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FIGUEIREDO, José de Porto, 1871 – Porto,

No documento Dicionário (páginas 114-118)

Nascido no Porto, em 21 de dezembro de 1871, José de Figueiredo (Fig. 1) formou -se em Direi- to na Universidade de Coimbra em 1893, embo- ra, segundo o próprio, “sem o menor interesse pelas coisas da jurisprudência” (apud Cunha, 1838, 19). Regressado ao Porto, ainda trabalhou num notário, mas, em 1895, resolve ir para Paris. Nesta cidade desenvolveu “uma certa orienta- ção” no que toca aos assuntos de arte (idem, 19), através de visitas a museus e casas de antigui- dades, do contacto com o ensino da História da Arte e do convívio com eruditos, historiadores e artistas. Em 1901 regressa a Portugal e instala- -se em Lisboa.

Durante a primeira década de 1900, Figueire- do dedicou -se ao acompanhamento e estudo de temas artísticos, destacando -se a publicação de: Portugal na Exposição de Paris e O Legado Valmor e a Reforma dos Serviços de Bellas ‑Artes (1901), obras onde opina sobre assuntos relacionados com a arte portuguesa, o ensino, as academias, os museus ou a legislação, e onde deixa ante- ver a linha de ação que irá seguir e defender nos anos seguintes; o artigo “Arte e Artistas Con- temporâneos” (1905), texto que demonstra o seu conhecimento do panorama artístico português contemporâneo e que mostra já uma reflexão sobre questões específicas da Museologia da arte praticada no nosso país; e Algumas palavras sobre a evolução da arte em Portugal (1908), obra que, nas palavras de Reinaldo dos Santos, constitui um “largo fresco em que se valoriza e caracte- riza a corrente do sentimento nacional” (Santos, 1938, 15) e que é enunciadora da vertente his-

toriográfica de José de Figueiredo, centrada na ideia da existência de uma escola portuguesa de pintura “primitiva”.

Nesta década destacam -se ainda as suas nomeações como vogal do Conselho Superior dos Monumentos Nacionais (dezembro de 1902) e como académico de mérito da Academia Real de Belas -Artes de Lisboa (19 de dezembro de 1903). Foi no seio desta instituição que Figuei- redo se projetou como figura pública, por via das suas intervenções na produção de pareceres e, principalmente, pelo seu papel nas quezílias que, entre 1905 e 1909, opuseram a Academia de Belas -Artes ao pintor Carlos Reis, diretor do Museu Nacional de Belas -Artes. Em 1910, José de Figueiredo consolida o seu nome como his- toriador, crítico e erudito dos assuntos sobre arte e património, na sequência da campanha de estudo, divulgação e restauro dos painéis de São Vicente, de que resultou a publicação de Arte Por‑

FIG. 1 Columbano Bordalo Pinheiro, Retrato de José

de Figueiredo, 1908. Óleo s/ tela, 93 x 73,5 cm. Museu

Nacional de Soares dos Reis (Porto), Inv. 470 Pin. Reprodução MatrizPix © IMC / MC, 13788 TC.

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tuguesa Primitiva. O pintor Nuno Gonçalves (1910) e no âmbito da qual fortalece a relação profissional e de amizade com o pintor e restaurador Luciano Freire.

Em 5 de outubro desse ano foi proclamada a República em Portugal. A mudança de regime incentivou reestruturações em diversas áreas, nomeadamente no programa patrimonial e artístico do país. Graças à consolidada reputa- ção enquanto erudito (e também muito prova- velmente graças às boas relações que mantinha com alguns vultos ligados ao Partido Republica- no), José de Figueiredo assume um papel funda- mental na definição das políticas patrimoniais e artísticas do novo regime, integrando o grupo consultivo que elaborou o parecer e o projeto que deu origem à legislação republicana sobre arte e património, o Decreto n.º 1, com força de lei, de 26 de maio de 1911 (Reorganização dos serviços artisticos e archeologicos, 1911).

Na sequência deste decreto, José de Figuei- redo foi nomeado diretor do Museu Nacional de Arte Antiga (MNAA), cargo que assumiu em 27 de maio de 1911 e ocupou até ao fim da sua vida. É pelo seu papel enquanto diretor do MNAA que José de Figueiredo é particularmente recordado, ficando a sua ação associada à modernização da imagem e do funcionamento daquela instituição (v. Baião, 2015, 263 e seg.). De facto, o MNAA conheceu, durante a direção de Figueiredo, alte- rações mais ou menos profundas na sua Museo- grafia e nas práticas de trabalho. O novo diretor pretendeu fazer uma rutura com a imagem e exis- tência anterior daquela instituição, que, a seu ver,

mais parecia “um verdadeiro depósito em que a obra de arte autêntica desaparecia apagada e per- dida entre banalidades ou verdadeiros horrores” (Figueiredo, 1915, 150). Em termos práticos, a ação de José de Figueiredo no MNAA refletiu -se:

Na reorganização das salas e reformulação do discurso expositivo, centrando na apresentação e valorização da pintura portuguesa (Fig. 2);

Na incorporação de obras no museu, para o que terão sido decisivos os seguintes fatores: as suas qualidades como comprador expert, atento ao mercado nacional e internacional; o contexto proporcionado pelo regime republicano, desig- nadamente a Lei de Separação Estado das Igre- jas e o processo de arrolamento dos paços reais; e a capacidade financeira potenciada pela ação do Grupo de Amigos do Museu Nacional de Arte Antiga, fundado em abril de 1912;

No apoio aos trabalhos de conservação e restauro de pinturas, promovendo a ativida- de da oficina de restauro dirigida por Luciano Freire (Fig. 3) e a constituição de um labora- tório de estudo e investigações fotográficas e radiológicas;

FIG. 2 Notícia da abertura de algumas salas do Museu Nacional de Arte Antiga, depois de remodelação levada a cabo por iniciativa de José de Figueiredo. Ilustração

Portuguesa, 1 de abril de 1912.

