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Lei de Incentivo: aplicação na prática

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IV. PATROCÍNIO ESPORTIVO

4.7 Lei de Incentivo: aplicação na prática

Segundo matéria escrita por Eduardo Magalhães em primeiro de janeiro de 2010, postada no site do Instituto de Filantropia, em relação ao número de recursos já captados para os diversos esportes via ‘Lei de Incentivo’ até o ano de 2010:

Desde 2007, o total aprovado para captação é de R$ 572.990.465,48, tendo sido captados R$ 158.773.332,09 distribuídos em 409 projetos para mais de 2 milhões de pessoas beneficiadas. Números nada desprezíveis para um ministério com orçamento anual, em 2009, de R$ 1,4 bilhão68.

Os números são bons, tendo em vista que se a Lei Nº 11.438 não estivesse em vigor, muito provavelmente, as instituições esportivas não captariam tais recursos via patrocínio, apoio ou até mesmo doação. Porém, embora a ‘Lei de Incentivo’ dê acesso a todos os interessados, nem sempre ela vem beneficiando todas as regiões do país. Esse não é um problema legal, mas sim, das instituições esportivas que, em regiões de menor poder financeiro de nosso país, ainda não têm estruturas profissionais, incluso com razão social, dentre outros fatores que a ‘Lei de Incentivo’ exige para beneficiar os interessados. Segundo Eduardo Magalhães (2010), no ano de 2008, dos 102 projetos protocolados e aprovados junto ao Ministério do Esporte, 50 eram do Estado de São Paulo, 02 eram da região nordeste, porém da região norte, nenhum projeto foi comtemplado. Magalhães (2010) diz também que, dentre os mais beneficiados, via ‘Lei de Incentivo’, destacam-se: o Comitê Olímpico Brasileiro, que captou 26,1 milhões de reais; o São Paulo Futebol Clube, 19 milhões de reais; Minas Tênis Clube, 10,3 milhões de reais; Esporte Clube Pinheiros, 9 milhões de reais; a Federação Paulista de Hipismo, 6,5 milhões de reais; o Circulo Militar da Vila Militar, 5,7 milhões de reais; Confederação Brasileira de Golfe, 3,9 milhões de reais (MAGALHÃES, 2010).

68MAGALHÃES, Eduardo. A Nova Lei de Incentivo ao Esporte. Site Institutofilantropia.org.br, Artigo, São Paulo, 2010 - ver referências.

Eduardo Magalhães (2010) cita também alguns dos pontos básicos para que as instituições esportivas pleiteiem o recebimento de verba via Lei Nº 11.438.

O proponente deve estar com toda a documentação em dia. Entre elas, o estatuto e as certidões negativas federais, o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) e a Previdência Social. Deve, ainda, ser uma entidade sem fins econômicos e ter em seu estatuto, de maneira expressa, a finalidade esportiva, mesmo que seja um objetivo secundário69.

Com base nos dados apresentados por Eduardo Magalhães (2010), percebe-se claramente algo que a ‘Lei de Incentivo’ não previu, a captação de verba para os clubes de futebol. Como citado acima, o São Paulo Futebol Clube, como a maioria dos grandes clubes de futebol de nosso país e uma instituição que movimenta milhões, recebeu 19 milhões de reais. Porém, a grande maioria dos clubes do futebol brasileiro ainda são entidades sem fins lucrativos, esse fato faz com que possam se beneficiar via Lei Nº 11.438. Não seria hora do governo, na figura de suas instituições legais, fazer um ajuste na referida Lei?

Segundo matéria postada pela redação do jornal universitário ‘Jornal do Campus’, em 26/06/2015, o valor captado pelo São Paulo Futebol Clube seria um pouco menor, perto de 12,7 milhões de reais em patrocínio via ‘Lei de Incentivo’, porém, ainda assim, em se tratando de uma instituição futebolística que tem uma estrutura milionária o valor pode ser considerado muito alto. A crítica à Lei, pelo menos no caso dos grandes clubes do Brasil, ainda é muito pertinente. É justo que essas instituições (times de futebol) sejam beneficiadas com projetos de Lei que, ao fim, permitam uma menor arrecadação do governo? Segundo a matéria postada pela redação do site do ‘Jornal do Campus’, em 26/06/2015, no ano de 2008 o SPFC:

[...] Recebeu mais de R$ 12,7 mi em patrocínio para investir em seus vestiários, em seu estacionamento e arquibancadas do estádio Cícero Pompeu de Toledo, o famoso Morumbi. O questionamento é: será que o COB e o São Paulo Futebol Clube não conseguiriam esse montante no mercado comum, sem a necessidade de incentivos fiscais que poderiam ser melhor direcionados para projetos com menor apelo comercial?70.

O recebimento de repasse de verba via ‘Lei de Incentivo’ não é um privilégio apenas do São Paulo Futebol Clube, outros clubes de futebol também foram beneficiados pela Lei. A

69MAGALHÃES, Eduardo. A Nova Lei de Incentivo ao Esporte. Site Institutofilantropia.org.br, Artigo, São Paulo, 2010 - ver referências.

