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2 EXPOSIÇÃO DO PROBLEMA SOBRE O FUNDAMENTOE O SER DAJUSTIÇA

2.7 Direito, Estado e Justiça Intergeracional

2.7.2 Tobias Barreto: O Ponto Euxino da Justiça Intergeracional

Barreto e Rui convergem para a justiça intergeracional, embora possam não a citar explicitamente.

Ambos encontraramo Ponto Euxino dessa justiça de excelência, e que se concentra nesta frase de Barreto: um grande sentimento que inspira a dedicação de um à causa de todos. Observação que encerra a axiologia do dever do indivíduo perante toda a humanidade.

167 BARBOSA, Rui. Escritos e discursos seletos. Rio de Janeiro: Editora José Aguilar, 1960. p. 679.

168 KANT, Immanuel. Ideia de uma história universal de um ponto de vista cosmopolita. Tradução de Rodrigo Naves e Ricardo R. Terra. São Paulo: MartinsFontes, 2011.

Portanto, conhecimento que se aprende e se transfere de um para o outro indivíduo; e de uma para outra geração. Se sociedade e Estado corrompem-se é por que o fio que prendia o um ao todo se rompeu miríades de vezes em momentos diversos ou simultâneos. A justiça intergeracional é conhecimento que asserto a laços entre razão e sentimento que formam compreensão do Cosmopolitismo: o indivíduo humano sabe pertencer ao mundo de toda a Humanidade. Relação infinitesimal de indivíduos com o todo humano conformam o conhecimento da justiça intergeracional. Não é possível desconhecer que a corrução afeta, como no início de enfermidade, apenas um indivíduo humano colocando-o na desordem infrene até alcançar a totalidade da nação representada pelo Estado: é a corrução de todos e do Estado.

Estado corrompido é fonte blandiciosa de afagos dirigidos para a população que anui recebê-los entregando liberdade e razão em troca de pouco ou de nada. Perece civilização e Direito para se alarvajar a cultura jurídica – hoje toda ela apenas sustentável –e as condições do conhecimentoda justiça intergeracional. Destruição inexorável quando açulada pelas massas ignorantes que acabam impondo a todos adoração pelas deformidades da corrução. Trata-se da característica predominante do mundo político, jurídico e cultural da atualidade: a incompetência ocupa cargos importantes e a competência é alijada da importância dos cargos. É a ambliopia do Direito tornando-o enfermidade e não cura de males sociais e se verifica no equívoco da expressão sustentabilidade, que é dirigida ao meio ambiente ao invés da natureza; e desenvolvimento sustentável, dirigida à política de desenvolvimento das nações sem que se diga qual desenvolvimento é conforme aos Direitos Humanos.

Estas expressões – que nunca adquiriram chancela jurídico-científica por teratológicas, e, se lhe foram dadas, delas devem declinar – têm origem em sociedades amnésicas que não podem memorar a justiça intergeracional por que não a recepcionaram.O que houve foi ajeitação industriosa, mas falsa, de conceito mal urdido a partir de linhas mestras verdadeiras que partem do Direito Ambiental, dos Direitos Humanos e que se deseja impor, a forceps, ao Direito Internacional criando circunstâncias advinculares para emudecer a justiça intergeracional. Esta que seria a cultura a ser levada a todas as nações, e ora sofre a intercisão de irreais discursos que se formaram em torno dasustentabilidade. Sustentabilidade – vocábulo usado cada vez mais aleatoriamente em relação a desenvolvimento, cidades, Economia, empresas ou mercado, administração e até mesmo relações humanas – deixa aprecariedade preencher aquilo que não tem invisceração na justiça intergeracional.

A ineficácia dos reclamos populares tão bem assinalado por Barreto não são nascidos da justiça intergeracional que é irreplegível em suas lídimas exigências das quais governos

irrespeitáveis demarcam distância. Sustentabilidade tem a essência daquilo que é resilível; a justiça intergeracional a essência daquilo que é irresilível entre indivíduo, sociedade, gerações atuais e futuras. A sustentabilidade deixa à margem argumentação favorável para aquilo que não mais pode ser resgatado; a justiça intergeracional funda-se sobre a irrenunciabilidadede valores entre Natureza e Humanidade. A sustentabilidade semelha cláusula leonina que pode ser ampliada ou restringida ao sabor das circunstâncias; a justiça intergeracional tem similitude a contrato da razão que respeita cláusulas apodícticas de uma geração para a outra.

