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2 EXPOSIÇÃO DO PROBLEMA SOBRE O FUNDAMENTOE O SER DAJUSTIÇA

5.3 Braungart e McDonough: Cradle to Cradle

Examinou-se a sustentabilidade do ponto de vista do Direito e da Filosofia: verificou- se que este conceito não pode ser mantido. De outro lado, a empiria mostra que o planeta reflete quão danoso é este conceito; – a idéia de sustentabilidade não supera os problemas ambientais e nem os impede de se multiplicarem com maior velocidade. Contudo, a sustentabilidade também se encontra superada dentro de outras áreas do conhecimento científico como a Ecologia e a Química.

413 Este problema esta implícito na reflexão de Hobbes no Leviatã, Livro I, Capítulo XIII. Gray também o abordou e o solucionou com resposta negativa: a natureza humana não pode salvar a si mesma de sua finitude.

Braungart e MacDonough ultrapassaram o conceito de sustentabilidade com a concepção por eles denominada de Cradle to cradle. É momento de pensar de forma diversa: ao invés de minorar o mal que se fazà natureza é necessário não praticar nenhum mal de onde se retira riquezas para o desenvolvimento humano. Não apenas isto: é necessário ser “100% bom” com a natureza.414 Além disso, a natureza não corresponde ao conceito de sustentabilidade: nela não se encontra nenhuma realidade correspondente à sustentabilidade. Tudo o que nela se existe “não é provisório” e nem tem caráter “paliativo”.415 Tal como se percebe no pensamento jurídico, a sustentabilidade resulta em conceito estranho que apenas fixou a meta de reduzir os males provocados à natureza. Entretanto, examinando-se a argumentação anterior desta tese, discorda-se de Braungart num específico ponto de discussão: a sustentabilidade em nenhum momento foi um bom conceito para o trato com a natureza.416 Resulta ilógico pensar que em determinado momento histórico determinado conceito foi bom para depois tornar-se ummau ponto de partida para pensar a natureza tutelada pelo Direito. Argumenta-se que a sustentabilidade teve tempo de vida suficiente para colocar a natureza e o ser humano em risco que, talvez, indiquem caminho sem retorno.

Necessário que grandes campos de conhecimento – Direito, Filosofia, Química, Ecologia, Economia, apenas para citar os mais óbvios – se encontrem em harmonia para dirigir a conduta humana em busca do desenvolvimento autêntico. Braungart e McDonough, coerentemente, assinalaram o desenho triangular formado a partir da Equidade / Ecologia / Economia. Desta concepção triangular destacam-se as relações entre: a. Economia / Economia; b. Economia / Equidade; c. Economia / Ecologia.417Segundo os citados autores, com estes conhecimentos relacionados uns com os outros, se alcança a dimensão teórica e prática da Ecoefetividade.418 Neste caminho, para se usar de máxima concisão e objetividade, a concepção do Cradle to cradle (que se refere à idéia de criar e reciclar ilimitadamente, tal como a natureza é em sua essência), tem por meta: a. extinguir todo e qualquer resíduo gerado pelo desenvolvimento; b. que todo produto que seja criado retorne para a natureza como nutriente natural; c. que tudo o que poderia ser considerado dejeto se torne totalmente benéfico para a natureza.

414 BRAUNGART, Michael; McDONOUGH, William. Cradle to cradle: criar e reciclar ilimitadamente.1. ed. São Paulo: G. Gili, 2013. Cf.: Capítulo 2: Por que ser “menos mau” não é bom. p. 49-70.

415 Cf.: Entrevista de Michael Braugart à revista Época. BRAUNGART, Michael. Sustentabilidade é um conceito ultrapassado [entrevista]. Entrevistador: Rafael Ciscati. Época, São Paulo, 07 jun. 2016. Disponível em: <http://epoca.globo.com/colunas-e-blogs/blog-do-planeta/noticia/2016/06/michael-braungart-

sustentabilidade-e-um-conceito-ultrapassado.html>. Acesso em: 10 maio 2017. (verificar anexo A).

416 Cf.: Entrevista de Michael Braugart: este autor entende que o conceito de sustentabilidade foi não apenas bom, mas excelente: “Ajudou-nos a pensar soluções importantes para necessidades urgentes.” Ibid. (verificar anexo A)

417 BRAUNGART; McDONOUGH, op. cit., p. 150-153.

Portanto, trata-se de trajeto circular dos produtos naturais usados e transformados para o desenvolvimento humano autêntico: desenvolvimento que deve ocorrer com absoluto benefício da natureza. Usa-se de figura simples e verdadeira: desenvolvimento que não mais produzirá lixo ou dejetos mas nutrientes para a própria natureza.

5.3.1 Nova Realidade Científica para o Direito

Conforme a concepção do Cradle to cradle modifica-se o modo de pensar tudo o que possa ser transformado, criado e usado pelo ser humano. Assim também se transforma a concepção tradicional de Economia, que não poderá ser compreendida sem a percepção privilegiada do ser humano. E, se toda a vida ocorre na Biosfera, toda a vida deve ser favorável para a Biosfera e todo o conhecimento deve ser gerado com a compreensão da fina camada vitalonde toda a realidade se encontra tutelada pelo Direito. Contudo, a ineficiência do Direito do Ambiente ou dos Direitos Humanos explica-se pelo afastamento do pensamento filosófico de dentro da realidade jurídica: habita o vácuo daquilo que não foi explicado com o esforço coordenado para unir ciências aparentemente distantes. A rigor, pode-se pensar que o denominado Direito Ambiental sequer encontrou sua melhor expressão por faltar-lhe exercício verídico de pensamento eficaz sobre a natureza.

