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ASCIÊNCIAS DA NATUREZA NA REFORMA DA NATUREZA

A obra A Reforma da Natureza (LOBATO, 2010) tem início quando Dona Benta e Tia Nastácia são chamadas, após o término daguerra na Europa, para auxiliar os ditadores, reis e presidentes no processo de paz. Todos foram para aEuropa, exceto Emília, que permaneceu no Sítio para colocar em prática algumas ideias quesurgiram desde que ouvira, pela primeira vez, a fábula do Reformador da Natureza.Segundo a fábula, Américo Pisca-Pisca colocava defeito em tudo o que a naturezahavia feito. Seu objetivo era reformá-la. Sua primeira reforma foi trocar o lugar das abóborasse das jabu- ticabas. Segundo ele, assim, no chão, as jabuticabas ficariam mais fáceis de pegar.Logo após realizar a reforma, Américo decide tirar uma soneca à sombra da jabuticabeira.Ao adormecer, uma grande

MONTEIRO LOBATO E A FORMAçãO EM CIÊNCIA DE FUTUROS PEDAGOGOS Sílvia Regina Groto (UFRN)

abóbora caiu, quase lhe acertando a cabeça. Desse dia em diante,ele passou a acreditar que a natureza estava correta e desistiu do seu plano reformador.Emília, entretanto, concordando com Américo sobre a natureza estar errada, resolve fazer asreformas que ele não teve coragem de fazer, por isso decide ficar sozinha no Sítio e colocarseu plano em prática. Ela chama a Rãzinha para ajudá-la, uma amiga que morava no Rio deJaneiro. E, assim, as duas começam a reformar tudo: os pássaros, os insetos (borboletas,percevejos, moscas, pulgas), a vaca Mocha, o porco Rabicó, as frutas, os livros. Os únicosinsetos que não são reformados são as formigas, pois, segundo Emília, eram perfeitas!

A primeira parte da história termina com o retorno de Dona Benta ao Sítio que,espantada com as reformas, faz Emília entender que, na natureza, tudo tem seu lugar e as“reformas” podem trazer consequências inesperadas. Convencida, a boneca desfaz a maiorparte das reformas.Na segunda parte da história, o Visconde de Sabugosa esclarece que, enquanto DonaBenta e Tia Nastácia participavam da Conferência da Paz, ele aprendia fisiologia, maisespecificamente, sobre as glândulas, com grandes cientistas europeus. Emília decide entãorealizar novas reformas, mas agora com os “critérios cien- tíficos” que o Visconde aprenderana Europa.

Os dois montam um laboratório improvisado na cova do anjo, um buraco na grandefigueira. No laboratório, o Visconde “dá aulas” de fisiologia para Emília. Ele explica sobreo funcionamento dos sistemas circulatório, respiratório, digestório e tudo o que aprendeusobre o funcionamento das glândulas. Durante dias seguidos, os dois ficam na Cova do Anjo,realizando “experiências”, fazendo enxertos de glândulas. Retiravam as glândulas de unsanimais e colocavam em outros. Mas alguns animais enxertados fugiram e é aí que começaa grande confusão. Os boatos sobre os insetos gigantes que rondavam a região atraem aatenção de curiosos, da imprensa e de cientistas renomados que foram até o Sítio descobrir oque estava acontecendo. O Dr. Zamenhof, um renomado cientista, chega ao Sítio e ficaimpressionado com as experiências realizadas pelo Visconde. Os animais são capturados eenviados para lugares, onde pudessem ser estudados pela ciência. A história termina com oVisconde sendo enaltecido pela sua inteligência e pelas suas descobertas.

