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Seguindo um impulso irresistível e sem nenhuma explicação, o senhor B. devora compulsivamente os livros que tem ao seu alcance. Não importa quais sejam os autores ou temas: ele simplesmente come.

Comotto – O comedor de livros

A Educação Infantil tem como objetivo promover o desenvolvimento integral da criança, em seus aspectos físicos, psicológicos, intelectual e social. Compete, então, à professora criar diferentes propostas de trabalho para desenvolver tais aspectos; e uma dentre as várias propostas está o trabalho com a literatura infantil.

Para obter respostas aesta investigação, elaborou-se um questionário com perguntas objetivas e dissertativas referentes à formação profissional, a escola (rede)Porto Alegre – RS em que trabalha, o tempo em que atua nela, em qual turma é professora, se ela lêlivrosliterários, se considera importante a leitura para os alunos e de que formainsere a literatura infantil em sala de aula.

Dos seis questionários respondidos, uma professora é formada em Pedagogia Educação Infantil, uma em Pedagogia Anos Iniciais, uma em Magistério e Educação Física -Licenciatura, uma em Magistério, uma em Magistério e curso de Educadora Assistente e uma em curso de Auxiliar de Educação Infantil. Quatro delas lecionam em escola estadual, uma em escola municipal e uma em uma ONG conveniada com a prefeitura. As professoras de escola estadual estão há um ano e oito meses, há dois anos, háquatro anos e hádez anos atuando na docência. A professora de escola municipal está há um ano, e a da ONG está há sete meses.

Duas professoras atuam com crianças, que, segundo Piaget, estão no 1º período do desenvol- vimento infantil, o sensório motor, por estarem no maternal. Enquanto quatro atuam com crianças que estão no 2º período do desenvolvimento, o pré-operatório, por estarem no jardim.

No que se refere ao tempo em que a professora dá para si para lerum livro literário(por semana, por mês, por ano ou outro), tivemos o seguinte resultado: uma respondeu que lê uma vez por semana;- três escreveram que leem um por mês, que também está dentro do tempo para ser considerada uma boa leitora, e, assim, uma boa incentivadora dessa cultura. Inclusive a professora da ONG apresentou uma justificativa “Por conta do tempo, não é todos os dias que consigo pegar um livro para ler. Demoro em média de duas a três semanas para ler um exemplar completo. Atualmente estou lendo Vidas Secas, de Graciliano Ramos”.

Uma professora respondeu outro tempo, mas não disse qual; e outra professora também mencionou de ler em outro tempo, mas ela relatou que esse outro tempo são os oferecidos pelas formações oportunizadas pela SMED (Secretaria Municipal de Educação) ou pela coordenadora. Significa que são livros pedagógicos e não literários, ou seja, é possível que não tenha muito claro a ideia sobre ser leitora de literatura.

De acordo com o tempo que elas dão para a sua leitura corresponde a forma como é vista a importância da literatura para os alunos. A professora da escola municipal escreve que “sim, pois é

LEITURA DE LITERATURA E A PROFESSORA DE EDUCAÇÃO INFANTIL Laiza Karine Gonçalves (SEE/RS)

através da leitura que o aluno pode aguçar o gosto pela mesma, viajando pelo universo da imaginação e criando expectativas sobre o universo literário”. A professora da ONG menciona uma questão muito importante e ainda comum nas escolas de Educação Infantil. “Considero a literatura muito importante (a escola onde eu trabalho atualmente não desenvolve muito o ato de histórias literárias). Penso que a literatura “puxa” o lúdico das crianças, faz o sonhar talvez mais próximo e possível”. Já as quatro professoras do estado responderam o seguinte: a professora A escreveu que “sim, porque estimula a imaginação e o gosto pela leitura”. A professora B respondeu que “Sim, porque oferece aos alunos a oportunidade de conhecimentos, possibilita a participação, a colaboração, a socialização, promo- vendo um momento lúdico de aprendizagem”. A professora C apresenta informações importantes, ela escreveu que “Sim, pois desenvolve o imaginário, a interpretação, o gosto pela literatura, a orientação (noção) de acontecimento”. A professora D escreve “Sim. Desperta a imaginação, transmite novos conhecimentos”.

Quanto àcontação de histórias para os seus alunos (todos os dias, uma vez por semana, uma vez por mês ou outro), três professoras responderam que leem uma vez por semana para os alunos. Inclusive a professora da ONG respondeu “Temos o dia do livro nas terças-feiras, o tema se torna livre. Mas as histórias aparecem no decorrer da semana, com os projetos aplicados”. Mais uma vez ela reforça a ideia de que a escola (supervisora pedagógica) tem muito interesse em trabalhar com a literatura infantil e tem conhecimento de que a literatura não é um texto utilitário e sim, prazeroso. Três escreveram que leem todos os dias. Entretanto existe uma contradição na resposta de uma delas, pois respondeu que só lê livros pedagógicos, e, em momentos de formação oferecidos pela SMED ou pela coordenadora pedagógica.