2.7.3 Gray: Moralidade Imoral

A análise de Gray, com o subtítulo de Moralidade Imoral, trata da insubmissão do homem à moralidade. Às avessas do Direito e seus mais elevados objetivos, compreende-se algo sobre a insustentabilidade da vida humana, inviável a partir das injustiças cometidas pelas gerações anteriores e mantidas pelas gerações futuras. Em relação às concepções de Rui e Barreto, Gray é pessimista quanto ao futuro da espécie humana e a justiça intergeracional é mentiralhada de juristas. O fundamento de Gray está na essência humana, o homem não é sapiens; e, se esta concepção foi importante e real, é superada pelo homo rapiens.169 Gray e Kant aproximam-se: a moralidade imoral complementa a insociável sociabilidade,170 e são reversíveis e explicam uma em relação à outra.

Entretanto, a posição de Gray não alcança hegemonia e deve ser organizada com as anteriores: a observação empírica mostra que o Direito e a justiça intergeracional podem atingir resultados apreciáveis. Ainda que se alegue que estes resultados são irrisórios (o que não deixa de ser verdadeiro); – não é impossível pensar que possam ser otimizados.

Enfraquecendo-se a tese de Gray (mas sem a invalidar completamente), dissolve-se a antinomia examinada, torna-se possível harmonizá-la com as posições de Rui e Barreto: o Direito e a justiça intergeracional tem existência, validade e eficáciaentre três pares de opostos relativos à Ética, à vida associada na instituição do Estado (a Política) e à vidada Natureza que deve ser conservada e preservada, respectivamente:

a) a moralidade imoral, tese de Gray; b) a insociável sociabilidade, tese de Kant;

169 GRAY, John. Cachorros de palha: reflexões sobre humanos e outros animais.Rio de Janeiro: Record, 2005. p. 166.

170 KANT, Immanuel. Ideia de uma história universal de um ponto de vista cosmopolita. Tradução de Rodrigo Naves e Ricardo R. Terra. São Paulo: MartinsFontes, 2011. p. 8.

c) a estável instabilidade da natureza, tese de Hugo.

Portanto, a justiça intergeracional, pensada precipuamente com os Direitos Humanos, o Direito Ambiental e o Direito Internacional, é efetividade jurídica, apesar dos antagonismos entre condição humana e Natureza, objetivo que a sustentabilidade não pode alcançar enquanto acirra estes antagonismos. Mas se torna claro que estes mesmos antagonismos são motivos da origem e evolução do Direito. Assim, o Estado Sócioambiental e Democrático de Direito deve ser instituído com o vetor principal da justiça intergeracional colocando a parresía como sua marca característica de comunicação – caso se tiver como objetivo instaurar Estado que efetive direitos. Trata-se de extinguir a separação que existe entre governantes e governados estabelecendo que a justiça intergeracional se torne vetor de comunicação entre os povos.

3 SER, FUNDAMENTO E MODALIDADES DA JUSTIÇA INTERGERACIONALE O ESTADO SÓCIO AMBIENTAL DE DIREITO

É preciso compreender que o conceito de justiça não pode ser afastado da vida das sociedades. Não se trata de conceito artificioso como o da sustentabilidade, mas de realidade que institui o Direito e o Estado enquanto fato acessível à razão. A justiça é necessidade metafísica, ética e lógica; e iguais necessidades se encontram na justiça intergeracional, embora esta se considerada conhecimento a posteriori. Aqui já se enumera algumas das principais barreiras para o Estado Sócioambiental Democrático de Direito que esclarecem o problema da contabescência social e da comunicação jurídica encontrado no último capítulo. A rigor, as barreiras para a concepção de um Estado capaz de gerar comunicação jurídica saudável, estavam ocultas pelo conceito problemático da sustentabilidade. De outro lado, a justiça intergeracinal obriga o jurista a voltar a atenção para a fraternidade ao invés da tolerância.

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