• Nenhum resultado encontrado

reconhecido como cultural e a sua produção, educação, aprendizagem e disseminação, valorizada como subjetiva. Recentemente as Escolas de Arte e Design, em diversos países, foram assimiladas pelas Universidades, a investigação e os graus - Mestrado e Doutoramento - tornaram-se comuns, e conceitos como investigação por prática (‘practice-based’ ou ‘practice-led research’) começam a tornar-se numa “realidade”.

Por isso, sinto necessidade de questionar a prática criativa, a sua investigação e o sistema das políticas de educação, visto que a singularidade da conjugação de prática com/ como investigação ainda é um fenómeno recente nos campos da arte e da academia, e existem, como tal, indefinições e confusões acerca de normas, valores, métodos e modelos.

Os desacordos que se geraram sobre a instituição da investigação artística por prática continuam até hoje, e a disputa foca-se no dilema do que distingue a investigação baseada, ou guiada, pela arte da própria prática artística. A questão é sobre se o potencial epistemológico é inerente à conceção, produção e fruição da arte, tem sido central na discussão.

Na condição imposta pela atuação prática exposta na praxis artís¬tica, vejo toda uma qualidade que se afirma na produção de conhecimento, visto como a filosofia em ação, ou dito de outra forma, a concretização da filosofia em objetos físicos4.

Partindo da noção de Martin Heidegger da “usabi¬lidade” (handability) compreendo uma forma de acentuar a investigação artística como modo de conhecimento que deriva do próprio fazer e dos sentidos.

Convoco assim a ideia de que a investigação assente no projeto deve ser vista como uma “nova espécie” (forma) de investigação, geradora de questões que assentam na subjetividade, na interdis¬ciplinaridade/transdisciplinaridade e em metodologias emergentes, que, por ventura, têm o potencial de expandir as fronteiras do saber na aca¬demia e dessa forma se aproximarem mais da pratica humanizante/ humanizada de que a própria arte nos dá conta. A identidade dos criadores é intrínseca à geração de objetos e experiências subjetivas, personalizadas e singulares, como o próprio corpo ou toque (mesmo que virtual em muitas situações hoje em dia).

O uso de materiais e tecnologias, ou do engajamento físico com elas, tem características distintas como modo de ser no mundo, dando significado e identidade ao artista. Estas características influenciam o modo de pensar acerca

Resumo

A relação entre Arte e Tecnologia, ao propor novas abordagens, interferindo quer nos processos criativos, quer na perceção, mesmo no ambiente em que vivemos e, até, no campo da estética, convocam novas reflexões com o intuito de perceber a complexa, e singular, relação da arte, da política e da sociedade que se espelha através da obra que reflete o pensamento artístico a si inerente. Proporcionando novos paradigmas vinculados à simbiose do pensamento sistêmico, artístico, científico, tecnológico, estético e político, a praxis artística não fica indiferente à tensa relação entre prática e teoria.

Como estabelecer uma necessidade entre profissionais (artistas) e professores (investigadores/artistas) do ensino artístico para encontrarem uma aproximação à investigação que mantenha a sua identidade de artistas e um equilíbrio entre, não só o ensino e a proficiência criadora, mas também, entre esse diálogo e a investigação? Como fazer e Humanizar a investigação?

Palavras-chave: arte; investigação; academia; práxis;

teoria.

O Encontro Internacional de Arte e Tecnologia 2 , ao longo dos sucessivos encontros - este é o 14° Encontro Internacional de Arte e Tecnologia3 (#14.ART), e procura versar, especificamente, sobre ARTE E DESENVOLVIMENTO HUMANO -, tem vindo a possibilitar, de uma forma genérica, uma posição privilegiada como local para o exercício de reflexões académicas, no âmbito dos estudos de arte. A arte tem vindo a ampliar o seu campo de ação - através das facilidades inerentes, advindas das tecnologias - convertendo a própria tecnologia como meio para o desenvolvimento da arte, onde conceitos, tais como: território, materialidade/imaterialidade e tempo-real – onde a noção de coautoria (exposta no trabalho colaborativo requerido pela interação através da convergência do autor, da obra e do publico/utilizador ativo) reconfigura a própria noção de autoria.

