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FEYO, Salvador Barata Angola, 1899 – Porto,

No documento Dicionário (páginas 111-114)

Salvador Barata Carvão da Silva d’Eça Feyo

nasce em Angola, em 1899, e morre no Porto, em 1990. Ainda criança vem para Portugal, frequen- tando, a partir de 1920, a Escola de Belas -Artes de Lisboa. De 1928 até ao final da década de 1980 participa regularmente como escultor em expo- sições nacionais e estrangeiras. Executa escultu- ra pública encomendada por instituições estatais em louvor da nação e do império colonial, como a máscara de Salazar e a escultura Raça − que integram, em 1939, a Exposição Internacional de Nova Iorque, e ainda D. João I, os baixos -relevos Fé e Império e a estátua Império para a Exposição do Mundo Português de 1940.

Realiza paralelamente inúmeras obras para praças públicas de todo o país, inspirado pela literatura e poesia portuguesa e estrangeira, nas quais retratou personalidades como Antero de Quental, Alexandre Herculano, António Nobre, Almeida Garrett, Francisco Sánchez e Rosalía

de Castro. Em 1948, concorre e fica responsável pela disciplina de Escultura na Escola de Belas- -Artes do Porto (EBAP), onde leciona durante 21 anos consecutivos até se jubilar em 1969.

Em 1948, Barata Feyo termina o curso de conservador de Museus, lecionado no Museu Nacional de Arte Antiga em Lisboa, sendo um ano depois (1949) nomeado Conservador Adjun- to dos Museus e Palácios Nacionais. Esse facto explica, em parte, a sua tomada de posse interina da Direção do Museu Nacional Soares dos Reis (MNSR) – após morte súbita de Vasco Valente, em outubro de 1950 (Fig. 1). Até 1960, Barata Feyo adquire mais de uma centena de obras de arte, modificando a política de aquisições insti- tuída por Vasco Valente, que privilegiava as artes decorativas. Continuando a enriquecer pontual- mente as coleções até aí formadas – herança dos Museus Portuense e Municipal –, Barata Feyo enceta um núcleo de arte contemporânea, fruto da rede de relações pessoais e profissionais que mantinha com artistas e outras instituições.

Barata Feyo era um homem dinâmico, de “definido carácter” (Mendes, 1961), cujo espíri- to, dotado de inteligência e de sensibilidade, se transmitia através de uma “linguagem clara e imperturbável”(Resende, 1981, 5). Este diretor implanta no MNSR uma política de aquisição e exposição que aposta na diversidade e na com- paração dos tempos, procurando a representa- ção global de todas as tendências artísticas da época e mostrando as suas virtudes mas também as suas fragilidades, ao invés de se centrar ape- nas na compra de obras de arte produzidas por reconhecidos mestres. Procura dar visibilidade no Museu “(…) à arte e às artes vivas do [seu] tempo” (Barata Feyo, 1957).

Barata Feyo aposta ainda na divulgação do Museu e das suas coleções. Reedita o Roteiro Sumário em 1950 e o catálogo da Secção Lapi‑ dar em 1952, lançados nos anos 1940 durante a direção de Vasco Valente e edita, em 1956, o catálogo -guia da coleção Obras Diversas (Fig. 2). FIG. 1 Tomada de posse interina do Museu Nacional

Soares dos Reis pelo escultor Salvador Barata Feyo, em 1950. Arquivo da família. © Cedência João Barata Feyo.

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(...)” (Barata Feyo, 1953) (Fig. 3). Solicita tam- bém apoio do Estado para a fundição em bronze das esculturas Riqueza e História, Saudade e Cristo, da autoria do Escultor Soares dos Reis (Barata Feyo, 1954).

O escultor procedeu a obras de renovação museográfica, procurando paralelamente imple- mentar um discurso de comparação, de contras- te, entre os diferentes períodos da História da Arte. Pela primeira vez, cria uma sala no MNSR consagrada à arte contemporânea, assim como uma galeria de escultura moderna. No seguimen- to da 1.ª Exposição de Artes -Plásticas, organiza- da em 1957 pela Fundação Calouste Gulbenkian, Barata Feyo adquiriu para o museu uma série de autores que aí tiveram obras expostas, o que pos- sivelmente ajudou a orientar e legitimar a políti- ca de aquisições deste diretor.

