Com essa ótima questão de prova, apresentamos um “resumão” sobre FLEXÃO DE INFINITIVO, um dos pontos mais controversos no estudo da nossa língua.
O infinitivo é uma das três formas nominais do verbo, junto com o gerúndio e o particípio. O infinitivo pode ser IMPESSOAL (SEM SUJEITO - não se flexiona) ou PESSOAL (possui sujeito e com ele pode concordar, havendo, nesse caso, flexão de número e pessoa). O infinitivo PESSOAL pode se flexionar (vender, venderes, vender, vendermos, venderem) ou não, a depender da construção.
- Casos em que o infinitivo se flexiona obrigatoriamente - SUJEITOS DIFERENTES 1. Quando o sujeito da forma nominal estiver claramente expresso, ou seja, o infinitivo estiver acompanhado de um pronome pessoal ou de um substantivo.
A eleição de 2006 será o momento de os eleitores decidirem por uma renovaçao
do Congresso Nacional.
O sujeito do verbo SER é “A eleição de 2006”.Já o sujeito de DECIDIR é “os eleitores”.Como são sujeitos diferentes, a flexão do infinitivo é obrigatória.
2. Quando se deseja indicar o sujeito não expresso a partir da desinência verbal:
Está na hora de irmos embora.
Observe que, se não houvesse a indicação pela desinência, não ficaria claro quem deveria ir embora (Está na hora de ir embora... quem vai embora????). Nesse caso, a flexão passa a ser obrigatória para definir o sujeito da forma nominal.
- Caso de flexão facultativa do infinitivo — SUJEITO DO INFIN ITIVO JÁ ESTÁ EXPRESSO EM ORAÇÕES ANTERtORES.
Quando o sujeítp do infinitivo já estiver expresso em outra oração, geralmente na oração prin cipal, a flexão torna-se facultativa.
Recomenda-se, inclusive, omitir a flexão para o texto mais enxuto e objetivo, a não ser que exista o risco de ambigüidade, caso em que a flexão será necessária para dissipar qualquer dúvida (caso 2 da flexão obrigatória).
De qualquer forma, a flexão do infinitivo, nesses casos, é opcional ~ pode-se flexionar ou não, a critério do autor.
Foi exatamente isso o que aconteceu na passagem do texto:
“O primeiro deles, o penhor, visava dar a possibilidade às classes populares de obterem um auxilio imediato em horas de dificuldades econômicas mais prementes...”
Flexionando-se o verbo OBTER, o autor deixou ciaro que o verbo possuía como SUJEITO o sintagma “c/asses populares”, expressão que exercia, na oração anterior, a função sintática de objeto indireto (dar algo a aiauémY Sem flexão, o verbo poderia estar sendo usado de forma genérica (o ato de...) - forma IMPESSOAL - ou mesmo se referir a outro antecedente no singular, conforme sugeriu o examinador (o mesmo sujeito de “visava”), ainda que essa análise não faça sentido algum. Item certo.
Na próxima questão, veremos mais um caso de emprego do infinitivo. Ü2I (UnB CESPE/ANATEL - T écnico/2006 - adaptada)
Como não usar o telefone celular
1 É fácil ironizar os possuidores de telefones celulares. Mas é necessário descobrir a qual das cinco categorias eles pertencem. Primeiro, vêm as pessoas fisicamente incapacitadas, 4 ainda que sua deficiência não seja visível, obrigadas a um
contato constante com o médico ou com o pronto-socorro. Depois, vêm aqueles que, devido a graves deveres profissionais,
7 são obrigados a correr em qualquer emergência (capitães do corpo de bombeiros, médicos, transplantadores de órgãos). Em terceiro lugar, vêm os adúlteros. Só agora eles têm a
10 possibilidade de receber ligações de seu parceiro secreto sem que membros da família, secretárias ou colegas mal-intencionados possam interceptar o telefonema.
13 Todas as três categorias enumeradas até agora
merecem o nosso respeito: no caso das duas primeiras, não nos
importamos de ser perturbados em restaurantes ou durante uma 16 cerimônia fúnebre, e os adúlteros tendem a ser muito discretos.
