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5.1 Hipóteses denegatórias ao estrangeiro no Superior Tribunal de Justiça

5.1.11 Citação de estrangeiro por edital válida em processo brasileiro e citação a brasileiro

Nem sempre a igualdade de tratamento entre nacionais e estrangeiros ocorre no cerne do processo civil brasileiro. A lei vigente traz algumas discriminantes no tratamento processual dispensado à parte a depender do seu domicílio e do local de julgamento da causa264, ainda que o Código de Processo Civil brasileiro estabeleça, expressamente, que deverá haver igualdade de tratamento entre nacionais e estrangeiros, residentes ou não no Brasil, em relação ao acesso à justiça e à tramitação dos processos, assegurando-se assistência judiciária aos necessitados (art. 26, II).

Esse contexto de igualdade em face da lei é robustecido pelo art. 24 da Convenção Americana sobre Direitos Humanos, o qual institui que todas as pessoas são iguais perante a Lei e que, por conseguinte, têm direito, sem discriminação, a igual proteção da lei. Nada obstante, existe, no desenvolvimento da cooperação internacional, precedentes do Superior Tribunal de Justiça que sustentam a invalidade da citação de brasileiros no exterior que não tenham sido feitas na modalidade presencial e, estando esses no Brasil, exige-se para o outro Estado o uso de carta rogatória para essa finalidade, ao passo que se vem admitido a citação do estrangeiro por qualquer modalidade de cientificação:

PROCESSUAL CIVIL. SENTENÇA ESTRANGEIRA CONTESTADA. ARTIGO 15, "B", DA LEI DE INTRODUÇÃO ÀS NORMAS DO DIREITO BRASILEIRO. FALTA, NO PROCESSO ESTRANGEIRO, DE CITAÇÃO VÁLIDA DE REQUERIDA DOMICILIADA NO BRASIL, SEGUNDO A ORDEM JURÍDICA BRASILEIRA.

1. Nos termos do artigo 15, "b", da Lei de Introdução às Normas do Direito brasileiro, constitui requisito indispensável à homologação de sentença estrangeira "terem sido as partes citadas ou haver-se legalmente verificado à revelia".

2. De acordo com a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, para a homologação de sentença estrangeira, verifica-se a validade da citação de acordo com a lei estrangeira se o requerido era domiciliado, ao tempo da citação, no estrangeiro. E se o requerido, ao tempo da citação, era domiciliado no Brasil, sua citação haverá de ser válida segundo as normas do sistema jurídico brasileiro. Precedentes.

264 CPC, art. 24. A ação proposta perante tribunal estrangeiro não induz litispendência e não obsta a que a autoridade judiciária brasileira conheça da mesma causa e das que lhe são conexas, ressalvadas as disposições em contrário de tratados internacionais e acordos bilaterais em vigor no Brasil.

3. Caso em que a requerida era e é domiciliada no Brasil. Situação na qual a validade de sua citação para responder ao processo no estrangeiro há de ser verificada de acordo com o sistema jurídico brasileiro, segundo o qual a citação por edital apenas é válida após tentada a citação por meio de Carta Rogatória. Não havendo sido tentada sua citação por Carta Rogatória, mas apenas por carta simples remetida pelo correio, inviável a homologação da sentença estrangeira. Precedentes. 4. Homologação indeferida (SEC 13332/EX. Rel. Min. Benedito Gonçalves, Corte Especial, julgado em 04/05/2016, DJe 19/05/2016).

PROCESSUAL CIVIL. SENTENÇA ESTRANGEIRA CONTESTADA. RECONHECIMENTO DE PATERNIDADE. DECISÃO PROFERIDA PELA JUSTIÇA DE PORTUGAL. REQUERIDO DOMICILIADO NO BRASIL. CARTA ROGATÓRIA. NECESSIDADE. CITAÇÃO POSTAL INVÁLIDA. HOMOLOGAÇÃO INDEFERIDA.

1. No caso, especificamente no tocante ao ponto objeto da contestação, verifica-se que o requerido residia no Brasil à época da tramitação do processo estrangeiro, tendo a sua citação sido realizada pela via postal, conforme admitido em réplica, pela própria parte autora.

2. A jurisprudência desta Corte Superior de Justiça é no sentido de que, para homologação de sentença estrangeira proferida em processo que tramitou contra pessoa residente no Brasil, revela-se imprescindível que a citação tenha sido por meio de carta rogatória.

3. Pedido de homologação de sentença estrangeira indeferido (SEC 14851/EX. Rel. Min. Og Fernandes, Corte Especial, julgado em 05/04/2017, DJe 19/04/2017). O Superior Tribunal de Justiça, responsável por rever decisões que contrariem tratado internacional ou lhes neguem vigência, não vem atuando, nesse pormenor, no âmbito de sua competência institucional. Acordos internacionais que apregoam a igualdade de tratamento e as normas internas que pregam o respeito às garantias do devido processo legal nem sempre são conservadas em prol do não-nacional. A exceção a essa prática fica por conta de alguns poucos julgados em que a preocupação com a formalidade e efetividade desse chamamento processual do estrangeiro é apresentada:

HOMOLOGAÇÃO DE SENTENÇA ESTRANGEIRA. ALIMENTOS. CONVENÇÃO DE NOVA YORK E LEI DE ALIMENTOS. LEGITIMIDADE ATIVA DO MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL. INSTITUIÇÃO INTERMEDIÁRIA. TRADUÇÃO JURAMENTADA E CHANCELA CONSULAR. DISPENSA. REVISÃO DE ALIMENTOS. AUSÊNCIA DE CITAÇÃO. SENTENÇA PARCIALMENTE HOMOLOGADA. [...]

5. Pelos documentos juntados na inicial, verifica-se que o requerido foi citado, tendo ciência da decisão que lhe foi imputada quanto ao pagamento da pensão alimentícia. Porém, essa conclusão não pode ser repetida quando analisados os documentos juntados com a decisão do juízo polonês que majorou a referida verba (e-STJ fls.75/106), uma vez que não há qualquer indicação de que o requerido foi citado ou que compareceu espontaneamente no juízo alienígena, tampouco que ocorreu a revelia. Sendo assim, a que tudo indica, ele não foi avisado da demanda, nos moldes legais, e o exercício do contraditório restou prejudicado.

6. Quanto à homologação da segunda sentença em que o Tribunal estrangeiro majorou o valor da pensão alimentícia para cada filha, o pedido não deve prosperar. É que não há qualquer indicação de que o requerido foi citado ou que compareceu espontaneamente no juízo alienígena, tampouco que ocorreu a revelia. Sendo assim, a que tudo indica, ele não foi avisado da demanda, nos moldes legais, e o exercício do contraditório restou prejudicado. Ademais, salienta-se que, neste período da tramitação da revisão de alimentos, ele residia no Brasil, o que torna imprescindível sua citação via carta rogatória, o que não ocorreu.

7. Homologação parcialmente deferida (SEC 10380/EX. Rel. Min. Mauro Campbell Marques, Corte Especial, julgado em 18/03/2015, DJe 30/03/2015).

Mesmo para a hipótese de Sentença Estrangeira Contestada (SEC)265, como é o caso da classe processual das demandas colacionadas neste tópico, é certo que um juízo de delibação mínimo de faz necessário pelo Poder Judiciário brasileiro, através do qual é possível exercer a verificação da paridade de armas na relação processual submetida à homologação, mediante a observação de se partes foram citadas de maneira adequada e equânime para a composição da lide.

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