Neste breve resumo que fizemos da obraA Reforma da Natureza(2010) fica evidente como a obra “transborda” ciência. Em Groto e Martins (2017)são elencadas várias temáticas científicas que podem ser abordadas com a obra. Destacamos, aqui, alguns conceitos relacionados à ecologia e ao tema transversal “meio ambiente”, em grande parte derivados das reformas feitas por Emília na natu- reza; aqueles relacionados à fisiologia/saúde humana, uma vez que as reformas na segunda parte da história foram realizadas nas glândulas dos animais; e aqueles referentes à natureza do conhecimento científico (NdC). Neste último caso, a visão de cientista, particularmente, pode ser problematizada. Além dessas, várias outras ideias e temáticas científicas estão presentes na história, como temas da área da zoologia e conceitos da área da física. Em uma das reformas, Emíliaretira o peso de alguns objetos, que surgem flutuando em momento específico da obra. Cabe salientar que temá- ticas de outras áreas do conhecimento também perpassam a obra, como as da área da história e da geografia, por exemplo. A seguir, elencamos os títulos das temáticas escolhidas pelos grupos durante o desenvolvimento dos projetos de ensino. Para cada umdos 5 grupos explicitamos, brevemente, o contexto de surgimento da temática a partir da história de Lobato e o que foi abordado pelo grupo.

GRUPO 1–De onde vem o fiunn dos insetos? A escolha da temática deveu-se a reforma que Emília

realiza nos pernilongos. Ela fez com que esses insetos parecem de fazer o seu barulho característico, o “fiunn”. No projeto de ensino, os alunos, dentre outras coisas, pesquisaram sobre o grupo dos insetos, quais insetos produzem sons e porquê. Discorreram sobre a importância dos insetos para o meio ambiente e a necessidade de se problematizar, em sala de aula, uma visão muito comum na escola

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e na sociedade como um todo: a ideia de que os insetos, de modo geral, são repugnantes, nocivos e precisariam ser eliminados.

GRUPO 2 –Como os pássaros voam?A escolha temática deveu-se a reforma denominada “passarinho-

-ninho”. Na história, Emília, querendo proteger os ovos dos pássarosfaz uma reforma no passarinho macho de modo que o ninho ficasse encravado em suas costas. Nessa reforma, Emília também parece querer promover a igualdade de gênero, uma vez que, segunda ela, na natureza o cuidado com os ovos/filhotes ficaria sob a responsabilidade das fêmeas. No projeto de ensino, os alunos abordaram, dentre outras coisas, a biologia e a física do voo, discutindo o que aconteceria com voo do pássaro caso a reforma da Emília se concretizasse.

GRUPO 3 – Biotecnologia, melhoramento genético, seleção artificial, transgênicos. O grupo

escolheu essa temática, fazendo uma analogia entre as reformas realizadas pela Emília e as reformas que os homens têm realizado, atualmente, nos alimentos. O conteúdo abordado não é uma temática fácil e os estudantes evidenciaram ter uma certa dificuldade com as ideias que envolvem a teoria da evolução darwiniana. Ainda assim trouxeram discussões pertinentes que precisam ser realizadas, inclusive ao nível do ensino fundamental, como a questão dos alimentos transgênicos. Cabe salientar, ainda, que, pesquisadores da área do ensino de evolução recomendam que alguns conceitos evolutivos comecem a abordados no ensino fundamental 1, como a noção de variabilidade ou ainda, a própria ideia envolvida na seleção natural. Neste sentido, apesar da dificuldade com a temática ela precisa ser discutida entre os pedagogos.

GRUPO 4 –O processo da polinização. A escolha dessa temática teve como ponto de partida uma

indagação a uma das reformas da Emília: o que aconteceria se as borboletas se tornassem fáceis de se pegar como a boneca gostaria? A partir desse questionamento e do fato de uma das componentes do grupo estar abordando o conteúdo polinização na escola em que lecionava, o grupo discutiu, a partir da importância do processo de polinização, as possíveis consequências da reforma das borboletas ao meio ambiente.

GRUPO 5 –A ação humana e os desastres ambientais. A escolha da temática, de forma semelhante

ao grupo que abordou o “melhoramento genético”, buscou relacionar as reformas realizadas pela boneca às reformas que vem sendo realizadas pelo homem no meio ambiente, produzindo desequi- líbrios ambientais.

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