70Por Redação. Conheça a Lei de Incentivo ao Esporte. Site Jornaldocampus.usp.br, Editoria de Esportes, São Paulo, 2015 - ver referências.

Ponte Preta, tradicional equipe de futebol da cidade de Campinas-SP, recebeu perto de 1,3 milhões de reais, isso através dos benefícios da Lei Nº 11.438. Segundo matéria postada pela assessoria de imprensa do site do Ministério do Esporte, em 09/02/2009, a verba arrecada pela Ponte Preta deve ser aplicada no departamento amador de futebol do clube, nas áreas de desenvolvimento muscular, fisiologia e avaliação esportiva e prevenção e recuperação de lesões no esporte. Segundo o então ministro dos esportes, Orlando Silva, a Ponte Preta “está nesse núcleo de gente que tem como marca de gestão o profissionalismo, a capacidade de planejamento71”. Novamente vale a ressalva, não há como contestar, nesse momento, a

questão legal, pois tudo foi feito dentro do previsto em lei, no caso a Lei Nº 11.438. Porém, a questão ética pode ser levada em consideração. É justo que clubes de futebol, com comprovado poder financeiro, se beneficiem desta Lei?

Até 2010, com relação à referida matéria, escrita por Eduardo Magalhães, verificou-se que, as empresas que mais patrocinavam, via Lei Nº 11.438, eram a Petrobrás e o Banco Bradesco, com 26 e 25 milhões de reais investidos respectivamente. Outras empresas de grande porte também investem no esporte através da ‘Lei de Incentivo’ como Cemig, HSBC, Nokia, Colgate, Mercedez Benz, Itaú, Nestlé dentre outras (MAGALHÃES, 2010).

A ‘Lei de Incentivo ao Esporte’ vem beneficiando também os órgãos gestores de alguns esportes universitários. A Confederação Brasileira de Desporto Universitário (CBDU), como uma das mantenedoras da Liga de Desporto Universitário (LDU), vem sendo beneficiada com os recursos captados via ‘Lei de Incentivo’. A LDU gerencia, nos moldes implantados pela NCAA, dos EUA, esportes como basquetebol, voleibol, futsal, futebol, handebol, judô, rugby dentre outros e, para que essa gestão possa ser feita com qualidade a verba recebida da captação de recursos da Lei Nº 11.438 é essencial.

Segundo Luciano Cabral, presidente da CBDU, em matéria postada no site do Ministério do Esporte, escrita pela assessora de comunicação do Ministério, Denise Mirás72,

em 09 de junho de 2015, o evento de lançamento das ‘Finais dos Jogos Universitários 2015’, em Brasília, é fruto do apoio da ‘Lei de Incentivo’. Luciano Cabral destaca também, que todas as fases regionais dos ‘Jogos Universitários 2015’, ocorridas respectivamente nas cidades de Santo André e João Pessoa e a fase final, em Brasília, demandaram investimento. Segundo o presidente da CBDU foram utilizados R$ 2 milhões de reais, captados via ‘Lei de Incentivo’

71Por Redação. Ponte Preta capta R$ 1,3 milhão para o futebol amador por meio da Lei de Incentivo. Site

Esporte.gov.br, Notícias, Brasília, 2009 - ver referências.

72 MIRÁS, Denise. Liga de Desporto Universitário é aberta oficialmente em Brasília. Site Esporte.gov.br, Editoria de Notícias, Brasília, 2015 - ver referências.

junto ao Banco Itaú. Esse fato mostra que a Lei Nº 11.438 é, sim, uma ótima ferramenta para que instituições universitárias ou até mesmo as de menor porte possam obter recursos para organizar suas competições, haja vista que instituições de menor porte são menos atrativas para a grande mídia e, tendem a ter mais dificuldade na captação de verba por essa via. Segundo Luciano Cabral, citado pela matéria de Denise Mirás (2015), o apoio das empresas via ‘Lei de Incentivo’ e do Governo se torna essencial para o sucesso dos esportes universitários:

Já estamos há cinco anos com o Itaú e, claro, é muito importante que a Lei continue, para alcançarmos também as fases estaduais da LDU, com mais recursos via Confederação Brasileira de Clubes (CBC), via Lei Agnelo/Piva, com os quais já fazemos os Jogos Universitários Brasileiros. O apoio do Ministério do Esporte é muito importante, porque o desporto universitário forma cidadãos73.

