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Esporte universitário: o modelo brasileiro

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IV. PATROCÍNIO ESPORTIVO

4.5 Esporte universitário: o modelo brasileiro

O modelo de gestão do esporte universitário brasileiro ainda não pode ser comparado aos dos EUA ou, até mesmo da Europa. Porém, mesmo em estágio inicial não há como negar certa evolução. No Brasil a participação do governo, em parceria com as IES que, muitas vezes emprestam suas estruturas físicas também vem dando bons resultados. Esse fato acaba por atrair empresas patrocinadoras e/ou apoiadoras formando uma tríade do esporte no Brasil que conta com IES, Governo e Empresas.

Segundo matéria escrita por Marta Reis64, postada em 01/02/2012 no site do jornal ‘O

Globo’, a evolução do esporte no Brasil passa indubitavelmente pelo apoio das redes de educação superior. Marta Reis (2012) cita os casos de algumas universidades do país que investem em atletas de alto rendimento como ULBRA, UNISUL e Metodista. Em relação à UMESP, Marta Reis (2012) cita o caso de sucesso do handebol da Instituição que, desde a década de 90, é referência no esporte nacional.

As universidades brasileiras, ainda que de forma mais tímida e menos midiática, sempre estiveram ao lado do esporte brasileiro. Uns dos maiores exemplos de sucesso da parceria universidade/esporte ocorreu na década de 80. A jovem jogadora de basquete Paula, na época com 18 anos, estava no começo de sua carreira profissional e foi contratada para jogar no time da UNIMEP, Universidade Metodista de Piracicaba. O time que pertencia à Universidade foi

64 REIS, Marta. Tabelinha bem feita entre esporte e universidade é sinônimo de sucesso nas quadras,

um sucesso dentro e fora das quadras, conquistando vários títulos de expressão e dando notoriedade a IES do interior paulista, graças principalmente a genialidade técnica dentro das quadras de Paula e suas companheiras de equipe. A UNIMEP foi bicampeã da antiga Taça Brasil, atual Campeonato Brasileiro, nos anos de 85 e 86. A equipe ainda seria campeã mais uma vez em 1996. Conquistou outros campeonatos de expressão como jogos abertos do interior e campeonatos paulistas. Pode-se dizer que na década de 80 os aficionados por basquete tinham quase que a escalação da equipe da UNIMEP na “ponta da língua”, haja vista a projeção da equipe fora das quadras. Em matéria publicada pela revista ‘Placar’, em 15/12/1986, escrita pelo jornalista Alfredo Ogawa, pode-se ver a projeção que o basquete da UNIMEP tinha na cidade de Piracicaba. Segundo Alfredo Ogawa (1986, p.73):

Há dois anos, uma cena se repete em Piracicaba, uma tranquila e rica cidade do interior de São Paulo: em determinados dias, centenas de pessoas se amontoam na estação rodoviária à espera de um grupo de garotas. Quando elas chegam, debaixo de aplausos e gritos, a multidão abre espaço para o inevitável desfile em carro aberto. O festivo cortejo só termina quando povo e heroínas desembarcam no ginásio de esportes. É sempre assim. O que varia é a quantidade de vezes em que esse ritual é realizado.

A matéria de ‘Placar’, escrita por Ogawa (1986), mostra todo fervor que o público torcedor da cidade de Piracicaba tinha pela equipe da UNIMEP. Ainda segundo Ogawa (1986), a equipe capitaneada por Paula tinha também Vânia Hernandes, Vânia Teixeira, Nádia e Beverly e, em 1986, conquistou quatro títulos de expressão, dentre eles o Brasileiro e o Sul- Americano. Outro ponto citado na matéria da ‘Revista Placar’ versa sobre o fato da boa remuneração da jogadora Paula. Segundo Ogawa (1986, p.76) a jogadora Paula custava caro à UNIMEP:

É claro que manter Paula custa caro, mas ninguém reclama muito. Assim, após sete anos no município, a craque já fez um bom pé-de-meia: um apartamento, um terreno, um Monza preto e a adorada moto CB 400. Sem contar o milhão de cruzados que recebeu, este ano, da CGS Construtora em troca de sua participação em campanhas publicitárias.

