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LITERATURA INFANTIL E FORMAÇÃO DO SUJEITO LEITOR

A leitura desses trabalhos aborda, dentre outras questões, o papel do professor como mediador do processo. Muitas discussões enfatizam que o docente é figura crucial nesse processo formativo e que a formação deste influencia na escolha de obras literárias para ser trabalhada com as crianças. Esta ação mediadora passa de certa forma pela afetividade. Sendo assim, “a escolha de bons livros, em especial os literários, favorecerá sua capacidade de criar (criança), sensivelmente, sem individualidade cultural, comprometendo-se com demais práticas fundamentais do ato de ler” (KRUG, 2015, p.2).

Apesar dos avanços tecnológicos, a biblioteca ainda exerce seu papel de fornecer elementos físicos para essa formação. É necessário que se tenha este espaço na escola onde haja o resgate do livro. Segundo Corsino e Pimentel:

A biblioteca da escola não é apenas um espaço que reproduz o ambiente informacional da sociedade, uma vez que pode convidar a criança e se imaginar leitor, a se construir leitor. É um espaço de formação e não só de informação (CORSINO & PEMENTEL, 2014, p. 267).

O acesso ao livro é fundamental e a escola ainda é o lugar onde este contato é possível para todos.

Considerando que, na modernidade, as práticas lúdicas e as experiências de leitura e contar histórias entram em extinção, pois a experiência com o outro vai perdendo espaço, a suspensão dos tempos de brincar, de ler, de ouvir e contar histórias é hoje uma realidade que as crianças, de forma geral, têm que enfrentar frente à rede de aparelhos virtuais que invadem sua vida, anestesiando seu corpo e seu pensamento. Há necessidade de resgatar na criança e no adulto o valor da leitura em seus diferentes processos, seja pela produção de sentidos que essa experiência convoca, seja pelo valor pedagógico que proporciona. A experiência de estar junto, de ler com a criança mostra-se fundamental, pois o ser humano se constitui no espelhamento com o outro. São aprendizagens que se constroem em relação e são da maior importância para a constituição do ser criança e do sujeito do conhecimento (CHRISTOFOLI& ROZEK, 2012, p. 443).

Por isso é importante as leituras desse professor para mediar a leitura dos futuros leitores e a forma como se trabalha essa questão é uma parte muito importante nesse processo. É como nos

SOBRE OS MODOS DE PENSAR A FORMAÇÃO DE LEITORES NOS ANOS INICIAIS Amélia Escotto do Amaral Ribeiro / Claudia de Souza Flores Borburema

afirmam Garcia e Silva:“Pensamos ser crucial que nossos professores se apropriem, verdadeiramente, da leitura com prazer e gosto; caso contrário, será difícil que consigam desenvolver esta mesma capacidade em nossos alunos” (GARCIA; SILVA, 2015, p.15).

Leitura e escrita são indissociáveis e tem valor hegemônico como saber adquirido. Isso faz com que a escola seja um espaço de construção e instrumentalização da escrita, Frangella (1999).

Os trabalhos do COLE também apresentam que ter uma biblioteca acessível a todos na unidade escolar é fundamental nesse processo de formação mútua docente/discente. A biblioteca precisa figurar como um espaço de letramento e não apenas um local repositório das obras literárias, pois é neste espaço que muitas crianças terão o contato com essas obras.

Os dados dos trabalhos que falam de literatura infantil apresentados nas edições do congresso mostram que há um predomínio de trabalhos com literatura infantil, mas realizados na educação infantil. E um número reduzido de trabalhos sobre literatura infantil nas séries iniciais do ensino fundamental. Esse fator acaba preocupando, pois se queremos formar/ incentivar um país com pessoas leitoras, a literatura infantil é um dos elementos que precisa estar mais presente na vida dessas crianças.

O docente possui uma determinada formação literária e exerce a função de mediador entre a criança e o livro. E para que este contato seja bastante enriquecedor o professor precisa também ser um leitor, pois se ele não lê como poderá incentivar as crianças nessa construção do sujeito leitor?A criança por sua vez também exerce seu papel na engrenagemdesta formação. Ela acaba influenciando na formação desse docente no momentoem que faz questionamentos, traz colocações, anseia por contatos tecnológicos na área da literatura infantil digital, entre outros. Isso tudo pertence a esse processo.

A literatura infantil é um dos caminhos que leva a criança a ter um contato direto com a escrita, fator importante nas séries iniciais as quais são trabalhadas de forma intensa a alfabetização. Contudo, é preciso ter o cuidado para que essa leitura literária não se torne pedagogizante nem seja encarada como obrigatória, caso contrário, a criança passa a considerá-la como mais um texto que fornece a parte escrita. A leitura literária precisa ser uma das formas de motivação para se ter o acesso à cultura letrada. Assim temos o que Ruth Rocha já afirmava na década de oitenta:

(...) a leitura não deveria ser encarada como uma obrigação escolar, nem deveria ser selecionada, vamos dizer, na base do que ela tem de ensinamento, do que ela tem de ‘mensagem’. A leitura deveria ser posta na escola como educação artística, ela devia postar na escola como uma atividade e não como uma lição, como uma aula, como uma tarefa. O texto não devia ser usado, por exemplo, para a aula de gramática, a não ser que fosse uma maneira muito criativa, muito viva, muito engraçada, muito interessante, porque se assim não for faz com que a leitura fique parecendo uma obrigação, fique parecendo uma tarefa e aquela velha frase de Monteiro Lobato – É capaz de vacinar a criança contra a leitura para sempre (ROCHA, 1983, p.4).

