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GUIMARÃES, Alfredo Guimarães, 1882 – Guimarães,

No documento Dicionário (páginas 146-150)

Alfredo Guimarães foi o fundador e primeiro diretor do Museu de Alberto Sampaio (Fig. 1). Nasceu em 7 de setembro de 1882, em Gui- marães, e faleceu na mesma cidade, em 29 de novembro de 1958.

Nasceu no largo da Oliveira, numa pequena casa situada exatamente em frente do portal da Colegiada de Nossa Senhora da Oliveira, junto do Padrão e da Oliveira que dá o nome ao largo. Daí podia ainda avistar a porta do claustro da Colegiada, que mais tarde foi a porta do “seu” museu. Recordava com saudade esses anos da sua infância quando escreveu “Ao Santuário de Santa Maria de Guimarães, junto de cujas pedras douradas esvoaçou a alegria da minha infân- cia, saudosamente A.G.” (Guimarães, 1928, 9). Seu pai, José da Silva Guimarães, era barbeiro e trabalhava também na Fábrica do Castanhei- ro; sua mãe, Maria Justina Cristina, era costu- reira. Alfredo era o segundo de uma família de nove irmãos. Durante a sua infância não chegou a completar a 4.ª classe, porque, logo que foi possível, empregou -se como caixeiro na Casa de Linhos e Atoalhados de João Gualdino Pereira.

Desde muito cedo que começou a despertar para as letras, dando início a uma intensa cola- boração com a imprensa local que, nessa época, era bastante diversificada. Aos 21 anos tornou -se editor da revista literária Ala Moderna (1903) e publicou um livro de poesia.

Em 1907, com 25 anos, foi para Lisboa, para funcionário do Ministério da Justiça. Aí come- çou a colaborar com o jornal O Século e a revis- ta Ilustração Portuguesa. Mantinha também uma

colaboração com periódicos de Lisboa e do Porto, escrevendo ainda contos de temática etnográfi- ca, literatura, poesia e teatro. Nesta cidade criou laços de amizade com pessoas que foram deter- minantes para a sua formação, tais como Jaime Cortesão, Almada Negreiros, Stuart Carvalhais, Carlos Malheiro Dias e José de Figueiredo, entre outros. Nos Estudos do Museu de Alberto Sampaio recorda “a sinceridade da lembrança e da grati- dão por Êsses que nos foram dedicados nos dias felizes de uma mocidade que passou” (Guima- rães 1944, 10).

Entretanto, por volta de 1918, casou com Maria Cândida (1891 -1941) e foi viver para Lamego, terra de naturalidade da sua esposa. Continuou a colaborar com a imprensa, mas passou a dedicar- -se com afinco ao estudo da História da Arte, FIG. 1 Alfredo de Guimarães junto à Sala do Capítulo do Claustro do Museu de Alberto Sampaio, c. 1935. ©MAS.

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e perante as dificuldades que surgiam para con- clusão das obras, Alfredo Guimarães deu início a uma campanha pública de sensibilização intitu- lada Salvai o Claustro da Colegiada (Fig. 3). Apesar de vários problemas, fez a inauguração do Museu de Alberto Sampaio, em agosto de 1931 (Santos

2005, 12). Dois meses depois, foi nomeado seu diretor -conservador e, no ano seguinte, elabo- rou o regulamento do Museu (Decreto n.º 21514, 1932: 1527).

Alfredo Guimarães organizou a coleção museo lógica começando a incorporar, por trans-

ferência, o Tesouro da antiga Colegiada de Guimarães, extinta em 1911, e algumas peças provenientes dos conventos femininos locais, cujo acervo necessitava de ser protegido. Incor- porou ainda peças com qualidade artística por compra a particulares e antiquários, por doação e troca, tendo -as restaurado e exposto. Uma das suas intervenções esteve ligada ao salvamen- to do fresco A Degolação de São João Batista, que foi classificado, tendo o Estado disponibilizado um orçamento para o seu restauro (Decreto n.º 30762, 1940: 1160; n.º 30570, 1940:745). Foi ainda Alfredo Guimarães que, ao tomar conhe- cimento da existência da excelente coleção de armas do Visconde de Pindela, que a 3.ª Viscon- dessa pretendia disponibilizar ao público num investigando alguns temas inéditos para a época

como a pintura mural, o guadameci, o têxtil, o mobiliário e outros. A sua biblioteca tornou -se específica, acompanhando o desenvolvimento dos estudos de História da Arte. Em colaboração com o professor de Amarante, Albano Sardoeira (1894 -1963), escreveu o Mobiliário Artístico Portu‑ guês: Lamego (1924) e, no ano seguinte, publicou Dois ourives de Lamego do século XVII (1925), com- provando o seu gosto pelas Artes Decorativas.