Como a arte produzida pelos meios tecnológicos (digitais) expande o campo de ação, isso implica que os limites da designação que requerem um fechamento das ideias em arte fiquem ainda mais porosos, o que nos obrigam a rever os sistemas de ensino tradicionais.

E como a arte é também uma ocorrência social e política, segundo Luc Ferry (1993), porque mostra as mutações conceptuais ao longo dos tempos, deixa antever, e torna inteligível, o que de mais puro constituí a essência humana. O contexto onde as artes operam, lato sensu, é geralmente

1 PAULO BERNARDINO BASTOS é doutorado (Ph.D.) em ESTUDOS DE ARTE e, no momento, é o Diretor do Programa de Pós-graduação

(Mestrado) em “Criação Artística Contemporânea”, no Departamento de Comunicação e Arte da Universidade de Aveiro (Portugal), onde é docente – pbernar@ua.pt: (+351) 234 370 389. Estudou Escultura na Faculdade de Belas Artes (Porto), em Portugal, e fez um MA-Escultura na Royal College of Art, em Londres. Enquanto Artista começa por utilizar, como meio de expressão, técnicas mais tradicionais enquadradas pelas disciplinas do desenho e da escultura. Procurando articular o seu campo de investigação entre a prática e a teoria, desenvolve o seu universo de investigação olhando para as imagens produzidas através das várias mediações tecnológicas (da pintura tradicional ao digital contemporâneo). Tem participado em vários eventos internacionais como conferencista e como artista.

Como defendo a importância da prática e dos seus objetos resultantes, talvez o enquadramento devesse contemplar uma produção artística apresentável em espaços culturais com o mesmo grau de profissionalismo que as publicações em conferências e revistas.

Concordando com Judith Mottran (2009), quando defende que: se os resultados práticos de um projeto de investigação são entendidos como manifestação de uma confirmação, ou negação, de uma hipótese, ou da evidência da contribuição para o conhecimento da área de estudo, a prática passa a ser um método. E a tensão entre escrita e prática, ou entre teoria e prática, dissipa-se. Pois as conexões e interdependências são explícitas.

Sendo a teoria o enquadramento da hipótese e a formulação das perguntas e dos objetivos do estudo, a produção prática torna-se a evidência e a práxis a metodologia.

A distinção entre prática artística e investigação poderia ser resolvida pela afirmação de que: se não existe uma clarificação de hipótese, perguntas e objetivos, a prática é profissão e não investigação por prática.

Mas a questão da validação da prática não é simples... e não quero deixar de mencionar que, inclusive, mesmo dentro das instituições que conferem os graus, parece haver pouco reconhecimento, orientação ou legitimação do processo e das questões que podem ser levantadas pelos projetos práticos de investigação - assim como políticas de validação das práticas dos próprios membros do corpo docente nas Universidades.

Os projetos artísticos desenvolvidos com enfase na tecnologia digital, em particular, abriram o discurso artístico trazendo para dentro da investigação ideias que se expandem muito além motivação instrumental.

Projetos multimídia, interativos e híbridos, exigiram a sua própria investigação para orientar processos de produção e de recepção ou até mesmo produzir as obras, e tem usufruído de todos os métodos e parâmetros acessíveis, o que por si só contribui para as dinâmicas dos complexos processos de hibridização.

A complexidade resultante do grande número de métodos de pesquisa é uma vantagem, sendo que a mesma não é ainda, realizada em conformidade com diretrizes metodológicas fixas. Em seus exemplos mais interessantes, ela é transdisciplinar e, portanto, segue uma linha de desenvolvimento que tem vindo de ser, arduamente, enquadrada por culturas tradicionais de pesquisa nas áreas de ciências humanas.

Este entendimento, básico, transdisciplinar, representa uma vantagem considerável sobre a maioria das abordagens disciplinares de pesquisa que lida com a arte em universidades científicas - se assumirmos que a investigação artística é também força motriz da inovação para a produção e recepção da arte.

