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Prestação jurisdicional no CPC

No documento Future law (páginas 79-82)

Rafael Giordano Gonçalves Brito 1 1 Introdução

3. Prestação jurisdicional no CPC

Processo é o meio pelo qual se efetiva o acesso à justiça, pois tal instrumento de jurisdição11 permite ao indivíduo buscar a concretização de uma pretensão que não foi

satisfeita, ou seja, surge a partir do “germe da discórdia”12. O Estado deve, pois, exercer

uma de suas funções, o controle jurisdicional, seja quando este for indispensável, seja «[...] quando simplesmente uma pretensão deixou de ser satisfeita por quem podia satisfazê-la, a pretensão trazida pela parte ao processo clama por uma solução que faça

justiça a ambos os participantes do conflito e do processo», Cintra (2014), p. 55, grifo do autor.

9 «Trata-se de um sistema através do qual a assistência judiciária é estabelecida como um

direito para todas as pessoas que se enquadram nos termos lei, Os advogados particulares, então, são pagos pelo Estado. A finalidade do sistema judicare é proporcionar aos litigantes de baixa

renda a mesma representação que teria se pudessem pagar por um advogado», Cappelletti (1988), p. 35, grifo do autor.

10 «Contrariamente aos sistemas judicare existentes, no entanto, esse sistema tende a ser caracterizado por grandes esforços no sentido de fazer as pessoas pobres conscientes de seus novos direitos e desejosas de utilizar advogados para ajudar a obtê-los»” Cappelletti (1988), p. 40,

grifo do autor.

11 Embora o entendimento adotado neste trabalho seja do processo como instrumento de jurisdição, há quem discorde desse posicionamento, a exemplo de Bernardo Câmara. Segundo Câmara (2010), p. 3, os seguidores dessa doutrina consideram a teoria instrumentalista para o exercício da jurisdição, de tal modo que distinguem processo e procedimento, «ao contrário da chamada “Escola Instrumental”, o moderno entendimento sobre processo não autoriza conceituá- lo como um mero instrumento da Jurisdição mas, sim, como instrumentalizador dela».

12 Para Carnelutti (2015), o “germe da discórdia” é o conflito de interesses, no qual podem surgir diversas situações, sendo a mais comum aquela envolvendo pessoas civis ou civilizadas. Todavia, esses indivíduos possuem ânimos (de luta) diferentes, fazendo com que um resista ao interesse do outro. Para afastar essa luta, que ainda não aconteceu, alguém deve evitá-la, sendo este o processo.

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No Brasil, especialmente a partir da Carta Política de 1988, com a abertura do acesso à justiça os indivíduos se tornaram mais litigantes, de modo que pode se evidenciar um «[...] processo de judicialização, ou seja, questões de repercussão política e social que antes eram solucionadas pelo Congresso Nacional e pelo Poder Executivo, estão sendo cada vez mais decididas pelo Judiciário», conforme ensina Carvalho (2015), p. 309, trata-se de verdadeiro ativismo judicial. Porém, não é só isso, seja qual for entrevero, simples ou complexo, vivenciado pelo cidadão, este recai no Poder Judiciário para ser solucionado, implicando, além do elevado número de processos judiciais, em uma alta taxa de congestionamento13. Theodoro Júnior (2016), p. 14 corrobora com esse

entendimento ao doutrinar que «o extraordinário número de demandas que acorreram ao Judiciário após o advento das denominadas ondas renovatórias do acesso à justiça conduziu ao abarrotamento da máquina judiciária e consequentemente à morosidade do processo, daí a necessidade da edição de um novo CPC. Esse fato – morosidade do processo – constitui uma fonte material do novo ordenamento processual que está por vir».

Nesse sentido, consoante entendimento de Theodoro Júnior (2016), o legislador brasileiro, atento a orientação de Cappelletti, renovou o ordenamento jurídico formal com ampliação da assistência judiciária, criação de novos remédios sociais e coletivos, a exemplo da ação civil pública, o mandado de segurança coletivo e os juizados especiais. Com efeito, «o direito processual civil, antes marcadamente individual, teve que adaptar- se às novas concepções que valorizam o social e a existência de direitos coletivos e difusos, até então sequer imaginados», Berardo (2015), p. 5. Ainda de acordo com Theodoro Júnior (2016), o processo moderno deve buscar o instrumentalismo e a efetividade, de modo que alcance as metas do direito substancial, isto é, o instrumento14

deve produzir o resultado almejado e, consequentemente, uma prestação jurisdicional efetiva.

13 Taxa de congestionamento é um indicador do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), cuja finalidade é medir a efetividade dos Tribunais em um período, «levando-se em conta o total de casos novos que ingressaram, os casos baixados e o estoque pendente ao final do período anterior ao período base. [...] Este indicador é oriundo do Justiça em Números e já tem série histórica de apuração nos tribunais. Ele tem analogia direta com uma caixa dágua, que quando dá vazão ao volume que entra e mantém um nível baixo, resulta numa baixa taxa de congestionamento. Ao contrário, quando não dá vazão ao que entra e ainda mantém um estoque alto resulta numa alta taxa de congestionamento», CNJ (2018), on-line.

