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CORREIA, Eugénio Sintra, 1897 – Lisboa,

No documento Dicionário (páginas 75-78)

Eugénio Correia foi o arquiteto responsável pelo edifício do Museu José Malhoa (MJM), inaugu- rado em 1940, o primeiro construído de raiz em Portugal para museu de arte e ainda existente (Fig. 1).

Diplomado em 1923, no Curso de Arquitetura Civil, da Escola de Belas -Artes de Lisboa, onde é discípulo de José Luís Monteiro, inicia a ativida- de profissional ao “serviço do Estado” ainda em 1920. Foi temporariamente professor do ensino técnico -profissional, tem vindo a desempenhar

vários cargos em organismos públicos: arquiteto da Inspeção de Lugares e Habitações, da Direção- -Geral de Saúde; arquiteto -chefe interino da Repartição das Construções Escolares / Ministé- rio da Instrução Pública arquiteto inspetor -chefe na Direção -Geral do Ensino Primário; e vogal da Comissão do Cadastro das Escolas Primárias. Nesta última qualidade, dinamizou o movimento nacional de construção, reparação e ampliação das escolas primárias, prioridade do Estado Novo.

A partir dos anos 1930, torna -se arquiteto da DGEMN, sendo promovido a arquiteto inspe- tor superior de Obras Públicas, em 1955, com funções de vogal -efetivo do Conselho Superior de Obras Públicas. Dentro dos projetos da sua autoria, destacam -se os bairros económicos de Olhão e do Alto do Pina (Lisboa); a adaptação do Palácio Silva Amado a Ministério da Instrução Pública; a Igreja de Pegões; o Seminário de Vila Real; a ampliação do Liceu de Viana do Castelo (em colaboração); a ampliação e melhoramen- to dos Solares de Fontelas (Régua), de S. Pedro (Ermida -Douro) e de Guimarães (Santa Maria do Zêzere); o arranjo do Miradouro do Pináculo (Funchal) e a urbanização do Campo de Sá da Bandeira (Santarém).

Com o arquiteto Paulino Montês (1897 -1988), Eugénio Correia foi protagonista do primeiro edifício concebido especificamente para museu de arte em Portugal, atualizado pelas recentes orientações museográficas e de organização dos espaços museológicos, noções profundamente analisadas em 1934, na Conferencia Internacional de Estudios de Arquitectura y Servicios de los Museos de Arte, organizada em Madrid pelo Office Interna‑ tional des Musées, após o Inquérito Internacional sobre os Museus, publicado em 1931.

No ano dos Centenários, Eugénio Correia é nomeado como arquiteto -chefe da Exposição das Comemorações Centenárias na Província da Estremadura, que têm lugar no Parque das Cal- das da Rainha, sob orientação do caldense Antó- nio Montês (1896 -1967), um dos fundadores e FIG. 1 Eugénio Correia, António Montês e Santos

Pedroso à entrada do Museu José Malhoa, 2 de outubro de 1955. Arquivo Museu José Malhoa / Ó DRCC

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volumes e no tratamento das superfícies exterio- res, com marcação axial da entrada através de um pórtico saliente, que passava a ser hexastilo e encimado por largo entablamento reto onde se inscrevia o nome do museu, desaparecendo as floreiras e os baixos -relevos inicialmente esbo- çados. Com sistema de ventilação, sem vãos para o exterior e com iluminação zenital garantida através de claraboias, o edifício encerrava -se em si mesmo, reservando para exposição as paredes totalmente despojadas.

Da mesma forma, deve -se a Eugénio Correia as ampliações de 1950 e de 1955 -57, respeitan- do a horizontalidade do edifício e a circulação interior do visitante. Foi este arquiteto também o responsável pela adaptação da cave a Museu de Cerâmica, em 1964. Nos finais da década de 1950 e inícios da seguinte, terá ainda esboçado um edifício independente para um museu de cerâmica, a erguer futuramente no Parque, na zona do ringue e com ligação à Quinta da Bone- primeiro diretor do MJM, que vê neste evento

a possibilidade de obter financiamento para a construção de um edifício onde instalar o museu, que abrira ao público em instalações provisórias na Casa dos Barcos, em 28 de abril de 1934. Em 11 de agosto de 1940, era finalmente inaugurado o novo edifício e o museu passava a denominar- -se Museu Provincial de José Malhoa, pelo facto do imóvel e das coleções serem entregues à Junta de Província da Estremadura. Desenvol- vida por Eugénio Correia, a nova construção seguia o anteprojeto que Paulino Montês apre- sentara seis anos antes, no dia da inauguração do museu (Fig. 2).

