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Entendendo a LEI Nº 9.615

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II. ESPORTE E EDUCAÇÃO: uma união histórica

2.4 Entendendo a LEI Nº 9.615

Ainda que este estudo não tenha como foco principal a área legal do ‘Direito Desportivo’ é pertinente e necessário mostrar alguns pontos principais da legislação vigente a fim de aclarar questões que podem influenciar na gestão do esporte alvo desta pesquisa, no caso o handebol de alto rendimento. A regulação do esporte brasilerio ainda é um tanto quanto confusa, as “brechas” na lei vigente permitem que clubes, entidades esportivas, patrocinadores, dentre outros, acabem por burlar muitas obrigações legais como o pagamento de alguns tipos de impostos, a formalização dos contratos de trabalho e de mídia. Com base nessa realidade, ser entidade esportiva sem fins lucrativos, neste país, é a grande estratégia adotada por quase todas as instituições esportivas do Brasil para amenizar o pagamento de tributos. Vale destacar que a lei vigente no país abre essa possibilidade às instituições esportivas. Que fique claro, elas trabalham dentro da legalidade, porém, o que se discute é o porquê da lei não ter sido corrigida. Claramente, clubes de futebol, por exemplo, não deveriam exercer o direito de serem entidades sem fins lucrativos, haja vista os milhões que movimentam e, o pouco que dão de retorno à sociedade.

Duas leis de grande importância para o esporte brasileiro foram a Lei Zico e a Lei Pelé. A Lei Zico foi sancionada em 1993 e segundo alguns estrangeiros, o texto constitucional de 1988 proposto por Álvaro Melo Filho, pode ser considerado entre os melhores textos que tratam sobre esporte no mundo (ALMEIDA, SOUSA, LEITÃO, 2000). Até que o texto de Lei fosse terminado, algumas emendas foram inseridas, mas, ao final, a Lei Zico foi reconhecida por seu valor ao esporte. A Lei Zico visava solucionar alguns problemas, dentre eles estava a fraca fiscalização estatal às instituições esportivas. Uma das propostas pretendia transformar os clubes de futebol em empresas, fazendo com que perdessem o status de entidades sem fins lucrativos (ALMEIDA, SOUSA, LEITÃO, 2000). Outro ponto que também foi muito importante para a finalização do texto constitucional da Lei Zico falava sobre os “recursos para o esporte educacional e prioridade para os esportes de criação nacional” (ALMEIDA, SOUSA, LEITÃO, 2000, p.96).

Após a inserção de muitas emendas, um artigo constitucional do ano de 1988 foi primordial para a conclusão da Lei Zico. Segundo ele, cabia ao poder público incentivar o lazer como meio de promover o bem estar social (ALMEIDA, SOUSA, LEITÃO, 2000). Esse artigo deixou claro que o estado iria priorizar o desenvolvimento do lazer e, por conseguinte, do esporte como forma de bem estar da sociedade. A Lei Zico recebeu o nº de 8.672 e foi

promulgada em 1993. Segundo Almeida, Sousa, Leitão (2000), a Lei ZICO foi a que trouxe mais avanços ao esporte do país:

[...] Pela primeira vez, foram apresentados princípios e conceitos, pois anteriormente os instrumentos legais relativos aos esportes nunca foram conceituais e principiológicos. A Lei Pelé manteve a parte conceitual e principiológica da Lei Zico. Além disto, A Lei Zico introduziu uma perspectiva sistêmica para o esporte nacional, extinguindo o CND, criando o CSD (Conselho Superior de Desportos) [...] (ALMEIDA, SOUSA, LEITÃO, 2000, p.39).

Segundo Andrea Benedetto Arantes (2014), em artigo científico postado no Portal Âmbito Jurídico, sob título de ‘A soberania nacional frente aos comandos da FIFA no país sede da Copa do Mundo de 2014: Brasil’, a ‘Lei Pelé’ foi uma reconstrução da ‘Lei Zico’. Segundo Arantes (2014):

Ao tratar a questão sob o ponto de vista legislativo, no Brasil, a Lei 8672/93, denominada Lei Zico, foi uma das raras intenções de se regulamentar o esporte, principalmente o futebol (a lei em vigência era a 6354/76) dando-lhe uma característica de negócio. Esta Lei trouxe a possibilidade de se criar Ligas Independentes, porém esta prerrogativa nunca foi sequer aventada de se tornar realidade. Esta Lei também extinguiu o Conselho Nacional de Desportos e permitiu a criação de Clubes-empresas. Ato contínuo, a Lei 9615/98, denominada Lei Pelé, nasceu com o estigma de que foi criada como uma revanche entre os dois ex-atletas que deram seus nomes às respectivas normas. A Lei 9615/98 foi considerada uma cópia da Lei 8672/93 e as alterações mais profundas referiram-se à extinção do passe (vínculo profissional dos atletas de futebol com seus empregadores – os clubes) e a exploração do jogo de bingo no país34.