Seguem~se duas outras categorias que, ao contrário, representam um risco. A primeira é composta de pessoas 19 incapazes de ir a qualquer lugar se não tiverem a possibilidade
de conversar fiado acerca de frivolidades com amigos e parentes de que acabaram de se separar. Elas nos incomodam, 22 mas precisamos compreender sua terrível aridez interior,
agradecer por não estarmos em sua pele e, finalmente, perdoar. A última categoria é composta de pessoas preocupadas 25 em mostrar em público o quanto são solicitadas, especialmente
para complexas consultas a respeito dos negócios: as conversas
que somos obrigados a escutar em aeroportos ou restaurantes
28 tratam de transações monetárias, atrasos na entrega de perfis metálicos e outras coisas que, no entendimento de quem fala, dão a impressão de que se trata de um verdadeiro Rockfeller. 31 O que eles não sabem é que Rockfeller não precisa de
telefone celular, porque conta com um plantei de secretários tão vasto e eficiente que, no máximo, se seu avô estiver morrendo,
PORTUGUÊS — Questões comentadas — CESPE
34 por exemplo, alguém chega e lhe sussurra alguma coisa no ouvido. O homem poderoso é justamente aquele que não é obrigado a atender todas as ligações, muito pelo contrário: 37 nunca está para ninguém, como se diz.
Portanto, todo aquele que ostenta o celular como
símbolo de poder, na verdade, está declarando de púbiico sua 40 condição irreparável de subordinado, obrigado que é a pôr-se
em posição de sentido, mesmo quando está empenhado em um abraço■, a qualquer momento em que o chefe o chamar.
Umberto Eco. O seaundo diário mínimo. Seraio Flaksman (TradA. Rio de Janeiro: Record. 1993. d. 194-6 fcom adaptações).
Com base nas idéias e estruturas do texto de Umberto Eco, julgue os itens a se guir:
O segmento “não nos importamos de ser perturbados" (R. 14-15) tem sentido corres pondente ao das seguintes estruturas: não nos importamos de sermos perturbados e não importa que nos perturbem.
Acordo Ortográfico: houve alteração na grafia de ideia(s)-
Mais alguns casos de flexão de infinitivo. Casos de flexão do Infinitivo em voz passiva
Com relação à flexão do infinitivo passivo, no esquema PREPOSIÇÃO + SER (INFINITIVO) + PARTICÍP10, há duas possibilidades:
1 - Quando os sujeitos das orações são distintos e o do infinitivo vem togo após a preposi ção, a flexão do infinitivo é FACULTATIVA, ou seja, as duas formas (flexionada ou não) estão certas, dando-se preferência à flexão verbal, em função da proximidade com o particfpio (que se encontra flexionado).
Envio os documentos para ser/serem analisados.
• O sujeito do verbo ENVIAR é o pronome “eu" (identificado peia desinência - é o antigo “sujeito j ocuito”, atualmente chamado de “sujeito elíptico”). Já o sujeito de SER ANALISADOS é “os j. documentos", termo que, na oração anterior, exercia a função de objeto direto.
f 2 - Prefere-se a não flexão:
; a) quando o sujeito (plural) das duas orações for o mesmo:
"... nao nos importamos de SER/SERMOS perturbados...” b) quando se tem um adjetivo antes da preposição:
Os alimentos estavam prontos para ser/serem comercializados.
!. Observe que se trata de PREFERÊNCIA, a depender da ênfase que o autor queira dar. Não i podemos tachar de certo ou errado. Ao não flexionar, valoriza-se a ação; com a flexão, dá-se | ênfase ao sujeito que a pratica. Muitas vezes, a escolha é feita por questão de eufonia ou de clareza textual. Portanto, ao afirmar que a oração original tem o sentido equivalente à que ; apresenta a flexão do infinitivo, a assertiva está correta.
A segunda opção do examinador na questão modifica a estrutura, sendo, também, válida: o verbo IMPORTAR, nesse sentido (= ter importância), é intransitivo e o sujeito _vem sob forma | oracional {que nos perturbem), em voz ativa = ISSO (que nos perturbem) NÃO iMPORTA. L Como o sujeito é oracional, corretamente o verbo IMPORTAR ficou na 3.a pessoa do singular.
O infinitivo não se flexiona quando:
- for usado em sentido genérico (“o ato de”); - for o verbo principal de uma locução verbal.
Nesses casos, é IMPESSOAL. É disso que trata a próxima questão, que remete ao mesmo texto. Item certo.
m As formas verbais de infinitivo “ir” (R.19), “conversar” (R.20) e “separar” (R.21) po deriam assumir corretamente as seguintes formas flexionadas, respectivamente: irem; conversarem; separarem.
!'■ Vamos retomar a passagem do texto:
A primeira é composta de pessoas incapazes de ir a qualquer lugar se não tiverem a possibilidade de conversar fiado acerca de frivolidades com amigos e parentes de que
■ acabaram de se separar,
■■■ Em ""pessoas incapazes d e ..”, ao verbo !R, na seqüência, é facultada a flexão: “pessoas
incapazes de IR/IREM a qualquer lugar”, uma vez que o infinitivo vem complementar o
: sentido de um adjetivo {incapazes), mas é dada preferência à forma não flexionada (como foi ]v apresentada no texto originalmente).
