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A RETEXTUALIZAÇÃO DOS CLÁSSICOS

Trabalhar com os clássicos da literatura com alunos do Ensino Médio ajuda a compreender que ler e produzir textos a partir de histórias escritas por autores de nossa literatura estimula a curio- sidade, valoriza a dúvida e, consequentemente, o interesse em querer aprender mais, promovendo o acesso a conteúdos variados e ainda permitindo tanto ao professor como ao aluno filtrar informações e dados coerentes com aquilo que objetiva: aprender a ler e a escrever bem.

A capacidade de produzir interpretações nas aulas de Língua Portuguesa bem como incentivar o desenvolvimento de autonomia e da responsabilidade, acoplados à capacidade de viver em grupo, são algumas das necessidades prementes nas turmas.

A relação escola e sociedade é questionada por Mosé (2010) quando destaca a ideia de um jovem que viveu ou vive a realidade da escola brasileira, recebendo de forma passiva informações produzidas pelo professor, sem o entendimento de que o importante não é apenas o que o professor ensina, mas, o que se pode aprender durante o processo de escolarização, sem que isso leve a um treinamento de reprodução de textos lidos.

O ensino de Língua Portuguesa, por meio de obras clássicas, deve priorizar uma educação centrada na aprendizagem, na pesquisa, que implica a ação do aluno, não sua passividade. Um ensino que permita aos jovens construírem para si mesmos um destino em que exerçam seu protagonismo, tanto na leitura como na escrita de textos que sirvam para uma comunicação eficaz, sem expectativas apenas para provas de vestibulares ou exames como o Enem.

A própria Mosé (2014) reflete sobre as dificuldades de desconstruir o conceito de ler e de inter- pretar textos literários porque as estruturas antigas do ensino no Brasil nos impõem a permanência de um modelo que não permite avançar com perspectivas que auxiliem ao aluno a pensar e a repensar o que leu e escreveu durante o período na escola, sendo importante para o resto da vida.

Mosé (2014, p. 65) ainda afirma que o estudante prepara-se, acreditando que

uma vida só começa quando a escola termina. Uma vida que de fato nunca chega. O Ensino Básico no país tem sido, em muitos casos, dominado pela ideia de que a formação se deve centrar no acúmulo de conhecimentos, sem se preocupar com a aplicação desses conteúdos em situações determinadas.

Na maioria das escolas particulares e públicas, encontramos estudantes que saíam sem quais- quer competências para a vida pessoal, profissional e social. É necessário repensar o modelo das aulas de Língua Portuguesa em escolas públicas e particulares com urgência.

A relação leitura e escrita está imbricada no processo de ensino-aprendizagem. O professor, ao ensinar tais modalidades, deve considerar o aluno como centro do processo educativo, acreditando que é um sujeito ativo e não um receptor e transmissor de dados. O ensino da Literatura no Ensino Médio e Técnico deve aproximar a educação da cultura, do pensamento e da vida; dessa forma se reduz de maneira drástica a quantidade de conhecimentos ensinados e exigidos apenas para avalia- ções, a maioria inútil para a vida prática, e passa ao incentivo para outras leituras, não apenas de um cronograma pré-estabelecido.

Compreender o universo da leitura e da escrita por meio dos clássicos da Literatura é acompa- nhar e estimular o desenvolvimento de pessoas, respeitando suas diferenças, seus anseios individuais, suas competências e habilidades, ao mesmo tempo levando em conta as relações humanas, ressaltadas nas próprias obras.

A IMPORTÂNCIA DA RETEXTUALIZAÇÃO DE OBRAS CLÁSSICAS NA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL DE NÍVEL MÉDIO Enildo Elias da Silva / Maria Teresa Gonçalves Pereira

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É importante considerar durante os três anos do Ensino Médio a vida em grupo, a coletividade, as condições de isolamento da cidade ou o excesso de informações, buscando desenvolver um espírito de conhecimento interpretativo, acreditando que podem os discentes superar qualquer dificuldade de leitura e de escrita.

Escrever bem é uma tarefa hercúlea e ainda longe de atingir a perfeição, não apenas no Ensino Médio Técnico, mas no ensino no resto do país; contudo, educar é um processo que somente pode-se pensar como um conjunto complexo de relações, uma rede de fatores, gestos, ações, conceitos e valores.

A Língua Portuguesa, as pessoas, a própria vida, tudo é complexo, no entanto, o raciocínio não pode ser linear, opondo certo e errado. A literatura abre caminhos, sem considerar apenas estruturas gramaticais e produção de cópias de textos para agirmos sem a noção do todo.

O que menos se deve fazer em um trabalho com alunos do Ensino Médio é fragmentar o ensino de gramática e de Literatura, privilegiando qualquer aspecto, o que se configura como inutilidade. Ensinar dois componentes curriculares separadamente que se alinham, resultam ações que se perdem e que não chegam a mudanças efetivas.

O princípio fundamental de uma comunicação escrita é saber qual o seu público-alvo, que classe de leitores pode realizar uma melhor compreensão e quais as revelações capazes de atender as expectativas de quem escreve e de quem lê.