Com certeza que os métodos de investigação artística, assim como os adventos dela, são por vezes difíceis de compreender e de quantificar, mesmo de avaliar, em termos tradicionais académicos.

da prática em investigação avançada, como modelos conceptuais que são gerados para acomodar atividades que caracterizam o valor do produzido, não constituindo argumento de que a prática criativa é uma forma de investigação5.

O que se tem visto acontecer é que apesar da centralidade e importância da prática estar reconhecida pelos pares e pelos alunos, a sua utilidade, como base para desenvolver agendas de investigação em contexto académico, tem vindo a ser posta à prova.

Se por parte da “instituição” se sente a intenção de profissionalizar a sua força de trabalho e a dar crédito a esta “nova-vaga”, pelas provas do profissionalismo dos seus docentes/investigadores , por parte do “mundo artístico” ainda dominam os valores da prática acima da valorização académica e de investigação.

Apesar das estruturas de qualificação para Mestrados e Doutorados em Artes assentarem em teorias educacionais e de ensino, e implicarem modelos conhecidos de erudição e validação de conhecimento, a complexidade da questão da investigação conduzida pela prática quase que só tem resolução casuisticamente. Em investigação, o foco está na criação e interpretação de conhecimento e os métodos pelos quais se conseguem atingir esses objetivos. Grande parte dos projetos de investigação em estudos de arte emergem da reflexão entre as práticas (suas ou de outros autores) e o conhecimento escrito.

A exegese7 - documento que clarifica a história, conceitos e tecnologias que sustentam o trabalho criativo e levam a novos pensamentos, formas de fazer e teorias, segundo Duxbury e Grierson (2007:8) - oferece uma oportunidade ao investigador/artista de elucidar o porquê e como os processos específicos em causa, através das diversas mutações, geram no seu projeto prático modelos alternativos de compreensão.

Ao mesmo tempo, o investigador, deste modo, também é capaz de elaborar o significado destes modelos dentro de um contexto de pesquisa. A exegese é um diferencial que destaca a replicação de processos de inquérito e seu potencial de aplicação inovadora para além da produção dos artefactos.

No entanto, a questão que se torna pertinente para mim é: que tipo de novo conhecimento/entendimento propôs ou propõe a pra¬tica ou o trabalho de estúdio, assim como metodologia, que será gerado que não possa ter sido revelado utilizando outros tipos de abordagem de investigação?

Os alunos de áreas criativas apresentam muitas vezes uma falta de vontade (e de treino) em refletir por escrito, no entanto escrever com lucidez e precisão sobre a prática é essencial para contribuições avançadas para um campo dentro da arena universitária8. Os regulamentos da universidade, geralmente enquadram a tese de doutorado como um argumento evidenciado através de um texto escrito (o que aqui chamo exegese), possivelmente, alguns objetos e uma discussão. No entanto, a avaliação final é articulada através da linguagem e discussão. Apresentações artísticas podem ter um papel contributivo para uma tese, mas os académicos (humanidades) defendem que são incapazes de falar por si mesmas. A aposta por parte da Instituição tem sido de doutorados de qualidade publicável, e isso significa textos explícitos, legíveis e coerentes.

mas também o seu veículo metodológico, quando a investigação se desenvolve em e através de atos de criação e performatividade. No debate sobre a investigação artística, estas questões ontológicas, metodológicas, epistemológicas e contextuais são ainda objeto de ampla discussão.

Numa definição preliminar de Borgdorff, a investigação artística - inserida em contextos artísticos e acadêmicos - é a articulação do conteúdo não conceitual, irrefletido, pertencente ás experiências estéticas, atuada em práticas criativas e incorporada em produtos artísticos:

“(...) artistic research – embedded in artistic and academic contexts – is the articulation of the unreflective, non- conceptual content enclosed in aesthetic experiences, enacted in creative practices and embodied in artistic products.”

