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KEIL, Luís Cristiano Cinatti Lisboa, 1881 ‑ ?,

No documento Dicionário (páginas 167-171)

Filho do compositor, pintor e poeta e colecionador Alfredo Keil (1850 -1907), completou o segundo ano do Curso Superior de Letras da Escola Poli- técnica de Lisboa e frequentou, durante quatro semestres, a Faculdade de Ciências Sociais e Políticas da Universidade de Gand (Bélgica).

Depois de longa ausência no estrangeiro e de um curto período de atividade na administração pública portuguesa, por volta de 1914 começou a colaborar com José de Figueiredo (1871 -1937), diretor do Museu Nacional de Arte Antiga (MNAA), nesta instituição – primeiro volunta- riamente, depois como conservador -adjunto e, por fim, como conservador efetivo, em substi- tuição do entretanto falecido Manuel de Macedo Pereira Coutinho (1839 -1915) (Baião, 2015 380, nota 281).

Uma das suas primeiras tarefas no MNAA foi a catalogação da biblioteca, “perfeita sob todos os aspectos e feita gratuitamente como os outros serviços prestados pelo Snr Keil” (Ofício do dire- tor do MNAA para o presidente do CAA da 1.ª Circunscrição, 31 de dezembro de 1914).

O início da sua colaboração com José de Figueiredo foi também marcado pelo contexto das movimentações patrimonialistas republica- nas, nomeadamente as que vieram na sequên- cia da aplicação da Lei de Separação do Estado das Igrejas. De facto, o processo de arrolamento dos bens da Igreja levado a cabo na sequência da Lei da Separação pressupunha não só a sua inventariação mas também, eventualmente, a sua alienação e venda em hasta pública. Luís Keil acompanhou de perto vários desses leilões,

chamando regularmente a atenção de Figueire- do acerca de quais as peças que eventualmente teriam interesse para o MNAA ou outros museus nacionais (o Estado tinha direito de preferência), e relatando alguns episódios ocorridos nesse contexto (Baião, 2015, 297 e 417, nota 1248).

Depois da sua nomeação definitiva como con- servador (julho de 1916), Luís Keil dedicou -se a trabalhos de investigação e estudo da coleção, ao apoio na organização de exposições, e na remo- delação das salas do museu – destaque -se, em 1933, a reorganização das salas de ourivesaria, tarefa empreendida com o conservador e futuro diretor do MNAA, João Couto (1892 -1968) (idem 295).

Luís Keil esteve também ligado ao curso de Conservadores do Museu Nacional de Arte Anti- ga, criado formalmente em 1932, sendo res- ponsável pela orientação direta de alguns dos estagiários e pelo lecionamento de cadeiras relacionadas com as artes decorativas (história e técnica das tapeçarias, paramentos, cerâmica nacional, porcelanas orientais, faianças, tapetes persas e de Arraiolos). Nestas funções, apresen- tava regularmente “exemplos internacionais de Museus cujo didactismo ou opção museográfica fosse interessante para os alunos” (Ramalheira, 2013, 378).

Homem de confiança do diretor do MNAA, Luís Keil assumiu por diversas vezes a direção interina do museu, aquando das ausências de José de Figueiredo no estrangeiro, relatando -lhe regularmente as novidades políticas e culturais do país (Baião, 2015, 73 e 380, nota 282).

Luís Keil manteve funções no MNAA até 1938, ano em que foi nomeado conservador respon- sável pelo Museu Nacional dos Coches (então sob tutela do MNAA), de que viria a ser diretor a partir de 1943. Nesta instituição – e apesar de “toda a série de dificuldades que as circunstân- cias anormais cada dia agravam” (Keil, 1944, 4) –, impulsionou a ampliação do espaço expositivo (1940 -1943, sob orientação de Raul Lino), orien-

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e Londres (1939), onde apresentou comunica- ções (Baião, 2015, 217 e seg.; Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira. Vol. 14 [s.d.], 441).

Ainda no âmbito patrimonial, integrou a comissão para o inventário dos azulejos artís- ticos em Portugal, foi responsável pela edição

definitiva do livro A Portuguesa, da autoria de seu pai, e colaborou na organização das exposições “Ourivesaria portuguesa dos séculos XII a XVII” (Coimbra, 1942) e “Retratos de personagens por- tuguesas do século XVII” (Lisboa, 1942). Para além disso, foi colecionador de objetos artísticos, principalmente escultura medieval, pinturas, desenhos, miniaturas, cerâmicas, armas, ourive- saria e mobiliário (cf. Grande Enciclopédia Portu‑ guesa e Brasileira. Vol. 14 [s.d.], 441).

Vítima de um acidente de viação, em que tam- bém faleceram a sua mulher e a sua única filha, à tou os “complicados trabalhos de restauro, cuja

delicadeza é escusado acentuar” (Keil, 1943a, 42) e dirigiu a edição de um importante catálo- go descritivo (1943). O próprio Luís Keil descre- ve os resultados da sua atividade no Museu dos Coches:

“Dessa obra de alargamento, terminada em 1943, resultou, além de se modificar o vestíbulo, a construção de uma sala lateral cujas dimen- sões, excepto a largura, são sensivelmente as mesmas do antigo salão principal. (…)

Tendo que se sujeitar ao espaço restrito de que se dispunha, contudo o salão anexo, além de permitir uma melhor disposição dos carros já expostos, vem apresentar outros que não eram conhecidos. Convenientemente restaurados e beneficiados, esses carros nobres (…) são frágeis e mudas testemunhas dos esplendores de outro- ra (…).