14 Segundo Grinover (2015), p. 65, grifo do autor, a instrumentalidade possui um aspecto negativo e um positivo, no qual este último está atrelado a «[...] necessária efetividade do processo, ou seja, para a necessidade de ter-se um sistema processual capaz de servir de eficiente caminho à ordem jurídica justa. Para tanto não só é preciso ter a consciência dos objetivos a

atingir, como também conhecer e saber superar os óbices econômicos e jurídicos que se antepõem

O acesso à justiça e a razoável duração do processo no CPC...

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Para Nogueira (2014), houve alterações15 pontuais de suma importância no

“Código de Buzaid”, no entanto, estas foram renegadas, pois não gozaram de tempo suficiente para verificar seus resultados. Deveras, a Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015, surgiu a partir da «[...] preocupação em se preservar a forma sistemática das normas processuais, [...] sobretudo, a uma necessidade de caráter pragmático: obter-se um grau mais intenso de funcionalidade», Senado Federal (2015), p. 25. Pode se extrair, ainda, da Exposição de Motivos do NCPC16 que não deve haver uma ruptura com o

passado, mas um avanço, ou seja, os institutos cujos resultados foram positivos devem ser preservados e acrescer outros necessários para atingir um alto grau de eficiência.

Foram várias as mudanças trazidas pelo NCPC, destacando-se a constitucionalização do processo civil17, cujos objetivos especiais são a concretização do

Estado Democrático de Direito e o alcance da ordem jurídica justa. Verifica-se também que a nova legislação processual está sistematizada em Parte Geral e Parte Especial, composta de seis e três livros, respectivamente, além do livro complementar com as disposições finais e transitórias. Modificações significativas atreladas a efetiva instrumentalidade processual, agora estão dispostas expressamente, são: estímulo à solução consensual de conflitos (art. 3º, §§ 2º e 3º, NCPC)18, razoável duração do

processo (art. 4º, NCPC)19 e princípio da cooperação (art. 6º, NCPC)20. Para alcançar

uma prestação jurisdicional efetiva e justa, o instrumento de jurisdição deve permitir a concretização do direito tutelado, de modo que os princípios não tem apenas a função integrativa do ordenamento jurídico, mas tem natureza de norma.

Embora, sejam louváveis todas essas transformações, não se pode desejar o processo civil como um Papai Noel21 na crise do Judiciário, especialmente no que tange

15 Entre essas reformas, Nogueira (2014), p. 11 destaca algumas que tiveram «[...] aptidão para alavancar a prestação jurisdicional, tais como a alteração do processo de execução de título extrajudicial, a fase de cumprimento de sentença, antiga execução de título judicial, o processo eletrônico, o regime do agravo e do juízo de admissibilidade dos recursos, a repercussão geral no recurso extraordinário, o julgamento de recursos repetitivos, dentre tantos outros igualmente salutares ao incremento da tutela processual civil».

16 NCPC é a abreviatura de “Novo Código de Processo Civil”, que diz respeito à Lei nº 13.105, de 2015.

17 Há previsão expressa que o Processo Civil deve estar em consonância com os valores e normas fundamentais da Constituição (art. 1º, NCPC). Nesse diapasão, «[...] o Código de Processo Civil constitui direito constitucional aplicado. O Código deve ser interpretado de acordo com a Constituição e com os direitos fundamentais, o que significa que as dúvidas interpretativas devem ser resolvidas a favor da otimização do alcance da Constituição e do processo civil como meio para tutela dos direitos», Marinoni (2015), p. 91.

18 Código de Processo Civil, art. 3º. «Não se excluirá da apreciação jurisdicional ameaça ou lesão a direito. [...] § 2º O Estado promoverá, sempre que possível, a solução consensual dos conflitos. § 3º A conciliação, a mediação e outros métodos de solução consensual de conflitos deverão ser estimulados por juízes, advogados, defensores públicos e membros do Ministério Público, inclusive no curso do processo judicial», Brasil (2015), on-line.

19 Código de Processo Civil, art. 4º. «As partes têm o direito de obter em prazo razoável a solução integral do mérito, incluída a atividade satisfativa», Brasil (2015), on-line.

20 Código de Processo Civil, art. 6º. «Todos os sujeitos do processo devem cooperar entre si para que se obtenha, em tempo razoável, decisão de mérito justa e efetiva», Brasil (2015), on-

line.

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ao tempo do processo. No mesmo contexto, Wambier (2015) pontua que o Novo Código de Processo Civil, nem outro código, não vai dar fim aos problemas de prestação jurisdicional, pois a inovação processual é coadjuvante nas mudanças sociais. Tereza Arruda Alvin Wambier corrobora com esse pensar, ao afirmar que

«De fato, o excesso de litigiosidade, que é um problema social, é indiretamente responsável pela morosidade dos processos. Isto porque, estando muitos dos nossos tribunais abarrotados de processos e recursos para julgar, é natural que não consigam dar vazão a tudo num tempo que, socialmente, se considere razoável. Mas não se consegue, com a mudança da lei, acabar com o excesso de litigiosidade, que é um fenômeno sociológico. O máximo a que se pode chegar, com o novo CPC, é ao desestimulo ao ato de recorrer em face da jurisprudência pacificada», Wambier (2015), on-line.

O cerne dessa reestruturação processual é a efetividade do processo a qual deve estar alicerçada na constitucionalização processual, da qual irradia preceitos fundamentais que visam salvaguardar as conquistas democráticas do cidadão. Objeto de estudo desse trabalho, a razoável duração do processo, enquanto direito humano fundamental desejado nas sociedades modernas, deve promover o acesso à justiça.

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