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Gestão do esporte universitário

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II. ESPORTE E EDUCAÇÃO: uma união histórica

2.5 Gestão do esporte universitário

O esporte universitário, regido pela Confederação Brasileira de Desporto Universitário (CBDU), passou por muitas mudanças ao longo das últimas cinco décadas. Pode-se dizer que somente a partir dos anos dois mil, enfim, o mesmo saiu do amadorismo total para uma gestão “um pouco” mais profissional. Segundo o então presidente da CBDU no ano de 2006, Luciano Atayde Costa Cabral (apud TOLEDO, 2006, p.24), “o esporte universitário brasileiro, regulamentado através de decreto presidencial em 1941, viveu 63 anos de forma romântica, gozando dos prazeres e das decepções que o amadorismo proporciona”.

Para Starepravo et al. (2010), a evolução do esporte universitário como um todo pode ser vista em fases, etapas ou momentos distintos que expressam uma lenta, porém continua, evolução do desporto educacional deste país. Ainda de acordo com Starepravo et al. (2010), uma das primeiras fases se deu com o início da prática esportiva em algumas instituições de ensino superior do Brasil, mais precisamente, nas instituições do Mackenzie, em São Paulo, Faculdade de Medicina e Cirurgia, Rio de Janeiro, e Escola Politênica, também no Rio de Janeiro. Starepravo et al. (2010) diz também que, as primeiras competições, realizadas até meados de 1915, se deram em nível estadual, só após 1916 é que começaram a ser interestaduais, nascia então o grande duelo do esporte universitário entre São Paulo e Rio.

[...] A criação das primeiras federações universitárias deu-se nos anos de 1933 e 1934, no Rio de Janeiro e em São Paulo, respectivamente. No ano de 1935, realizou-se em São Paulo a I Olimpíada Universitária do Brasil e, em 1940, a segunda edição da competição, também em São Paulo. Antes disso, porém, se concretizou a fundação da Confederação Brasileira do Desporto Universitário (CBDU), órgão máximo do esporte universitário, em 9 de agosto de 1939 (STAREPRAVO, 2010, p.137).

Pode-se crer que essa “era romântica”, citada pelo então presidente da CBDU, Luciano Atayde Costa Cabral, trouxe mais atrasos do que evolução ao esporte universitário brasileiro. Boa parte do amadorismo atual e da involução da gestão dos esportes universitários atuais ainda se deve à falta de investimento e planejamento estratégico das décadas anteriores. Segundo Starepravo et al. (2010), a gestão do esporte universitário sofreu no ano de 2003 com a desorganização, tendo competições sido canceladas, outras organizadas com atrasos, árbitros em greve e falta de investimento foram alguns dos principais problemas que assolaram o esporte universitário brasileiro naquele ano. Porém, esse marco negativo da história dos esportes universitários, pode ter sido crucial para a retomada do crescimento dos

mesmos. Starepravo et al. (2010) diz que, após o difícil ano de 2003, muita coisa foi iniciada em relação à gestão e aos avanços do desporto universitário do Brasil:

[...] 2003 foi, de fato, um ano em que as ações da CBDU – Confederação Brasileira de Desporto Universitário se mostraram desorganizadas e confusas. Maior evidência disso: cancelamento de torneios, não participação das modalidades coletivas brasileiras no Universíade, falta de organização nos Jubs [...]. [...] A eleição do presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva – o Lula – trouxe algumas importantes mudanças para o esporte brasileiro. Pela primeira vez na história, o esporte alcançou o status de ministério4. Dentro do recém-criado Ministério dos Esportes, por sua vez,

criou-se a divisão do Esporte Universitário, com a finalidade de gerenciar esta manifestação esportiva [...].

Porém, ainda que o esporte universitário só tenha saído do amadorismo total, no que tange a gestão, há pouco mais de uma década, há que se ressaltar que, a CBDU já está no comando do mesmo há quase oitenta anos. Segundo o site da Confederação Brasileira de Desporto Universitário, CBDU, a mesma foi fundada em 09 de agosto de 1939, portanto, já se vão 76 anos desde sua criação, sete décadas que o desporto universitário, como um todo, não obteve grande evolução. Segundo texto postado no menu institucional do site de CBDU, em relação à fundação de entidade no ano de 1939:

Fundada [...], por acadêmicos e representantes de Federações Universitárias Estaduais e agremiações reunidos no Rio de Janeiro, a Confederação Brasileira do Desporto Universitário foi oficializada dois anos depois pelo Decreto nº 3.617, de 15 de novembro de 1941, assinado pelo Presidente da República, Getúlio Vargas. O decreto-lei nº 3.617 organizou as atividades desportivas do Brasil, incluindo a oficialização do desporto acadêmico e o reconhecimento da CBDU como gestora42.

Outro ponto que deve ser ressaltado versa sobre o fato de que a CBDU é a entidade máxima da gestão do desporto universitário no Brasil. Não há outro órgão que possa inferir na gestão e organização dos desportos em nível universitário dentro do território nacional, a CBDU responde diretamente e, de forma única, ao Ministério do Esporte. Luciano Atayde Costa Cabral (apud TOLEDO, 2006, p.24) diz também que, “a partir de 2005, pudemos vivenciar um novo momento: a parceria que a Confederação Brasileira de Desporto Universitário – CBDU firmou com o COB, o Ministério do Esporte e as Organizações Globo [...]”. Ainda segundo ele, o grande objetivo para o estabelecimento dessas parcerias é

42 Por ASSESSORIA DE IMPRENSA. Texto institucional sobre a criação da CBDU. Site CBDU.org.br,

transformar o desporto universitário brasileiro em seleiro do esporte nacional, sendo assim o “berço de nascimento” para os novos talentos do esporte (TOLEDO, 2006).