A literatura infantil além de ser fruição, possibilita que as crianças consigam redigir melhor, por causa da leitura. Coloca a criança em contato com sentimentos e atitudes que ela irá encarar na vida, como por exemplo, amor, medo, desejo, o bem, o mal, alegria, tristeza, amizade, entre outros. Com isso, ela permite esta criança se tornar atuante em seu processo de construção do conhecimento.

De maneira geral, esses trabalhos dedicados ao assunto da leitura não só buscam discussões que visam a auxiliar na prática dos profissionais da área, como também suscitam o repensar dos envolvidos no desempenhoformativopróprio e no das crianças.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Não é possível afirmar se o fator dos organizadores dos temas propostos para os GT’s influen- ciam diretamente nos trabalhos analisados, mas atentando-se às pesquisasobserva-se que as propostas visam esclarecer que se deve trabalhar diariamente com a literatura nas séries iniciais. Os gêneros literários precisam estar na escola, pois é o exercício da leitura que forma o leitor. Atualmente, percebemos vários fatores, já citados, que podem afastar as crianças do contato com os livros e com a biblioteca, mas é preciso resgatar a importância desse contato com a obra impressa, assim como nos afirmam Chistofoli e Rozek:

(...) é impossível a educação sem livros. Não existe sistema nem tecnologia que possa substituí-los, porque o livro na escola representa uma ideia totalizadora e canonizadora do saber, e incorpora conhecimentos e desenvolve o imaginário, únicas maneiras de moldar o pensamento crítico próprio. Reitera-se que nenhuma criança, jovem ou adulto pode se educar sem leitura (CHRISTOFOLI; ROZEK, 2012, p.447).

É necessário deixar claro no processo formativo desta criança que em uma sociedade letrada o contato com livros, jornais, revistas, catálogos, entre outros, será inevitável, apesar de toda tecnologia presente em nossas vidas.

Dessa forma, é o professor atuando como mediador na vida dessas crianças e fomentando a formação no espaço escolar. O desafio não é só formar bons leitores, mas mediadores que sensibilizem para a grandeza da leitura. Segundo Cunha:

A obra literária para crianças é essencialmente a mesma obra de arte para o adulto. Difere desta apenas na complexidade de concepção: A obra para crianças será mais simples em seus recursos, mas não menos valiosa (CUNHA, 1998, p.70).

Assim, a literatura infantil permite a criança interagir em seu processo de construção do conhe- cimento. Ela proporciona o prazer da leitura, auxilia na alfabetização e atua na formação da criança e também do professor que estará sempre num processo formativo a partir dessa mediação.Por isso a escolha dos livros é importante. Os textos escolhidos precisam dialogar com os anseios do discente. Não podemos esquecer que a escola e os docentes são meios para que a leitura literária alcance essas crianças das séries inicias. Essa formação não encerra no espaço escolar, mas é um desafio que a escola enfrenta junto com a sociedade para que desde os primeiros passos na escolarização esta literatura infantil esteja presente auxiliando no processo de alfabetização.

Formar leitores é um processo constante, uma vez que não se nasce já gostando de leitura. É necessário um tempo destinado para isso. Dessa maneira, é, portanto, formar leitores formando-se.

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REFERÊNCIAS

CHRISTOFOLI, M. C. P.; ROSEK, M. A Formação de leitores na Educação Infantil. In: DORNELLES. Leni Vieira; FERNANDES, Natália. (Org). Perspectivas sociológicas e educacionais em estudos da

criança: as marcas das dialogicidades luso-brasileiras. 1 ed. Minho, 2012, v.1, p. 442-450.

CORSINO, Patrícia & PIMENTEL, Claudia. Reflexões sobre leitura literária na escola. In: CORSINO, Patrícia.Travessias da literatura na escola. Rio de Janeiro. 7 Letras, 2014.p. 257-286.

CUNNHA, Maria Antonieta Antunes. Literatura Infantil: Teoria e Pratica. São Paulo: Ática, 1998. FERREIRA, Norma de A. Cole, 30 ANOS, celebra a leitura e sua história. São Paulo Jornal de Unicamp. Campinas, 13 de julho a 2 de agosto de 2009 – Ano XXIII nº 435.<http://www.jornaldaunicamp.unicamp. br/unicamp_hoje/ju/julho2009/ju435_pag05.php. Acesso em 30 de outubro de 2018 (2009). p. 5-8. FRANGELLA, Rita de C.P. Com a palavra,a escrita. In. KRAMER, Sônia (org).

Infância e Educação Infantil. SP: Papirus, 1999.p. 49-75.

GARCIA, S.; SILVA, A. A criança, o livro e o gosto pela leitura.Revista de

PPG-Letras da UNESP, São José do Rio Preto/ SP, v. n.1, p. 9-16, 2009.

GOULART, Ilsa do Carmo Vieira. O livro nas memórias de leitura. Revista

Educ. Soc., Campinas, v. 32, n. 115, p. 567-582, Jun 2011.

KRUG, F. S.A. A importância da leitura na formação do leitor. REI – Revista

de Educação do IDEAU. v. 10, n. 22, julho – dezembro, 2015.

LAJOLO, Marisa & ZILBERMAN, Regina.A formação da leitura no Brasil. 3ªed. São Paulo: Ática, 1999. RAUPP, Fabiano M., BEUREN, Ilse Maria. Metodologia da Pesquisa Aplicável às Ciências Sociais. In. _____ Como elaborar trabalhos monográficos em compatibilidade: Teoria e prática. São Paulo: Atlas, 2006. ROCHA, Ruth. Para não vacinar a criança contra a leitura. Leitura: teoria e prática, v. 2, p. 3- 10, out. 1983. VYGOTSKY, L. Linguagem, Desenvolvimento e Aprendizagem. São Paulo: Icone Editora, 1988.

LEITURA DE LITERATURA E A PROFESSORA

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