(Borgdorff, 2011:47)

Um motivo porque não se tem evoluído mais neste tipo de investigação, talvez se deva ao facto de a investigação em arte estar a levantar aos artistas que assentam a sua atividade numa base de utilização do conhecimento prático, o questionamento dos métodos alternativos implícitos nos seus modos operandos, tais como: subjetividade, interdisciplinaridade dos fazeres, emergências de novas técnicas/tecnologias. Modos que continuam a ser vistos por uma perspetiva menos favorável pelas instituições promotoras de fundos para investigação, de creditação, assim como as próprias unidades de investigação, ainda tem que ser convencidas da capacidade inovadora e do potencial critico da investigação “sobre e para a arte”. Investigações que se centrem nas questões materiais e técnicas da arte no sentido de desenvolvimento de procedimentos inovadores podem se afirmar como investigações aplicadas.

O conhecimento obtido em investigações exploratórias técnico/científicas é posto em prática em procedimentos e produtos artísticos e desenvolvido ao serviço da prática artística.O fazer de arte é em si método de investigação e pelo fazer da arte se faz a investigação que gera produtos reflexivos escritos, registos de várias naturezas e também objetos artísticos/artefactos. A fronteira entre a pesquisa aplicada nas artes e pesquisa artística é um pouco artificial. Na prática dos artistas, ou mesmo na sua formação, tal distinção não é sempre útil; a realidade é mais como um continuum que oferece margem de manobra para uma variedade de estratégias de pesquisa. O pluralismo metodológico é complementar ao princípio de que a pesquisa artística ocorre na e através da criação de arte. No mundo da academia, há um amplo consenso quanto ao que deve ser entendido pela investigação.

Resumidamente equivale ao seguinte

- a pesquisa ocorre quando uma pessoa pretende realizar um estudo original para melhorar o conhecimento e compreensão de uma matéria;

- ela começa com dúvidas ou questões que são relevantes no contexto da pesquisa, e que emprega métodos que são apropriados para o seu desenvolvimento e que garantem a validade e a confiabilidade dos resultados da investigação; - outro requisito adicional é que o processo de pesquisa e os resultados da investigação serão documentados e disseminados em formas apropriadas.

De facto, as coisas que geralmente são apontadas como “falhas” na constituição de uma tese teórica - coisas que contradizem uma abordagem pessoal experimental assente na inter e trans disciplinaridade, através de aproximações emergentes diversas - são parte da essência de uma investigação assente na investigação prática de estúdio .

Um maior reconhecimento do conhecimento prático (e filosófico) do papel das artes criativas na nossa sociedade neces¬sita de ser expandido através do conhecimento desta disciplina e para além dela – e nisto consiste a sua singularidade e humanização.

Necessitamos, para conseguir chegar a esse pata¬mar humanizante, de aceitar as implicações da prática das artes criativas como forma de produção de conhecimento. E isso pode ser elaborado de modo mais claro nos processos de educação em arte e treino em investigação - aplicado de forma geral através de pedagogias.

O potencial critico e inovador da investigação baseada na prática, assenta preci¬samente na capacidade de esta fazer gerar conhecimento pessoal (situado), assim como novas formas de modelar e exteriorizar este tipo de conhecimento advindo da investigação, que ao mesmo tempo revela filosófica, cultural e socialmente (politicamente), um contexto inter¬vencionista crítico do conhecimento advindo da investigação.

Como afirma Graeme Sullivan no seu livro “Seminal Art Practice as Research“:

The experience of the artist is the core element in the creation of new knowledge and the potential for new understanding is further enhanced through research projects that may take varied forms such as exhibitions, performances, and publications.

(Sullivan, 2005: 191)

De acordo com Christopher Frayling (1993), a pesquisa para a prática é o tipo de atividades que apoiam o trabalho de estúdio dos artistas - como coleta de material para estímulos.

A noção de pesquisa através da prática é vista a abranger o processo interativo de fazer um protótipo, testes de trabalho e de alteração dos mesmos. O coletar de informações: organização, avaliação e interpretação de material, são os principais diferenciais de atividades no domínio académico, ao contrário da oportunidade de estímulo para a prática profissional.

Na literatura sobre pesquisa artística, vemos regularmente uma distinção, evoluindo da visão de Frayling, entre a investigação sobre as artes, a investigação para as artes e a pesquisa nas artes.

