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A base do projeto “Telebiosfera”, alinhada às pesquisas em “Arte, hibridação e biotelemática” desenvolvidas no NANO – Núcleo de Arte e Novos Organismos da EBA/UFRJ , é estruturada na interação com plantas, considerando tais organismos como sensores analógicos para o ambiente em que se encontram. Plantas têm longa história no campo da ciência e da arte (Nóbrega 2011) como elementos naturais sensíveis, capazes de reagir ao meio em que habitam de forma espontânea e expressiva. A pesquisa sobre o uso de plantas na arte, assim como sua efetiva utilização em sistemas híbridos tem sido um dos focos principais deste autor desde início de 2006. A criação de terrários telemáticos, cujos dados provenientes de luminosidade, humidade, temperatura e resposta galvânica são disponibilizados em rede através de servidor OSC , tem sido a tônica do laboratório aberto Hiperorgânicos organizado pelo laboratório NANO desde 2011. Na linha desta pesquisa nasceu o projeto “Telebiosfera” focado na construção de um ambiente híbrido (composto de elementos naturais e artificiais) através do qual é possível uma experiência telemática, biocomunicativa entre sistemas remotamente localizados. Previamente cada terrário de nosso sistema foi projetado para estar encapsulado em uma estrutura em forma de domo para projeção de imagens de maneira a

Fig. 3: A imagem mostra no primeiro quadro um protótipo para estrutura interativa em tensegrity criado durante o workshop. No segundo quadro vemos a estrutura montada em formato 1:1, apresentada durante o evento Hiperorgânicos.

Posterior a esse primeiro estudo feito por um dos grupos da oficina a ideia evoluiu para a construção de um domo em forma geodésica. Optamos por um formato de ¼ de esfera composto de pentágonos e hexágonos encaixados de maneira a criar uma superfície projetiva de cerca de 180 graus. Foram utilizadas madeira, tecido, encaixes de metal e parafuso para a estrutura que se auto-sustentava em sua base (ver fig. 4 ). O projeto visava uma área projetiva para uso do sistema de projeção refletida em espelho convexo, adotando parcialmente o sistema criado por Paul Bourke.

Fig. 4: Estrutura de madeira metal e tecido.

O sistema apresentado no “Hiperorgânicos” foi composto de um domo, um espelho convexo, uma base com terrário, um Kinect e dois “hiperborts” (ver fig. 5). A colaboração com a doutoranda Barbara Castro, pesquisadora em visualizacão de dados com uso de Kinect e Processing , permitiu a elaboração de uma primeira interface gráfica para a “Telebiosfera”.

estão sendo testadas. A meta é buscar uma forma não realista de representação do interator que se encontra na “Telebiosfera”, permitindo que a imagem final projetada no domo seja modulada pelas suas interações com o sistema e seu ambiente.

Fig. 2: Esqueleto e partículas sendo calibrados.

Como resposta sonora o sistema de áudio utilizará paths em Pd com base em osciladores de baixa frequência. Esta programação em Pd responderá diretamente às variações de dados da rede via protocolo OSC, Isso permite que variáveis produzidas pela interação do visitante em um dos domos sejam recebidas no outro domo e vice-versa. Desta maneira, ao se interagir com a interface híbrida (planta + medidor de resposta galvânica) em um dos domos, o domo remoto receberá os dados e poderá, por exemplo, traduzir tais dados em modulações sonoras no ambiente.

Por fim, a “Telebiosfera” prevê ainda a utilização de um climatizador próximo ao terrário. Este dispositivo, ainda a ser implementado, consiste basicamente de um refresfriador de ar customizado com base em cerâmica peltier. Seu propósito é alterar a temperatura de uma dado terrário conforme variáveis provenientes dos sensores localizados no ambiente remoto. Com base nos dados recebidos via rede o climatizador simulará a temperatura do ecossistema remoto de acordo com as variáveis recebidas pela rede.

Ecología de los saberes

No decorrer da pesquisa sobre estruturas o projeto inicial sofreu modificações. O conceito de parametrização foi incorporado com objetivo de chegar a uma forma mais orgânica e afinada às necessidades interativas. No primeiro semestre de 2014 foi realizado uma oficina imersiva de 10 dias tendo por base o conceito “Abrigos Sensíveis”. A oficina, organizada e realizada pelos laboratórios LAMO – FAU/UFRJ (arquitetura) e NANO – EBA/UFRJ, contou com a presença de diversos professores e profissionais convidados, cujo propósito foi orientar 5 grupos de estudantes para o desenvolvimento de espaços interativos habitáveis na forma de protótipos. O mote das oficinas foi o potencial caráter afetivo que o ambiente apresenta na sua relação com o indivíduo. Como recurso de pesquisa foram usadas tecnologias de corte a laser, impressão 3d, sensores e atuadores microcontrolados. Neste contexto surgiu a primeira ideia para a construção do domo na forma de estrutura “tensegrity” (ver fig. 3).

Foi possível mapear o corpo humano na forma de um esqueleto de pontos quando este se posicionava em frente ao terrário na entrada do domo (ver fig. 6). Ao mapa de pontos do esqueleto foram atribuídas partículas coloridas que interagem entre si de acordo com movimentos do visitante. Estas partículas apresentavam mudanças nas cores determinadas pela interação do usuário com as plantas. Quanto maior a interação e amplitude da resposta galvânica das plantas maior o diâmetro das partículas e sua dinâmica, criando com isso um feedback visual em tempo real. Essa visualização de dados foi projetada na superfície do domo com auxílio do espelho convexo posicionado bem aos pés do terrário.

Fig. 5: O primeiro quadro apresenta o domo montado com o terrário em primeiro plano. No segundo quadro podemos ver os “hiperbots” conectados às plantas.

Fig. 6: Teste de calibragem do Kinect com esqueleto em primeiro plano. Na segunda imagem teste com partículas.

Na ocasião também foi testado mecanismo para abertura de um dos pentágonos da geodésica conforme interação com o terrário. Ao invés de fixo o pentágono foi criado com partes móveis, acionadas por um motor que respondia ao fluxo de dados presente no sistema. Como pode ser visto nas imagens seguintes (ver fig. 7), a superfície do pentágono foi dividida em partes triangulares que por sua vez foram conectadas às hastes que ativavam um movimento axial de expansão e retração.

Fig. 7: Dispositivo eletromecânico, interativo, para abertura de um dos pentágonos do sistema.

Durante o “Hiperorgânicos” também foi implementada uma primeira interface sonora para a “Telebiosfera”. A sonificação do sistema utilizou o fluxo de dados provenientes das plantas para ativar diversos osciladores arranjados na forma de paths criados com o programa MAX/MSP . Este recurso foi orientado por um de nossos convidados internacionais do Hiperorgânicos, o artista Augustine Leudar, pesquisador do Sonic Art Research Centre da Queen’s University em Belfast – UK. Augustine Leudar desenvolve pesquisa em sonificação de eletrofisiologia vegetal tendo por diversas

vezes visitado a Amazônia para pesquisa de campo. Foi um privilégio para nosso grupo contar com a presença deste artista-pesquisador que nos orientou na programação de uma primeira estrutura sonora para nosso projeto.