Esse tempo corresponde como as professoras inserem a literatura infantil em sala de aula. A professora da escola municipal respondeu “Através da hora do conto, nela utilizamos diversas meto- dologias, como: fantoches, dedoches, avental, dramatização...teatro...etc...”. A professora A do estado escreveu “Leitura na ‘roda’ e uma atividade após, como argila, confecção de maquetes, massinha de modelar, recorte e colagem, entre outros trabalhos”.A professora da ONG respondeu “Trabalho a literatura infantil de acordo com o projeto que a escola aplica e o interesse das crianças. Meus alunos têm de três a quatro anos, entendem mas adoram a ludicidade. Quando a história é acolhida por eles procuro não ficar apenas nos livros, passo para uma conversa na rodinha, monto ela em fantoches, passo ela para desenhos e etc. Procuro sempre expandir o conto do livro”.

A professora B escreveu “Projetos e sequências didáticas”.A professora C respondeu “Interpretação oral, ilustração, atividades, projetos, etc”.A professora D da escola do estado responde “Contando a história, pedindo que eles do seu modo contem a história aos colegas, trabalho também pedindo que eles desenhem os personagens da história, etc...”. Com essas respostas passamos à análise final.

CONCLUSÃO

Os resultados alcançados neste trabalho evidenciam a importância de ser uma professora leitora, pois a forma como atua em sala de aula com as histórias infantis depende de como se posiciona em relação à literatura e à criança. Tal ideia também está agregada à de ter uma formação adequada para área em que se vai atuar. Nesse caso, de Educação Infantil, pois a professora tem mais conheci- mento teórico sobre o desenvolvimento cognitivo da criança, muito estudado por Piaget e Vigotski,

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É o caso da professora A da escola estadual, formada em Pedagogia Educação Infantil, que mostrou compreender bem a ideia de que a literatura infantil deve ser vista como jogo lúdico, afinal ela também contribui para o desenvolvimento infantil.

Compete também comentar a importância que é dada à leitura de literatura infantil pela profes- sora B da escola do estado, embora tenha respondido o questionário de forma breve. Coincidentemente, realizo a escrita desse trabalho de conclusão de curso ao mesmo tempo em que faço o estágio em Educação Infantil. Logo, posso mencionar o quanto fiquei realizada e feliz ao ver como essa professora estimula os seus alunos a serem leitores. Sempre que eles acabam uma atividade eu ouço “Professora, posso ler um livrinho? ”ou “Professora, posso ler um livrinho pra ti?” e ainda melhor “Professora, posso ler um livrinho pra turma?”.

Eles são leitores de imagens por ainda não dominarem o código escrito, mas como diz Luís Camargo (1995), a experiência de cada um e das perguntas que cada leitor faz às imagens, podem se tornar o ponto de partida de muitas leituras, que podem significar um alargamento do campo de consciência: de si mesmo, de nosso meio, de nossa cultura.

Em contrapartida há um número bem significativo de professoras que ainda não veem a literatura infantil como jogo lúdico, como leitura prazerosa, e sim, como algo que deve transmitir conhecimento. É claro que a concepção de infância foi inserida no meio social há pouco tempo, assim como a literatura voltada para o público infantil, e que a criação de instituições, creches e pré-escolas, para as crianças de zero a cinco anos, institucionalizadas com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, como Educação Infantil, também foi inserida no meio social há pouco tempo. Mas isso não justifica a visão que algumas professoras ainda apresentam sobre como se deve trabalhar com as crianças de Educação Infantil, em especial, com a leitura de literatura.

Afinal, a educação infantil tem como objetivo o desenvolvimento integral da criança, em seus aspectos físico, psicológico, intelectual e social. Logo, dialoga com a literatura, pois esses aspectos também são ativados por meio do jogo literário, pois a vivência no mundo da fantasia permite que ela crie as suas próprias regras ao estabelecer relações entre o real e o imaginário; e, assim, construindo uma melhor representação de si mesma e do mundo em que vive.

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REFERÊNCIAS

AGUIAR, Vera Teixeira de Aguiar (coord.). Era uma vez... na escola: formando educadores para formar leitores. Belo Horizonte: Formato, 2001.

ARIÈS, Philippe. História social da criança e da família. Rio de Janeiro: LTC, 1981. CAMARGO, Luís. Ilustração do livro infantil. Belo Horizonte: Ed. Lê, 1995.

MAGALHÃES, Ligia Cademartori. Jogo e iniciação literária. In:

ZILBERMAN, Regina. Literatura infantil: autoritarismo e emancipação. São Paulo: Ática, 1984. PIAGET, Jean. O nascimento da inteligência na criança. Rio de Janeiro: Guanabara, 1987.

VIGOTSKI. Lev. Semenovich. O desenvolvimento psicológico na infância. São Paulo: Martins Fontes, 1998. VYGOTSKY, L.S. Obras escogidas, tomo III. Madri: Visor, 1995.

CONHECENDO E FORTALECENDO O MEDO ATRAVÉS

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