Os textos literários possibilitaram outras produções textuais entre os alunos, apreensões dos conhecimentos e de características particulares, que de uma forma ou de outra mostram diferenças no uso da linguagem, tanto falada como escrita.

A literatura, assim, representa, ensina e demonstra preocupação com a condição humana, o que a torna, portanto, material valioso nas aulas de Língua Portuguesa do Ensino Médio.

Com um trabalho continuo com a Literatura durante os três anos, o texto literário ultrapassa os limites fonológicos, morfológicos, sintáticos e semânticos, torna-se livre para exploração da sono- ridade e do ritmo, da criação e de recriação das palavras antes conhecida no Ensino Fundamental de forma soltas para construção de frases e de orações com sentido para quem escrevia e não para quem lia.

A literatura favorece a reflexão crítica, o exercício das formas e de pensamentos mais elabo- rados, inclusive na linguagem oral, criando uma percepção mais plena ao aluno para se pronunciar sobre os assuntos.

As concepções de Venturi (2008) questionam que o texto literário serve como importante recurso a se explorar, não para ensinar e explicar as regras da língua, mas para desenvolver o gosto pela leitura.

Compreender textos literários está diretamente ligado à educação para a leitura, estabelecendo um elo entre alunos e professores, com intuito de criar novas perspectivas, não só de interpretação textual, mas de produzir textos coesos e coerentes.

São relevantes atividades que envolvam a construção de textos que consideram os estudantes como sujeitos atores, construtores sociais, passando o texto a significar o próprio lugar de interação. Para Silva (2008, p. 39), “Desta forma, há lugar, no texto, para toda uma gama de implícitos, dos mais variados tipos, somente detectáveis quando se tem, como pano de fundo, o contexto sociocognitivo dos participantes da interação”. A comunicação entre o texto literário e a produção textual do aluno, quando oferecidas condições de repensar no lido e no interpretado, auxilia a produzir textos diretamente ligados ao contexto em que se inserem com estrutura formalizada da língua escrita.

A IMPORTÂNCIA DA RETEXTUALIZAÇÃO DE OBRAS CLÁSSICAS NA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL DE NÍVEL MÉDIO Enildo Elias da Silva / Maria Teresa Gonçalves Pereira

CONCLUSÃO

É necessário que o professor conheça as estratégias acionadas no ato de ler e saiba mostrar também o prazer do contato com textos literários. Nos momentos das atividades, indicam-se leituras, segundo a capacidade intelectual dos alunos. Os conteúdos escolhidos são trabalhados de forma que o interesse tornava-se comum.

Em situações em que se envolve a leitura dos clássicos da literatura, deve-se levar em conta os diversos tipos de conhecimento de mundo que os interlocutores de um texto compartilham.

Em relação à organização de procedimentos para produção textual, há que se expor que o critério fundamental para a definição de uma situação comunicativa real é possível após o planeja- mento do texto, visando aos objetivos da produção, aos interlocutores, ao conteúdo e aos seus aspectos organizativos. As formas de apresentação e de divulgação se dão na problematização, definição e estudo do tema.

A leitura de textos literários prioriza análises de temas com relevância não só na disciplina de Língua Portuguesa, mas em situações em que os alunos se envolvem, dentro ou fora do espaço escolar. Desenvolver atividades com leituras e escrita utilizando os clássicos é um direcionamento que pode auxiliar a (re)criar uma nova concepção de linguagem.

Os debates acerca dos textos lidos são importantes para as análises por meio da linguagem oral que, em muitas situações, ajuda a construir textos curtos sobre os assuntos tratados.

As análises dos textos literários servem como base para uma análise da norma culta respaldada por uma visão flexível dos fatos linguísticos, uma oportunidade aberta à aceitação de variações, de mudanças, sem portanto, aquela rigidez aos padrões imposta na maioria das aulas de Língua Portuguesa.

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REFERÊNCIAS

ANTUNES, Irandé. Gramática contextualizada: limpando o pó das ideias simples. São Paulo: Parábola Editorial, 2014.

CANDIDO, Antonio. O direito à literatura. In:Vários escritos. Rio de Janeiro: Ouro Sobre Azul, 2004. LIMA, Maria da Penha Brandim de. O texto no contexto escolar. In: LEAHY-DIOS, Cyana.

Docência da língua portuguesa: experiências contemporâneas. Niterói: Cl Edições, 2008.

MOSÉ, Viviane. A escola e os desafios contemporâneos. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2014. SAMPAIO, Aíla Maria Leite. A literatura no Currículo do Ensino Médio: necessidade de

resgate. Academia brasileira de filologia, Rio de Janeiro, v. 1, n. 15, jun. 2014.

SILVA, Cristina Rocha. Produção Textual como processo de interlocução: algumas reflexões. In: LEAHY- DIOS, Cyana. Docência da língua portuguesa: experiências contemporâneas. Niterói: CL Edições, 2008. . VENTURINI, Maria Alice. Leitura do texto literário. In: LEAHY-DIOS, Cyana. Docência

A IMPORTÂNCIA DA LEITURA DO TEXTO

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