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Investimento no esporte universitário: o modelo dos EUA

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IV. PATROCÍNIO ESPORTIVO

4.4 Investimento no esporte universitário: o modelo dos EUA

Esse tópico tem como objetivo principal apresentar alguns casos de universidades que, de alguma forma apoiam, patrocinam ou até mesmo têm equipes de alto rendimento próprias. As universidades investigadas para esta pesquisa, no caso, a UMESP e a UNITAU, não serão citadas nesse tópico, pois serão apresentadas e analisadas em capítulos posteriores.

Nos EUA as universidades não apenas apoiam os esportes como têm também estruturas invejáveis para a prática esportiva. Assim o é no basquete, no futebol americano, no soccer (nosso tradicional futebol), no voleibol, na natação dentre outros. As ligas esportivas universitárias, como é o caso da NCAA – National Collegiate Athletic Association –, ou em português ‘Associação Atlética Universitária Nacional’, são tão fortes quanto as ligas

profissionais, o investimento nos atletas universitários é altíssimo e o retorno de imagem para as IES também.

Segundo artigo postado por Ricardo Ognibene no site MKT Esportivo, em 10 de abril de 2015, as finais da Liga NCAA de 2015 deram uma aula de gestão e organização ao desporto universitário brasileiro e, também em muitas ligas esportivas de nosso país. Segundo Ognibene (2015), a NCAA gerencia atualmente todo o esporte universitário norte americano. Para Ognibene (2015) a NCAA:

[...] Tem atualmente 460.000 atletas/estudantes inscritos, disputando 23 esportes diferentes em aproximadamente 1.100 universidades. Esse cenário fez a NCAA contabilizar a presença de mais de 25 milhões de torcedores somente na temporada de basquete masculino em 2014. Para se ter uma ideia, as partidas das universidades de Syracuse e Kentucky tem ocupação média de 26 mil torcedores por jogo desde 197756.

Não há como comparar com a média de público de esportes coletivos de menor expressão de nosso país como futebol de salão, voleibol, basquetebol, handebol dentre outros, porém, se fizermos a comparação com a média de público do Campeonato Nacional de nosso principal esporte, o futebol, que recentemente sediou a principal competição mundial, ainda assim a média da NCAA será impressionante. Segundo matéria postada pela redação do site da televisão brasileira por assinatura Fox Sports57, em 18/08/2015, a média de público do

Campeonato Brasileiro 2014 foi de 14.766 pagantes, já em 2015, até o presente momento, a média de público é de 17.139. Vale dizer que essa média vem sendo comemorada por gestores, dirigentes e confederação, pois a consideram um bom número.

A comparação da Liga NCAA com o nosso esporte “número um”, o futebol, pelo menos no que tange a comparecimento de público às arenas, já nos parece dar vantagem a NCAA. Outro ponto crucial do sucesso do esporte universitário norte americano está na sua estrutura física. Segundo Ognibene (2015) sete das dez maiores praças esportivas do mundo pertencem às universidades dos EUA, essas arenas também acabam por servir de casa para algumas equipes das ligas NBA, NLF e MLS; todas elas, ligas profissionais norte americanas que utilizam os espaços universitários como suas praças esportivas. A título de curiosidade, o primeiro jogo das finais de 2015 da NCAA levou 71 mil pagantes ao estádio (OGNIBENE, 2015).

56 OGNIBENE, Ricardo. NCAA e a força do desporto universitário norte-americano. Site MKTESPORTIVO.com.br, Artigo de Marketing Esportivo, São Paulo, 10 abr. 2015 - ver referências.

57 Por REDAÇÃO. Público do Brasileirão em 2015 supera o de 2014. Entenda as razões. Site FOXSPORTS.com.br, Editoria de Esportes, São Paulo, 08 ago. 2015 - ver referências.

Ainda com base no artigo postado no site MKT Esportivo, escrito por Ricardo Ognibene em 10 de abril de 2015, o faturamento bruto da Liga NCAA foi de aproximadamente 1 bilhão de dólares em 2014, outro ponto destacado pelo autor diz que a televisão dos EUA pagou perto de 800 milhões de dólares para transmitir os jogos do basquete universitário norte americano em 2014. Outro ponto interessante, citado no artigo de Ognibene diz que, a Liga NCAA também autoriza que suas equipes busquem patrocínios regionais. A Liga notou também, em 2014, um total de mil empresas que apoiavam suas equipes, isso fortaleceu ainda mais o esporte universitário dos EUA.

