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ÁREA DE CIÊNCIAS HUMANAS

Na área de Ciências Humanas, espera-se que haja uma relação afetiva mais positiva no que se refere à leitura e à escrita; afinal, trata-se de uma área de estudos que exerce intensamente essas atividades. Vamos analisar seis relatos de quatro cursos: Ciências Sociais (2 relatos), Comunicação Social (Publicidade); Filosofia (2 relatos) e Pedagogia. Eis o relato de um estudante de Ciências Sociais (que vamos chamar de “estudante A de Ciências Sociais”6) em 2012:

Minha experiência com a leitura vem desde a infância, quando eu gostava de ler histórias em quadrinhos, mas com o passar do tempo, meu hábito de ler foi diminuindo. Na verdade, eu na infância e até meus 11 anos gostava bastante de escrever, escrevi varios textos juntos com meus irmãos, mas depois de um tempo, fui

deixando a escrita de lado e parei de escrever.

Assim, o que eu costumo ler são: Revistas, jornais, jornais esportivos e alguns livros. Eu não escrevo, e gostaria muito de aprimorar minhas competências referentes à leitura e principalmente na escrita, para que eu possa ter o hábito de ler, quanto de escrever (grifos nossos).

Ao contrário do esperado para um curso da área de Ciências Humanas, o relato de dois pará- grafos redigido por esse estudante afirma que foi perdendo o hábito de ler e de escrever, ou seja: podemos concluir que a relação de afetividade com a leitura e a escrita é precária. Vejamos, agora, um segundo relato de outro estudante de Ciências Sociais em 2014 (vamos chamar esse segundo estudante de “estudante B de Ciências Sociais”):

Inicialmente, tive uma certa dificuldade com a escrita, mas nada que uma caligrafia não resolvesse. Hoje,

gosto muito de ler e leio de tudo. Procuro sempre novas informações e curiosidades, como também gosto de

5 Em outra pesquisa, a ser divulgada, analisamos relatos autobiográficos com foco na quantidade de parágrafos presente em cada um deles e na relação entre a quantidade de parágrafos e a organização do texto escrito como um todo. 6 A denominação de “estudante A” em oposição a “estudante B” nos cursos de Ciências Sociais e Filosofia foi feita para

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estudar o surgimento e a história das coisas. A história é uma ciência que me fascina, pelo fato de resgatar o passado para compreender o presente.

Em relação à escrita, creio que me dou bem. Na recente avaliação que fiz, o ENEM, consegui obter

980 na redação, porém diariamente tento aprimorar a escrita e a leitura, por acreditar que posso ampliar os conhecimentos, e também melhorar a forma na qual me comunico (grifos nossos).

O relato desse estudante, também de dois parágrafos, confirma a expectativa da relação de afetividade com leitura e escrita na área de Ciências Humanas, isto é: ele lê muito e escreve muito, sinalizando que ele gosta de ler e de escrever. Vejamos a seguir o relato de uma estudante de Comunicação Social-Publicidade, em 2011:

Desde cedo tive boas experiências em relação à leitura, por conta da maneira que a escola incentiva

os alunos a terem o habito de ler. A verdade é que sempre preferi ler histórias em quadrinhos, por terem figuras... Essa parte da ilustração sempre me atraiu.

Em relação a escrita... Meus erros gramaticais e minha letra dizem tudo! Nunca fui boa nessa parte de

escrever, sempre senti dificuldade em expressar minhas ideias no papel. Quando era criança minhas professoras das séries iniciais me repreendiam muito por usar a mão esquerda para escrever, então, me tornei destra por obrigação. Esse é um dos motivos pelos quais não gosto de escrever.

Eu costumo ler histórias em quadrinhos. Como já disse, tenho preferências por livros recheados de ilus- trações. Porém não costumo escrever... Só quando é realmente necessário ou quando preciso me livrar de uma ideia com urgência.

Gostaria sim de aprimorar minhas competências relacionadas à leitura e escrita. Principalmente em relação à escrita, por ter mais dificuldade e também por precisar muito dela no meu campo de atuação profi- cional7(grifos nossos).

O relato de quatro parágrafos dessa estudante de Comunicação Social – Publicidade menciona que houve experiências afetivas agradáveis com leitura; entretanto, o mesmo não pode ser dito no que se refere à escrita. A dificuldade para escrever é decorrente de dois motivos: conflitos para expressar ideias por escrito e ter sido repreendida por ser canhota. Portanto, esse relato confirma a hipótese de que experiências afetivas interferem, tanto de modo positivo quanto negativo, no aprendizado e no hábito da leitura e escrita. Vejamos agora o relato de um estudante (que vamos chamar de “estudante A de Filosofia”) em 2015:

Ao longo dos anos, sempre procurei e gostei de ler, pelo conhecimento que eu conseguia adquirir. Acredito que também foi muito importante na formação de meus ideais e pensamentos, pois eu sempre me questionava o porquê de tal coisa ser imposta e termos que aceitá-la sem podermos opinar sobre aquilo.