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e o seu funcionamento – resultou a publicação, em Paris, de Museographie, obra colectiva edita- da em dois volumes, na qual foram publicadas várias fotografias das salas do MNAA, como exemplos das boas práticas museológicas e museográficas.

Por altura do seu falecimento, em 18 de dezem- bro de 1937, José de Figueiredo ocupava vários cargos institucionais: diretor dos Museus Nacio- nais de Arte Antiga (Janelas Verdes e Coches); Inspetor Geral dos Museus; presidente da Aca- demia Nacional de Belas -Artes; vice -presidente do Conselho Superior de Belas -Artes; presidente da 6.ª secção (Belas -Artes) da Junta Nacional de Educação e membro do seu Conselho Permanen- te da Ação Educativa; membro da Câmara Cor- porativa; vogal da comissão administrativa da Casa de Bragança; membro do conselho admi- No desejo de melhorar o espaço de insta-

lação do museu: Figueiredo cedo começou a movimentar -se no sentido de promover inter- venções de melhoramento das salas de exposição e ampliação do palácio das Janelas Verdes, que sofreram avanços e recuos durante toda a sua direção. O seu último projeto foi a construção do anexo do museu – projetado pelos irmãos arqui- tetos Rebelo de Andrade –, inaugurado depois da sua morte, por ocasião da grande exposição Pri- mitivos Portugueses, em 1940.

Ao longo dos anos em que foi diretor do MNAA, José de Figueiredo destacou -se por conseguir aliar o discurso historiográfico, baseado na pes- quisa e no estudo, a uma extrema sensibilidade e atenção pelas questões relacionadas com o que deve ser a instituição museu, nas suas diversas valências. Assim, se deve ser reconhecido por ter apresentado propostas museográficas – mais visíveis – baseadas numa premissa inovadora que pretendeu interligar a componente cientí- fica, histórica e pedagógica a uma componente artística ou estética na apresentação da obra de arte, também o deve ser por ter apresentado um programa que implicava o desenvolvimento de outras áreas funcionais do museu, como o res- tauro, as incorporações, a investigação (fundou e desenvolveu a biblioteca de arte do museu; foi um participante ativo em encontros nacionais e internacionais de história da arte, promovendo o seu trabalho e o de outros investigadores), a divulgação (publicação de catálogos; organi- zação de exposições e participação em eventos expositivos internacionais; organização de con- ferências) e a formação (organização de um ser- viço educativo, formação de conservadores).

As premissas pelas quais José de Figueiredo tentou guiar a sua ação no museu só seriam fixa- das internacionalmente em 1934, no Congresso Internacional de Museologia (Madrid), ao qual assistiu. Deste encontro – o primeiro organizado pelo Office Internacional des Musées para se discutir exclusivamente o papel dos museus na sociedade

FIG. 3 José de Figueiredo e Luciano Freire no ateliê de restauro sito no Convento de S. Francisco, Lisboa, s.d. Arquivo Fotográfico do MNAA, 4.2.8.1, N.º 3003.

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JOANA  BAIÃO Membro integrado do Instituto de História

da Arte da Universidade Nova de Lisboa. Licenciada em Artes Plásticas  –  Escultura (2005), mestre em Museologia (2009) e doutora em História da Arte, especialização em Museologia e Património Artístico (2014). Atualmente é bolseira de Pós‑ ‑Doutoramento financiada pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia, com o projeto de investigação Study trips and artis‑

tic emigration: Portuguese artists in Paris, 1929 ‑1976. Foi bolsei‑

ra da Fundação para a Ciência e a Tecnologia no âmbito da Comissão Nacional para as Comemorações do Centenário da República (2009 ‑2010) e integrou a equipa de investigação do projeto “Fontes para a História dos Museus de Arte em Portu‑ gal” (2010 ‑2013). Tem colaborado com diversas instituições em projetos relacionados com História da Arte e da cultura, entre as quais o Museu Nacional de Arte Contemporânea – Museu do Chiado e a Fundação Arpad Szenes ‑Vieira da Silva.

nistrativo do Museu -Biblioteca Condes de Castro Guimarães; membro da Comissão de Estética Municipal de Lisboa e presidente da Comissão Nacional de Iconografia Portuguesa.

BIBLIOGRAFIA

BAIÃO, Joana. 2015. Museus, arte e património em Portugal. José de Figueiredo (1871 ‑1937). Casal de Cambra: Calei- doscópio.

CUNHA, Alfredo da. 1938. Dr. José de Figueiredo. Lisboa: Edição dos “Amigos do Museu”.

FIGUEIREDO, José de. 15 dezembro 1915. “Museu Nacio- nal de Arte Antiga”. Atlântida, 1: 142 -153.

SANTOS, Reinaldo dos. 1938. Homenagem à memória do Dr. José de Figueiredo. Lisboa: Academia Nacional de Belas- -Artes.

S.A. 1911. Reorganização dos Serviços Artísticos e Archeo- logicos. Decreto, com força de lei, de 26 de maio de 1911. Lisboa: Imprensa Nacional.

[J. B.]

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Dicionário Quem é Quem na Museologia Portuguesa FONSECA, António José Branquinho da

FONSECA,

António José Branquinho da

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