• Nenhum resultado encontrado

CHICÓ, Mário Tavares Beja, 1905 – Lisboa,

No documento Dicionário (páginas 63-67)

Nasceu a 18 de maio de 1905, em Beja, vindo a falecer em Lisboa a 11 de agosto de 1966. Filho de Manuel Jacinto de Sousa Tavares e Júlia Luísa da Silva, filha adotiva do Engenheiro Manuel Rodri- gues Chicó, um agrónomo das propriedades da Casa de Cadaval, natural de Goa, e por sua espo- sa, D. Rufina da Conceição Guimarães, natural de Évora. Mário passara a infância com o casal Chicó e, ao atingir a maioridade, adotará o apelido do casal, em gesto de apreço.

Em simultâneo, foi museólogo, professor, pedagogo, investigador, historiador, crítico de arte e arqueólogo. O contacto com o mundo da arte terá sido estimulado pelos interesses artísti- cos da mãe, aluna do curso de Pintura da Escola Superior de Belas Artes, pelo avô adotivo e pelo tio, José de Sousa Tavares, professor de Histó- ria da Arte em Beja. Após a sua formação liceal, em Beja e Évora, frequentou a Escola Agrícola de Coimbra e a Faculdade de Direito. Posteriormen- te, em 1935, licencia -se em Ciências Históricas e Filosóficas na Faculdade de Letras de Lisboa. Frequenta ainda o estágio dos Museus Nacio- nais no Museu Nacional de Arte Antiga (MNAA), entre 1935 e 1938. De entre os diversos trabalhos realizados, salienta -se a catalogação das provas e clichés do Arquivo Fotográfico do MNAA, que viria a tornar -se revelador no reconhecimento da documentação fotográfica como recurso ico- nográfico auxiliar para o estudo comparatista do património artístico (Chicó, 1935), que defende, pela primeira vez, em 1935, na publicação de um artigo na revista Medicina – Revista de Ciências Médicas e Humanismo.

Entre 1937 e 1939, aufere uma bolsa do Insti- tuto de Alta Cultura em Paris para frequentar o Instituto de Arte e Arqueologia da Universidade de Paris, sob orientação de Elie Lambert e Henri Focillon, e, em complementaridade, o curso de Arqueologia Medieval na École de Chartres. No âmbito da bolsa, empreendeu um conjunto de viagens pela Bélgica, França, Alemanha, Suíça, Inglaterra e Espanha, que lhe permitiram, em primeira instância, aprofundar o conhecimento pelo património arquitetónico dessas cidades, revelando -se igualmente propício no aperfeiçoa- mento da sua educação museal, ao tomar con- tacto com a organização de alguns museus e monumentos europeus.

O início da sua atividade profissional é mar- cado pela passagem no meio museológico, onde começou a desenvolver reflexões sobre questões de natureza museográfica, que no seu entender

FIG. 1 Mário e Alice Chicó, s/d. Ó FMS, FMAC, Pt. 07161.002.076

64

Dicionário Quem é Quem na Museologia Portuguesa CHICÓ, Mário Tavares

atualizações da museografia internacional que, de forma inequívoca, se refletem nas escolhas pessoais, determinadas pelas viagens ao estran- geiro que realiza amiúde, nomeadamente no uso de técnicas de iluminação adequadas aos objetos expostos, em particular na seção de pintura.

Ainda como diretor do Museu de Évora, foi responsável pela secção de Artes Decorativas do Museu na Igreja das Mercês, com auxílio do MNAA, desde 1956 (Gusmão, 1995, 10).

É no contexto das suas atividades como histo- riador de arte que, em 1951, lhe é concedido um subsídio, pela Junta das Missões Geográficas e Investigações Coloniais, para chefiar uma mis- são de reconhecimento e estudo na Índia Portu- guesa, com o apoio dos Ministérios da Educação Nacional, Ultramar e Obras Públicas (Azvedo, 196?, 129). A missão que cumprirá, teve como objetivo dirigir a recolha de material iconográ- deveriam ultrapassar a aplicação de soluções

meramente decorativas no espaço expositivo. Partindo do entendimento do museu como uma extensão da universidade ou um campo de tra- balho prático (Rodrigues, 196?, 72), por si defen- dido, materializa, nesse sentido, profundas alterações na organização e apresentação das coleções nas quais interveio.