Ainda que haja grande semelhança entre as Leis e, que uma possa ser um complemento da outra, a Lei Pelé tem grande importância no desenvolvimento do esporte no Brasil e, por conseguinte, do mercado esportivo brasileiro. A Lei Pelé, nome dado em homenagem ao maior jogador da história do futebol e, um dos idealizadores da Lei, “aborda os principais temas que já faziam parte da Lei Zico, mas que acabaram simplesmente ignorados pela falta de vontade em fazê-los sair do papel” (POZZI, 1998, p. 29).

Segundo artigo científico, escrito pelo professor universitário Nelson de Oliveira Santos Costa [2009], mestre em direito público, advogado e pós-graduado em direito desportivo, a Constituição Federal de nosso país estipula, em seu artigo 217, que o Estado tem por

34 ARANTES, Andrea Benedetto. A soberania nacional frente aos comandos da FIFA no país sede da Copa do Mundo de 2014: Brasil. Site AMBITO-JURIDICO.com.br, Artigo Científico, Rio Grande-RS, [2014] - ver

obrigação constitucional fomentar as práticas desportivas e, também, fazer a devida diferenciação do que é esporte de lazer e esporte voltado para o alto rendimento. Nesse ensejo, o professor Nelson de Oliveira Santos Costa [2009], diz que a Lei Pelé “complementa a Constituição Federal em seu artigo terceiro, ao diferenciar as mais diversas formas de manifestação do esporte, educacional, de participação e alto rendimento35” (COSTA, [2009],

p.2). Vale dizer também, que a Lei 9.615/1998 (Lei Pelé) é a principal reguladora do desporto nacional nos dias de hoje.

Segundo o Filipe Orsolini Pinto de Souza (2008), advogado e membro do Instituto Brasileiro de Direito Desportivo, em texto postado no site Bmsadv.com.br, a Lei número 9.615, de 24 de março de 1998, popularmente chamada de ‘Lei Pelé’ foi criada para regulamentar todo o desporto nacional. Segundo Souza (2008), a Lei 9.615/1998:

[...] ‘Institui normas gerais sobre desporto e dá outras providências’. Muito embora alguns artigos sejam de aplicação obrigatória exclusiva ao futebol – por isso o batismo de Lei Pelé –, em virtude de suas especialidades e grau de desenvolvimento, sua aplicação é indistinta a todas as modalidades esportivas. Os princípios do desporto, as manifestações desportivas, o sistema brasileiro do desporto, a justiça desportiva e muitas outras ferramentas são descritas e reguladas pela Lei Geral Sobre Desporto (LGSD), aplicando-se em todo o desporto pátrio, especialmente a sua estruturação36.

Um dos pontos de maior discução da Lei 9.615/98 versa sobre o fato da “obrigatoriedade” dos clubes de futebol mudarem sua razão social, assim, passariam de entidades sem fins lucrativos para clubes-empresa. A mídia, durante muito tempo, relatou a situção da Lei em relação à criação dos clubes-empresa, porém, a mesma o fez com o devido embasamento legal, pois aos clubes, mesmo segundo a Lei Pelé, é facultado o direito de serem entidades sem fins lucrativos. Tal situação é claramente explicada pelo jurista Juliano Di Pietro (2014), em artigo científico intitulado ‘A isenção dos clubes de futebol profissional em relação a IRPJ, CSLL. PIS e Cofins’, publicado originalmente na Revista do Advogado, em abril de 2014. Segundo Pietro (2014), a Receita Federal brasileira tem tido uma extensa batalha legal com os clubes de futebol a fim de conseguir dos mesmos o pagamento de certos tributos. Pietro (2014, p.83), assim nos apresenta tal situação:

35 COSTA, Nelson de Oliveira Santos. Atleta profissional. Site ADVOGADONELSON.adv.br, Artigo

Científico, São Paulo, [2009] - ver referências.