Segundo Henk Borgdorff (2004), a “investigação sobre as artes”, mais interpretativa, é comum às tradições das ciências humanas e sociais, que observam uma certa distância teórica fazendo da prática da arte seu objeto de pesquisa;a “investigação para as artes” é característica da pesquisa mais aplicada/instrumental - muitas vezes técnica - feito a serviço da prática artística; proporcionando ferramentas e conhecimento de como o material pode ser aplicado na prática, no processo e no resultado artístico - este caso, a prática da arte não é o objeto de estudo, mas o seu objetivo; a “investigação nas artes” acontece quando a prática artística é não somente o resultado da investigação,

Alertando para, o facto de que, o conhecimento intrínseco ao fazer, desenvolve e aplica na prática um conhecimento apreendido muitas vezes de forma intuitiva. Sendo este um processo verdadeiramente compreendido pelos artistas que fazem investigação que reconhecem automaticamente que o conhecimento implícito não se opõe ao conhecimento tácito. Também interessante para compreender este emergente especto de investigação em arte, apelando para o dinamismo que implica para a circulação não apenas dos produtos artísticos enquanto obra, mas para as publicações, discursos teóricos, encontramos a noção exposta no sentido das “práticas materializadas” de Barbara Bolt (2007)... que implica um contínuo interesse, um empenho performativo e de produtividade, tanto nos momentos de produção como de consumo da investigação em arte, e consequentemente da obra de arte (o conceito da Barbara Bolt baseia-se em Martin Heidegger, que sugere que: o conhecimento novo emerge em grande parte do envolvimento humano com objetos, pois Heidegger argumenta que nós não começamos por “entender” o mundo teoricamente através do conhecimento contemplativo num primeiro instante, pelo contrario, começamos a entender o mundo teoricamente apenas depois de começarmos a entender após o seu manuseamento.

Portanto o conhecimento, o novo, pode ser apreendido, pode emergir, aparecer, do envolvimento com os materiais eles mesmo, assim como métodos, ferramentas e ideias na prática, através da prática.

Da mesma forma, a noção do conhecimento intuitivo está relacionada, com o que Bourdieu colocou como: a lógica da prática, visto, o conhecimento intuitivo, como o estar comprometido com, inserido em - nas suas palavras being in-the-game. Onde as estratégias, apesar de serem pensadas, não estão completamente pré-determinadas, pois elas apenas vão aparecendo, operando, de acordo com determinadas demandas decorrente da ação no tempo. A aquisição do conhecimento pode então ser entendido como: uma operação cognitiva, ou “actividade dos sentidos”, envolvendo relações que ficam entre: subjectividades individuais e fenómenos objectivos, que incluem fenómenos mentais, conhecimento e ideias - fenomenologicamente, a relação que existe entre os feitos/factos e o âmbito em que se faz presente a realidade, ou seja: a consciência. Bourdieu conclui que: pelo facto do conhecimento advindo da condição de produção que aparece depois do facto, e ocorre no domínio da comunicação racional, o produto acabado, o opus operatum, esconde o modus operandi. Para lá dos tradicionais binários objectivo/subjectivo, empírico/ hermenêutico, que têm vindo a tentar separar as artes e mesmo as humanidades das ciências, Bourdieu procura examinar o aspeto relacional do conhecimento e o modo em que paradigmas da investigação implicam assunções subjacentes acerca do carácter do conhecimento.

Abordagens positivistas ou empíricas enfatizam leis universais, enquanto que a hermenêutica reconhece a compreensão individual, a interpretação subjetiva e a pluralidade de pontos de vista - e na realidade, ambas as abordagens ou categorias do conhecimento tem o seu espaço de existência, e podem coexistir. Em, Material Thinking, Paul Carter (2004) procura alargar a compreensão da dimensão subjetiva e relacional que se espelha no processo artístico, descrevendo este como,um processo que envolve uma descontextualização dos discursos universais pré-estabelecidos para as instancias da experiência particular/específica.

A investigação artística direciona-se a essa constituição do mundo da pesquisa e à reflexão reveladora do mundo, e na sua natureza conceptual e pré-reflexiva é uma articulação de um pensamento por acabar.

Uma vez que as tentativas de basear a investigação em arte