Almir de Souza Maia, então reitor da UNIMEP, citado pela matéria de ‘Placar’, dizia que o principal interesse da Universidade era desenvolver o esporte regional apoiando várias modalidades. Porém, após a conquista do título paulista de basquete, em 1981, a UNIMEP mudou de planos, segundo o Almir de Souza Maia o esporte passou a ser um ótimo veículo de relações públicas para a Universidade. Na época o investimento da UNIMEP, além das bolsas

de estudos, apoio médico e fisioterapêutico dentre outros foi também investido por volta de 2 milhões de cruzados na modalidade (OGAWA, 1986).

Segundo João Domingos B. Mandarino, Carlos Alberto Figueiredo da Silva, José Maurício Capinussú e Carlos Henrique de Vasconcellos Ribeiro (2013), em artigo intitulado ‘Esporte e marketing nas IES: o caso dos gestores participantes das olimpíadas universitárias’, publicado originalmente na Revista Acadêmica ‘Salusvita’, da Universidade Sagrado Coração no ano de 2013, outras universidades também marcam presença no esporte como a ULBRA, a UNISUL e a USC. Ainda segundo o artigo dos autores acima citados, essas IES contam com modernas instalações esportivas. Outro ponto abordado no texto, diz que a UNISUL se tornou uma potência esportiva, tendo investido no voleibol nacional e, em parceria com o Ministério dos Esportes, construiu um dos mais modernos centros aquáticos de nosso país (MANDARINO; SILVA; CAPINUSSÚ et. al, 2013).

Ainda de acordo com Mandarino, Silva, Capinussú et. al (2013) a universidade da cidade de Araraquara, UNIARA, aumentou muito o retorno de mídia instantânea nos jornais locais ao investir no time de basquete da região. Segundo Mandarino, Silva, Capinussú et. al (2013, p.72):

[...] A Universidade de Araraquara (UNIARA) viu em números o investimento que fez com uma equipe de basquete. Nas três publicações de Araraquara, o retorno de 220 centímetros de mídia se transformou em 14.888 centímetros em um ano, com a classificação da equipe à final do Campeonato Paulista da modalidade.

De acordo com artigo escrito por Georgios Hatzidakis65, constante na coletânea ‘Atlas

do Esporte’, organizada por Lamartine Da Costa (2006) e postada no site ‘Atlasesportebrasil.org.br’, em três de junho de 2003, a equipe masculina da Universidade de Araraquara-SP conquistara uma das vagas à fase final da Liga Nacional de Basquete vencendo Vasco da Gama-RJ. Ainda segundo Hatzidakis (2006), além da cidade quem também comemorou foi a equipe de marketing da UNIARA. Pois, logo após a vitória épica da equipe em quadra, perceberam que a marca da Universidade seria destaque no cenário nacional e, isso poderia ser explorado de forma comercial pela Instituição. Outro ponto destacado pelo artigo escrito por Hatzidakis (2006) diz que, segundo o então Pró-Reitor Administrativo da Universidade de Araraquara (UNIARA), Fernando Soares Mauro, a TV Bandeirantes transmitira na época um total de seis partidas da equipe de basquete masculino

65HATZIDAKIS, Georgios. Esporte Universitário. Site Atlasesportebrasil.org.br, Artigo, Rio de Janeiro, 2006 - ver

da Instituição e, isso gerou perto de duas horas de exposição da marca de forma espontânea. Ainda segundo o então Pró-Reitor da UNIARA, a transmissão da “BAND” representou cerca de 1,5 milhão de investimento em tempo de televisão, isso claro contabilizando o custo do horário caso fosse pago para expor a marca da Universidade com propaganda direta (HATZIDAKIS, 2006).

O caso da UNIARA mostra que o investimento em marketing esportivo pode ser feito mesmo em cidades menores, onde a grande mídia não dá tanta cobertura. Porém, para os planos estratégicos de uma IES do interior, o esporte pode ajudar na geração de mídia local trazendo benefícios à imagem institucional e, até mesmo, auxiliando na prospecção de públicos.

Pode-se dizer que em termos de investimento no esporte de alto rendimento, assim como a UMESP e a UNITAU, a Universidade Luterana do Brasil (ULBRA) é a grande referência brasileira do momento. A ULBRA vem investindo em diversas modalidades esportivas há alguns anos, dentre elas destacam-se: futebol de campo, futebol de salão, voleibol, atletismo, handebol dentre outras.

