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A respeito das demandas envolvendo estrangeiros no Tribunal Regional Federal da 1ª Região, foram encontradas 422 (quatrocentos e vinte e duas) incidências da chave de pesquisa

218 Nesse sentido, o art. 105, III, a da CRFB.

219 Conforme a ADI nº. 1.480/DF, de relatoria do Min. Celso de Mello, “O exame da vigente Constituição Federal permite constatar que a execução dos tratados internacionais e a sua incorporação à ordem jurídica interna decorrem, no sistema adotado pelo Brasil, de um ato subjetivamente complexo, resultante da conjugação de duas vontades homogêneas: a do Congresso Nacional, que resolve, definitivamente, mediante decreto legislativo, sobre tratados, acordos ou atos internacionais (CF, art. 49, I) e a do Presidente da República, que, além de poder celebrar esses atos de direito internacional (CF, art. 84, VIII), também dispõe - enquanto Chefe de Estado que é - da competência para promulgá-los mediante decreto”. (BRASIL, 2001).

utilizada nesta investigação. Desse total, 130 (cento e trinta) acórdãos apresentaram no polo ativo ou passivo da demanda o cidadão estrangeiro, o que representa, no universo pesquisado, 30,80% dos julgados. Os demais acórdãos, embora apresentassem o termo “estrangeiro” em sua ementa, restringiam-se a discutir, em uma análise mais pormenorizada, controvérsias envolvendo nacionais brasileiros em que a referência ao termo pesquisada se dava apenas para fazer menção à legislação estrangeira, à mercadoria estrangeira, ao cumprimento de pena no estrangeiro e a outras hipóteses que não se coadunam com o objeto desta pesquisa.

Dos 422 (quatrocentos e vinte e dois) acórdãos encontrados no site “http://jurisprudencia.trf1.jus.br/busca/” a partir da chave de pesquisa “estrangeiro”, 113 (cento e treze) versavam sobre matéria penal – 26,78% do total; 8 (oito) versavam sobre matéria civil – 1,90% do total; 114 (cento e catorze) versavam sobre matéria administrativa – 27,01% do total; 148 (cento e quarenta e oito) versavam sobre matéria tributária – 35,07% do total; 5 (cinco) versavam sobre matéria previdenciária – 1,18% do total; e 34 (trinta e quatro) versavam sobre matéria predominantemente processual – 8,06% do total, conforme referencial numérico e percentual indicado na Figura 6:

Figura 6: Gráfico indicativo, por matéria, do número de processos julgados pelo Tribunal Regional Federal da 1ª Região, no período de 01/06/2013 a 01/10/2017, cuja ementa do acórdão contém o termo “estrangeiro”.

Do universo de 130 (cento e trinta) acórdãos pesquisados em que havia uma parte estrangeira no litígio, 76 (setenta e seis) versavam sobre matéria penal – 58,46% do total; 2 (dois) versavam sobre matéria civil – 1,54% do total; 36 (trinta e seis) versavam sobre matéria administrativa – 27,69% do total; 4 (quatro) versavam sobre matéria tributária – 3,08% do total; 4 (quatro) versavam sobre matéria previdenciária – 3,08% do total; e 8 (oito) versavam sobre matéria iminentemente processual – 6,15% do total, conforme referencial numérico e percentual aduzido na Figura 7:

113 acórdãos (27%) 8 acórdãos (2%) 114 acórdãos (27%) 148 acórdãos (35%) 5 acórdãos (1%) 34 acórdãos (8%)

Acórdãos que contém o termo "estrangeiro" (TRF1)

Penal Civil Administrativo Tributário Previdenciário Processo

Figura 7: Gráfico indicativo, por matéria, do número de processos julgados pelo Tribunal Regional Federal da 1ª Região, no período de 01/06/2013 a 01/10/2017, com uma parte estrangeira.

Com os números apresentados, é possível constatar, na Figura 6, que o universo de processos que observam a chave de pesquisa “estrangeiro” não retrata um grau de concentração dos acórdãos em um determinado ramo jurídico, em comparação com o gráfico presente na Figura 7. Ainda que haja na Figura 6 a prevalência de demandas que versam sobre matéria tributária (35%), administrativa (27%) e penal (27%), nela se apresenta um gráfico com percentuais de incidência do termo “estrangeiro” mais diluídos e com proximidade numérica entre os ramos do Direito, sem a configuração clara da hegemonia de um deles, se comparado com a massiva incidência da matéria penal na Figura 7.

Analisar os dados do quantitativo de acórdãos que contém o termo “estrangeiro” sem o tratamento metodológico adequado poderia conduzir à falsa ideia de que o estrangeiro apresenta incursão uniforme nas demandas de natureza tributária, administrativa e penal na Justiça Federal da 1ª Região. Ocorre que, a teor do indicado na Figura 7, os processos que envolvem estrangeiros na Corte Regional tem natureza preponderantemente penal (58%) e, como consequência, o não-nacional acaba exercendo no microssistema da Justiça Federal o papel prioritário de réu nas demandas criminais promovidas pelo Estado brasileiro.

