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Raul Alexandre de Sá Vila Flor [Bragança], 1900 – Lisboa,

No documento Dicionário (páginas 78-82)

Raul Alexandre de Sá Correia nasceu a 22 de maio de 1900, em Vila Flor, e faleceu a 8 de dezembro de 1993, na cidade de Lisboa1 (Fig 1).

A sua formação escolar realizou -se em vários estabelecimentos de Vila Flor e arredores2, tendo

começado a trabalhar aos 11 anos num estabele- cimento comercial.

A 13 de março de 1916 foi para Lisboa, regres- sando a Vila Flor no ano seguinte para cumprir o serviço militar em Bragança. Entre 1924 e 1925, divide a atividade comercial entre Angola e Bra- sil. Em 1930, já com 30 anos, regressa a Portugal e à sua terra natal, onde colabora com o Município de Vila Flor nas áreas da cultura e da educação. Em outubro do referido ano, foi nomeado interi- namente chefe de secretaria da Câmara Munici- pal, passando a efetivo em maio de 1934. O seu trabalho enquanto funcionário municipal é a par- tir desta data reconhecido e elogiado, já que “(…) empresta a chama do seu entusiasmo a todo o acontecimento, festividade e realização no âmbi- to da promoção do homem nos aspectos culturais, recreativos e assistenciais” (AAVV, 1995, 17).

1 Nesta biografia tomámos como ponto de referência a obra,

AAVV. 1995. In memoriam: Raul Alexandre de Sá Correia (1900‑ ‑1993). Vila Flor: Câmara Municipal de Vila Flor, em virtude

de se tratar da única publicação disponível sobre Raúl de Sá Correia. Desta publicação foi crucial a consulta da “Cronolo- gia” (AAVV, 1995, 15 -17). Sobre o biografado, acrescem somen- te pontuais artigos que se encontram em diversas publicações periódicas (Vide Bibliografia).

2 Em 1905 frequentou a Escola Particular do Criança e mais tar-

de a Escola das Irmãs Codeceiras. Sabe -se ainda que, em 1908, ingressou na Escola Primária Prof. Joaquim Teixeira de Mo- rais, onde fez exame de instrução primária. Cf. AAVV, 1995, 15.

Realidades que se constatam especialmente no papel que desempenhou enquanto fundador da biblioteca (1946) e museu municipal (1957), espaços que demonstram o interesse cultural e o amor profundo pela sua terra natal.

A ideia de criação da biblioteca surgiu na sequência de doação de coleções de livros de diversa temática à Câmara Municipal de Vila Flor, por parte dos vilaflorenses, Alexandre de Matos (1873 -1953), Eduardo Dário Cabral (1880- -1959), Cristiano Morais (? -), entre outros. Esta funcionou provisoriamente no Salão Nobre da Câmara Municipal, onde decorriam as sessões camarárias, até que o Município encontrasse um edifício que possuísse as condições propícias para a sua instalação, a par do referido museu e arquivo municipal.

Neste período, Raul de Sá Correia acompanha a instalação da biblioteca e colabora na sua orga- nização e gestão, acumulando estas tarefas com o cargo de chefe de secretaria municipal. Esta

FIG. 1 Raul de Sá Correia, 1986 (Fotografia de Luís Cangueiro) Fonte: AAVV. 1995: 24.

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cooperação manteve -se após a transferência da biblioteca para o novo local, nos antigos Paços do Concelho. Após as obras de restauro e a respe- tiva inauguração, em 1958, o novo espaço passa a designar -se por Centro de Cultura de Vila Flor, integrando a referida biblioteca, museu e arqui- vo3. Nesta data, Raul de Sá Correia é nomeado

diretor destes pólos culturais, trabalho que acu- mulará com o que desempenhava no município, realizando ambos com verdadeira paixão e empe- nho, aspetos que influenciarão o seu modo de organização e gestão. De facto, a personalidade do seu diretor associada à própria época em que o museu é inaugurado reflete -se no tipo de espaço museológico que ainda hoje aí encontramos.

Inaugurado sob a designação de Museu Muni- cipal “Dr.ª Berta Cabral”, em homenagem à espo- sa de Eduardo Dário Cabral, um dos maiores doadores da coleção de livros para a biblioteca, o museu foi fundado num momento proporcionado pelo incentivo da criação de museus provinciais, a que os museus municipais não foram alheios, tendo recebido um importante impulso a partir da década de 1940 por todo o país. Segundo Tere- sa Soeiro, “Na Região Demarcada, o caso que melhor corresponde a este tipo de museu muni- cipal generalista, onde pontua a acumulação de peças, resultante da linha programática se resu- mir ao afã de tudo salvar e tudo expor, é o de Vila Flor. O Museu Municipal Dra. Berta Cabral, (…), é hoje um paradigma deste modelo de museologia municipal, atendendo às suas colecções, de enor- me variedade e alguma relevância, e ao facto de ainda não ter sofrido significativas modifica- ções quanto à forma de as expor” (Soeiro, 2005, 298). Estes aspetos são na realidade resultado

3 Ainda numa fase inicial, segundo informações do Museu,

terão funcionado neste edifício outros serviços, a Repartição de Finanças e o Posto da Guarda.