36 SOUZA, Filipe Orsolini Pinto de. O direito e o desporto: uma relação além do futebol. Site

Em seus trabalhos de campo contra os clubes de futebol tem afirmado a Receita Federal que a Lei nº 9.615/1998 (Lei Pelé), [...], obrigaria os clubes de futebol a transformar-se em sociedades empresariais, obrigação que os desqualificaria para gozo da isenção destinada a associações sem fins lucrativos. Não ouso ir tão longe a inicialmente mencionada Portaria PGFN/CAT nº 2.657/2012, que expressamente confessa tratar-se de uma faculdade.

O que o jurista Juliano Di Pietro (2014) nos apresenta, de forma clara, é que a Receita Federal, embora tente postular aos clubes de futebol outra razão social diferente da sua, a fim de poder tributá-los de maneira distinta, isso não ocorre, pois os mesmos têm o direito de serem assossiações sem fins lucrativos, assegurados por lei. Ainda, sobre essa questão, Pietro (2014) diz que, mesmo após todas as alterações que a Lei Pelé sofreu, ainda assim, não há como forçar os clubes de futebol a mudarem sua razão social. Segundo Pietro (2014, p.87-88):

Em suma, após o percurso de todos os métodos hermenêuticos inicialmente propostos e eleitos em razão de sua notória aceitação, resta inarredável a conclusão de que a Lei nº 9.615/1998 não impõe, desde o ano 2000, qualquer obrigatoriedade quanto à forma constitutiva das entidades de futebol profissional, sendo-lhes perfeitamente lícita, com proteção constitucional direta, a adoção da forma associativa sem fins lucrativos.

Mesmo que legalmente, previsto em lei e suportado pela Constituição Federal de nosso país, os clubes de futebol possam se manter como assossiações sem fins lucrativos. Estranha- nos o fato de que, mesmo após algumas alterações da Lei Pelé (9.615/1988), a questão que dá aos clubes a ‘faculdade’ de se manterem como assossiações sem fins lucrativos não tenha sido mudada.

Ainda de acordo com a Lei Pelé, os clubes esportivos profissionais poderiam organizar suas próprias competições, negociar seus direitos de tv e de marketing sem a participação direta de uma federação esportiva. Os jogadores de futebol profissional teriam, a partir do ano dois mil, direito ao ‘passe livre’, ou seja, não teriam que pagar multas a seus clubes após o término de seus contratos para se transferirem (POZZI, 1998).

Em relação à formação de ligas esportivas autônomas, no ano de 2015, alguns clubes do eixo Rio-Minas-Sul, resolveram criar uma competição própria, ainda que a mesma contasse com o aval da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), não foi organizada pela entidade máxima do futebol nacional. Essa liga foi batizada com o nome de Copa Sul-Minas-Rio e contou com clubes tradicionais dos referidos Estados como Grêmio, Internacional, Flamengo, Fluminense, Cruzeiro, Atlético Mineiro dentre outros. A Liga, ainda que tenha tido o aval da CBF, não foi bem aceita nos bastidores da entidade que rege o futebol brasileiro. Segundo

matéria postada no site do jornal Diário de Pernambuco, em 13 de abril de 2015, escrita pelo jornalista Cassio Zirpoli, o secretário geral da CBF, Walter Feldman, disse que não há grande sentido para que os clubes se organizem em ligas independentes e autônomas da sociedade civil. Porém, a Lei Pelé sustenta essa possíbilidade. Segundo Zirpoli (2015):

A criação de ligas esportivas no Brasil está prevista na lei federal de nº 9.615, desde 1998. Mais conhecida como Lei Pelé, a norma já teve diversas revisões, entre 1999 e 2013, mas sem nunca riscar do papel o artigo 20, que autoriza a criação das ligas autônomas em relação às confederações. [...] A Lei Pelé rege o desporto nacional como um todo, outras modalidades à parte do futebol já contam com ligas, como o basquete (NBB e LBF) e o vôlei (Superliga). Apesar de hoje estar subordinada à CBF, vale destacar a própria Liga do Nordeste, com mais de 15 anos de história. Não por acaso, quando a confederação acabou com o Nordestão em 2003, a liga levou o caso à justiça, ganhando uma ação superior a R$ 30 milhões – o resultado disso foi o acordo para a volta do torneio, em 201337.

Ainda que dentro da própria Confederação Brasileira de Futebol haja certo desconhecimento da Lei Pelé, referida lei que regula todo o desporto nacional e garante o direito a formação de ligas autônomas, quando se trata de futebol, o assunto é sempre mais polêmico, pois o mesmo movimenta bilhões. Assim, quando os próprios clubes podem organizar suas competições, também, podem comercializar diretamente os direitos de transmissão com a mídia; esse fato evita os intermediários entre a mídia e os clubes. Portanto, os orgãos reguladores, que comumente faziam esse papel, deixam de lucrar com isso.