A retomada do crescimento dos esportes universitários, principalmente com a conquista de importantes parcerias, tanto governamentais quanto da iniciativa privada vêm dando novas perspectivas ao desporto em nível universitário como um todo. Toledo (2006, p.26) cita o fato de que no ano de 2005, “pela primeira vez foram realizadas as Olimpíadas Universitárias, que contaram com a participação de 2,8 mil alunos de 192 IES diferentes de todo o Brasil”. Toledo (2006) diz também que, as atuais ‘Olimpíadas Universitárias’ atendiam pelo nome de Jogos Universitários (JUBs) e eram organizadas somente pela Confederação Brasileira de Desporto Universitário, mas, com as novas parcerias, principalmente a do COB (Comitê Olímpico Brasileiro), a competição ganhou projeção, mais modernidade, organização e um novo nome.

Segundo Roberto Toledo (2006) a maior profissionalização dos jogos universitários, agora intitulados ‘Olimpíadas Universitárias’, deu às IES participantes um maior retorno de mídia favorecendo também suas marcas. Roberto Toledo (2006, p.26) diz que:

[...] A visibilidade que as universidades obtiveram, decorrente da cobertura viabilizada pela parceria, proporcionou grande retorno de mídia para as IES, com matérias dos jogos durante toda a semana nos diversos programas esportivos e jornalísticos da TV Globo e a transmissão na íntegra das finais das modalidades de quadra no canal SporTV.

Toledo (2006) diz também que, segundo dados apresentados pelo COB, o retorno em mídia espontânea, das ‘Olimpíadas Universitárias’, foi próximo aos 10 milhões de reais. Já o relatório apresentado pela Federação Universitária Paulista de Esportes, apontou para um retorno de 3,1 milhões de reais em mídia. Vale dizer que o chamado ‘retorno de mídia espontânea’ se dá pelo tempo de exposição de uma marca em um determinado veículo de comunicação sem que lhe seja cobrado nada por isso, ou seja, no caso das ‘Olimpíadas Universitárias’, as IES que tiveram transmissão de seus jogos e matérias publicadas nos jornais não pagaram absolutamente nada por isso, pois o evento como um todo era de interesse da mídia. O retorno de mídia espontânea, porém, não pode ser tomado como uma comunicação estratégica, haja vista que toda a cobertura gratuita, dada pela mídia, não pode ser estrategicamente direcionada pela instituição alvo da cobertura.

Outro ponto importante para o esporte universitário foi o apoio da Lei Agnelo Piva, que destina 2% de toda arrecadação bruta das loterias federais brasileiras para os esportes olímpicos, no caso o valor arrecadado vai para os cofres do COB, Comitê Olímpico

Brasileiro, e este pode direcionar a verba aos esportes que lhe parecerem prioridade. A Lei Agnelo Piva também vem beneficiando os esportes universitários, graças à parceria estabelecida com o COB. Segundo Toledo (2006, p.30):

[...] Os recursos da Lei Agnelo Piva [...] disponibilizaram, para a realização dos jogos na capital paulista, o montante de R$ 2.141.622,58. A Lei nº 10.264, [...], sancionada pelo Presidente Fernando Henrique Cardoso em 16 de julho de 2001, estabelece que 2% da arrecadação bruta de todas as loterias do País sejam repassadas ao Comitê Olímpico Brasileiro – COB e ao Comitê Paraolímpico Brasileiro – CPB. Do total de recursos repassados, 85% são destinados ao COB e 15%, ao CPB. Do montante destinado ao Comitê Olímpico Brasileiro, 10% deverão ser investidos no esporte escolar e 5%, no esporte universitário.

Com base no que foi apresentado nesse tópico, pode-se perceber que o cenário atual da gestão do esporte universitário no Brasil é mais promissor, ainda mais se for comparado ao que víamos há vinte ou trinta anos atrás. Porém, há que se esperar por mais alguns anos para que o investimento que vem sendo feito possa dar frutos. As Leis que regem ou fomentam o esporte como a ‘Lei Pelé’, a ‘Lei Agnelo Piva’ e a ‘Lei de Incentivo’ mostram-se úteis ao crescimento esportivo e ao desenvolvimento dos atletas de nosso país, porém, há que se acompanhar e vistoriar o trabalho administrativo dos gestores esportivos, principalmente daqueles que estão em órgãos como o COB, CBDU e Federações Regionais, Estaduais e Nacionais, a fim de que esses façam a gestão do dinheiro que recebem do governo da maneira mais idônea possível. A percepção deste pesquisador, em relação ao cenário do esporte nacional como um todo, é que o dinheiro está chegando a diversos esportes e suas instâncias administrativas. Porém, não se sabe ao certo se esse dinheiro está sendo utilizado da maneira mais correta, cremos que o desempenho esportivo do Brasil nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, em 2016, possa ser um ótimo termômetro de avaliação de todo o investimento que vem sendo feito no esporte brasileiro.

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