A apresentação de alguns carros de gala até hoje ignorados do público, demonstrará também o esforço que, em circunstâncias difíceis e anor- mais, se dispendeu para a salvação de algumas preciosas relíquias do património artístico nacio- nal.” (Keil, 1943b, X).

Autor de numerosa obra de investigação e crí- tica, na sua produção destacam -se títulos como Uma visionária seiscentista (1915), O Império de Penedo (1917), Faianças e tapeçarias (1918), As tapeçarias de D. João de Castro (1928), O primeiro português que foi à Índia (1933), As assinaturas de Vasco da Gama (1934), Porcelanas artísticas chine‑ sas do século XVI com inscrições em português (Pré- mio José de Figueiredo, 1942) ou o 1.º volume do Inventário Artístico de Portugal, dedicado ao dis- trito de Portalegre (1943). Luís Keil evidenciou- -se ainda pela forte internacionalização do seu trabalho, fomentada por regulares viagens pela Europa, pela publicação em periódicos estran- geiros e pela participação em congressos inter- nacionais. Destaque -se a sua participação nos Congressos Internacionais de História da Arte de Paris (1921), Bruxelas (1930), Estocolmo (1933)

FIG. 1 Luís Keil, c. 1910 ‑1915. Photografia Sobral, Lisboa. © PSML /CDLK.

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JOANA  BAIÃO Membro integrado do Instituto de História

da Arte da Universidade Nova de Lisboa. Licenciada em Artes Plásticas  –  Escultura (2005), mestre em Museologia (2009) e doutora em História da Arte, especialização em Museologia e Património Artístico (2014). Atualmente é bolseira de Pós‑ ‑Doutoramento financiada pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia, com o projeto de investigação “Study trips and

artistic emigration: Portuguese artists in Paris, 1929 ‑1976”. Foi

bolseira da Fundação para a Ciência e a Tecnologia no âmbito da Comissão Nacional para as Comemorações do Centenário da República (2009 ‑2010) e integrou a equipa de investigação do projeto “Fontes para a História dos Museus de Arte em Portugal” (2010 ‑2013). Tem colaborado com diversas insti‑ tuições em projetos relacionados com história da arte e da cultura, entre as quais o Museu Nacional de Arte Contempo‑ rânea – Museu do Chiado e a Fundação Arpad Szenes ‑Vieira da Silva.

data da sua morte Luís Keil encontrava -se ligado a vários organismos: Grupo de Amigos do Museu Nacional de Arte Antiga, Academia Nacional de Belas -Artes, Instituto de Coimbra, Acade- mia de Belas -Artes de San Fernando (Madrid), Academie Royale d’Art et Archeologie (Bruxelas), Instituto Imperial Germânico (Berlim) e Acade‑ mia della Scala (Verona) (idem 441). Foi agracia- do com numerosas condecorações nacionais e internacionais.

BIBLIOGRAFIA

BAIÃO, Joana. 2015. Museus, arte e património em Portugal. José de Figueiredo (1871 ‑1937). Casal de Cambra: Calei- doscópio.

GRANDE Enciclopédia Portuguesa e Brasileira [s.d.]. Vol. 14: 441 -442.

KEIL, Luís. 1943a. “Algumas considerações históricas e artísticas àcêrca dos côches e do seu Museu. Origens, ampliações e restauros”. Boletim da Academia Nacional de Belas ‑Artes. Vol. XII: 36 -55.

KEIL, Luís. 1943b. Catálogo do Museu Nacional dos Côches. Lisboa: Bertrand (Irmãos), Lda.

KEIL, Luís. 1944. Palavras proferidas na inauguração das novas instalações do Museu Nacional dos Coches. Lisboa: Bertrand (Irmãos), Lda.

MNAA – CADASTRO do seu pessoal efectivo [rascunho]. Arquivo do Museu Nacional de Arte Antiga, “Secreta- ria – Assuntos pendentes”, [s.d., 193 -].

Ofício do diretor do MNAA para o presidente do CAA da 1.ª Circunscrição, 31 de dezembro de 1914. Copiador de Correspondência Remetida (1905 -1917). Arquivo do Museu Nacional de Arte Antiga.

ROCHA, Ema Ramalheira. 2013. O estágio. Curso de con‑ servadores de Museu no Museu Nacional de Arte Antiga – O papel educativo do MNAA na museologia portuguesa. Dis- sertação de mestrado. Faculdade de ciências Sociais e Humanas, Universidade Nova de Lisboa. URL: http:// hdl.handle.net/10362/10841 (acedido em 17 -03 -2018).

L

LACERDA, Abel de 171

LARCHER, Tito 174

LIMA, Manuel Coelho Baptista de 178

LOPES, Adriano de Sousa 181

LOPES, António Teixeira 184

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LACERDA, Abel de

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