Finalmente, ao fim de quase uma déca- da regressou a Guimarães. Afirmava que “(…) depois de uma ausência de quási um quarto de século, voltamos a Guimarães em 1928, com um mandato oficial de procedermos à instalação do Museu Regional de Alberto Sampaio (…)” (Gui- marães 1942, IX). Fora nomeado delegado do Governo para, em colaboração com o arquite- to Baltasar de Castro, diretor dos Monumentos Nacionais do Norte, acompanhar as obras de recuperação do claustro de origem românica da Colegiada (Fig. 2), classificado como Monumen- to Nacional. Foi também incumbido de fazer a instalação do Museu de Arte Sacra (Decreto n.º 15209, 1931, 555). Esta ideia, que era uma anti- ga aspiração dos cónegos e dos vimaranenses, e que mais tarde também foi defendida pela Pri- meira República, parece ter tido origem na pri- meira extinção da Colegiada de Nossa Senhora da Oliveira, em 1869, e no empréstimo das suas melhores peças de prata, hoje classificadas como Tesouro Nacional (Decreto n.º 19/2006: 4992), para figurarem na Exposição Retrospetiva de Arte Ornamental, de 1882, em Lisboa (Meireles, 2010 -2012, 25).

Para conseguir angariar fundos para as obras e para a museografia, Alfredo Guimarães criou, em 1928, o Grupo dos Amigos do Museu, que dina- mizou a sociedade vimaranense com a organiza- ção de conferências, concertos de música e bailes e cuja receita lhe permitiu implementar a dispo- sição dos espaços e a instalação das coleções no claustro e salas anexas. Em Junho de 1929,

FIG. 2 Obras de restauro do claustro da Colegiada de Nossa Senhora da Oliveira, 1928 ‑1935. © MAS.

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Foto Moderna, fazendo quase cinco centenas de negativos de vidro que fazem parte do Arquivo Fotográfico do museu. Organizou exposições temporárias com peças do próprio Museu, como a Exposição de Arte Sacra (Guimarães, 1928), a de pintura do artista vimaranense Jorge Maltiei- ra (1908 -1994) e outras. Fez o empréstimo de peças, colaborou na mostra sobre Os Primitivos Portugueses 1450 ‑1550, na organização das Fes- tas da Fundação e Restauração de Portugal, em Guimarães (1940), sendo ainda nomeado para a Comissão Nacional encarregada de elaborar os Estatutos dos Museus de Arte e Arqueologia (Por- taria, 1944: 6250).

Para além do Museu de Alberto Sampaio, teve a seu cargo a gestão do castelo, solicitou a cape- la de São Miguel para realizar ações culturais (1943) e influenciou Oliveira Salazar para ini- ciar o restauro do Paço dos Duques de Bragança (1933). Colaborou com a II Missão Estética de Férias, orientada por Aarão de Lacerda (Revista, estabelecimento do Estado, propôs que ficas-

se em Guimarães, pois “(…) ordenou o Estado, adquirindo aquela colecção de armas brancas, que a mesma fosse instalada no Museu Regional de Alberto Sampaio, de Guimarães, em home- nagem ao 2.º Visconde de Pindela, natural da notabilíssima cidade” (Guimarães, 1946, 48). Após a aquisição, Alfredo Guimarães estudou- -as e inventariou -as, estando atualmente expos- tas no Paço dos Duques de Bragança. Também realizou o estudo das peças do acervo do museu, dando -as a conhecer através de exposições e da publicação de artigos na imprensa, revistas e edições especializadas, como o Mobiliário Artístico Português: Guimarães (1935), mais tarde o Mobi‑ liário do Paço Ducal de Vila Viçosa (1949), e ainda a série monográfica dos Estudos do Museu de Alber‑ to Sampaio, de que saíram três números (1942, 1944, 1953).

Iniciou o registo fotográfico das peças existen- tes, em colaboração com o fotógrafo Amílcar, da

FIG. 3 Manifestação popular com o intuito de salvar o claustro da Colegiada de Nossa Senhora da Oliveira, 1929. ©MAS.

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Ministério da Instrução Pública de Portugal. 1928. “Decre- to n.º 15:209”. Diário do Governo I série, 65: 555. Cria o Museu de Alberto Sampaio.

Ministério da Instrução Pública de Portugal. 1932. “Decre- to n.º 21:514”. Diário do Governo I série, n.º 173: 1527- -1528. Regulamento do Museu de Alberto Sampaio. Ministério da Instrução Pública de Portugal. 1932. “Porta-

ria”. Diário do Governo II série, 234: 4185. Nomeação de Alfredo Guimarães como director.