A Lei Pelé foi também a primeira que tratou a questão do portador de necessidades especiais, assim como “reforçou as diretrizes do bingo. O Bingo deveria sustentar os esportes. Infelizmente, ainda existem muitos problemas com a processualística do bingo, marcados pelos interesses nem sempre escrupulosos” (ALMEIDA, SOUSA, LEITÃO, 2000, p.97).

Ainda que a Lei 9.615/1998, Lei Pelé, tenha dado ao desporto brasileiro uma regulação mais clara, notam-se pontos que têm gerado grande discussão, dentre eles um dos maiores problemas versa sobre a profissionalidade ou não dos atletas, principalmente dos atetas de modalidades como o basquetebol, o futebol de salão, o handebol, etc. Esportes de menor mídia e poder financeiro tendem a manter o status de amadores, assim, fica mais fácil, ter atletas sem contrato de trabalho regidos pela CLT (Consolidação das Leis do Trabalho). A grande maioria das equipes de handebol do país, por exemplo, dão aos seus atletas um bônus, uma ajuda de custo, que ocorre na forma de bolsa, ou apoio, via patrocínio. Esse subterfúgio

37 ZIRPOLI, Cassio. O lapso do secretário-geral da CBF sobre as ligas. Sim, elas estão previstas na lei. Site

faz com que muitas equipes não se enquadrem nas leis trabalhistas vigentes, assim, as mesmas acabam por se furtar de todos os encargos trabalhistas com seus atletas.

Antes de entrar nessa discussão, se faz necessário apresentar o conceito de atleta profissioal e amador, previsto na Lei 9.615/1998. A grande diferença de status dos atletas se dá pela remuneração dos mesmos, ou seja, caso se enquadre como um atleta profissional, o mesmo terá um contrato de trabalho com seu clube e, será regido pela lei trabalhista da CLT, porém, se o atleta não tiver qualquer vínculo formal com o clube, não tiver um contrato de trabalho, por exemplo, este será considerado como um atleta amador ou, como diz a Lei, não profissional. Apenas em relação ao desporto de alto de rendimento e aos tipos de atletas, segundo a redação da prórpia Lei nº 9.615/1998:

Art. 3º [...]; [...]; III - desporto de rendimento, praticado segundo normas gerais desta Lei e regras de prática desportiva, nacionais e internacionais, com a finalidade de obter resultados e integrar pessoas e comunidades do País e estas com as de outras nações. Parágrafo único. O desporto de rendimento pode ser organizado e praticado: I - de modo profissional, caracterizado pela remuneração pactuada em contrato formal de trabalho entre o atleta e a entidade de prática desportiva; II - de modo não- profissional, identificado pela liberdade de prática e pela inexistência de contrato de trabalho, sendo permitido o recebimento de incentivos materiais e de patrocínio.(Redação dada pela Lei nº 9.981, de 14.7.2000)38

Em seu parágrafo único, constante no artigo 3º, a Lei nº 9.615/1998, é clara no que se refere aos tipos de atletas, de modo profissional e não-profissional. Nesse caso, quando há remuneração com contrato formal de trabalho caracteriza-se profissionalidade do atleta, ou seja, estará regido e protegido pela CLT; porém, o ‘não profissional’ ou ‘amador’ se dá pela inexistência de contrato de trabalho, mas, pode receber incentivos materias ou de patrocinadores. Na prática, esse ponto da Lei acaba por beneficiar clubes ou entidades esportivas no que tange a não formalização de contratos de trabalho com seus atletas. Provavelmente, o único esporte brasileiro que possa ser considerado profissional, com base nos princípios da Lei nº 9.615/1998, é o futebol, pois seus atletas têm contratos de trabalho com seus clubes. Outro ponto que a lei estabelece é a divisão dos tipos de esportes, no caso são três: esportes de lazer; esportes de participação; esportes de alto rendimento. Não há, portanto, uma definição do que seria considerado um esporte amador ou profissional, essa distinção, segundo a Lei Pelé, só ocorre em relação às já citadas formas de atletas (profissional e não profissional).

Segundo artigo científico, escrito por Fernando Tasso, postado no site Extracampo.com, em 02 de setembro de 2008, a profissionalidade de uma atleta não se dá apenas pelo seu vínculo contratual. Tasso (2008) diz que:

[...] Para ser um atleta profissional não é necessário um contrato de trabalho desportivo com alguma entidade. O conceito de desportista profissional não se limita apenas àqueles que praticam o esporte mediante um contrato de trabalho. Existem atletas que se dedicam exclusivamente à prática desportiva e tiram dela o seu sustento sem, no entanto, estarem vinculados a uma entidade de prática desportiva através de um contrato de trabalho39.