Mais tarde, em 1993, a “Biblioteca Municipal” reabrirá poste- riormente noutro edifício, na Avenida Marechal Carmona, sob a designação de Biblioteca Municipal Belmiro de Matos, em homenagem ao pai de Alexandre Matos, que havia oferecido uma avultada colecção de livros. Cf. AAVV 1995, 17.

da intervenção direta do seu diretor, pois com o intuito de constituir o espólio museológico “(…) enviou, a todos os vilaflorenses a circular n.º191, de 8 de Novembro, pedindo -lhes para contribuí- rem com aquele objecto para o novo museu – ao Municipio juntou -se um grupo de Vilafloren- ses que, com denodo, se lançaram naquele feliz iniciativa (…)” (Correia, 1979, s/p.). Além desta iniciativa, Raúl de Sá Correia intercede também diretamente junto da povoação, no sentido de adquirir peças e objetos com valor museológico. Foi desta forma que se constituiu a vasta e diver- sa coleção do Museu de Vila Flor, caracteriza- da sobretudo pelo espírito acumulador (Fig. 2). Deste modo, foi possível reunir objetos de tipolo- gias e temáticas muito diversas, pintura, arqueo- logia, etnografia, artesanato africano, arte sacra, numismática e medalhística – que foram depois

FIG. 2 Raul de Sá Correia no Museu Municipal de Vila Flor, s.d. (Autor desconhecido). Fonte: AAVV. 1995: 84.

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diversos documentos recolhidos ao longo da vida de Raúl Sá Correia. O arquivo, designado suges- tivamente pequena “Torre do Tombo”, possui mais de 600 pastas com milhares de recortes e fotocópias de jornais, revistas e outras publica- ções respeitantes a Vila Flor e às principais figu- ras deste concelho, do distrito de Bragança e da região de Trás -os -Montes.

Figura amada e reconhecida pelo município e pelos vilaflorenses, é a ele que se deve a criação, fundação, organização e gestão dos principais pólos culturais de Vila Flor. Embora o museu e o pequeno arquivo sejam essencialmente espaços acumuladores de objetos e recortes de impren- sa, ainda hoje sem uma gestão e organização à luz dos critérios da museologia contemporânea, principalmente visível na ausência de um percur- so orientador ajustado ao conteúdo programáti- co expositivo, o museu não deixa de constituir

expostos em diversas salas sem uma orientação museológica claramente definida4 (Fig. 3).

O espírito acumulador do seu fundador observa -se também no pequeno arquivo que existe numa das salas e onde se encontram

4 Porém, excetua -se uma ou outra sala onde parece ter havido

uma clara tentativa de organização temática e/ou tipológica, sendo que nas restantes não houve propriamente essa preocupação. Assim, no piso superior encontramos a sala de Arte Sacra; a sala de Raúl de Sá Correia (inicialmente sala de Vila Flor, só mudou o nome depois da morte daquele, e na qual se encontram alguns livros e fotografias); a sala Etnográfica; a sala de Alexandre de Matos (antiga biblioteca; possui uma vasta coleção de máquinas de escrever); a sala de Dr. Eduardo Cabral (com peças de diverso teor); o arquivo “Torre do Tombo” e a sala Pintor Manuel de Moura (com várias pinturas deste artista, além de outras peças de outra tipologia – numismática, etc.). No piso inferior encontra -se a galeria na qual se reúnem peças arqueológicas oriundas de diversos contextos; a sala das Louças (onde se incluem também instrumentos musicais, bengalas, televisores, entre outros); e a sala do Ultramar (constituída por doações de pessoas que estiveram nas ex- -colónias).

FIG. 3 Perspectiva sobre uma das salas do Museu Municipal de Vila Flor. C. 1980 ‑1990. Fonte: AAVV. 1995: 88.

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SOEIRO, Teresa. 2005. “Os museus na Região Demarca- da do Douro em 2002”, Douro: Estudos e Documentos 20: 295 -306.

PEREIRA, Inocêncio. 1993. “Morreu Raul Sá Correia. Um dos maiores vultos da cultura transmontana”, Nordeste. Mensageiro de Bragança, 17 de dezembro: 12.

ARQUIVO do Museu Dra. Berta Cabral, Vila Flor “CÓPIA do Relatório da Inspecção aos Serviços da Câmara

Municipal de Vila Flor, desde 28 de Novembro a 19 de Dezembro de 1961, parte que diz respeito ao seu Chefe de secretaria Raúl de Sá Correia: (aquele recebido em 2 -6 -1962)”.

