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A INCAPACIDADE REPRESENTACIONAL DE UM MODELO ‘ESTRUTURALISTA’

No documento Para uma definição de maqueta (páginas 51-53)

II DA MAQUETA COMO REPRESENTAÇÃO

A INCAPACIDADE REPRESENTACIONAL DE UM MODELO ‘ESTRUTURALISTA’

Embora pareça libertá-los de uma aparente condição de subalternidade em relação às teorias, a visão estruturalista acaba por pôr em causa a dimensão representacional dos modelos e, consequentemente, das próprias teorias. Bailer-Jones (2009) identifica estes limites da visão estruturalista. “O problema com modelos, ou teorias, que são não-linguísticos é que nada nos dizem acerca do mundo, e isto contrasta com a minha premissa de que os modelos dizem-nos algo acerca dos fenómenos que surgem no mundo” 33 (Bailer-Jones, 2009: 129) – é com base nessa premissa que os modelos têm vindo até agora a ser aqui averiguados. Mas há um outro problema. Mesmo parecendo propícia à comparação de entidades não-linguísticas, já que as toma como estruturas, a visão estruturalista, independentemente agora do problema antes referido, ignora as dificuldades de discernir a estrutura de um fenómeno, embora esse procedimento seja

31 Tradução do autor. No original: “the meaning of the concept of model is the same in mathematics and

the empirical sciences” (Suppes citado por Frigg, 2002: 5).

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Tradução do autor. No original: ““non-linguistic entities” – that is, they do not contain propositions but are structures of elements” (Bailer-Jones, 2009: 129).

33 Tradução do autor. No original: “The problem with models, or theories, that are nonlinguistic is that they

do not tell us anything about the world, and this is in contrast to my premise that models tell us about phenomena that arise in the world“(Bailer-Jones, 2009: 129).

necessário para garantir a comparação com o modelo que o representa. Existindo, a estrutura de um fenómeno não será nem imediatamente evidente, nem facilmente acessível, pelo que “comparar um modelo com um fenómeno apresenta-se claramente como uma tarefa não muito trivial” 34 (Bailer-Jones, 2009: 130). Fica por esclarecer como poderá afinal o modelo representar o seu objecto.

Os dispositivos que dotam um modelo de dimensão representacional são clarificados por Frigg (2002) no texto ‘Models and Representation: Why Structures Are Not

Enough’, no qual também verifica os limites da visão estruturalista dos modelos. O seu

ponto de partida é próximo do de Bailer-Jones (2009); o problema é, porém, colocado num outro nível: mais do que a dificuldade, é a própria possibilidade de comparar um ‘modelo estruturalista’ com um fenómeno que está em causa. A visão estruturalista revela-se insustentável face aos argumentos que a sua definição aduz. Frigg discerne os referidos dispositivos de representação ao ensaiar a resolução deste paradoxo, para o que se apoia, em larga medida, em ‘Languages of Art’ de Goodman (1976). A revisão de Frigg (2002) incide nos processos de constituição quer de um modelo, quer do seu objecto. É primeiro observada a constituição do modelo. Assim, se, por um lado, se faz sustentar a capacidade de representação de um modelo assumindo-o como uma estrutura, por outro lado, essa assunção contorna o facto de uma estrutura, pela sua própria natureza, não poder conferir essa capacidade a um modelo. O problema da condição não-linguística dos modelos – o de nada nos dizerem acerca do mundo – referido por Bailer-Jones (2009: 129) é agora esclarecido. “Em si mesmo, as estruturas não são representações de coisa alguma do mundo. São partes de pura matemática, desprovidas de conteúdo empírico. Uma representação tem de possuir ‘conteúdo semântico’, isto é, deve estar em vez de qualquer coisa. Mas, per se, as estruturas não estão em vez seja do que for. Não indicam qualquer sistema do mundo real como objecto” 35 (Frigg, 2002: 5). Esta questão estaria porventura resolvida já que a visão estruturalista considerará que essas estruturas mantêm uma relação com esse objecto e que essa relação se constitui como um isomorfismo – esta concepção dos modelos provém, recorde-se, da ‘teoria dos conjuntos’. Deste modo, por um lado, a existência de relações permitiria desbloquear o ensimesmamento da estrutura, ao

34 Tradução do autor. No original: “comparing a model with a phenomenon clearly presents a not very

trivial task” (Bailer-Jones, 2009: 130).

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Tradução do autor. No original: “In themselves structures are not representations of anything in the world. They are pieces of pure mathematics, devoid of empirical content. A representation must possess ‘semantic content’, that is, it must stand for something else. But structures per se do not stand for anything at all. They do not indicate any real-world system as their object” (Frigg, 2002: 5).

permitir-lhe confrontar-se com um objecto; por outro lado, o facto de essa relação ser isomórfica proporcionar-lhe-ia uma dimensão representacional, já que garantiria uma correspondência, elemento a elemento e preservando os respectivos sistemas de relações, entre os elementos constituintes da estrutura do modelo e os da estrutura do seu objecto. Apesar das dificuldades já referidas, pressupunha-se que era possível detectar nesse objecto uma estrutura de natureza análoga à do modelo. Mas essa possibilidade revela-se inadequada, já que nem um isomorfismo estrutural poderá comportar-se como uma relação de representação – “tem as propriedades formais erradas: […] é simétrico, reflexivo e transitivo, enquanto a representação não o é” 36 (Frigg, 2002: 10) –, nem um objecto do ‘mundo real’ deterá, pronta e em conformidade com a ‘teoria dos conjuntos’, uma estrutura que possa ser comparada com a estrutura de um modelo – “os objectos per se não têm, de todo, estruturas. As estruturas têm de ser atribuídas ao sistema” 37 (Frigg, 2002: 23). Para poder comportar uma dimensão representacional e assim poder dizer algo sobre o mundo, um modelo não poderá nem ser apenas uma estrutura, nem requerer que o seu objecto se se lhe apresente como uma entidade univocamente estruturada. Será necessário algo mais. E é aí, nessa incapacidade de representação das estruturas que constituem um modelo, que Frigg identifica uma contradição e, portanto, a insustentabilidade da visão estruturalista dos modelos. Mas um modelo deve, de facto, poder dizer algo sobre o mundo.

No documento Para uma definição de maqueta (páginas 51-53)