Braungart e McDonough fornecem elementos teóricos e práticos para discussão que já está em curso na Nanotecnologia, Economia, Administração, Engenharia ou Arquitetura. Assim, a sustentabilidade não apenas colocou à margem do Direito a essencial importância da justiça intergeracional. Mais do que isto. Quando a sustentabilidade impediu a aproximação do Direito com as demais ciências, retardou reagrupamento de conhecimento para formar novo conhecimento científico sobre a natureza. Este mesmo fenômeno reflete-se na Ciência Política, que sempre se desenvolveu lentamente para vislumbrar práticas sociais capazes de superarem as limitações já indicadas do Estado de Direito.

5.3.2 Sustentabilidade não é Conceito

“Conceito é a abstração criada pelo intelecto através do reconhecimento da essência”.419 Mas não é possível indicar a essência da sustentabilidade. Portanto, não é conhecimento universal independentemente de tempo e lugar.

419 JOSEPH, Miriam. O Trivium, as artes liberais da lógica, da gramática e da retórica entendendo a natureza e

a função da linguagem. Tradução e adaptação de Henrique Paul Dmyterko. Edição revista e atualizada. São

Nesse sentido, faz-se objeção às manifestações de Braugart, que, embora afirmando que a sustentabilidade está ultrapassada, tratou-a como conceito. Milaré, autor de alentada obra sobre o Direito do Ambiente que afirma que a sustentabilidade é “eixo da questão ambiental”, não produziu conceito satisfatório sobre este tema. Este mesmo autor admite que sociedade sustentável é estratégia mundial sem perceber que tal sociedade não pode ser construída por já se encontrar combalida e trilhando o caminho que leva à destruição. 420Dificuldades semelhantes também se encontram no pensamento de Freitas, que, ao invés de conceito apresenta longa definição descritiva contraditória de sustentabilidade:desta não decorre solidariedade nem inclusão social de caráter durável e equânime, qualidades que somente podem advir da justiça.421 Além disso, deve-se assinalar que da sustentabilidade não decorre direito ou direitos e não pode ser caracterizada como direito ao futuro. Contudo, o que estes dois autores não alcançaram, encontra-se na reflexão da Carta Encíclica do Sumo Pontífice Francisco: “Não estamos falando de uma atitude opcional, mas de uma questão essencial de justiça, pois a terra que recebemos pertence também àqueles que hão de vir.”422 Nesta meditação verifica-se outra dificuldade dos partidários da sustentabilidade: não podem praticar discurso coerente sobre a sustentabilidade por não lhes ser possível pensar sobre a essência da realidade.

Porém, tais dificuldades apenas se ampliam à medida em que a sustentabilidade abandonou a tradição aristotélico-tomista da investigação sobre a essência da justiça. Assim, quando se fez referência a um direito fragilizado também se quis expressar a negligência de grande tradição filosófica que chegou, no entanto, até Rawls ou Dworkin. Este examina esta tradição na Justiça para Ouriços, aquele quis colocar-se à altura de Kant e Aristóteles.

5.3.3 Problemas com a Definição de Sustentabilidade

“Uma definição torna explícita a intensão ou significado de um termo, a essência que este representa. Uma definição é simbolizada por uma descrição geral, não por uma palavra

420 Cf.: MILARÉ, Édis. Direito do ambiente. 10. ed. rev. atual. e ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2015. Entre as páginas 50-104 o autor não apresenta conceito legítimo de sustentabilidade, mas reconhece às fls. 76 que sociedade sustentável é apenas uma estratégia: “A construção de uma sociedade sustentável deve assentar-se numa clara estratégia mundial [...]” Após relaciona oito (8) princípios desta estratégia. Contudo, os referidos princípios também não são satisfatórios: são metas relacionadas em favor da referida estratégia que se formam uma espécie de manifesto ambiental.

421 FREITAS, Juarez. Sustentabilidade, direito ao futuro. 2. ed. Belo Horizonte: Forum, 2012. p. 41.

422 FRANCISCO, Papa. Carta Encíclica Laudato Si’Laudado Seja: sobre o cuidado da casa comum.São Paulo: Loyola: Paulus, 2015. p. 95-97. O trecho citado reclama conceituação da justiça intergeracional: trata-se de

só”.423 Contudo, sustentabilidade não é definição lógica nem definição distintiva. Por outro lado, em toda tentativa de definição de sustentabilidade não se pode declarar o quais qualidades o termo inclui e quais e estão excluídas.424 Considerando-se estes aspectos, e as dificuldades para a definição de sustentabilidade, é que se torna algo mais aceitável a tentativa de Freitas: produziu definição descritiva enumerando aquilo que são caracteres da sustentabilidade, mas o resultado final foi contraditório.425 Acrescente-se a barreira da ambigüidade do vocábulo sustentável; é a imprecisão daquilo que se pretendedelimitar que deixa sempre problemática qualquer tentativa de definição.

Porém, não se deve – e nem isto é possível – ocultar as dificuldades que apresentam a questão da justiça. Mas em favor desta tem-se a longa tradição das Filosofias da Justiça que não pode ser abandonada, especialmente se considerar-se a segurança dos filósofos medievais que surgiram na esteira de Aristóteles.

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