profícuo para as coleções antropológicas durante o qual as incorporações aumentaram, atingindo o seu maior pico em 1903 (Martins, 1985, 139; Gouveia, 1985; Amaral et. al., 2013).

Nas coleções antropológicas destacava -se a mais antiga coleção de crânios identificados do Museu e Laboratório, adquirida às Escolas Médi- cas de Lisboa e Porto e ao Museu Anatómico da Universidade de Coimbra, entre 1896 e 1903. Utilizada nas aulas e na investigação, tinha como

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objetivo a obtenção de amostras numericamen- te semelhantes de todos os concelhos do país: mais de meio milhar de crânios e mandíbulas de indivíduos caucasóides, de ambos os sexos, com origem em Portugal continental (Fernandes, 1985, 78). Desta atividade derivou um notável núcleo de instrumentos antropométricos. Ber- nardino integrou no Museu a coleção Gama Machado: um legado de mais de 200 modelos de cabeças frenológicas, segundo o sistema de Gall, adquirido em Paris (Pessoa, 1926), que se encontrava à guarda da Faculdade de Medicina votada ao esquecimento pelo seu descrédito no meio científico. Um acervo de grande valor que incorporava as ideias seminais de mapeamento do cérebro humano. Adquiriu um conjunto de oito bustos representando grupos populacionais,

modelos em matéria celulósica da casa Brendel de Berlim (Mota, 2011, 128 -129). Entre coleções de outras áreas contava -se a de Paleontologia, adquirida à empresa Lenoir & Forster de Viena de Áustria, em 1892, de mais de 500 espécimes (Callapez et al., 2011).

O incremento das coleções etnográficas deveu -se em particular aos numerosos artefac- tos vindos das colónias para a “Exposição Insu- lar e Colonial Portugueza” de 1894, no Palácio de Cristal, no Porto que, aquando do encerra- mento, uma parte integrou o acervo do Museu. Salientam -se as coleções de Alberto Correia, objetos na sua maioria de Angola, e de António E. Ferreira Mesquita, de armas de Angola e da Guiné. Na primeira década do século XX contam- -se, entre as maiores coleções incorporadas, a aquisição a José Maria Carvalho e Rego de uma

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[Sala da coleção Etnográfica de Antropologia] Augusto Bobone

Autor(es): Bobone, Augusto, 1852-1910

URL

persistente: URI:http://bdigital.sib.uc.pt/hc/UCSIB-169-37/globalitems.html;URI:http://hdl.handle.net/10316.2/26730

Accessed : 8-May-2018 12:01:00

digitalis.uc.pt almamater.uc.pt

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[Curso de Antropologia] Augusto Bobone

Autor(es): Bobone, Augusto, 1852-1910

URL

persistente: URI:http://bdigital.sib.uc.pt/hc/UCSIB-169-60/globalitems.html;URI:http://hdl.handle.net/10316.2/26796

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FIG. 1 Galeria de etnografia na Faculdade de Filosofia (Colégio de Jesus) reservada a “Antiguidades. Objectos raros e curiosos, tanto da Arte, como da Natureza. Producçõens vegetaes da América e da África”. Fotografia de Augusto Bobone, 1899 © DCV ‑FCTUC.

FIG. 2 Aula de Antropologia, ano letivo 1896 ‑97. O Professor Bernardino Machado (2.º lado esq.) um dos alunos Sidónio Pais (2.º do lado dir.). Fotografia de Augusto Bobone, 1896 © DCV ‑FCTUC.

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a que ficou associado o Museu Antropológico. A transferência das coleções do Colégio de Jesus para o de S. Boaventura na Rua Larga, onde iria permanecer durante cerca de 40 anos, viria a ocorrer já nos finais da segunda década do século XX (Amaral et al., 2013, 142).