Por fim, Ricardo Ognibene (2015) nos apresenta um comparativo entre o mercado esportivo universitário brasileiro com o norte americano:

Hoje o sistema esportivo nas universidades brasileiras é meramente recreativo, desperdiçando um mercado potencial de 7.3 milhões de estudantes. Se aproximadamente 1.2% (média NCAA) desses alunos se tornassem atletas universitários teríamos 85 mil possíveis atletas de alto nível ingressando todos os anos na universidade e, mesmo que somente 2% se tornassem profissionais, teríamos ainda 82 mil profissionais graduados e habilitados para trabalhar profissionalmente com o esporte no Brasil, o que, com certeza, seria um grande diferencial para um país que trata o desporto como uma moeda de troca de segunda categoria58.

Pode-se perceber que em nosso país o problema principal está na falta de leis que incentivem as empresas, no caso as corporações universitárias, a investirem no esporte. A estrutura física de nossas universidades, mesmo que ainda não sejam as ideais, já estão aptas para que alguns esportes possam ser desenvolvidos, porém, a falta de foco de nossos governantes ainda é um grande empecilho às universidades do Brasil que têm objetivos esportivos.

Toda essa organização do desporto universitário norte americano é, com toda certeza, modelo de gestão para nosso país e, também para outros. O modelo de gestão universitária é autônomo e prestigiado pelo governo daquele país, fato bem distinto do Brasil. Essa gestão moderna e competente da NCAA faz com que algumas universidades, que têm equipes em suas ligas esportivas, fechem contratos milionários de patrocínio com marcas esportivas mundiais. Segundo nota postada pela redação do site MKT Esportivo59, em 16 de julho de

58 OGNIBENE, Ricardo. NCAA e a força do desporto universitário norte-americano. Site MKTESPORTIVO.com.br, Artigo de Marketing Esportivo, São Paulo, 10 abr. 2015 - ver referências.

59 Por REDAÇÃO. Universidade de Michigan fecha acordo de quinze anos com a Nike. Site MKTESPORTIVO.com.br, Editoria de Esportes, São Paulo, 16 jul. 2015 - ver referências.

2015, a Universidade de Michigan fechou um contrato de patrocínio com a fabricante de artigos esportivos NIKE. O contrato terá duração de 15 anos e a Universidade terá direito a receber 169 milhões de dólares no total. Ainda segundo a matéria a Nike pagará a Michigan 12 milhões adiantados e o restante será dividido pelo tempo total do patrocínio, vale dizer que a Universidade de Michigan tem, entre todos os seus esportes, 31 equipes, estas que irão estampar a marca Nike nos próximos anos.

Segundo nota postada pela redação do site Lancenet60, em 19/08/2015, a poderosa

fabricante de materiais esportivos Nike é patrocinadora de muitas universidades nos Estados Unidos, haja vista que o desporto nessas universidades é bem gerenciado e tratado como profissional. Recentemente, a Nike ampliou seu contrato de patrocínio de camisa e fornecimento de materiais esportivos com a Universidade do Arizona, agora o novo contrato será vigente por mais 10 anos. As 20 equipes esportivas do Arizona irão continuar estampando a marca Nike em seus uniformes. Ainda em nota postada pela redação do site Lancenet61, porém em 24/09/2015, assim como a Universidade de Arizona, a de Washington

também estendeu seu contrato de patrocínio com a Nike. O novo contrato, que irá durar 10 anos, indo até 2025, pagará a Universidade cerca de 1 milhão de dólares/ano e também 2 milhões de bônus em materiais esportivos.

Segundo o jornalista Rodrigo Capelo, em coluna postada no site Globoesporte.globo.com, em 15/09/2014, o modelo de gestão do esporte universitário norte americano está todo nas mãos da NCAA. Ela é a entidade que dita as regras e, também, quem faz toda a gestão do esporte universitário daquele país. Ainda segundo Capelo (2014), o esporte universitário dos EUA está em franca evolução:

[...] A NCAA, entidade que dita regras e organiza competições, faturou US$ 913 milhões no ano fiscal de 2013. São R$ 2,1 bilhões. Lembre-se que a CBF, toda poderosa do futebol brasileiro, com um ativo como a seleção brasileira, faturou R$ 436 milhões em 2013. É um quinto da colega americana62.