“ENTREVISTA transmitida pela RDP, no dia 21 de feverei- ro de 1979, depois das 10 Horas, no Programa “Sequên- cia das Treze”. Entrevista transcrita.

CORREIA, Raul de Sá. 1986. “Elementos sobre o Museu e a Biblioteca Municipal de Vila Flor, pedidos pela Exm.ª. Directora do Museu do Abade de Baçal, N.º 97/86”, Ofí- cio n.º20, 24 de fevereiro.

CORREIA, Raúl de Sá. 1979. “Historia do Centro de Cultu- ra Municipal de Vila Flor, distrito de Bragança solicitada pela direcção da Associação Portuguesa de Museologia, em circular n.º 8/79 e n.º 3/Colóquio, recebida em Agos- to passado”. Vila Flor, 15 de setembro.

[A.C.G.]

ANA CELESTE GLÓRIA Licenciada em História da Arte, pela

FCSH ‑UNL em 2007. O interesse pela arquitetura civil, e em particular pelas quintas de recreio, através do seu estudo, levou à realização do mestrado em Património na mesma faculdade, que concluiu em 2010, onde elaborou uma propos‑ ta de valorização e recuperação do núcleo “Casa da Pesca” da Quinta de Recreio dos Marqueses de Pombal, em Oeiras. Em 2010, participou como bolseira de investigação do projeto de I&D “Tratados de Arte em Portugal/Art Treatises in Portugal” [PTDC/EAT ‑EAT/100496/2008], coordenado pelo Prof. Doutor Rafael Moreira e acolhido pelo IHA/FCSH ‑NOVA, e mais tarde integrado no CHAAM/FCSH ‑NOVA. Encontra ‑se a terminar o doutoramento em História da Arte Moderna, na mesma ins‑ tituição, com o projeto A Casa Nobre na Região Demarcada do

Douro, suportado por uma Bolsa Individual de Doutoramento

concedida pela Fundação para a Ciência e Tecnologia. Neste âmbito, tem realizado diversas conferências e artigos. Presen‑ temente é investigadora no IHA.

um importante pólo de atração. Na verdade, este espaço museológico e os critérios subjacentes à sua organização permitem perpetuar a memória local das suas gentes e sobretudo do seu funda- dor e diretor, que se manteve em funções durante um largo período de tempo.

A 22 de maio de 1970, Raúl de Sá Correia, por força do limite de idade, cessou as suas funções administrativas, tendo -lhe sido prestada caloro- sa homenagem pela edilidade e inúmeros vila- florenses. Ainda assim, continuou a colaborar voluntariamente com o município, com a mesma vontade e dinamismo, quer junto do museu, quer da biblioteca.

Seguem -se -lhe diversas homenagens das quais se destacam, o título de Cidadão Honorário do Concelho e a atribuição da medalha de prata comemorativa do 7.º Centenário de Vila Flor, con- cedidos a 24 de maio de 1986, por unanimidade. E, ainda, o grau de oficial da Ordem do Infante Dom Henrique, atribuído no ano seguinte, pelo Presidente da República, Dr. Mário Soares

Raul de Sá Correia faleceu em Lisboa, a 8 de dezembro de 1993.

BIBLIOGRAFIA

AAVV. 1995. In memoriam [de] Raul Alexandre de Sá Correia (1900 ‑1993). Vila Flor: Câmara Municipal de Vila Flor. ADÃO, Cabral. 1987. “Raul de Sá Correia, grande Oficial

da Ordem do Infante D. Henrique”, Jornal de Almada. 6 de março.

ADÃO, Cabral. 1957. “Uma vila, uma família, uma sala de visitas”, Notícias de Mirandela, 1 de dezembro: s/p. PEREIRA, Inocêncio. 1984. “Vila Flor vale pela sua cul-

tura”, Nordeste. Mensageiro de Bragança, 27 de Julho: s/p. REIS, Rogério. 1970. “Raul Sá Correia, digno vilaflorense”,

Nordeste. Mensageiro de Bragança, 19 de junho: s/p. RODRIGUES, Adérito. 1981. “Por terras de Vila Flor. Lou-

var um Homem … Uma Região”, Noticias do Douro, 10 e 17 de janeiro: s/p.

FONTE, Barroso da. 1998. “CORREIA, Raúl Alexandre de Sá”, Dicionário dos mais ilustres Transmontanos e Alto Durienses, Vol. 1, 176. Guimarães: Compolito – Artes Gráficas, Lda.

GUERRA, Rui. 1993. “Pai do Museu -biblioteca de Vila Flor Raul de Sá Correia completou 93 anos”, Terra Quente. 15 de junho: 5.

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