Ministério da Educação Nacional de Portugal. 1944. “Por- taria”. Diário do Governo; II série, 260: 6250. Nomeação da comissão para organizar o projeto de Estatuto dos Museus de Arte e Arqueologia dependentes do Minis- tério.

Ministério da Educação Nacional de Portugal. 1955. “Por- taria”. Diário do Governo; II série, 262: 8006. Nomea- ção de Maria Emília Amaral Teixeira como diretora do Museu de Alberto Sampaio.

Museu de Alberto Sampaio. 1932 -1955. Livros de Corres- pondência expedida [Manuscrito].

SANTOS, Manuela Alcântara. 2005. “De Tesouro a Museu”. Roteiro do Museu de Alberto Sampaio. Lisboa: Instituto Português de Museus.

SOCIEDADE Martins Sarmento. 1938. “II Missão Estética de Férias”. Revista de Guimarães. 48: 170 -176.

[M.J.Q.M.]

MARIA  JOSÉ  QUEIRÓS  MEIRELES  Licenciada em História,

pela Faculdade de Letras do Universidade do Porto (1982), com o Curso de Especialização em Ciência Documentais, pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto (1991) e o mes‑ trado em Arqueologia Urbana, pela Universidade do Minho (2000). Foi Técnica Superior no Museu de Agricultura de Fer‑ mentões, Guimarães (1987), Técnica Superior de Arquivo, do Arquivo Municipal Alfredo Pimenta, Guimarães (1988 ‑1995), Técnica Superior da Sociedade Martins Sarmento, Guima‑ rães (1995 ‑2001) e é atualmente Técnica Superior do Museu de Alberto Sampaio (1982 ‑1987; 2001 ‑2017). Exerce funções na área da Gestão de Coleções e na Biblioteca do Museu de Alberto Sampaio e na Inventariação do Património Móvel da Igreja.

1938: 170) e estudou a sua cidade editando rotei- ros e outros escritos. Foi sócio correspondente da Academia Nacional de Belas -Artes (1935). Fez parte da Comissão de Estética da cidade (1932, 1937, 1950), e pertenceu à Comissão de Arte e Arqueologia (1952).

Pelo seu trabalho, foi agraciado com o grau de Cavaleiro da Ordem Militar de Santiago de Espa- da (1932) e homenageado pelos vimaranenses com a medalha de ouro da cidade, pelos serviços altos prestados à comunidade (Câmara, 1959, 3). O seu busto em bronze foi colocado no claustro do museu.

Apesar de ter atingido o limite de idade em 1952, continuou a gerir o museu até ser substi- tuído por Maria Emília Amaral Teixeira, nomea- da por portaria de 21 outubro de 1955 (Portaria, 1955: 8006).

BIBLIOGRAFIA

Câmara Municipal de Guimarães. 1959. Breves apontamen‑ tos bio ‑bibliográficos dos escritores Alfredo Guimarães, Alfre‑ do Pimenta, Carlos Malheiro Dias, Eduardo D’Almeida, Raúl Brandão: Exposição das suas obras na Sociedade Martins Sarmento integrada nas homenagens prestadas a estes escri‑ tores pela Câmara Municipal de Guimarães, em 1 de Agosto de 1959. Guimarães: Câmara Municipal de Guimarães. GUIMARÃES, Alfredo. 1928. Exposição de Arte Sacra. Lis-

boa: Edições Nação Portuguesa.

GUIMARÃES, Alfredo. 1942. A degolação de S. João Bap‑ tista. Porto: Litografia Nacional. (Estudos do Museu de Alberto Sampaio; 1)

GUIMARÃES, Alfredo. 1946. As armas brancas do Solar de Pindela. Porto: Litografia Nacional.

MEIRELES, Maria José Queirós. 2010 -2011. “A Colegia- da de Guimarães e a Exposição de Arte Ornamental de 1882”. Boletim de Trabalhos Históricos III série, 1: 25 -51. Ministério da Cultura de Portugal. 2006. “Decreto n.º

19/2006”. Diário da República I série, 137: 4992 -5012; “Declaração de retificação n.º 62/2006”. Diário da Repú‑ blica; I série, 179: 6810 -6826. Classificação de Bens Nacionais.

Ministério da Educação Nacional de Portugal. 1940. “Decreto n.º 30:570”. Diário do Governo; I série. 155: 745. Abre um crédito destinado à reintegração de pinturas a fresco existentes no convento de S. Francisco de Gui- marães.

Ministério da Educação Nacional de Portugal. 1940. “Decreto n.º 30:762”. Diário do Governo; I série, 225: 1160. Classifica e inventaria Monumentos Nacionais.

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