Segundo o artigo de Georgios Hatzidakis (2006), a ULBRA fez uma parceria, ainda no ano de 1998, como a equipe de futsal do Sport Clube Internacional, da cidade de Porto Alegre, foi o início das ações de divulgação da marca da Instituição através do apoio do esporte de alto rendimento. Porém, como o tempo, o patrocínio ao time de futsal do Internacional foi descontinuado, haja vista que a ULBRA optou por criar sua própria equipe de futebol de salão (HATZIDAKIS, 2006). Vale dizer que ter seu próprio clube de futebol de salão é o mesmo que a Universidade Metodista de São Paulo faz desde 1993, porém no caso da IES do ABC Paulista o esporte escolhido foi o handebol de alto rendimento.

Hatzidakis (2006) diz que o investimento feito no esporte de alto rendimento deu bons resultados para a ULBRA. A Universidade Luterana do Brasil, em sete anos investindo no esporte, passou a ser a terceira IES em número de alunos matriculados. Outro ponto destacado por Hatzidakis (2006), diz que em 1995 o número de alunos do campus de Canoas-RS era de cerca de dez mil alunos, já em 2002 e, com o investimento maciço em patrocínio de diversas modalidades esportivas, esse número chegou perto de 40 mil alunos. Ainda hoje a ULBRA está entre as IES que mais investem no esporte de alto rendimento, esse investimento fez com que a IES chegasse a final do Campeonato Gaúcho de Futebol, em 2004, contra o Internacional. Esse feito foi único no esporte nacional, pois foi a primeira vez que uma Universidade, detentora de um clube de futebol profissional, chegou a uma final de

campeonato em uma das praças mais tradicionais do futebol brasileiro, como foi o caso do “Gauchão 2004”.

Ainda nos anos 2000, a Universidade Braz Cubas, da cidade de Mogi das Cruzes, investiu no basquetebol masculino de alto rendimento e, também no beisebol (HATZIDAKIS, 2006). A região abriga uma das maiores comunidades japonesas do Brasil, esse fato explica a escolha do apoio ao beisebol, tradicional esporte praticado pelos japoneses dentro e fora do Japão.

Não há dúvida que o modelo norte-americano de gestão do esporte universitário de alto rendimento possibilita mais ações estratégicas que o brasileiro, haja vista que o investimento financeiro feito nas equipes universitárias dos EUA é muito maior que os das equipes brasileiras. Outro ponto a ser destacado versa sobre o fato que nos EUA há uma gestora profissional de todos os esportes universitários, no caso a já citada NCAA, lá (EUA), diferentemente do Brasil, não há universidades que disputem competições que não estejam no âmbito universitário. Isso quer dizer que as competições universitárias são tão organizadas, lucrativas e atraem o interesse da mídia, fazendo com que as IES possam competir entre elas e, que suas Ligas, sejam fortes por si só. No Brasil, os ‘Jogos Universitários’ não atraem grande interesse da mídia, nem das menores e mais regionais. Assim, as IES acabam por investir em ações de apoio, patrocínio ou em equipes próprias a fim de competirem em campeonatos esportivos das mais diversas modalidades esportivas. No Brasil, quando uma IES investe numa equipe própria, por exemplo, percebe-se que ela está um tanto quanto fora de sua natureza, pois disputa não com outras IES, mas com equipes de outros setores econômicos e, também esportivos. Para que fique mais claro, tomemos como exemplo duas situações: nos EUA a Universidade do Arizona enfrenta a Universidade de Washington numa partida de basquete; já no Brasil, o time de handebol da UMESP enfrenta o time do Esporte Clube Pinheiros. Percebe-se claramente que no caso dos EUA, ambas as IES pertencem à mesma natureza, pois são do setor educacional e, num dado momento, se enfrentam enquanto competidoras esportivas. No caso nacional temos uma IES e um clube esportivo, não há nenhuma compatibilidade natural entre ambas (UMESP/ E.C. Pinheiros). No Brasil, até que tenhamos uma liga universitária forte, como é o caso da NCAA, as universidades terão que continuar a investir em equipes de alto rendimento nas mais diversas modalidades esportivas.

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