Além dos órgãos gestores do esporte universitário, como citado acima, a Lei de Incentivo também está beneficiando algumas universidades do Brasil. Pode-se dizer que esse fato é o ponto alto da Lei Nº 11.438, pois o repasse de verba é feito aos verdadeiros formadores esportivos de nosso país, não somente às universidades, mas também às escolas. Como se sabe, um dos primeiros contatos com o esporte se dá nas escolas, nas aulas de educação física. Nesse espaço acadêmico crianças de todo o país descobrem a paixão pela prática esportiva, portanto, investir nos espaços educacionais, como formadores dos futuros atletas de alto rendimento ou até mesmo cidadãos, deve ser uma prática constante dos governantes de nosso país. Segundo matéria postada no site da Revista Eletrônica Beat, por Ana Luísa Addalla e Thaís Matos74, em 17 de junho de 2014 algumas universidades vêm

aproveitando o beneficio da ‘Lei de Incentivo’.

Segundo Abdalla e Matos (2014) a UFPA, Universidade Federal do Pará, foi contemplada, no ano de 2011, com dois projetos esportivos. O investimento feito no esporte amador da UFPA, através do repasse de verba da Lei Nº 11.438, se deu nos referidos esportes: futebol de salão; futebol de campo; voleibol; handebol; xadrez. Já segundo o site da própria

73 MIRÁS, Denise. Liga de Desporto Universitário é aberta oficialmente em Brasília. Site Esporte.gov.br, Editoria de Notícias, Brasília, 2015 - ver referências.

74 ABDALLA, Ana Luíza; MATOS, Thaís. Lei de incentivo ao esporte nas universidades. Site

Universidade (UFPA), em matéria postada pela assessora de comunicação Glauce Monteiro75,

em 14 de outubro de 2011, a verba pedida pela UFPA em seus dois projetos, ‘Jogos Internos’ e Esportes da UFPA’, via ‘Lei de Incentivo’, foi de 2,5 milhões de reais. Esse valor seria usado para organizar os jogos internos de 2012 da Instituição e, também para desenvolver as cinco modalidades já citadas acima.

A Universidade Federal do Maranhão (UFMA), apoiada pelos mecanismos legais da ‘Lei de Incentivo’, desenvolve um dos projetos mais interessantes apresentados até esse momento. Segundo nota postada pela redação do site do Jornal Brasil On-line76, em 24 de

outubro de 2012, a UFMA vem captando recursos via Lei Nº 11.438 e aplicando os mesmos em um projeto de inclusão social denominado ‘Jovens com a Bola Toda’. Ainda segundo a nota do Jornal do Brasil, esse projeto oferece diversas modalidades esportivas aos jovens carentes da cidade de São Luís (Maranhão), dentre elas destacam-se: atletismo; basquete; futebol de campo e de quadra, capoeira; handebol, natação e voleibol. O projeto da UFMA acontece no Campus Bacanga, localizado também na cidade de São Luís, lá crianças que têm entre 8 e 15 anos podem praticar as referidas modalidades, outro ponto importante é que os alunos do curso de educação física da UFMA dão todo suporte necessário às crianças sob a supervisão de seus professores. Assim, o projeto acaba por integrar a Universidade com a comunidade local e, também com os acadêmicos e professores do curso de Educação Física (JORNAL BRASIL ON-LINE, 2012).

A ‘Lei de Incentivo’ é, sim, um grande avanço para a evolução do esporte amador do Brasil, cabe, porém, alguns ajustes legais a fim de barrar certos exageros, como, por exemplo, os milhões repassados a clubes de futebol e, também a instituições financeiramente poderosas como é o caso do COB (Comitê Olímpico Brasileiro). Mas, os benefícios alcançados pela ‘Lei de Incentivo ao Esporte’ desde sua aplicação, no ano legal de 2007, são maiores que os malefícios. Isso faz com que o esporte amador, principalmente o universitário, tenha uma “luz no fim do túnel”, pois há grande possibilidade de desenvolverem projetos esportivos de qualidade. A “porta está aberta” a qualquer universidade, faculdade ou instituição educacional que, por meio da Lei 11.438, queria criar projetos de cunho esportivo. Sabe-se que a criação desses projetos, assim como o envio ao Ministério do Esporte e, posterior aprovação, não é tarefa fácil. Porém, se as instituições educacionais quiserem por em prática algo que está em

75 MONTEIRO, Glauce. UFPA é beneficiada pela Lei do Incentivo ao Esporte e lança projetos que

incentivam práticas esportivas nos campi. Site Portal.ufpa.br, Assessoria de Comunicação, Belém-PA, 2011 - ver

referências.

76 Por Redação. Universidade usa Lei de Incentivo para promover a inserção social no Maranhão. Site Jornalbrasilon-line.com.br, Editoria de Educação, Brasília, 2012 - ver referências.

sua constituição, o desenvolvimento esportivo-educacional, esse é o momento certo para começar, haja vista que a ‘Olímpiada do Rio de Janeiro’ está às vésperas de acontecer. Até 2016 e, muito provavelmente nos anos subsequentes aos jogos do Rio, o esporte estará em foco e as empresas dispostas a investirem no mesmo, portanto, se as instituições educacionais pretendem investir no esporte como mantenedoras de equipes, via ‘Lei de Incentivo’, esse é o momento ideal.

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