Em pouco mais de três meses, levantou -se um edifício de planta quadrada, centrada num claustro, que previa a circulação do visitante entre três salas de 10x5 m e uma sala de 10x6 m (do fundo), alternando com quatro de 5x4,5 m. Em relação ao anteprojeto de Paulino Montês, a construção simplificava -se no despojamento dos

FIG. 2 Edifício do Museu Provincial de José Malhoa, anos 1940. Edição de postais Passaporte Ó.

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Saavedra Machado, à época também responsá- vel pelo MJM. À semelhança do museu caldense, ainda que a uma escala menor, Eugénio Correia dotou as três salas de exposição do 1.º piso com iluminação zenital, através de claraboias.

BIBLIOGRAFIA

COUTO, Matilde Tomás do; Santos, Dóris. 2013 (coord.). Liga dos Amigos do Museu José Malhoa. Como nasce um museu. Caldas da Rainha: Liga dos Amigos do Museu de José Malhoa.

FERREIRA, Carlos Antero. 1991. Elogio histórico do arqui‑ tecto Eugénio Corrêa, proferido pelo académico efectivo pro‑ fessor catedrático Carlos Antero Ferreira em sessão ordinária da Academia Nacional de Belas Artes no dia 6 de Junho de 1989. Lisboa: [s.n.].

PEDREIRINHO, José Manuel. 1994. Dicionário dos arqui‑ tectos activos em Portugal do século I à actualidade. Porto: Edições Afrontamento, p. 87.

SANTOS, Dóris. 2005. Museu de José Malhoa. Como se faz um museu de arte: imagem e discurso(s). Dissertação de Mestrado em Museologia e Património, Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, Universidade Nova de Lis- boa, Vol. II.

SANTOS, Dóris. 2008. “História, discurso e ideolo- gia – como se fez o Museu José Malhoa”. Museologia.PT. 2: 135 -145.

[D.S.]

DÓRIS SANTOS Coordenadora do Museu Dr. Joaquim Man‑

so, Nazaré. Foi técnica superior no Museu José Malhoa, entre 2000 e 2009. Doutoranda em História da Arte – Especialidade Museologia do Património Artístico (FCSH/UNL), com o projeto

Arte, museus e memórias marítimas. Contributos para o estudo da cultura visual das comunidades piscatórias. Investigadora do

Instituto de História da Arte / FCSH ‑UNL. Mestre em Museolo‑ gia e Património (FCSH/UNL, 2006), com a dissertação Museu

José Malhoa. Como se faz um museu de arte: Imagem e discur‑ so(s). Licenciada em História, var. História da Arte (Faculdade

de Letras da Universidade de Coimbra, 1997). Possui também licenciatura no ramo educacional (1999). Autora de publica‑ ções e artigos nas áreas da História da Arte, História local e Museologia, destacando ‑se Liga dos Amigos do Museu José

Malhoa. Como nasce um museu (coautora), LAMJM, 2013 e “His‑

tória, discurso e ideologia. Como se fez o Museu José Malhoa”, in Museologia.pt, n.º 2 (IMC, 2008).

ca, mais digno da representação desta discipli- na artística tão identitária da cidade das Caldas da Rainha. Projetaria assim também uma nova ampliação do edifício do MJM, que se continuava a reconhecer como insuficiente perante o cresci- mento da coleção e as novas dinâmicas funcio- nais – “sonhos” de António Montês que ficaram por concretizar (Fig. 3).

Nas Caldas da Rainha, o arquiteto integrou o júri do Monumento à Rainha D. Leonor (1935) e idealizou os pedestais dos monumentos erguidos no Parque, a José Malhoa (1955), Ramalho Orti- gão (1959) e António Montês (1959), com está- tuas da autoria de Leopoldo de Almeida.

Eugénio Correia figurava entre os membros da Liga dos Amigos do Museu José Malhoa, surgin- do também como Sócio Honorário e Benemérito. Nos anos 1950, o seu nome é atribuído a uma das salas de exposição e, sob proposta de Antó- nio Montês, pelo seu trabalho em prol do MJM, é condecorado com a Ordem da Instrução Pública, em 1956.

No início dos anos 1970, o arquiteto é respon- sável pela adaptação a museu da moradia de férias do jornalista Joaquim Manso, na Nazaré, doada ao Estado em 1968 por Amadeu Gaudên- cio, para aí se instalar o Museu da Nazaré, criado em 1970 como Museu Etnográfico e Arqueo- lógico do Dr. Joaquim Manso. Era diretor João FIG. 3 Museu José Malhoa, Caldas da Rainha. Foto: Dóris Santos, 2018

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Raul Alexandre de Sá

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