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Os modelos teóricos fundamentados em noções como holofote e lentes zoom implicam que dirigimos nossa atenção seletivamente para uma área ou região do espaço. Essa é a atenção baseada no espaço. Ou, então, podemos dirigir a atenção para determinado(s) objeto(s); essa é a atenção baseada no objeto. A atenção baseada no objeto parece pro- vável, uma vez que a percepção visual está relacionada principalmente aos objetos que nos interessam (ver Caps. 2 e 3). Esse ponto de vista recebeu apoio de Jenderson e Hollingworth (1999). Eles revisaram pesquisas que mostravam que os movimentos dos olhos quando os observadores viam cenas naturais eram dirigidos quase exclusivamente para objetos.

Muito embora normalmente coloquemos foco nos objetos de importância poten- cial, isso não significa que não somos capazes de prestar atenção a áreas do espaço. É provável que nosso sistema de processamento seja tão flexível que podemos prestar atenção a uma área do espaço ou a um objeto determinado. Isso seria compatível com os achados discutidos anteriormente mostrando que a atenção visual pode se parecer com um holofote, uma lente zoom ou múltiplos holofotes.

Achados

Frequentemente, a atenção visual está baseada no objeto. Por exemplo, O’Craven e colaboradores (1999) apresentaram aos participantes dois estímulos (uma face e uma casa) transparentemente se justapondo, com instruções de prestar atenção a um deles. As áreas cerebrais associadas ao processamento de faces foram mais ativadas quando se dava atenção à face do que quando se dava atenção à casa. De forma semelhante, áreas cerebrais associadas ao processamento da casa foram mais ativadas quando se dava atenção à casa. Assim, a atenção estava baseada no objeto e não unicamente no espaço.

Hou e Liu (2012) também pediram que os observadores prestassem atenção a um dos dois objetos justapostos. Várias áreas cerebrais foram envolvidas na seleção top- -down da atenção de determinado objeto. No entanto, áreas frontoparietais dorsais pare- ceram de particular importância.

Egly e colaboradores (1994) desenvolveram um método muito popular para com- parar a atenção baseada no objeto e a atenção baseada no espaço (ver Fig. 5.4). A tarefa era detectar um estímulo-alvo o mais rapidamente possível. Uma pista apresentada antes do alvo era válida (mesma localização que o alvo) ou inválida (localização diferente do alvo). De importância essencial, as pistas inválidas estavam no mesmo objeto que o alvo (pistas dentro do objeto) ou em um objeto diferente (pistas entre os objetos). A detecção

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do alvo era mais lenta nos ensaios inválidos do que nos váli- dos. Entretanto, era mais rápida nos ensaios válidos quando a pista estava no mesmo objeto, e não em um diferente. Isso sugere que a atenção é, no mínimo, parcialmente baseada no objeto.

A atenção baseada no objeto na tarefa de Egly e cola- boradores (1994) ocorre automaticamente ou envolve proces- sos estratégicos? A atenção baseada no objeto deve sempre ser encontrada se for automática, mas deve ocorrer apenas diante de algumas circunstâncias se envolver processos es- tratégicos. As evidências indicam que a atenção baseada no objeto depende de processos estratégicos (Shomstein, 2012). Por exemplo, Drummond e Shomstein (2012) não encontra- ram evidências de atenção baseada no objeto quando a pista indicava com 100% de certeza onde o alvo iria aparecer. Des- sa forma, uma tendência para a atenção baseada no objeto pode ser ignorada quando o desempenho é prejudicado por seu uso.

Lee e colaboradores (2012) defenderam que a atenção visual é influenciada pela experiência recente. Eles obtiveram apoio usando a tarefa de Egly e colaboradores (1994). Os tempos de resposta, de modo geral, foram mais rápidos para alvos em uma localização não sugerida no retângulo sugerido do que para alvos no retângulo não sugerido: esse é o achado comum fundamentado no uso da atenção baseada no objeto. Entretanto, esse efeito (e a atenção baseada no objeto) não foi encontrado quando o objeto não sugerido continha o alvo no ensaio anterior. Lee e colaboradores (2012, p. 314) concluíram: “A atenção acompanha de perto a curta escala de tempo do ambiente e automaticamente se adapta para otimizar o desempenho para essa estrutura”.

O fato de a atenção baseada no objeto ter sido com frequência encontrada na tarefa de Egly e colaboradores (1994) não significa necessariamente que a atenção baseada no espaço não esteja também presente. Hollingworth e colaboradores (2012) abordaram essa questão usando uma tarefa que se parecia com a de Egly e colaboradores. Havia três tipos de pistas dentro do objeto que variavam na distância entre a pista e o alvo subsequente.

Hollingworth e colaboradores (2012) obtiveram dois achados principais (ver Fig. 5.5). Em primeiro lugar, houve evidências de atenção baseada no objeto quando o alvo estava distante da pista, o desempenho era pior quando a pista estava em um objeto diferente. Em segundo lugar, houve evidências de atenção baseada no espaço quando o alvo estava no mesmo objeto que a pista, o desempenho declinava quanto maior fosse a distância entre alvo e pista. Assim, a atenção baseada no objeto e a atenção baseada no espaço não necessariamente se excluem de forma mútua.