Foi nomeado Conservador dos Museus Muni- cipais de Lisboa (1940 -1943) e é nessa qualidade que inicia, em 1940, o estudo para o projeto de adaptação do Palácio Mitra a Museu da Cidade de Lisboa, bem como a respetiva organização das coleções a expor. Ao elaborar a definição do que viria a ser a missão e a vocação do futuro Museu da Cidade de Lisboa, e tendo como referência quatro museus europeus seus congéneres tipoló- gicos, nas cidades de Haia, Leon, Londres, Paris, toma em conta a missão pedagógica do museu: “tudo leva a crer que êsses museus venham a transformar -se num futuro próximo em museus didácticos e de geografia humana” (Chicó, 1943, 7).

Em 1942, casa com Maria Alice Lami (1913- -2002) (Fig. 1), licenciada em Ciências Histó- ricas e Filosóficas pela Faculdade de Letras de Lisboa, de quem teve dois filhos, Henrique e Síl- via Chicó.

Em 1943, Mário Chicó vence o concurso de provas públicas para a Direção do Museu Regio- nal de Évora (Fig. 2) e, em 1945, é nomeado pro- fessor efetivo da cadeira de Estética e História da Arte da Faculdade de Letras de Lisboa, duas funções que concomitantemente exercerá até à data da sua morte, em 1966 (Gusmão, 1995). Enquanto diretor do Museu Regional de Évora (1943 -1966), a sua ação ficará marcada pelo desígnio de reformular a museografia das insta- lações e reorganizar as coleções a expor. Assim, nos primeiros anos da sua direção, terá a cargo uma intervenção na disposição dos espaços de exposição. As alterações introduzidas na reno- vação do Museu Regional de Évora revelam a atenção de Mário Tavares Chicó sobre as novas

FIG. 2 Claustro do Museu Regional de Évora após renovação na década de 1940. Ó FMS, FMAC, Pt. 05524.000.259

Dicionário Quem é Quem na Museologia Portuguesa CHICÓ, Mário Tavares

Enquanto académico, foi professor catedrá- tico da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, onde lecionou as disciplinas de Estéti- ca e História da Arte, e professor honorário da Universidade de Recife, que lhe atribui o dou- toramento honoris ‑causa. Foi vogal efetivo da Academia de Belas -Artes e membro do Conselho Superior de Alta Cultura.

Pertenceu à Comissão Organizadora do XVI Congresso Internacional de História de Arte (1949) e presidiu à Secção de Belas -Artes do 1.º. Colóquio Internacional de Estudos Luso- -Brasileiros, realizado em Washington (1950).

Não é de somenos importância a dinâmica atividade que protagonizou no estrangeiro, rea- lizando conferências, palestras, cursos e exposi- ções, em virtude de promover o Museu Regional fico em Goa, Damão e Diu (registo fotográfico,

levantamento de plantas, cortes e alçados de monumentos dessas localidades) e a elaborar relatórios dos trabalhos realizados (Mariz, 2012). Este estudo, encomendado com propósitos políti- cos de mapeamento do património arquitetónico e urbanístico português na Índia (Pinto, 2014, 201), permitiu -lhe aplicar em campo o método Chicó, “assente no levantamento de campo, na heurística das fontes, no registo de inventário e no estudo criterioso das formas, tendo a fotogra- fia como base de pesquisa” (Serrão, 2005, 70 -71). Os resultados deste tour investigativo foram divulgados, de 1954 a 1962, em conferências e publicados em nove estudos, em revistas perió- dicas, não chegando, porém, a obra final Monu‑ mentos da Índia Portuguesa a ser editada (Fig. 3).

FIG. 3 Vista da exposição temporária A Arte das Missões no Oriente Português e no Brasil: Exposição de Fotografias, Museu Nacional de Arte Antiga (1957). Ó FMS, FMAC, Pt. 05523.000.013

66

Dicionário Quem é Quem na Museologia Portuguesa CHICÓ, Mário Tavares

CHICÓ, Mário Tavares. 1943. Estudo acerca da organização do museu da cidade de Lisboa, Lisboa: Câmara Municipal de Lisboa.

GUIMARÃES, Carlos. 2004. Arquitectura e Museus em Portu‑ gal – Entre Reinterpretação e Obra Nova, FAUP – Faculda- de de Arquitectura da Universidade do Porto.

GUSMÃO, Artur Nobre de. 1995. Mário Tavares Chicó, [s.l.]:[s.n.]

MARIZ, Vera. 2012. A JMGIC e a investigação do patrimó‑ nio arquitectónico português ultramarino – o caso da viagem de Mário Chicó à Índia Portuguesa. Colóquio Internacio- nal – Ciência nos Trópicos: olhares sobre o passado, perspectivas de futuro. Lisboa: Instituto de Investigação Científica Tropical.

