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4. A CIÊNCIA EVOLUCIONÁRIA NO PENSAMENTO DE THORSTEIN VEBLEN:

4.2. UMA ANÁLISE DE THE INSTINCT OF WORKMANSHIP AND THE STATE OF

4.2.7. The machine industry

Conforme visto no desenvolvimento e formatação da era da manufatura, grande parte das condições necessárias para a institucionalização de uma indústria cada vez mais presente na vivência dos indivíduos foi consolidada na sociedade inglesa. Segundo Veblen o processo revolucionário de alteração no estado da arte industrial – vulgo revolução industrial – pode ser observado como um reflexo do período tecnológico da Inglaterra durante o terceiro quarto do século XVIII. Sobre este ponto, Veblen comenta ainda que o capitalismo não emergiu como uma coincidência em concomitância com a revolução industrial, mas sim foi um reflexo direto de uma nova forma de produção. Sendo que esta nova forma de produção desempenhou papel fundamental no desenvolvimento e prosperidade da manufatura, na ascensão da econômica de crédito, no gerenciamento capitalista da indústria, e no conhecimento tecnológico voltado ao desenvolvimento de máquinas.

Sob esta nova perspectiva e lógica de estruturação social, Veblen argumenta que há um acentuado processo de fusão entre a tecnologia e a ciência, ao menos no que se refere ao desenvolvimento de novos conhecimentos com objetivos produtivos. Dentre as novas características resultantes desta fusão, Veblen destaca as novas percepções do processo produtivo, pautado na mecânica e apreciação processual, caracterizando-se por ser não teleológico e desapaixonado por parte de seus produtores/executores. Mesmo frente a persistente existência de esforços físicos e mecânicos, estes atributos produtivos passam a mesclarem-se ainda mais com as atribuições de crescimento, fermentação e sistemas

industriais. Segundo Veblen, todos estes aprimoramentos tecnológicos auxiliaram em tornar o processo produtivo ainda mais impessoal, mensurável e sem ―mistérios‖.

Conforme visto, em períodos de conhecimento tecnológico escasso e menos diversificado, os trabalhadores tinham papel chave no desenvolvimento das atividades produtivas. Porém, com o advento das tecnologias industriais tecno-mecânicas, o papel do trabalhador é cada vez mais o de tutor das máquinas que desempenham a função que antes era de sua responsabilidade. Sendo assim, Veblen pontua que, cada vez mais, a inteligência e a informação fazem parte do conhecimento tecnológico e das demandas da realidade produtiva. Desse modo, há a necessidade de que os trabalhadores dediquem-se cada vez mais a suas respectivas especializações e façam parte dos ganhos de conhecimentos concernentes ao estado da arte industrial. Afinal, através do aumento da complexidade produtiva, nota-se também um crescimento na necessidade de preparação para o desempenho de atividades industriais.

Outra consequência bastante considerável, segundo Veblen, seria as readequações de vida dos indivíduos em suas novas lógicas laborais. Afinal, com o advento da indústria mecânica em seu sentido mais amplo, emergem também as novas percepções produtivas, associadas a turnos fabris e ao gerenciamento de tempo. Sendo assim, Veblen pontua que a vida moderna passa a ser regida pelos relógios dos trabalhos e pela disciplina. Consequentemente, conforme já comentado em outros momentos, neste novo estágio da organização industrial também ocorrem uma série de alterações nos hábitos de pensamentos em direção à lógica industrial moderna.

No que se refere às inovações e ao aprimoramento do conhecimento tecnológico, Veblen é bastante incisivo no destaque de que não só a lógica produtiva apresentou-se alterada, mas também as formas de consumo foram consideravelmente modificadas. Através desta consideração, o autor tem em mente apresentar as novas características de consumo e ―necessidade‖ que emergem juntas as novas formas produtivas em uma sociedade organizada através da emulação pecuniária. Sobre este ponto Veblen comenta que a invenção muitas vezes atua como a mãe da necessidade, principalmente no que se refere às facilitações do dia- a-dia e nos ferramentais de trabalho. Em mesmo sentido, Veblen também destaca o primordial papel desempenhado, desde então, das funções de publicidade e propaganda no estado da arte industrial. Afinal, agora não só as inovações surgem frente às suas demandas, mas também as inovações surgem como desejadas mesmo sem nunca antes terem sido imaginadas.

Sobre este ponto, deve-se salientar o importante papel das máquinas industriais e o estabelecimento da produção em série como os principais viabilizadores deste capitalismo de

consumo baseado na emulação pecuniária. Em termos gerais, as novas possiblidades produtivas, em síncrono com as novas demandas pecuniárias de exibição e emulação, fazem com que as novas lógicas de estruturação social redesenhem as perspectivas de consumo. Exatamente este seria o papel da publicidade como desenvolvedora e principal caracterizadora deste estado da arte industrial. Afinal, possibilitar a produção, a velocidade inovativa e as necessidades de consumo nos termos em que a partir deste ponto são desempenhados, somente seria possível frente a novas instituições viabilizadas por este novo estado da arte industrial.

Esta nova forma de vida institucionalizada pelos hábitos de pensamento de uma indústria mecânica e voltada ao consumismo, levaria os indivíduos a uma reestruturação de vivência. Esta reestruturação de vivência, concomitante ao conservadorismo dos hábitos de pensamento fariam, segundo Veblen, com que surgissem formas saudosistas de lembranças do passado. Segundo o autor, este saudosismo seria travestido, principalmente, pela busca da ―vida simples‖ ou então pelo ―retorno a natureza‖. Porém, em última instância, estes sentimentos seriam uma resposta conservadoras às novas rotinas industriais, pela perspectiva de Veblen. Concomitantemente à estes sentimentos saudosistas de origem conservadora, os avanços tecnológicos permitiram com o passar do tempo, o advento das máquinas e a desconexão parcial dos indivíduos com a realidade produtiva. Esta reestruturação teria viabilizado a formatação de hábitos de pensamento intermediários referentes a esse sentimento de futilidade relacionado à indústria moderna. Afinal, sob os protestos da artificialidade de uma vida industrial voltada a finalidades produtivas, uma série de características surgem como viabilizadoras de uma qualidade de vida moderna e adequada as novas demandas industrias. Um dos principais exemplos de Veblen neste sentido seria o advento das férias e demais institucionalizações laborais voltadas ao bem-estar do trabalhador e ao afago de suas necessidades privadas.

De forma a concluir, Veblen volta a comentar as características de sobreposição entre a era da manufatura e a era das maquinas industriais. Esta sobreposição seria o resultado do processo de cumulatividade, tanto do conhecimento tecnológico quando dos hábitos de vida que viriam a viabilizar esta última lógica produtiva. Veblen apresenta estes períodos como fornecedores de mudanças rápidas e significativas nas perspectivas de vida e na ascensão de novas possibilidades produtivas. Esta velocidade e significância seria o resultado das novas características da sociedade, assim como pelo estoque de conhecimento cada vez maior em quantidade de informação e em complexidade de funções. Desse modo, novas e mais significativas mutações apresentam-se como possíveis no estado da arte industrial.