60 Por REDAÇÃO. Fornecedora de equipamento esportivo amplia patrocínio com universidade americana. Site LANCENET, Editoria de Esportes, São Paulo, 19 ago. 2015 - ver referências.

61 Por REDAÇÃO. Nike amplia espaço nas universidades americanas. Site LANCENET, Editoria de Esportes, São Paulo, 24 set. 2015 - ver referências.

62 CAPELO, Rodrigo. Nos EUA, esporte universitário fatura bilhões, mas esquece atletas e educação. Site GLOBOESPORTE.globo.com, Coluna ‘Dinheiro em Jogo’, São Paulo, 15 set. 2014 - ver referências.

Não vamos entrar no mérito da comparação de valores feita por Capelo (2014), pois os números apresentados pela entidade brasileira podem não ser os reais, porém o que vale dizer é o quanto uma Liga (NCAA) de gestão do esporte universitário de um país (EUA) pode ser lucrativa e bem gerenciada. Também segundo a coluna de Rodrigo Capelo (2014), posta no site do telejornal esportivo ‘Globo Esporte’, da Rede Globo de Televisão em 15/09/2014, os 123 clubes que jogaram o campeonato universitário de futebol americano no ano de 2013 tiveram uma receita bruta em torno de 3,2 bilhões de dólares americanos. Capelo estabelece outra comparação entre esse fato e o futebol brasileiro, segundo ele, a primeira divisão do campeonato brasileiro de futebol arrecadou em 2013 cerca de 3,1 bilhões de reais (CAPELO, 2014).

O público presente nos estádios, durante todos os jogos de futebol americano universitário no ano de 2013, foi de pouco mais de 50 milhões de torcedores. A média de público por jogo foi de aproximadamente 46 mil torcedores. Já a média de público da já citada, Universidade de Michigan, foi de 111.592 também na temporada de 2013. (CAPELO, 2014).

Porém, o modelo vitorioso de gestão do esporte universitário dos EUA, mantido pela NCAA, também pode ser passível de discussão e, até de críticas. Ricardo Capelo (2014) diz que, em alguns casos, o excesso de profissionalismo da NCAA faz com que uns ganhem muito e outros nem tanto. Segundo Capelo (2014), os alunos/atletas ganham pouco para jogarem pelas universidades americanas, já as instituições ficam com quase todo o lucro advindo do esporte. Outro problema citado por Capelo (2014) versa sobre o impedimento contratual que os atletas têm de ganhar dinheiro com suas marcas pessoais. Segundo Rodrigo Capelo (2014) a Liga NCAA:

[...] Impede atletas dela de faturar “por fora”. Jonathan Benjamin, jogador de basquete da Universidade de Richmond, por exemplo, foi afastado em 2012 por ter aberto uma fábrica de camisetas com o nome dele. Eles não podem aproveitar a popularidade para assinar contratos e têm de sobreviver com assistências da faculdade e do governo63.

Devido a esses problemas, os estudantes universitários criaram uma espécie de sindicato para representá-los frente à NCAA e, defender seus direitos e interesses. A National College

Players Association, em português ‘Associação Nacional de Jogadores Universitários’, relata

que por volta de 86% dos jogadores das equipes universitárias, geridas pela NCAA, vivem

63 CAPELO, Rodrigo. Nos EUA, esporte universitário fatura bilhões, mas esquece atletas e educação. Site GLOBOESPORTE.globo.com, Coluna ‘Dinheiro em Jogo’, São Paulo, 15 set. 2014 - ver referências.

abaixo do índice de pobreza dos EUA. Nesse momento, o sindicato dos jogadores universitários já auxilia em negociações salariais dentre outros direitos dos atletas. (CAPELO, 2014). Outro dado que desabona, em partes, a gestão da NCAA é que os atletas acabam sendo tão cobrados como esportistas que deixam seus estudos de lado, somente 45% dos atletas universitários conseguem se formar, e pior, em média apenas 2% se tornam jogadores profissionais. (CAPELO, 2014).

O problema entre os atletas e a NCAA, apresentado por Rodrigo Capelo (2014), não há como ser refutado no âmbito dos direitos pessoais, trabalhistas e, até legais daquele país (EUA). Porém, não se pode negar e, tampouco deixar de valorizar, o excelente trabalho da NCAA enquanto organizadora do esporte universitário norte americano e, também de desenvolvedora de um grandioso instrumento de entretenimento esportivo que acaba por superar muitas ligas profissionais mundo afora.

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