- Já o verbo CONVERSAR vem compiementar o sentido de um substantivo abstrato “possibilidade”, podendo ser empregado na forma impessoal (sentido genérico) ou, se flexionado, retomando o sujeito da oração anterior (possibilidade de [as pessoas] conversarem).
: O verbo SEPARAR, contudo, NÃO PO DERIA SER FLEXIONADO, uma vez que atua como verbo principal em uma locução verbai = [as pessoas] acabaram de se separar. Neste caso, . somente o verbo auxiliar (ACABAR) irá se flexionar da forma como o faria o verbo principal, que se mantém no infinitivo impessoal (sem flexão). Na dúvida, faça o teste com outros pro- nomes e verá que o verbo principal se mantém invariávei: “eu acabei de me separar", “nós acabamos de nos separar”, “eSes acabaram de se separar”. Item errado.
g n (UnB CESPBIAB1N - Oficial de Inteligência/2008) 1 A hipótese dos campos mórficos, criada pelo inglês
Rupert Sheidrake, representa uma salutar sacudida na biologia, com conseqüências em vários outros ramos da ciência. 4 Nos seres humanos, a ressonância mórfíca pode ser uma
ferramenta utífíssima para explicar o aprendizado, em especial o de idiomas. Pela teoria, em gera! é mais fácil aprender o que 7 outros já aprenderam antes, graças à memória coletiva acessível
a todos os indivíduos da mesma espécie. Assim, os campos mòrfícos podem representar um novo ponto de partida para 10 compreendermos nossa herança cultural e a influência de nossos
ancestrais. O próprio biólogo reconhece, porém, que sua
concepção tem um espaço em branco a ser preenchido. Se, por um 13 lado, ela ajuda a explicar o modo como os padrões de organização
são repetidos, por outro, não explicita como eles se colocam em primeiro lugar. Mas essa lacuna é estratégica, revela Sheidrake: 16 "Isso deixa aberta a questão da criatividade evolucionária”.
Planeta, ago./2005 (com adaptações).
No que se refere à organização das idéias no texto acima, julgue o próximo item: A flexão de primeira pessoa do piurai em “compreendermos” (R.10) indica que o sujeito da oração em que esse verbo ocorre é diferente do sujeito da oração anterior. “Assim, os campos mórficos podem representar um novo ponto de partida para compreender- P mos nossa herança cultural e a influência de nossos ancestrais
PORTUGUÊS - Questões comentadas - CESPE
Se o infinitivo não tivesse sido flexionado, restaria uma dúvida em relaçao ao seu sujeito (até mesmo em relação à existência desse sujeito).
Sem a flexão, seria possível classificar esse verbo como impessoal (sem sujeito), veja só:
“Assim, os campos mórfícos podem representar um novo ponto de partida para [o aío de ... = sentido genérico] compreender nossa herança cultural e a influência de nossos an cestrais".
Com a flexão, deixa-se claro que o sujeito de CO M PR EENDER é o elíptico “nós”, diferente mente do sujeito da oração anterior, “campos mórficos”. item certo.
ÜD (UnB CESPE/DPF - Escrívão/2002 - adaptada)
1 No nosso cotidiano, estamos tão envolvidos com a violência
que tendemos a acreditar que o mundo nunca foi tão violento como agora: pelo que nos contam nossos pais e outras pessoas mais velhas, 4 há dez, vinte ou trinta anos, a vida era mais segura, certos valores eram
mais respeitados e cada coisa parecia ter o seu lugar. Essa percepção pode ser correta, mas precisamos pensar nas 7 diversas dimensões em que pode ser interpretada. Se ampliarmos o
tempo histórico, por exemplo, ela poderá se mostrar incorreta. Embora a violência não seja um fenômeno dos dias de hoje, 10 pois está presente em toda e qualquer sociedade humana, sua
ocorrência varia no grau, na forma, no sentido que adquire e na própria lógica nos diferentes períodos da História. O modo como o homem a 13 vê e a vivência atualmente é muito diferente daquele que havia na
Idade Média, por exemplo, ou em outros períodos históricos em outras sociedades.
Andréa Buoro et al. Violência urbana - dilemas e desafios. São Paulo: Atuai, 1999, p. 12 (com adaptações).
Com reiação ao emprego das estruturas lingüísticas do texto, juigue o item abaixo: Na linha 5, a forma verbal “parecia ter”, empregada no singular, é gramaticalmente in variável: mesmo que o sujeito fosse piurai, ela teria de ser empregada no singular. Acordo Ortográfico: houve alteração na grafia de “lingüísticas”.