Ainda de acordo com Tasso (2008), a Lei Pelé prevê também a figura do atleta semiprofissional. Com base na Lei, esses atletas também não possuem vínculo de contrato formal com as instituições esportivas, mas sim, um contrato de estágio, pois os atletas semiprofissionais têm idades que vão de 14 até 18 anos. Quanto à forma de remuneração o sistema é o mesmo adotado para os atletas ‘não profissionais’, ou seja, ocorre na forma de incentivos, bolsas de fomento ou patrocínio. Tasso (2008) diz também que, na Espanha, a Lei vigente daquele país também prevê o chamado atleta ‘semiprofissional’, só que lá o significado versa sobre um desportista aprendiz que ainda não está pronto para ser profissional.

A discussão dos direitos trabalhistas dos atletas amadores, ‘não profissionais’, se faz presente em diversos textos, artigos e, também, dentro dos tribunais trabalhistas de nosso país. Há juristas que defendem que todo atleta vinculado a uma entidade esportiva tem direito a um contrato formal de trabalho, outros, no entanto, entendem que não. O advogado Guilherme Pessoa Franco de Camargo, em artigo postado no site Consultor Jurídico, em 17 de agosto de 2011, diz que:

Existe distinção entre “amadorismo legal” do “amadorismo por falta de recursos”, sendo que as praticas esportivas em setores pouco sedutores financeiramente para patrocinadores, mídias televisivas ou de interesse geral, não podem servir de justificativa para o afastamento de direitos trabalhistas consagrados, porquanto a conseqüência poderia ser a quebra de isonomia no tratamento de situações idênticas40.

39 TASSO, Fernando. O atleta, um profissional. Site BLOGEXTRACAMPO.wordpress.com, Artigo Científico,

Pernambuco, 02 set. 2008 - ver referências.

40 CAMARGO, Guilherme Pessoa Franco de. Entidades maquiam vínculo para sonegar encargos. Site

Assim, Camargo (2011) deixa claro que, mesmo que a modalidade esportiva não seja a preferida da grande mídia, ainda assim, os direitos do trabalhador devem ser mantidos e, as instituições que gerenciam determinado esporte não podem se esconder em contratos, “muitas vezes confusos”, a fim de não cumprirem com suas obrigações frente a seus atletas e, antes de tudo, trabalhadores. Camargo (2011) cita alguns casos de esportistas que moveram ações judiciais contra clubes e acabaram ganhando suas ações. Camargo (2011) relata o caso do ex- jogador de voleibol Giovane Gávio; o atleta moveu uma ação contra um clube da cidade de Suzano; segundo a defesa do clube, o contrato que o mesmo tinha era apenas de direito de imagem, muito comum no meio esportivo. O Juiz local deu ganho de causa a Giovane, entendendo que, mesmo com o contrato de direito de imagem, o atleta mantinha com o clube da cidade de Suzano uma relação trabalhista formal com direitos e obrigações.

Trazendo a discussão para o âmbito do handebol, percebe-se também que muitos clubes se intitulam ‘amadores’, porém, como já mostrado neste tópico, a Lei nº 9.615/1998 não prevê essa definição, vez que a Lei versa apenas sobre os atletas amadores e não os clubes. Portanto, entidades esportivas ligadas a esportes de menor expressão, como é o caso do próprio handebol brasileiro, optam por se furtar de certos encargos e responsabilidades com o nome fantasia de “esporte amador”. Fato é que os atletas de handebol, assim como de outros esportes, não podem ser considerados amadores, haja vista que têm horários a cumprir durante a semana de trabalho como treinos e jogos, aos finais de semana, muitas vezes têm jogos e, também, viajam para jogar, ou seja, estão muitas horas à disposição de seus clubes. Assim, julgar que tais atletas são amadores ou “não profissionais” é, na verdade, retirar deles os direitos trabalhistas, e isso não parece nada justo a este pesquisador.

Outra discussão em relação à Lei nº 9.615/1998 versa sobre a longevidade dos mandatos administrativos dos dirigentes esportivos brasileiros. No futebol do país isso é mais comum, pois presidentes, vice-presidentes, diretores dentre outros, tendem a ficar vários anos no poder, essa permanência sem interrupção forma padrões ditatoriais que não condizem com um país, dito, “democrático”. Nesse ensejo, há um claro esforço de parlamentares para ajustar a

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