A minha experiência com a escrita foi, e é, consequência das leituras que fiz e faço. Costumo mais ler

do que escrever, mas quando necessário, procuro utilizar o conhecimento que adquiro com a leitura, apesar de

ainda precisar aprender muito.

Os livros que costumo ler estão relacionados ao ser humano, a vida, perguntas que acho que certos livros podem responder e me acrescentar algo importante, mas também gosto de histórias fictícias que mesmo não sendo verdadeiras, são baseadas no ser humano que somos ou que podemos ser.

7 Conforme mencionamos anteriormente, os relatos foram reproduzidos na íntegra, conforme os originais e, por isso, eventuais erros ortográficos foram mantidos. Nesse caso, a palavra “profissional” foi grafada do jeito que está escrito, com a letra C em vez do dígrafo SS (sic). Optamos por manter esse erro ortográfico para respeitar a autoria do estudante.

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Normalmente escrevo quando é necessário, no caso de redações, resumos, relatos autobiográficos, no caso, entre outros devaneios de minha mente agitada.

É sempre necessário estar aprimorando o nosso conhecimento em todos os termos, e a escrita e a leitura são fundamentais para a nossa formação de pensamento e visão de um mundo que ainda temos muito que desvendar (grifos nossos).

O relato de cinco parágrafos desse estudante A de Filosofia afirma que, por um lado, sempre houve interesse e gosto pela leitura; por outro lado, não costuma escrever tanto. Vejamos o relato de outro estudante de Filosofia em 2015 (vamos chamar esse estudante de “estudante B de Filosofia”):

Minha experiência com a leitura não começou tão cedo, li o primeiro livro já na pré-adolescência,

não me recordo qual foi exatamente. Embora, desde então, ler tenha me agradado muito, não li tantos livros, devo ter lido uns vinte e as razões para isso foram principalmente, preguiça e falta de ocasião. Pelo que me lembro, me interessei por poesia primeiramente, Carlos Drummond de Andrade foi o primeiro autor que me instigou e até hoje é um dos meus poetas preferidos, também li romances, contos e coisas espalhadas pela internet. É o que leio até hoje. Ler sempre me gerou prazer e me levou a ajudou a exercitar o pensamento.

No que diz respeito a escrita, sempre escrevi boas redações na escola ou pelo menos razoáveis. Informalmente, iniciei a escrever na adolescência, como quase todo mundo, escrevi muita bobagem, naturalmente, cheguei a escrever poemas e coisas do tipo, não parei completamente, mas ultimamente tenho escrito bem

menos, é uma atividade que pretendo manter enquanto puder, é gratificante, por mais que às vezes seja bem

trabalhoso.

Aprimorar minha leitura e minha escrita é algo que sem dúvidas, me interessa, seja por causa do que eu creio, vá ser a minha futura profissão (professor), por hobby ou porque quem sabe isso acabe me direcionando a algum tipo de trabalho paralelo com literatura filosófica ou não (grifos nossos).

O estudante B de Filosofia afirma que começou a ler tardiamente e que lê pouco, assim como escreve pouco, indicando uma relação precária de afetividade com leitura e escrita nesse relato de três parágrafos. Vejamos o relato de uma estudante de Pedagogia em 2012:

Ainda pequena me destaquei na leitura, lia os textos propostos pelos professores com facilidade. No decorrer de meu desenvolvimento estudantil, fui descobrindo que apesar da facilidade com a leitura, apresentava

dificuldades em escrever.

Passar para o papel de forma coerente o que me era proposto me causava receio, procurei ler diferentes tipos de gêneros textuais e como deveriam ser escritos. Também fui me estimulando a ler diferentes livros como: romance, crônicas, textos científicos e etc. E para um melhor resultado, reescrevia o que já tinha lido.

Aprimorar minha escrita, em termos de palavras mais complexas, coesão e coerência, é de grande interesse, não só pela vontade de superar mais uma dificuldade, mas por ter um grande valor nos estudos e na sociedade (grifos nossos).

O relato dessa estudante de Pedagogia, também redigido em três parágrafos, como o anterior, afirma que sempre teve facilidade em ler, mas apresenta dificuldade em escrever. Em síntese, de seis relatos da área de Ciências Humanas, quatro (66,6%) afirmam que gostam de ler, o que é esperado para a área; contudo; cinco (83,3%) afirmam que não gostam de escrever, contrariamente ao esperado. Vejamos a seguir relatos da área de Ciências Exatas.

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