Mais da metade dos processos envolvendo estrangeiros no Tribunal Regional Federal da 1ª Região, assim como ocorrido nas demandas do Superior Tribunal de Justiça (Figura 3), possui natureza penal. Acrescido a esse dado, tem-se, em uma análise quanti-qualitativa dos acórdãos proferidos, que tais processos apresentam o maior número de atuações jurisdicionais denegatórias. Dos 76 (setenta e seis) acórdãos criminais analisados, 34 (trinta e quatro) ostentam algum tipo de violação ao direito do estrangeiro, quer pela quebra de um tratamento isonômico ao nacional que lhe deveria ser resguardado por sua condição de pessoa humana, quer em razão da inobservância de tratado internacional ou norma brasileira que lhe garanta proteção diferenciada. 76 acórdãos (58%) 2 acórdãos (2%) 36 acórdãos (28%) 4 acórdãos (3%) 4 acórdãos (3%) 8 acórdãos(6%)

Acórdãos com parte estrangeira (TRF1)

Penal Civil Administrativo Tributário Previdenciário Processo

Os dados colhidos demonstram que das 130 (cento e trinta) demandas submetidas à apreciação do Tribunal Regional Federal da 1ª Região, entre 01 de junho de 2013 e 01 de outubro de 2017, em que há partes estrangeira, 42 (quarenta e dois) acórdãos se mostraram denegatórios ao forasteiro: 34 (trinta e quatro) julgados em matéria penal – 80,95% do total; 1 (um) julgado em matéria civil – 2,38% do total; 4 (quatro) julgados em matéria administrativa – 9,52% do total; nenhum em matéria tributária – 0,00% do total; 1 (um) julgado em matéria previdenciária – 2,38% do total; e 2 (dois) julgados em matéria processual – 4,76% do total, conforme referencial numérico e percentual apontado na Figura 8:

Figura 8: Gráfico indicativo, por matéria, do número de processos julgados pelo Tribunal Regional Federal da 1ª Região, no período de 01/06/2013 a 01/10/2017, que importaram denegação de justiça ao estrangeiro.

O gráfico indicado na Figura 8 demonstra de maneira incontroversa que as demandas que transitam no Tribunal Regional Federal da 1ª Região, na área criminal, são as mais denegatórias ao direito do estrangeiro, representando mais de 3/4 (três quartos) do total de processos em que aquela Corte deixa de aplicar garantias judiciais. Temas como a inobservância do direito a assistência consular ao estrangeiro preso; a ausência de nomeação de intérprete ao estrangeiro preso em sua língua natal; a decretação de prisão preventiva para estrangeiro pelo simples fato de não manter vínculo com o Brasil ou ter residência fixa; a vedação à progressão de regime; e a criminalização do pedido de refúgio são alguns desses atos denegatórios na esfera penal que serão vistos no capítulo seguinte deste estudo.

Em termos absolutos, os julgados considerados flagrantemente prejudiciais ao estrangeiro correspondem a 32,31% do universo de 130 (cento e trinta) acórdãos em que esse nicho populacional é parte na Justiça Federal da 1ª Região, observado o recorte proposto. Na seara das demandas criminais, esse percentual sobe para 44,74% dos acórdãos analisados, e nas demandas de natureza civil, para 50,00%. Em indicadores numéricos, entretanto, as demandas criminais, como visto, representam a imensa maioria do quantitativo de ocorrências

34 acórdãos (81%) 1 acórdão (2%) 4 acórdãos (10%) 1 acórdão (2%) 2 acórdãos (5%)

Acórdãos com decisão denegatória ao estrangeiro (TRF1)

Penal Civil Administrativo Tributário Previdenciário Processo

denegatórias na Corte Regional, no total de 34 (trinta e quatro) casos, ao passo que as demandas civis, compreendem apenas 1 (um) litígio.

Essa relação entre o número de julgados cuja parte é estrangeira, em cada ramo do Direito, e o quantitativo de acórdãos em que houve denegação de justiça ao não-nacional está assentada na Figura 9, a seguir. Com os dados apresentados no gráfico é possível verificar também a relação entre o percentual inicial de demandas que envolvem estrangeiros no Tribunal Regional Federal da 1ª Região e as que posteriormente foram percebidas como denegatórias junto àquele órgão jurisdicional:

Figura 9: Gráfico que demonstra a relação entre a quantidade de acórdãos denegatórios de justiça ao estrangeiro no Tribunal Regional Federal da 1ª Região e a quantidade de acórdãos em que o estrangeiro é parte nesse tribunal, no período de 01/06/2013 a 01/10/2017.