Bernardino Machado exerceu o cargo de pro- fessor até 1907 (Fig. 2), ano em que pediu a exoneração ao tomar parte ativa na greve geral académica em protesto contra a ditadura de João Franco. Foi substituído por Eusébio Tamagnini, que iria favorecer o desenvolvimento da Antropo- logia física em detrimento da Etnografia ao longo da primeira metade do século XX (Porto, 2009, 86). Bernardino Machado deu início à longa carreira política pela mão de Fontes Pereira de Melo. Foi deputado Regenerador, par do Reino, vogal do Conselho Superior de Instrução Públi- ca, presidente da Maçonaria, Diretor do Instituto Industrial e Comercial de Lisboa e Ministro das Obras Públicas. Aderiu formalmente ao Partido Republicano Português em 1903 para, já depois da implantação da República, integrar o Governo Provisório presidido por Teófilo Braga. Em 1912, assumiu o cargo de ministro de Portugal no Rio de Janeiro. Foi Presidente da República Portuguesa por duas vezes (1915 -1917 e 1925 -1926), ainda que não chegasse a finalizar nenhum dos man- datos devido aos movimentos militares encabe- çados por Sidónio Pais e por Mendes Cabeçadas com Gomes da Costa (Rodrigues, 1992). Morreu em 1944, no Porto, ficando para sempre associa- da a Bernardino Machado a imagem de um gran- de estadista, defensor da igualdade de género, pedagogo e homem de ciência, detentor de uma forte e particular personalidade.

BIBLIOGRAFIA

AMARAL, Ana R.; Martins, M. do Rosário, e Miranda, M. Arminda. 2013. “O contexto museológico da Antro- pologia na Universidade de Coimbra: uma síntese his- tórica (1772 -1933)”. Fiolhais, C., Simões, C. & Martins, D. História da Ciência da Universidade de Coimbra 1772‑

coleção de Moçambique constituída por ador- nos, instrumentos musicais e armas, e a oferta de uma coleção de Angola por Francisco Xavier Cabral de Moncada, que incluía esculturas, obje- tos pessoais, utensílios de cozinha, cestaria e símbolos de poder, ambas em 1902 (Martins 1985, 136; Amaral et al., 2013, 141).

Outro aspeto muito relevante do trabalho de Bernardino como museólogo foi o início da publicação do inventário do Museu a partir de 1897, na revista d’O Instituto de Coimbra, do qual foi Presidente, sob o título “Catálogo do Museu Ethnographico da Universidade de Coimbra”. Tratava -se de um inventário detalhado da maio- ria dos objetos entrados até à data no museu, da autoria de Adolpho Frederico Moller. Apesar de incompleto ao excluir as coleções do Brasil, Macau e Timor, seguia critérios precisos de acor- do com as características funcionais dos objetos, atribuindo -lhes um número individual, designa- ção, dimensões, grupo étnico, proveniência, ano de aquisição e identidade do anterior proprietá- rio (Amaral et al., 2013, 139).

Dois conjuntos fotográficos enquadram o acer- vo pré -1900 na Faculdade de Filosofia, Colégio de Jesus: o primeiro de 1892, realizado para o Congresso Pedagógico em Madrid, e o segun- do de 1899 para a Exposição Universal de Paris de 1900, pelo fotógrafo Augusto Bobone (Gou- veia 1985, 502) (Fig. 1). Até à primeira década de 1900, a coleção etnográfica quintuplicou e a coleção antropológica ocupava quatro salas. Ber- nardino Machado propôs ao Reitor a expansão do Museu, entre 1897 e 1905, “…Havendo toda a conveniência em ampliar os locais do Museu de Ethnografia para que possa expor -se proveitosa- mente à vista de alunos e visitantes o numero- so material de estudo que elle hoje já possue…”, utilizando o claustro e a igreja do edifício de S. Boaventura (Amaral et al., 2013, 140; Miranda, 1985, 210). Em 1911, com a reforma da Universi- dade de Coimbra, as Faculdades de Matemática e Filosofia deram lugar à Faculdade de Ciências,

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