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A MENINA E O VENTO (2009) E CUENTOS DE VEREDA (2004) – COMPARANDO AS PERSONAGENS.

Peça escrita em um único ato por Maria Clara Machado, no ano de 1962, A menina e o Vento está dividido em um prólogo (cena que acontece ainda com as cortinas fechadas) e nove (09) cenas, que ocorre em uma praia deserta, conhecida como a Cova do Vento. Maria e seu irmão Pedro são criados pelas tias que buscam educá-los sob um regime de autoritarismo e muito rigor. Inicialmente, o enredo conta a aventura de uma menina, que estava cansada de ficar em casa estudando educação e cívica em pleno domingo com as suas tias Adelaide, Adalgisa e Aurélia e resolve fugir com seu irmão, indo parar na Cova do Vento, local considerado proibido pelas tias da menina, exceto por Adalgisa, que acredita e sempre sonhou em viajar como o Vento.

Já o texto Cuentos de Vereda, de Ester Trozzo, foi escrito no ano de 1983, em um ato único, dividido em sete cenas. Toda a ação ocorre na calçada da rua em que as crianças moram, misturando, aventura, brincadeiras e muita diversão. Ao todo são dezenove (19) personagens que se reversam durante todo o decorrer das personagens, dificultando assim escolher uma personagem principal e outra secundária, uma vez que todas as personagens abrem espaço para que todas sejam presença marcante.

A seguir poderemos observar como se desenvolve o jogo da linguagem no texto A menina e o Vento (2009):

Vento – Deixem-me dormir, criaturas desagradáveis. Pedro – Quem é criatura desagradável?

Maria – Acho que somos nós.

Pedro (brincalhão, levantando a voz) – Os incomodados que se mudem. Vento (furioso) – O quê?

Pedro (provocador) – Disse: os incomodados que se mudem.

Vento – Olhem aqui, pirralhos, ou vocês me deixam dormir em paz ou... Pedro – Ou o quê? Aqui por acaso é propriedade sua?

Maria – Pedro, não provoca.

Pedro – A praia é pública, a rua é pública, o espaço é público, a atmosfera é pública... Maria – A estratosfera é pública... [...]

Vento – Vocês querem não é? (Dá uma lufada de sopro sobre os meninos, que caem no chão [...])

(MACHADO, 2009, p. 19, 20 - 22).

Nessa primeira sequência de falas das personagens temos o Vento, Pedro e Maria, nela podemos perceber que o lúdico está relacionado ao modo de Pedro usar a linguagem, jogando com as palavras para provocar o Vento, de tal forma que o faz tomar a atitude de soprá-los ao chão. O pesquisador Massa (2015, p. 115) vem a nos dizer que “[...] jogar é uma palavra relacionada com atividades realizadas para a recreação do espírito, distração, entretenimento, divertimento, prática de deporto, astúcia,

A IMPORTÂNCIA DA LEITURA DO TEXTO DRAMÁTICO INFANTIL NA SALA DE AULA, FORMAR LEITORES, FORMANDO-SE Aline Oliveira Arruda / Dra. Márcia Tavares

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astúcia, juntamente com a provocação para chamar a atenção do Vento ao fato deles estarem ali o observando em seu momento de repouso, mas por serem crianças, tem por si a recreação e o diverti- mento como elementos balizadores de seus seres, encontrando no ser mítico (Vento) a oportunidade de encontrar outra forma de distração daquela imposta pelas tias em pleno dia de domingo.

Na leitura do texto Cuentos de Vereda (2004), essa sensação de jogo ao brincar, atrelado com o divertimento diante das ações apresentadas pelas crianças é muito presente em toda a ação decor- rente desse texto, mas para ilustrar, destacamos um excerto da cena 1:

Paulina: (Haciendo pucheros) ¿Te estás riendo? ¿No te asusté?¡Espión! ¡Me viste disfra- zarme! ¡Le voy a decir a decir a la mamá! (Llora y se va a buscar a la madre)

Claudio: ¡No! ¡No! ¡A la mamá no (Sigue leyendo con rapidez). Si las hermanitas son escan- dalosas y lloronas es preferible hacerse el asustado porque si no. . .

Madre: (en off) ¡Claudio! ¿Qué pasa con la nena? ¡Ya la estás haciendo llorar otra vez! ¡Se te va a terminar la vereda si seguís así!

Claudio: ¡No mamá! Si acá no hay ninguna nena ¡Hay un fantasma! ¡Sí, que miedo que tengo! ¡Cómo tirito! ¡Qué horrible fantasma! (Hace mucho aspaviento y la nena ríe feliz) Claudio: ¡Ay! ¡Cómo me asustaste! (cambia el tono) Bueno, ahora andate y dejame jugar tranquilo ¿querés?

Paulina: Entonces te asusté de mentirita (llora) ¡Te burlás de mí! ¡Le voy a decir a la mamá! Claudio: No (TROZZO, 2004, p. 88).

Nesse trecho percebemos que Paulina utiliza da linguagem e do jogo das palavras para tentar reclamar do irmão, mas é através do jogo da imitação, do brincar de faz de conta que o menino consegue trazê-la para perto si. Ele está brincando na calçada e a irmã surge para assustá-lo, assim ele entra na brincadeira da irmã e os dois continuam a brincadeira, mesmo tendo consciência que a brincadeira é recorrente, não é real, mas encontra-se diretamente ligada ao seu imaginário.

CONCLUSÕES

Para o desenvolvimento do presente artigo, buscamos trazer para o cerne das discussões estudos acerca da literatura comparada do texto dramático infantil A menina e o Vento (2008) e Cuentos de Vereda (2004), bem como a sua importância para se trabalhar em sala de aula.

Na primeira parte abordamos um breve percurso sobre a história do teatro no Brasil e na Argentina, assim como o teatro infantil e logo em seguida trouxemos um excerto do texto para que pudéssemos comparar suas similitudes a partir de elementos presentes nas falas das personagens. Assim, a literatura comparada nos permite ir muito mais além dos estudos que abordam as seme- lhanças de determinados autores ou épocas, pois a investigação de um ponto comum, pode nos proporcionar um amplo conhecimento relacionado não somente com a obra, mas também com todo o seu percurso histórico e social.

Portanto, acreditamos ser de suma importância a leitura do texto dramático infantil em sala de aula, dada a contribuição deste gênero para o desenvolvimento da criatividade e a possibilidade da inserção do aluno na sociedade por meio da interação.

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(RE) ELABORAÇÃO DE ESTRATÉGIAS DE

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