Pilz e colaboradores (2012) também compararam a atenção baseada no objeto e a baseada no espaço usando uma variedade de tarefas-padrão (p. ex., a que foi introduzida por Egly et al., 1994). De modo geral, eles obtiveram muito mais evidências de atenção baseada no espaço do que de atenção baseada no objeto. Também encontraram evidên- cias convincentes de diferenças individuais – apenas uma pequena fração dos participan- tes apresentou atenção baseada no objeto.

Quando exploramos o ambiente visual, seria ineficaz se repetidamente prestás- semos atenção a determinada localização. Na verdade, exibimos inibição do retorno, que é uma probabilidade reduzida de retornar a uma região que foi foco de atenção recente. É de importância teórica se a inibição do retorno se aplica a localizações ou a objetos.

As evidências são mistas. Vários estudos relataram inibição do retorno para um objeto determinado (ver Chen, 2012). List e Robertson (2007) usaram a tarefa de Egly

Pista Alvo

V ID

IS Figura 5.4

Estímulos adaptados de Egly e colaboradores (1994). Os participantes viam dois retângulos e uma pista in- dicava a localização mais provável de um alvo subse- quente. O alvo aparecia na localização indicada pela pista (V), no canto não indicado do retângulo indicado (IS) ou no canto equidistante não indicado do retângu- lo não indicado (ID).

Fonte: Chen (2012). ©Psychonomic Society, Inc. Reproduzi- da com permissão de Springer.

TERMO-CHAVE Inibição do retorno

Probabilidade reduzida de que a atenção visual retorne a uma localização ou um objeto que foi foco de atenção recente.

CAPÍTULO 5 Atenção e desempenho 165

e colaboradores (1994) apresentada na Figura 5.4. Os efeitos com base no objeto foram “demorados para emergir, pequenos em magnitude e suscetíveis a mudanças menores no procedimento” (List & Robertson, 2007, p. 1332). Entretanto, a inibição do retorno baseada na localização ou baseada no espaço ocorreu de modo rápido, foi de magnitude muito maior e encontrada consistentemente. De modo geral, é provável que existam am- bas, a inibição do retorno baseada no objeto e a baseada na localização.

A maior parte das pesquisas se concentrou na distinção entre atenção baseada no objeto e atenção baseada no espaço. Entretanto, também há evidências para atenção ba- seada na característica. Por exemplo, suponhamos que você está procurando uma amiga no meio de uma multidão. Como você sabe que ela quase sempre usa roupas vermelhas, você pode prestar atenção à característica da cor, em vez de a objetos ou localizações

Pista Alvo

+

+

Mesmo objeto longe Mesmo objeto perto Válida 100 90 80 70 60 50 84,4 73,1 67,3 63,1

0 (VÁLIDA) 1 (PERTO) 2 (LONGE)

Distância entre pista e alvo

P or centagem c orr eta Mesmo objeto Objeto diferente (a) (b)

Objeto diferente longe

Figura 5.5

(a) Possíveis localizações do alvo (mesmo objeto longe, mesmo objeto perto, válida, objeto diferente longe) para determinada pista. (b) Precisão do desempenho nas várias localiza- ções do alvo.

166 PARTE I Percepção visual e atenção

específicos. Kravitz e Behrmann (2011) constataram que formas de atenção baseadas no espaço, objeto e características interagiam umas com as outras para melhorar o proces- samento do objeto.

Avaliação

Vários achados importantes emergiram das pesquisas nessa área. Em primeiro lugar, em- bora a atenção baseada no objeto seja muito mais comum na vida diária do que a atenção baseada no espaço há muitas exceções a essa regra geral. Em segundo, a atenção visual pode envolver uma combinação de processos baseados no espaço, baseados no objeto e baseados na característica. Em terceiro, a importância relativa da atenção baseada no objeto e no espaço é flexível. Vários fatores que influenciam esses dois tipos de atenção foram identificados. Eles incluem processos estratégicos, experiência recente e diferen- ças individuais.

Quais são as limitações da pesquisa nessa área? Em primeiro lugar, existem fortes evidências de que diferentes formas de atenção visual interagem e influenciam uma às outras (Kravitz & Behrmann, 2011). No entanto, tais interações raramente foram estu- dadas.

Em segundo, pode ser mais difícil do que você imagina decidir exatamente o que é um “objeto”. No Capítulo 3, examinamos as leis da Gestalt da organização perceptual (ver Fig. 3.3). Essas leis indicam algumas das complexidades envolvidas na previsão de quais elementos visuais serão captados (e percebidos) como objetos coerentes.

Em terceiro, precisamos de mais pesquisas focadas na compreensão de por que a atenção baseada no objeto é mais dominante na vida diária do que em condições de laboratório. Uma possibilidade é que temos um incentivo para prestar atenção a objetos na vida diária, mas isso com frequência está ausente no laboratório.