Observando a Figura 9, percebe-se que ressalvados os litígios de natureza tributária, os demais tipos de demandas (penal, civil, administrativa, previdenciária e processual) apresentam percentual não desprezível de acórdãos em que há uma atuação denegatória do Tribunal Regional Federal da 1ª Região em relação ao estrangeiro. Tais dados são preocupantes na medida em que a Corte em análise é um dos principais tribunais brasileiros no que se refere à apreciação de causas fundadas em tratado ou contrato da União com Estado estrangeiro, de crimes previstos em tratado ou convenção internacional, de causas relativas a direitos humanos e de crimes de ingresso ou permanência irregular de estrangeiro220.

Além das causas referentes à prisão e a outras demandas de natureza penal já citadas, temas como a vedação à concessão da nacionalidade brasileira (natureza civil), o cerceamento à concessão de refúgio (natureza administrativa), a ausência de cômputo do tempo de serviço no estrangeiro para fins de aposentadoria (natureza previdenciária) e a ausência de nulidade

220 Nesse sentido, o art. 109, III, V, V-A e X da CRFB. 76 2 36 4 4 8 130 34 (45%) 1 (50%) (11%)4 (0%)0 (25%)1 (25%)2 42 (32%)

Acórdão com parte estrangeira x Acórdão denegatório (TRF1)

ante a inobservância de garantias judicias internacionais (natureza processual) também estão entre os casos recorrentes na jurisprudência do Tribunal Regional Federal da 1ª Região de uma atuação contrária ao direito do estrangeiro e que, portanto, são passíveis, ao menos em tese, de responsabilização internacional do Estado.

Os casos ilustrativos acima não esgotam, em uma análise qualitativa, as hipóteses denegatórias previstas na jurisprudência do órgão de cúpula da Justiça Federal da 1ª Região, tendo caráter meramente exemplificativo. Assim como realizado com os julgados do Superior Tribunal de Justiça, o posicionamento da Corte Regional sobre o trato com o estrangeiro será analisado, em sua integralidade, no capítulo seguinte, o qual apresentará o exame das ementas e do inteiro teor dos acórdãos prolatados pelos desembargadores do Tribunal Regional Federal da 1ª Região, em uma estrutura centralizada em torno dos temas em que foram percebidos, na execução da pesquisa, atos violadores ao direito do estrangeiro.

5 HIPÓTESES DENEGATÓRIAS DE JUSTIÇA AO ESTRANGEIRO NO PODER JUDICIÁRIO BRASILEIRO

A denegação de justiça, conforme já assentado nos capítulos anteriores, corresponde a situações processuais ou pré-processuais em que não há o conhecimento do pedido da parte pelo Estado-juiz ou mesmo quando há uma decisão proferida, esta omite requisito legal, é contraditória, obscura ou viola direito expresso, não cumprindo normas legais, de índole processual ou material, em prejuízo do legítimo interesse do jurisdicionado. Essa atuação estatal descompromissada, a qual viola garantias mínimas do indivíduo, é objeto de análise, dentro do recorte proposto, com o fim de avaliar a maneira como o Poder Judiciário brasileiro lida com demandas envolvendo os não-nacionais, tendo em vista a necessidade de catalogar as hipóteses em que ocorre um tratamento discriminatório à pessoa humana pela sua simples condição de origem e nacionalidade,

Neste capítulo, buscar-se-á fazer uma análise qualitativa da denegação de justiça ao estrangeiro no sistema jurídico brasileiro por meio do estudo das hipóteses de cerceamento expresso a esse grupamento populacional encontradas no universo dos 230 (duzentos e trinta) acórdãos pesquisados no Superior Tribunal de Justiça e dos 130 (cento e trinta) acórdãos pesquisados no Tribunal Regional Federal da 1ª Região em que o não-nacional é parte no litígio. As razões dessa investigação se fundamentam na existência de uma análise iniciada no capítulo anterior, a qual indica que aproximadamente 1/3 (um terço) dos acórdãos proferidos em ambos os tribunais acabam por se configurar denegatórios ao estrangeiro, representando um quantitativo significativo do universo de julgados.

Para a análise proposta, serão identificadas as hipóteses denegatórias de justiça ao estrangeiro na jurisprudência brasileira passíveis de configurar ilícito internacional. Será aproveitado o exame de julgados do Superior Tribunal de Justiça e do Tribunal Regional Federal da 1ª Região utilizado no capítulo anterior, destacando-se inferências denegatórias em processos que contém parte estrangeira, como: a inobservância do direito a assistência consular ao estrangeiro preso; a ausência de nomeação de intérprete na língua do estrangeiro preso; a impossibilidade de o estrangeiro recorrer em liberdade; a decretação ou manutenção de prisão preventiva ao estrangeiro pelo simples fato de não manter vínculo com o país ou ter residência fixa; a impossibilidade de substituição de prisão preventiva por medida alternativa em razão de o réu ser estrangeiro; entre outras.

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