PINTO, Carla Alferes. 2014. A colecção de arte colonial do Patriarcado de Lisboa, Proposta de Estudo e musealização. Tese de Doutoramento em História da Arte, especialidade em Museologia e Património Artístico, Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, Universidade Nova de Lisboa. ROCHA, Ema Ramalheira. 2013. O estágio. Curso de conser‑

vadores no Museu Nacional de Arte Antiga – O papel educa‑ tivo do MNAA na museologia portuguesa. Dissertação de Mestrado em Museologia, Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, Universidade Nova de Lisboa.

RODRIGUES, Maria João Madeira. [196?]. Mário Tavares Chicó, 1905 ‑1966, Lisboa: Tipografia A. Coelho Dias. SERRÃO, Vitor. 2005. “Mário Tavares Chicó e as Novas

Metodologias da História da Arte Portuguesa”, Revista Monumentos n.º23, setembro.

Arquivos

Acervo documental de Mário e Alice Chicó, depositado na Fundação Mário Soares, disponível em Casa Comum: http://casacomum.net/cc/arquivos?set=e_783/t_Docu- mentos#!e_760

Arquivo Digital de Cascais: https://arquivodigital.cascais. pt/xarqweb/(S(2sxwfi45ct1qlx45el5l3245))/Result. aspx?id=35309&type=Autoridade

[I.G.S.]

INÊS  GASPAR  SILVA Licenciada em História da Arte pela

Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa (2011) e mes‑ tre em Museologia e Museografia pela Faculdade de Belas‑ ‑Artes (2014), com a dissertação O Cubo Exibicionista. Tem colaborado com diversas instituições culturais na área da mediação cultural, inventariação e produção de exposições temporárias  –  Palácio Nacional de Queluz, Palácio Nacional da Ajuda, Fundação Calouste Gulbenkian, Museu Nacional de Arte Antiga, Galeria Millennium, Castelo de S. Jorge – entre outras. Atualmente é bolseira da Fundação para a Ciência e Tecnologia, desenvolvendo um projeto de investigação no Museu Nacional de Arte Antiga, subordinado ao tema Catálogo

raisonné das exposições temporárias do MNAA.

de Évora e o Alentejo, entre as quais se salien- tam as sucessivas visitas ao Brasil. No Brasil, foi ainda membro da Comissão Nacional das Come- morações do 4.º Centenário do Rio de Janeiro. Organizou nessa cidade, em 1965, duas exposi- ções relativas à Arte Portuguesa (1550 a 1950), desempenhando um importante papel na organi- zação de cursos universitários e administrativos para a formação de museólogos e administra- tivos, com vista à reestruturação dos museus brasileiros.

A produção escrita de Mário Tavares Chicó notabilizou -se pelos numerosos estudos que elaborou sobre património monumental em Portugal, na Índia e no Brasil, entre os quais se destacam as publicações A Catedral de Évora na Idade Média (1946), A Catedral de Lisboa e a arte portuguesa da Idade Média (1953), e aquela que é considerada a sua obra maior, A Arquitectura Góti‑ ca em Portugal (1954).

Organizou diversas exposições documentais de fotografia sobre a arquitetura religiosa, civil e militar portuguesa, em Lisboa, Évora, Londres, Rio de Janeiro, Salvador, Recife, Salamanca, Santa Cruz de Tenerife e Milão.

O acervo documental de Mário Tavares Chicó e Maria Alice Chicó (1913 -2002) integra 10  000 reproduções fotográficas e 30  000 documentos, pertencentes à Fundação Mário Soares.

BIBLIOGRAFIA

Mário Tavares Chicó: Goês por adopção... in Blog Revisi- tar Goa, disponível em: http://revisitargoa.blogspot. pt/2016/05/mario -tavares -chico -goes -por -adopcao. html

AZEVEDO, Carlos. [196?]. Mário Tavares Chicó, 1905 ‑1966. Lisboa: Tipografia A. Coelho Dias

BORGES, José Pedro de Aboim. 2013. Marques Abreu: A Fotografia e a Edição Fotográfica na Defesa do Patrimó‑ nio Cultural. Tese de Doutoramento em História da Arte Contemporânea, Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, Universidade Nova de Lisboa.

CHICÓ, Mário Tavares. 1935. “A Catedral de Évora. Plano de documentação fotográfica para o seu estudo à dis- tância.” Separata da Medicina. Revista de Ciências Médicas e Humanismo, Lisboa: fevereiro.

Dicionário Quem é Quem na Museologia Portuguesa CORDEIRO, Luciano

CORDEIRO, Luciano

No documento Dicionário (páginas 63-67)

Outline

Documentos relacionados