O período de direção do MNSR por Barata Feyo ocorre numa altura em que o regime polí- tico do Estado Novo impulsionava a realização de uma “arte oficial”, marginalizando outras manifestações que paralelamente iam surgindo (Lambert; Fernandes, 2001, 15). Portugal vivia em isolamento político e cultural e o Secretaria- do Nacional de Informação (SNI) desempenhava um papel ativo na divulgação do ideário nacio- A par com Diogo de Macedo (1889-1959), Bara-

ta Feyo apoia a política de depósito de obras de arte entre museus portugueses (Barata Feyo, 1953) – como o Museu Nacional dos Reis, o Museu do Chiado e o Museu Malhoa nas Caldas da Rainha, por exemplo, na tentativa de possi- bilitar uma acessibilidade global do público ao panorama artístico nacional. Procura também divulgar a coleção de obras de arte do MNSR através de exposições organizadas em conjunto com outros museus portugueses. Exemplo disso é a Exposição Itinerante de Pintura Moderna de 1958. Esta exposição, organizada numa parceria entre o MNSR e a cidade de Amarante, divulgou “(…) alguns quadros representativos da colecção de ‘modernos’” (Barata Feyo, 1958), procuran- do salientar as “tendências dispares que ela nos revela” e mostrando apenas três pintores estran- geiros e a maioria dos restantes oriundos do norte de Portugal (Barata Feyo, 1958).

Nos últimos anos da sua direção, Barata Feyo procura atuar na salvaguarda da coleção de escultura, incorporando na coleção esbocetos em gesso de pequeno formato (Feyo, 1954), que fez passar a bronze com o propósito da sua preser- vação. Com “o fim de salvar da acção do tempo as esculturas em gesso integradas neste Museu FIG. 2 Catálogos da Coleção. © Biblioteca do MNSR

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FEYO, S. B. 1954. Pedido de verba para passagem a bronze de peças da autoria de Soares dos Reis. Correspondência Expe‑ dida. Museu Nacional Soares dos Reis, Porto.

FEYO, S. B. 1957. “O Museu e o Ensino dos Conservado- res”. Documento manuscrito. Coleção Particular de João Barata Feyo, Porto.

FEYO, S. B. 1958. Exposição Itinerante de “Pintura Moderna”. Catálogo Exposição. Museu Nacional Soares dos Reis, Porto.

LAMBERT, F., e Fernandes, J. 2001. “Porto 60/70: os Artistas e a Cidade”. Museu de Serralves e Árvore Coo- perativa de Actividades Artísticas (Ed.), Porto 60/70: Os Artistas e a Cidade. Porto: Asa.

MACEDO, D. 1958. Exposição itinerante de algumas obras de Pintura. Catálogo de exposição. Museu Nacional de Arte Contemporânea do Chiado, Lisboa.

MENDES, M. 1961. “Sobre a escultura e o escultor Barata Feyo”. Colóquio: Revista de Artes e Letras, 14, s/ pagina- ção.

[A.T.]

ANA  TEMUDO (Porto 1989) Licenciada em Artes Plásticas

e pós ‑graduada em Estudos Artísticos pela FBAUP. Mestre em Museologia pela FLUP. Venceu o Prémio APOM em 2016 para “Melhor estudo de Museologia” com a investigação rea‑ lizada no Museu Nacional Soares dos Reis (2014 ‑15). A partir daí tem colaborado como museóloga e curadora em dife‑ rentes projetos dos quais se destacam: a concepção de um projecto de recolha da história da informática na FEUP e na Universidade do Porto, a partir do cruzamento da recolha da história oral com arquivos institucionais e pessoais (2016 ‑17); a coordenação curatorial e editorial de um projecto realiza‑ do na Guiné ‑Bissau a partir do espólio fotográfico do Museu Etnográfico Nacional (2014 ‑18) e a colaboração na coordena‑ ção e criação de conteúdos com vista à formação do núcleo expositivo da empresa Imprensa Portuguesa Manuel Ferreira e Silva (2018 – ). Tem artigos publicados em revistas nacionais e estrangeiras.

nalista e na padronização da cultura e das artes do Estado Novo. Não sendo opositor do regime salazarista, Barata Feyo tenta, contudo, comba- ter os constrangimentos impostos e implantar um modelo museológico moderno. Abandona a direção do Museu, em 1960, para se dedicar inteiramente ao ensino na ESBAP1, sendo substi-

tuído por Manuel de Figueiredo.

BIBLIOGRAFIA

“Mestre Barata Feyo: Exposição Retrospectiva”. 1981. Escola Superior de Belas -Artes do Porto (Ed.), 1780‑ ‑1980 Bicentenário da ESBAP (pp. 7). Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian.

FEYO, S. B. 1953. Passagem a bronze de escultura em gesso. Correspondência Expedida. Museu Nacional Soares dos Reis, Porto.

1 Barata Feyo inicia as suas funções na Escola de Belas -Artes

do Porto (EBAP) que, em 1950, passa a denominar -se Escola Superior de Belas -Artes do Porto (ESBAP).

FIG. 3 Pátria – esboceto

(Monumento aos Mortos da Grande Guerra – Lourenço Marques)

Rui Roque Gameiro, c. 1925. Terracota original, 30 x 13 x 14 cm. Oferta da família do Autor em 1956. 257 Esc MNSR

A Pátria – esboceto. Bronze, 30 x 14 x 14,5 cm. Fundição executada através do Fundo João Chagas em 1958. 272 Esc MNSR

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FIGUEIREDO, José de

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