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2 EXPOSIÇÃO DO PROBLEMA SOBRE O FUNDAMENTOE O SER DAJUSTIÇA

3.2 Oscilação da Conduta Humana

Os pares de opostos – a moralidade imoral e a insociável sociabilidade, propostas de Gray e Kant, respectivamente – antes de desafiarem o princípio da não-contradição são descrições aproximativas sobre a oscilação que os seres humanos têm diante do lícito e do ilícito, do certo e do errado, do bem e do mal, do justo e do injusto. Se o homem não oscilasse entre opostos que resumem a vida individual e social entre o racional e o irracional, o Direito não seria conhecido ou seria diverso do atual.

Entretanto, para que a justiça intergeracional não se torne fetiche, é necessário que as sociedades possam evolucionar a partir da Epistemologia Jurídica e da Ética e em todas as áreas do conhecimento. A justiça intergeracional, se tornar-se prática efetiva entre as sociedades, produzirá segurança jurídica. Esta justiça ao invés de desencadear a luta pelo

172 KANT, Immanuel. Ideia de uma história universal de um ponto de vista cosmopolita. Tradução de Rodrigo Naves e Ricardo R. Terra. São Paulo: MartinsFontes, 2011.

Direito dará lugar ao reconhecimento do Direito que o outro possui. Mas a observação empírica – que não pode ser desprezada – indica que as sociedades produzem mais irracionalidade do que racionalidade a partir do conhecimento disponível, daquele recém adquirido e mesmo do conhecimento que em vias de ser utilizado. Mannheim, consciente deste fato na passagem do século XIX para o século XX, comentou-o como o “descobrimento paulatino da base irracional do conhecimento racional.”173 Observação que se dirige para a explicação dos dois pares de opostos ora comentados é base para atacar a idéia de sustentabilidade. Pois a sustentabilidade, e todas as expressões que lhe são derivadas – considerando que sua essência é a admissão de que, às vezes, é necessário ser irracional – nunca poderá produzir segurança jurídica. Conservando-a, o Direitose converte em falsa explicação da oscilação da conduta humana dividida entre racionalidade e irracionalidade, e se distancia do reconhecimento do direito do outro para setornar novamente fundamento da luta pelo direito.

A rigor, a justiça intergeracional exige nova Weltanschauung para Direito e para o próprio conhecimento filosófico; – especialmente quando o Direito e Filosofia se revestem de irracionalidade com fumo de racionalidade. Tais elementos explicam o porquê os Direitos Humanos se transformarem em fetiches: não é possível abrir buracos de irracionalidade dentro dos Princípios da Dignidade Humana ou do Princípio da Responsabilidade. Contudo, a sustentabilidade busca fundamentar exceções para irracionalidades que são abertas na razão, fazendo no Direito Ambiental tantos buracos infundados que torna fetiche a justiça intergeracional ou a inutiliza com a argumentação de que é meta inalcançável.

A moralidade imoral, de Gray, é niilismo ético e jurídico: as sociedades nunca haverão de praticar a justiça intergeracional por limitação do animal indireto. A insociável sociabilidade, de Kant, é oximoro usado para expressar o que não lhe foi possível escrever rigorosamente sobre o homem: a condição antagônica do ser humano gera a evolução social, ética e jurídica. Mas sustentabilidade é contradição írrita para o Direito Ambiental, solapa seu fundamento (não de todo conhecido) por ausência de pensamento filosófico. Este também é o caso da expressão meio ambiente que oculta a Natureza; – e esta é o fundamento da Filosofia para o Direito que objetiva conservar e preservar as riquezas naturais para gerações presentes e vindouras. Mas, se o Direito Ambiental buscarna sustentabilidade seu eixo principal, distancia-se do fundamento seguro que o levaria a sua específica filosofia e cientificidade; e esta crise não cessou de se agravar desde a publicação do relatório seminal Our Common

173 MANNHEIM, Karl. Ideologia e utopia: introdução à sociologia do conhecimento. Tradução de Emilio Willems. Porto Alegre: Globo, 1950. p. 29.

Future, de 1987. O Direito Ambiental, apenas concebido pelo normativismo abstrato, pouco obteve: a Natureza continua-lhe estranha oculta no reducionismo tautológico de meio ambiente. Dos múltiplos problemas de que aventou, são pífios seus resultados se considerado o mundo todo e toda a Humanidade. Além disso, nunca foi percebido como Ética ou filosofia para ser internaliza; – problema que atinge todos os ramos do Direito. É falha a vontade e compreensão que a justiça intergeracionaldeve ser instaurada efetivamente na vida concreta e cotidiana dos seres humanos.

Contudo, não é possível vislumbrar boas expectativas: da empiria sabe-se existir crescentes causas e fatores de desagregação social contra decrescentes causas e fatores de agregação social. E é muitíssimo discutível em quais destes lados o Direito se encontra. Neste caso, o Direito atualmente tem grande grau deentropia e épouquíssimo afeito à recepcionar a justiça intergeracional.

3.2.1 Internódio

O problema da internalização da Ética e do Direito é internódio em que se situa o Paradoxo Socrático que coloca frente à frente Intelectualismo e Voluntarismo; – um dos nós é a razão; o outro, a vontade. O paradoxo é o seguinte:se o bem é conhecido, o mal não pode ser praticado; – pois só se pratica o mal por ignorância. 174 Este problema chegou ao Cristianismo através de Paulo: “Com efeito, não faço o bem que quero, mas pratico o mal que não quero.”175 Seu conteúdo resume o ser humano que, desejando fazer o bem, não o faz; e desejando afastar-se do mal, dele se aproxima. Não importa o período histórico em que se está vivendo, este paradoxal labirinto surge para o Direito que sequer conseguiu dele se aproximar para compreendê-lo em toda a sua extensão: a justiça intergeracional encontrará aqui sua solução e seu problema, sua essência e sua condição, seus objetivos e possibilidades de ser praticada. Portanto, este brevíssimo subtítulo será o encontro das linhas de discussão desta tese, fato que será explicado no último capítulo, e praticamente exposto na última linha a ser escrita.

174 TOVAR, Antonio. Vida de Sócrates. Madrid: Alianza, 1986. p. 175-177.

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